quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

MEDO DE AMAR 9ª PARTE



Bea dava mais uma volta na cama, não conseguia dormir. Os pensamentos sucediam-se, tentando por em ordem os seus sentimentos. Já não era a mesma mulher que chegou à herdade, convencida que a sua felicidade baseava-se no sexo. Aprendera a amar e esse mesmo amor alterou a sua forma de ser. E não porque ele lhe pediu, mas porque o seu corpo, se negou simplesmente a estar com outro homem! Compreendia agora, que a sua felicidade era estar ao lado de Max. Assim como compreendia que não devia de ter partido! Quando deixou a herdade, pensava que era o melhor a fazer, que assim esquecia Max e evitava sofrer. Mas tal não aconteceu, pensava nele constantemente e sofria por estar longe dele. Fugir não evitou o sofrimento, apenas alterou o motivo. E se tinha de sofrer, pelo menos sofria nos braços dele.

 O avião aterrou no aeroporto ao fim da manhã. Como Ryana não lhe atendeu as chamadas, teve de ir para a herdade de táxi. Estava ansiosa por voltar a ver Max, tinha vontade de rir e ao mesmo tempo de chorar, o seu estômago estava sensível, era a isto que as pessoas se referiam quando falavam nas borboletas no estômago?! Se assim fosse, ela tinha borboletas em todo o corpo, pois sentia um desconforto generalizado.

Deixou as malas na entrada e foi até ao curral com a esperança que ele estivesse lá, mas não estava. Sentiu um aperto no peito, deu a volta ao curral na tentativa de ver o jipe dele num outro pasto. As buscas foram infrutíferas, entrou em casa resignada. Tinha a certeza que ele voltaria, não ia abandonar a herdade! Levou as malas para o quarto, ao abrir as gavetas viu que estavam vazias, com algum receio, abriu os roupeiros, estavam vazios, não restava uma única peça de roupa dele! Ele cansou-se de esperar por ela. A dor voltou ao seu peito e a certeza que ele voltaria começou a vacilar! Se ela tinha abandonado a herdade, e era dela, que motivos teria ele para ficar?! A insegurança apoderou-se dela. Tentando apaziguar o seu coração procurou Jim, ficou mais descansada quando ele lhe disse que Max estava na cidade, mas que não tardaria. Respirou de alivio, e foi ajudar Jim a cuidar dos cavalos.

- Voltaste! - Deu um salto ao ouvir a voz de Max, voltou-se sorrindo mas ele estava estranho, sentiu o seu coração encolher.
- Sim, disse-te que o faria. Não viste a carta? - Bea lutou contra o desejo de correr para os braços dele.
- A carta. - Max fez uma pausa - Sim, li. Ainda bem que voltaste, preciso que assines um contrato, contratei um guarda nocturno para vigiar a herdade de noite.
- Um guarda nocturno?! Para quê?
- A herdade precisa de estar vigiada.
- Nunca precisamos de um guarda. À sempre alguém por aqui.
- Durante a noite não.

Max disse-lhe que como voltou para a cidade e não havia trabalhadores ali durante a noite, era mais sensato contratar um guarda. Chegava ao anoitecer e partia quando ele chegava de manhã. Fez um sorriso forçado. Pelo menos não a tinha abandonado de vez! Ainda tinha esperança, apenas tinham de falar.

- Precisamos de falar. Pode ser agora? - Queria dizer-lhe que o amava.
- É sobre a herdade? - Max ajeitou o chapéu na cabeça
- Não. É sobre nós.
- Nesse caso, nada mais temos a dizer. Agora dás-me licença?
- Max...
- Quando tiveres assuntos sobre a herdade, que queiras discutir, podes contar comigo, caso contrário não estou disponível.
- Eu queria...

Mas Max ignorou-a, e voltou para o jipe. Ficou ali, olhando para o vazio sem saber que fazer, até que Jim a chamou.

- Está tudo bem? - Jim olhava fixamente para ela.
- Sim. Está.

Limpou a cara com a mão e voltou para casa, tinha de pensar. Mas depois, agora tinha de chorar e tirar aquela dor do peito.

Três dias depois Max continuava sem lhe falar, quando ela se levantava, ele já tinha saído para os pastos mais longínquos que a herdade tinha, voltando apenas ao entardecer.

Pela janela da cozinha via Max a treinar um cavalo, ele acariciou o pescoço o animal. Lembrou-se do toque das mãos dele na sua pele... estava ali tão perto e ao mesmo tempo tão longe... Apenas queria falar com ela sobre a herdade. Um sorriso desenhou-se no seu rosto. Como não tinha pensado nisso?!
Saiu a correr de casa e foi ter com ele ao curral.

- Quando terminares vem ter comigo ao escritório.
- Aconteceu algo? - Max parou de arrumar os arreios e ficou a olhá-la esperando uma resposta.
- Como disseste no outro dia, estou de volta e quer te agrade ou não, sou tua patroa. - Voltou-lhe costas e caminhou em direcção da casa

Esperou no escritório, acendeu a lareira, sentia frio. Não percebia se era dos nervos, se por estar mesmo frio. Se algo ela aprendeu na vida, foi que os homens são fáceis de manobrar. Apenas é preciso saber o que os faz vergar. E ela sabia como vergar Max.

- Posso? - Max bateu na porta levemente.
- Não precisas de bater. Depois de tudo o que se passou, torna-se um pouco ridículo.
- A educação nunca é ridícula. Mas certamente não foi para isto que me chamaste.
- Não, preciso que assines estes papeis. - Estendeu-lhe umas folhas, quando ele estava quase a apanhá-las ela fingiu que tropeçava e ele amparou-a. Ficando com as mãos no peito dele. Olhou-o nos olhos, em questão de segundos as bocas procuraram-se ávidas, sedentas uma da outra. Apertou o corpo contra o dele, sentiu que ele ainda a desejava. Um gemido involuntário saiu da sua garganta, e foi o suficiente para ele a afastar.

- Jogas-te sujo - Max afastou-se dela
- Gosto de jogar sujo contigo.
- Gostas de jogar, pura e simplesmente. - Max estava furioso - Comigo ou com outro qualquer.
- Quem está a jogar sujo agora?
- Perto de ti, sou apenas amador. Ainda tenho muito que aprender.
- Não faças isso. Pensei que...
- O quê?! Que ficava à tua espera, pronto para te receber quando te cansasses do teu novo amante?!

Aquelas palavras pareciam facas a cortar-lhe o coração. Mas ele tinha todos os motivos para desconfiar dela.

- Não estive com ninguém. Tens de acreditar, só conseguia...
- Bolas Bea! Que queres de mim?! Disse-te que te amava, e tu desapareces no dia seguinte. Deixas uma carta a dizer que voltavas quando estivesses pronta para amar! E eu?! Acaso pensas-te em mim?! Não, fazes as coisas como queres, sem pensares em quem feres no caminho. Pensei que me amavas, podia jurar que sim. Mas agora sei que não, o que julguei serem ciúmes, era outra coisa qualquer. Para ti, fui apenas mais um capricho! Não sou César, nem sei quem mais, não estou desesperado por sexo, mulheres é coisa que não me falta, mas escolhi ficar contigo. E tu que fizeste?! Fugiste! Não podes voltar e pensar que está tudo na mesma.
- Nunca foste...

Max saiu batendo a porta. Por algum tempo ficou ali, a pensar no que ele disse. Estava assim tão magoado com ela? Nunca pensou que ele podia sofrer com a sua partida, imaginava que ele estaria ali à espera dela. Até tinha visualizado o reencontro. Mas acabou por não ser como ela imaginou.

  Sentia-se um farrapo, queria poder voltar atrás no tempo. Atirou-se para o chão e chorou até adormecer junto à lareira.
Um telemóvel tocava ao longe, deixou de o ouvir para o voltar a ouvir novamente minutos depois. obrigando-se a levantar-se foi atender. Era Ryana.

- Olá. Não dizes nada à mais de dois dias. Está tudo bem?
- Ele foi-se embora. - Bea tentava controlar o choro.
- Ele quem?
- Max! - Dizer o nome dele foi o suficiente para se descontrolar.
- Max?!
- Não sei que fazer, nem que dizer ou se o devo procurar...- Bea foi atacada por uma nova crise de choro - Amo-o... Ele disse que me amava mas partiu... Oh...estou tão confusa!
- Olha, acalma-te um pouco ou chora muito e depois explicas.

Entre soluços Bea explicou o que tinha acontecido. Desde o beijo que Gio lhe dera, passando pela falta de desejo dela, acabando no plano falhado para reconquistar Max. Ryana permanecia em silêncio.

- Não dizes nada?! - Bea começava a ficar mais calma.
- E queres que te diga o que queres ouvir ou a verdade?
- E não é a mesma coisa?!
- Não! O que queres ouvir é que ele devia de ficar aí, à tua espera. A verdade é que tu estás acostumada a estalar os dedos e os homens fazem o que queres. Foi assim com Mike quando o convidas-te a viver contigo e depois com César, se o querias ele ia para tua casa, se não ele não ia.
- Não sejas assim!
- Sabes bem que é verdade! Sempre os tiveste a comerem na tua mão! Como um cão rafeiro a mendigar um pedaço de carne. Max não precisa de mendigar! Certamente, terá muitas mulheres a seus pés!
- Obrigada! - Bea recomeçou a chorar.
- Apenas digo a verdade. - Ryana fez um pausa -Todos vimos que o amavas, assim como ele a ti. Mas tu insistias nessa questão de que era apenas sexo, negavas-te a amar! Ou a aceitar que o amavas. Acho que, tu não aceitavas que Max estivesse contigo, não porque tu querias, mas porque ele queria.
- Que faço?! Amo-o  e ele não acredita.
- Espera o dia nascer. Acreditas mesmo que ele partiu de vez?!
- Não sei, estava furioso.
- Olha, porque não lhe dás um tempo? Prova-lhe que o amas. Por uma vez na vida, ouve o teu coração e conquista-o!
- Sim, vou fazer isso. - Bea limpou o nariz ruidosamente

Deitou-se determinada a provar a Max que o amava, que estava disposta a tudo para o conquistar e que estava ali para ficar.

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