quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

MEDO DE AMAR 10ª PARTE



Bea espreguiçou-se na cama, sabia que tinha de fazer algo para reconquistar Max, mas o quê?! Por onde começar?! Saiu da cama frustrada e tomou banho.
Depois do pequeno almoço ajudou Jim a cuidar dos cavalos e tentou falar com o pedreiro pois estavam no fim das obras, mas este insistiu em falar com Max, desde o início que tinha resolvido tudo com ele! E ela era mulher! Isto sem a querer ofender! Era mesmo coisas de homens! Sem querer ofender?!
Como não ficar ofendida?! Teve vontade de lhe chamar troglodita e atirar-lhe um tijolo à cabeça, mas interiormente agradeceu-lhe, agora tinha uma desculpa para falar com Max.
Pediu a Jim que procura-se Max e para este ir ao escritório quando pudesse.

Enquanto esperava por ele telefonou a Ryana, se Frank estivesse melhor da gripe que apanhou, iriam até à herdade no fim de semana. Olhou o esboço das jóias que tinha começado antes, voltou a guardá-lo, não estava motivada para continuar. Uma enorme apatia tinha-se apoderado dela desde que Max a afastou. Se tivesse ficado para enfrentar os medos, estes já não existiriam e ela não estaria longe de...

- Queres falar comigo? - Max olhou pela porta entreaberta.
- Sim, entra. - Bea agarrou o livro de cheques - O pedreiro está a terminar, mas insiste em falar contigo. Podes fazer tu o pagamento?
- Claro. Era só isso?!
- Sim. - Estendeu-lhe os cheques com a esperança que os seus dedos se tocassem, mas tal não aconteceu.
- Então vou tratar disso.

Max encaminhou-se para a porta, sentiu uma tristeza tão grande que queria chorar...

- Parece que não faço falta para nada!
- Disseste algo?

 Max voltou-se e Bea fez um esforço para se controlar. Tinha quase a certeza que apenas sussurrou, como podia ele ter ouvido algo?!

- Não. - Bea desligou o computador- Acho que vou à povoação. Afinal tens tudo controlado.

Agarrou a mala e saiu, passando por ele rapidamente, antes que começa-se a chorar. Sentia falta dele, mas tinha de ser paciente. Conduziu depressa demais para a estrada velha e empoeirada, mas precisava descarregar aquela frustração. Deixou correr as lágrimas livremente, sentiu que ficava mais leve, pelo menos psicologicamente. Passeou pela pequena vila, no fim da tarde sentou-se numa esplanada a aproveitar o fim do dia. Estava frio mas não se importou. Apanhou uma revista que tinham deixado na mesa ao lado e começou a ler. Um artigo chamou a sua atenção: Como deixar um homem louco de desejo.
Soltou uma gargalhada irónica, ela não precisava disso, sempre soube como deixá-los loucos. Agora queria apenas um único homem e não queria deixá-lo louco de desejo, o que ela queria, era que ele repara-se nela! Que volta-se a acreditar nela e no amor que sentia! Artigos idiotas! Não passavam de parvoeiras umas atrás de outras. Começou a enrolar a revista com a ideia de a atirar para cima da mesa, mas as letras vermelhas, do quarto ponto da indução à loucura, pareciam chamá-la.

" Uma das coisas que os homens detestam é que não lhes prestem atenção, adoram sentir-se o centro das atenções, saber que as mulheres..."

Podiam ser idiotices mas aquilo deu-lhe uma ideia, se ele não mostrava interesse nela, ela faria o mesmo. Não tinha nada a perder. Deixou a revista em cima da cadeira e voltou para a herdade. Tinha um plano! Ia ignorá-lo!

Durante duas semanas ajudou Jim com os cavalos e nos últimos preparativos do acampamento. Que era inaugurado no mês seguinte. Ajudou na cozinha do acampamento, organizou a estufa de modo a que as crianças a pudessem usar... Fazia tudo, desde que longe de Max!
Ryana passava fins de semana ocasionais na herdade com Frank, que levava os dias atrás de Max, mas ele declinava todos os convites de Ryana para almoçar ou jantar. Bea limitava-se a ficar calada e o mais longe possível.  Enquanto Ryana acompanhava Frank a despedir-se de Max, ela ficava a vê-lo partir pela janela da cozinha, sempre de forma a não ser vista por ele.

- Não te estou a reconhecer! - Ryana estava incrédula com a passividade da amiga - Pensei que ias lutar por ele!
- E estou a lutar! - Sussurrou baixinho. - Estou a lutar.

Quando Bea se voltou tinha os olhos marejados de lágrimas, Ryana percebeu o sofrimento que afligia a amiga.

- Oh minha amiga. Porque não falas com ele e abres o jogo?!
- Achas que não o fiz?! Não acredita em mim. Não o censuro. - Bea limpou o nariz - Se estivesse no lugar dele também não acreditaria.
- E como pensas conquistá-lo se nem se falam?!
- Vou ignorá-lo, até que ele repare em mim. - Bea sorriu como se aquela fosse a fórmula mágica.
- Não entendo...
- Uma coisa idiota que li, mas não custa tentar, pois não?!

Sempre que Ryana e Frank regressavam para a cidade, a rotina voltava a ser a mesma, cruzavam-se raramente e falavam-se ainda menos. Ás vezes ia até à pequena povoação para se distrair. Passava o tempo sentada na esplanada a olhar quem passava, perdida nos seus pensamentos que começavam a ficar sombrios como o seu coração.

- Bea?!
- Sim! - Voltou-se e viu a prima de Max, andava com a ajuda de canadianas - Faith, como estás?
- Melhor, e tu? Não estás com bom aspecto. Gripe?
- Acontece aos melhores.
- Sei...

Faith fez uma careta e sentou-se com ela, depois de falarem um pouco, Faith convidou-a para jantar e ela aceitou. Era bom ter alguém com quem conversar, poder passar umas horas sem pensar em Max era tudo o que queria nesse momento. A conversa estava animada na cozinha quando o telefone tocou, Faith deixou o jantar a cargo dela e foi atender. Olhou os bifes no tacho, Eme adorava os bifes à café, acompanhado de batata frita e com um bom...

- Que estás a fazer aqui?

A colher escorregou-lhe da mão e fez um enorme barulho ao cair no chão.  Max olhava para ela como se estivesse a cometer um crime!  Sem saber que responder, saiu da cozinha, Faith ainda falava ao telefone, a boa educação mandava despedir-se da dona da casa, mas ela saiu sem lhe dizer nada. Não estava preocupada com a etiqueta, Max que a informa-se se quisesse. Chorou durante todo o caminho, pensou que podia passar uma horas sem pensar nele. Estava a ser mais difícil do que tinha imaginado. Nunca precisou de implorar a um homem um beijo ou uma noite de sexo! Agora via-se a desejar desesperadamente que ele lhe desse ao menos os bons dias. Queria atirar-se nos braços dele e dizer-lhe que o amava. Mas para ele, ela simplesmente não existia. Acelerou o carro, desejava partir sem rumo, voltar atrás no tempo... Porque não se lembrou que ele podia estar a viver com a prima? Ou que podia apenas ir visitá-la? Quando Faith a convidou, não pensou que eram primos, nem que ele podia aparecer, apenas queria falar com alguém, sentir-se normal! A verdade é que se esquecera completamente de Faith até ao momento em que a voltou a ver.

Pensou aproximar-se dele quando Frank veio uns dias antes da abertura do acampamento e ficou em casa com ela, mas era Jim que o vinha buscar e trazer de volta ao anoitecer. Com o inicio das actividades no acampamento, Frank começou a dormir com as outras crianças e se tinha esperanças que um dia fosse ele a ir deixá-lo, essa esperança desvaneceu-se.
O trabalho com as crianças não deixava tempo livre a ninguém, Max e Jim reajustaram as suas tarefas, e os seus horários, para poder ajudar as crianças a cavalgar ou a tratar dos póneis, ao passo que ela passava o dia nas estufas com as crianças que preferiam tratar das flores.

Observava Max e Jim pela janela da cozinha. Disse a Jim que ia ficar em casa a tratar de burocracias. Mas não era verdade, apenas não queria voltar a ouvir a enfermeira a gabar os atributos de Max. Sentia vontade de lhe dizer que ele não estava disponível, que era dela. Mas ele já não era dela, isso pertencia ao passado! E parecia cada vez mais longe.

Jim ajudava uma menina a escovar o pónei, era uma das mais reservadas do grupo. Assim como Max conquistou a confiança de Frank, Jim soube conquistar a da pequena e agora já participava em várias actividades. Tinha de os recompensar de alguma forma, e só se lembrava de uma. Agarrou o telefone e uns minutos depois sentia que tinha feito o correcto.

Acordou tarde, mas ficou na cama a olhar o vazio, perdera o apetite e estava desmotivada à dias. O aperto que sentia, tornou-se companhia constante, apenas aliviava quando estava com as crianças, mas ultimamente nem estas a animavam, fazia um esforço enorme para as acompanhar, sentia que a alegria lhe fugia pelos dedos.
Obrigou-se a sair da cama e foi para o escritório. Tinha de ir ao banco, talvez fosse visitar Ryana, precisava de estar com alguém que a compreendesse.
A indiferença dele, a ausência, vê-lo diariamente sem poder estar com ele, tudo aquilo doía-lhe demais. A cada dia parecia estar mais longe dele. O plano não estava a correr como planeara, ela sofria por ele e ele parecia nem se lembrar dela. Precisava afastar-se...

- Podes parar de inventar pretextos para vir até ti?! - Max entrou sem bater.
- Desculpa?! - Bea não estava a compreender.
- Não te faças de desentendida! - Max atirou um envelope para cima da secretária. - Sabes perfeitamente que transferiste dinheiro a mais para a minha conta. - Max estava furioso - Se não fosse pela promessa a Eme...

Bea respirou fundo, estava estranhamente calma. Não queria discutir, não com ele. Sentia-se vazia, de alma e coração.

- Se tivesses falado com Jim, antes de vires discutir comigo - Bea levou a mão à cabeça massajando as têmporas - Ele podia dizer-te...

O escritório começou a andar à roda e de repente tudo ficou negro.


Quando abriu os olhos, Mathew estava sentado na cama, segurava-lhe o pulso ao mesmo tempo que olhava o relógio. Olhou em redor, procurando Max.

- Maximillian foi preparar o pequeno almoço. - Mathew sorriu e olhou para ela como se soubesse o que estava a pensar - Está com o níveis de açúcar muito baixos. Tem se alimentado bem?
- Mais ou menos.
- Não pode assustar assim as pessoas. Maximillian quase que me mata no caminho até cá. - Mathew piscou o olho- Tem uma condução terrível.

Ele tinha ido pessoalmente chamar Mathew?! Seria isso sinal que os sentimentos por ela não tinham morrido?!
Max entrou no quarto com um tabuleiro com café, leite, torradas, compota, bolo, iogurte, fruta e sumo natural.

- Pedi-te um pequeno almoço, não um almoço!
- Se não comeu tem de comer. Ou não?!
- Vou deixar-vos. Ficas responsável por ela. - Mathew sorriu para Bea antes de sair.

- Agora vais comer - Max colocou o tabuleiro na cama ao lado dela - Tens imensas crianças a depender de ti, tens de te alimentar. Vamos, come.
- Obrigada. - Max sentou-se na beira da cama - Vais ficar aí?!
- Incomoda-te?

Se a incomodava? Se ele soubesse à quanto tempo queria voltar a vê-lo ali, sentado na cama... as lágrimas começaram a brilhar nos seus olhos.

- Não, não me incomodas. - Fechou os olhos uns instantes - Desculpa, não queria...
- Come, temos tempo para falar.
- Temos?!

Ele não lhe respondeu, apenas lhe ajeitou o tabuleiro nas pernas. Comeu sob o olhar atento dele, quando disse que tinha de ir ao banco, ele não consentiu. Insistiu que tinha de descansar.

- Vou falar com Jim, não demoro.

Ficou deitada na cama a vê-lo sair, como tinha feito noutras manhãs. Recordar aquilo levou-a às lágrimas, como interpretar estas atitudes dele?! Estava a ceder perante ela e o que sentia? Ou seria apenas para não se sentir culpado de provocar o desmaio?

Passou o dia na cama, com visitas regulares de Max, mas não falavam do que se passou. Apenas insistia para que ela se alimenta-se. Quando anoiteceu, e ele a deixou sozinha depois do jantar. Sentiu-se mais sozinha que nunca. Por uns instantes, alimentou a ideia que ele ficava a passar a noite com ela, que deixavam aquela briga idiota e seguiam em frente.
Nessa noite sonhou com a mãe e com a tia, acordou com o coração a bater rapidamente. Olhou pela janela, a lua brilhava no horizonte, uma estrela brilhou mais forte. Desejou acreditar que a mãe e a tia estavam lá em cima a velar por ela, mentalmente pediu ajuda. As lágrimas começaram a cair e nem a almofada conseguiu abafar o choro, que se tornou descontrolado.

- Psiu... Estou aqui... já passou...

Levantou  a cabeça da almofada e viu que Max estava ali, junto a ela. Abraçou-o e chorou no seu peito, enquanto ele acariciava a sua cabeça. O choro começou a ficar mais calmo e começou a tomar consciência do cheiro dele, do bater do seu coração... como se a sua mão tivesse vida própria, acariciou-lhe o peito, sentiu-o ficar tenso, os olhares encontraram-se, Bea viu neles o desejo de outrora. A medo, aproximou os lábios trémulos dos dele, roçando-os ao de leve, pensou que ele a afastaria mas Max entrelaçou os dedos nos cabelos, intensificando o beijo. Com a respiração agitada, Max deitou-se a seu lado. Nessa noite, apenas os corpos falaram, numa linguagem muito própria.

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