- Porque o chamaste?! - Christina sussurrava, sob o olhar divertido da cunhada - Sabes que eu...
- Não o chamei. Veio por iniciativa própria.
- Sim. E eu acredito!
- Querida.- Marylin levantou a voz - Porque não levas Richard até ao teu quarto, deve de estar exausto.
- Não quero incomodar, apenas pretendo falar com Christina.
- Não incomoda nada. - Marylin olhou para a filha - O namorado da minha filha é sempre bem vindo.
- Pois. - Christina fulminou a mãe com o olhar antes de se dirigir a Richard - Vamos?!
Christina queria desaparecer, ali estava a mãe, empurrando-a para cima dele, enquanto a cunhada parecia muito divertida com tudo aquilo. Richard apenas olhava para ela, com uma expressão que não deixava transparecer o que sentia. Teria a cunhada planeado aquilo com a mãe?! O timing era perfeito demais para ser obra do acaso.
Richard seguiu-a em silêncio, podia ouvir a respiração dele, acelerada demais para a calma que aparentava.
- Que fazes aqui?
- Está na hora de regressares.
- Não vou! Podes entregar-me à policia ou a quem tu quiseres, mas não vou continuar a pagar por uma coisa que não fiz. Nunca roubei nada e se pensas...
- Sei que não e peço desculpas por isso.
- Sabes?!
- Sei, depressa percebi que serias incapaz de roubar . Mas queria ter-te a meu lado. Nem que fosse à força.
Christina abriu a porta do quarto. Olhou para a cama onde ainda tinha um peluche enorme que o pai lhe tinha dado quando era pequena, por instantes envergonhou-se de ter ali o peluche. Richard entrou e fechou a porta.
- Ainda te incomoda?!
Richard levou a mão ao rosto dela, o hematoma tinha praticamente desaparecido. Apenas uma ligeira mancha esverdeada recordava essa noite. Christina não esperava que ele lhe tocasse e não respondeu, apenas estremeceu quando sentiu o calor da mão dele.
- Sabes. - Richard olhava-a nos olhos - Quando acordei e vi a minha família, pensei que talvez tivesses ido comer algo e esperava que aparecesses a qualquer momento. Não fazia sentido passares a noite ali e depois partires sem mais. Ainda estava confuso em relação aos acontecimentos, mas podia jurar que passaste a noite junto a mim. Recordava vagamente de acordar várias vezes e ver-te ali, junto à cama. Quando recuperei a consciência ainda te via nitidamente na minha cabeça, imagem que se foi desvanecendo com o passar das horas. No fim do dia já não tinha tanta certeza, assim como não tinha a certeza se naquela noite te disse o que sentia por ti. Naquele momento comecei a ter dúvidas do plano que tinha traçado. Quando cheguei a casa, embora a minha família estivesse ali, senti-me a pessoa mais só ao cimo da terra. Senti a tua falta, a casa fica tão vazia sem ti.
- Não digas essas coisas.
- Porque não?!
- Porque não são verdade.
- Claro que são! Não me importa que não me ames! - Richard deslizou os dedos pelo pescoço dela e ela fechou os olhos e mordeu o lábio inferior - Enquanto estremeceres quando te toco e morderes o lábio tentando disfarçar o desejo, não vou desistir de transformar esse desejo em algo mais forte. Sei que o vou conseguir.
- Presunção não te falta.
- Apenas porque te amo e não vou desistir de ti.
- Amas?!
- Mais que a minha própria vida. - Richard beijou-lhe a mão e viu uma lágrima - Por favor não chores.
- Não... - Uma outra lágrima juntou-se à primeira.
- Sei que me desejas e penso usar isso a meu favor. Vou fazer o impossível para te conquistar, um dia vais acordar amando-me como te amo. Posso esperar o tempo que for necessário.
- Não precisas de esperar - Christina colocou um dedo nos lábios dele - Esse dia já passou à muito.
Richard olhou-a nos olhos brilhantes pelas lágrimas e apertou-a junto ao peito. Pouco a pouco o coração dele retomou um ritmo mais brando enquanto as lágrimas dela cessavam. Richard desviou o corpo dela do seu e beijou-a demoradamente para depois a afastar.
- Por muito que deseje continuar a beijar-te e fazer amor contigo agora mesmo, acho que não seria correto para com a tua mãe, ela tem sido tão simpática comigo.
- A minha mãe foi mais uma das tuas conquistas.
Quando falou nas conquistas a voz tremeu e Richard notou isso, beijou-lhe a testa e abriu a porta.
- Temos muito que conversar mas durante um passeio, torna-se difícil controlar-me quando estás junto a mim e a situação complicasse se lhe juntas uma cama.
- A presença ou falta de cama nunca foi impedimento.
- Também tens razão. - Ele beijou-a - A julgar pela atitude da tua mãe não lhe falaste do modo como nos conhecemos.
- Achei melhor não. Porquê?
- Durante a viagem pensei em como ela estaria furiosa comigo, pela forma como te tratei e no que lhe diria. Mas tratou-me com tanta amabilidade e carinho que percebi que não sabia de nada.
- Achas que diria à minha mãe que achavas que te tinha roubado?! Dificilmente seria capaz, imagina a minha vergonha!
- Christina!!! - Marylin apareceu no corredor frente a eles - Não acredito que estejas com vergonha! Nos dias de hoje já nem eu acho estranho os namorados dormirem juntos antes...
- Mãe! - Christina interrompeu a mãe, mas calou-se ao sentir a mão de Richard apertar a sua.
- O que foi?! - Marylin olhou para Richard que parecia divertido - Não tenho razão?!
- Sim mãe, tens toda a razão. - Ela beijou a mãe e sorriu - Vamos passear, não demoramos.
- Fazem bem. Mas não se atrasem para o almoço, sabes como é o pai.
Caminharam por entre as árvores em silêncio apenas desfrutando da companhia um do outro.
- Quando vais perguntar?!
- O quê?!
- O que quiseres. - Richard parou para a encarar- Quando falaste nas minhas conquistas notei o teu olhar triste. Não quero que te preocupes com outras mulheres.
- Nem com a ruiva irritante?!
- Ruiva?! - Richard franziu o sobrolho - Ah! Pilar!
- Seja lá quem for, é irritante e passa a vida colada a ti.
- Pilar é cunhada da minha irmã. - Ele sorriu ao ver o espanto no rosto dela - Não sou idiota, percebo quando uma mulher está interessada em mim. Sei que bastava estalar os dedos para ela saltar para a minha cama. - Richard beijou-lhe a testa - Para mim não passa da irmã do meu cunhado. E nunca a vi como uma mulher, mas tens razão, tenho de falar com ela. Como possivelmente ficará mais uns dias, teremos de falar.
- Ficará?!
- Pilar é modelo e ás vezes dorme lá em casa.
- Porque não fica num hotel?!
- Discutiu com uma colega, o clima é de cortar à faca quando se encontram, como ainda tem contrato por mais um ano e no último desfile a situação deu em estalo, a minha irmã pediu-me se ela podia dormir lá. São apenas uns dias esporádicos, mas gosto de ver que tens ciúmes!
- Gostas?! Que engraçado... se os sentisses não pensavas igual.
- Se os sentisse?! Tive poucos... Principalmente de Willie. - Richard olhou-a nos olhos - Não suportava a ideia de outro homem te tocar, eras minha.
- Isso é outra coisa que não gosto.
- O quê?!
- Ser tua... não sou um objecto.
- Oh Deus! - Ele beijou-a - Não era com essa intenção. Queria que todos soubessem que não estavas disponível, que eras minha, assim como eu sou teu. Que eras a minha mulher. A mulher que amo e que...
- Se é assim...
- Quando te vi a primeira vez e disseste quem eras, pensei que tinhas usado a tua amizade com Ana para me roubares. Depois percebi que não serias capaz disso, o mais correto seria rasgar o contrato, pedir desculpas e deixar-te ir.
- Pois seria! - Christina olhava divertida para a cara dele.
- Seria se eu não levasse o dia a pensar em ti! Por essa altura só pensava em beijar-te e levar-te para a minha cama. Tinhas de ser minha como fosse. Foi aí que tive a estúpida ideia de te ameaçar. Não permitiria que te afastasses de mim, enquanto ali estivesses podia conquistar-te.
- Nem que fosse à força e sob ameaça?!
- Do meu ponto de vista era uma boa forma. Obrigando-te a estar junto a mim, podia ver como reagias à proximidade. Desconfiava que havia alguém na tua vida, mas ele não interessava. Ele não te fazia feliz. Convenci-me disso e usei esse argumento para me justificar, como se isso pudesse ser justificado. Quando percebi que me desejavas como eu a ti, o meu primeiro impulso foi levar-te para a minha cama e não te deixar sair de lá. Mas pensei que, com o historial de maus tratos, podias interpretar a situação mal e fui esperando, queria que fosses tu a dar o primeiro passo. Mas isso não aconteceu, insistias na tua inocência, o que me deixava desesperado.
- Desesperado e exasperado!
- Possivelmente. - Voltou a beijá-la - Mas tu não facilitaste, primeiro usavas o "senhor" como um escudo protector. Tive de te beijar para derrubar as formalidades, mas na primeira oportunidade fugiste. Nesse fim de semana que desapareceste não sabia que fazer, nem onde te encontrar. Pensei que tinhas fugido de mim, que talvez não te importasse que fizesse queixa do roubo, quase dei em louco a imaginar onde estarias. E voltava a perguntar-me, porque no meio de tanta mulher, tinha de amar uma que não me amava. Quando aqui cheguei...
- Isso é uma coisa que me intriga, como descobriste onde estava?
- O teu telemóvel.
- O telemóvel?!
- Sim pelo GPS, pedi a um amigo, nas três vezes, se bem que numa delas não teve sucesso. Mas isso não é relevante.
- Não é relevante...sei...
- Continuando, quando cheguei, a tua mãe supôs que era teu namorado e que tínhamos discutido, resolvi aproveitar. Não foi bonito da minha parte não dizer a verdade eu sei. Mas o coração falava mais alto que a cabeça. Depois na casa de campo, bem que tentei manter-me afastado, mas ver-te apenas com a minha camisa...estavas sensual demais. Desisti de todas as minhas boas intenções e fiz o que à muito queria. Mas na manhã seguinte parecias arrependida, algo tinha mudado...
- Misty apareceu nessa manhã.
- E ficaste envergonhada?!
- Ela disse que não era a primeira a vestir a tua camisa.
- Percebo. - Richard olhou-a fixamente - Não posso apagar o meu passado, apenas posso prometer que não haverá outra mulher. E se quiseres podes queimar todas as camisas.
- Posso?!
- Se isso te fizer feliz.
- Acho que não é necessário, fico satisfeita por ser a única a vesti-las daqui para a frente.
- Sempre e quando me permitas ajudar-te a despi-las.
Olharam-se mutuamente e os seus olhos prometiam que assim seria. Ao longe ouvia-se o som de um tractor que se aproximava lentamente. Mark acenou-lhes quando os reconheceu e encaminhou-se para casa. Pouco depois eles regressavam para o almoço.
Depois de almoço, apesar do olhar de desespero dos homens, a conversa girava em torno das roupinhas do novo sobrinho. Christina foi com a cunhada apanhar os sacos com a roupa que tinham comprado nessa manhã. Ao regressar à sala Christina notou que a cunhada parou de repente e ficou a olhar o chão com os olhos muito abertos.
- Acho que vais ser tia ainda hoje.
- Mas... não era para o mês que vem?!
- Não me parece... - A cunhada soltou um gemido deixando a frase a meio. - Fred!
- FRED...
Christina correu para a sala chamando por Fred e por Richard a plenos pulmões.
Pela segunda vez em pouco tempo Christina estava num hospital, se bem que desta vez os motivos eram mais alegres, mas a espera era igualmente angustiante.
- Isto é sempre assim?! - Ela olhava para as portas onde a cunhada tinha entrado com o irmão - Está lá dentro à quanto tempo?!
- Acalma-te. Nem quero imaginar quando chegar a tua hora. - Marylin sorriu para a filha - Quando tu nasceste levei toda a noite com dores. E só nasceste quase ao meio dia. Lembras-te Mark?!
- Se lembro... a noite mais angustiante da minha vida. - Mark abraçou Marylin - Mas uma das mais felizes.
Embora não fosse o primeiro sobrinho, este era o primeiro em que estava presente. Não conseguia esquecer a cara da cunhada a olhar o chão molhado e os gritos contidos enquanto a levavam na ambulância. Seria assim tão doloroso?! Devia de haver uma forma de tornar aquilo mais agradável! A epidural era uma opção mas segundo alguns médicos a epidural reduz as contracções, o que é um risco, e a mãe deve seguir as instruções da parteira para que o parto corra bem, além de que pode reduzir o ritmo cardíaco do bebé assim como o oxigénio. E nem sempre são eficazes. Quando chegasse, se chegasse, a hora dela seria assim, ao natural, podia ser...
- Já nasceu. - A enfermeira apareceu na sala de espera - É menina.
- Menina?!
- Uma bela menina. Correu tudo lindamente. - A enfermeira sorria - Podem ir ter com elas.
A cunhada, embora estivesse muito pálida, sorria para a sua filha. Fred sentado ao lado dela agarrava a mãozinha da filha recém nascida. A cunhada ao vê-los levantou a vista a sorrir.
- Uma menina! - Mark parecia não acreditar.
- Depois de tanto rapaz finalmente a menina.
Marylin pegou na neta ao colo e sentou-se num cadeirão com Mark, que ficou a olhar embevecido para elas.
- Queres pegar-lhe?! - Marylin olhou a filha.
- Claro que quer, afinal é afilhada. - A cunhada recostou-se na almofada.
- Outro?! - Christina pegou no pequeno ser, tão frágil. - Já tenho o Fred Júnior.
- Quem manda dizer que se fosse menina eras a madrinha?! - Fred piscou o olhou - Acho que Richard não se incomoda de ter dois afilhados, pois não?!
- Claro que não. - Richard olhava para o bebé com carinho.
- Eu acho que ele está a pensar nos filhos que gostaria de ter. - Marylin olhou para os dois enquanto segurava o braço do marido - Já imaginaste a nossa menina a ser mãe?!
Ao ouvir aquelas palavras algo despertou no subconsciente dela, como um fantasma que está adormecido à muito, o exame de paternidade apareceu na sua mente, assombrando aquela felicidade.
Adorei o texto!! Beijinhos <3
ResponderEliminarInspiring
Obrigada linda, beijinhos <3
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