sexta-feira, 10 de março de 2017

ENGANOS 4ª PARTE



Anoiteceu e ela ainda estava no armazém, agradeceu o facto de ele a deixar ali enquanto ia falar com o técnico. Voltou pouco depois, estava aborrecido pois o técnico não atendia e isso obrigava-o a passar na oficina. Christina pensou chamar um táxi, preferia estar sozinha, mas Richard fez questão de a levar a casa. O ar dentro do carro sentia-se pesado devido ao silêncio. Ela ainda pensava no quase beijo, sentia-se tentada a atirar-se nos braços dele e isso não era boa ideia. Felizmente o técnico responsável pelas máquinas ligou e Richard passou praticamente o tempo todo a falar com ele. Tentou concentrar-se na conversa deles para evitar pensar no que sentia, mas nada conseguia tirar da sua cabeça a imagem da boca dele tão perto da sua.

- Christina! - Richard chamou a sua atenção quando parou num semáforo - Sabes onde está?
- Desculpe. - Esperava que ele não percebesse o que estava a pensar - Quem?!
- Ana! Perguntei por Ana. A tua amiga, recordas-te dela?!
- Não precisa de me tratar como uma débil mental.
- Não te estou a tratar como tal, se bem que devia. - O carro arrancou com uma velocidade que lhe pareceu excessiva- Quantas vezes tenho que te recordar o meu nome?
- Não trato os meus chefes pelo nome, não seria apropriado.
- Nada no nosso contrato é apropriado. As circunstâncias são algo... inusitadas.
- Se me deixa-se explicar, nada disto...

Ele travou o carro bruscamente e agarrando-a pelos ombros forçou-a a encará-lo.

- Queres arranjar desculpas para te veres livre de mim?! Não vou permiti-lo.

E sem a soltar desceu a boca sobre a dela. Podia sentir a fúria dele naquele beijo, um beijo que tinha como propósito demonstrar quem tinha o poder. Podia sentir-se enganado, roubado até, mas isso não justificava aquele arrebato de ódio, aquele desejo de a castigar. Algo lhe dizia que havia algo mais por detrás de tanto rancor! O seu coração encheu-se de pena dele e duas lágrimas rolaram pela sua face até ás suas bocas. Ele afastou-se um pouco e olhou-a nos olhos, pensou que ia afastar-se mas voltou a beijá-la, desta vez com mais suavidade e ela entregou-se ao beijo. Ao perceber a reacção dela Richard meteu a mão por entre as costas dela e o banco do carro, puxando-a para junto de si.

- Agora que quebramos as barreiras entre empregado e patrão podes abolir o você.
- És um... - Christina ficou sem fala, aquilo tudo para o tratar pelo nome!
- Vês?! Não foi assim tão complicado.- Voltou a arrancar com o carro - Voltando ao que te perguntei, Ana. O que sabes dela?
- Nada. - Se ele não estava disposto dar-lhe o beneficio da dúvida ela também não lhe diria nada.
- Nada?! E como sabes que não vai voltar? - Perante o silêncio dela ele insistiu - Vamos Christina, não tenho paciência para este tipo de jogos.
- Apenas me disse que precisava de um tempo.
- E achou boa ideia partir sem avisar.
- Ela queria falar contigo antes disso.
- Como podes ver não o fez. - O tom de voz mostrava que não acreditava nela - Não tentes fazer-me de idiota.
- Que queres que te diga?! Não te sentes mais idiota que eu! - Arrependeu-se assim que o disse, aquelas palavras revelavam que sabia mais do que queria dizer. - Sei tanto como tu.
- Vou fingir que acredito. É tarde e precisamos descansar. - Ele olhou o relógio - Está pronta ás oito, estarei aqui para te apanhar.

Foi nessa altura que percebeu que estava em frente da sua casa. Agarrou a mala em silêncio, sentia-se uma adolescente apanhada numa mentira. Saiu do carro e quando estava a procurar a chave do prédio ouviu a porta do carro fechar-se e segundos depois sentiu a mão dele na sua cintura puxando-a para junto dele antes de a beijar, sentiu a língua dele fazer uma ligeira pressão para forçar a entrada na sua boca, no meio de um gemido de prazer entreabriu os lábios e ele brincou com a sua língua. Sentiu-se frustrada quando ele se afastou, queria mais!

- Boa noite Christina.

Richard voltou para o carro deixando-a parada no meio da rua, sem saber que pensar daquele beijo. Uma coisa ela tinha a certeza, nunca tinha sentido nada assim, com um só beijo ele fez com que esquece-se tudo, inclusive o motivo para o qual trabalhava para ele. Quando entrou em casa o telefone de casa piscava. Carregou no botão para ouvir as mensagens enquanto se descalçava. Uma era da sua mãe. Queria recordá-la da festa surpresa para o pai nesse fim de semana. Até isso ela esquecera! Faltava apenas um dia e ainda não comprara a prenda do pai. A outra era de Ana, apenas pedia desculpa por tudo, ainda ouviu um soluço antes da amiga desligar.  Definitivamente Ana não estava bem.
Quando se deitou ainda pensava em Ana, embora a tivesse colocado numa situação embaraçosa, não conseguia deixar de pensar que a amiga estava metida numa enorme confusão. Apenas desejava que Ana consegui-se sair de tudo aquilo sem grandes consequências.

Acordou cedo, o sol começava a brilhar por entre as nuvens. Quando Richard parou junto ao prédio ela estava na entrada.

- Bom dia! - Ele sorria para ela - Dormiste mal?
- Bom dia. Gosto de me levantar cedo.
- Eu também, sempre e quando não tenha companhia.

Ignorando o comentário dele entrou no carro, não queria pensar nas companhias que ele geralmente tinha. E na que possivelmente teve depois de a beijar.

- Onde vamos?
- Fugindo do assunto?! Pensei que eras uma mulher moderna, sem tabus.
- Não fujo. Simplesmente não vejo porque tenha de comentar a minha vida privada.
- Muito bem. Deixa-me avaliar a situação. - Ele conduzia habilmente por entre o trânsito - Ora bem, a julgar por certos indícios, existe alguém na tua vida, mas pela forma como respondeste ao beijo deduzo que não te satisfaz. Acertei?
- Como disse, não tenho motivo para te contar a minha vida privada.
- Isso faz-me pensar que acertei. Não devias de reprimir o que sentes, não podes desistir de ser feliz.
- Quem disse que não sou?!
- Tudo em ti diz que não és feliz. - Ele estacionou o carro junto a uma casa de estilo vitoriano - Mas  esta conversa terá de ficar para outro dia. Agora temos de trabalhar.
- Aqui?!

 Ele não lhe respondeu, um homem de aspecto muito sério saiu ao encontro deles. Depois de se apresentar como representante do dono da casa, acompanhou-os até uma sala enorme, cheia de móveis tapados com panos que, embora fossem mais cinzentos que outra coisa, outrora foram brancos. Um quadro retratava uma senhora com um vestido verde escuro comprido, tinha uma renda branca nos punhos e na gola. Parecia olhar directamente para ela, pior, parecia que a seguia com os olhos. Não sabia se era pela penumbra que envolvia a sala, devido à imensa sujidade das janelas, se pelo ambiente em si, sentiu um arrepio na espinha, sem querer agarrou o braço dele. Mas retirou a mão imediatamente. Era apenas uma casa, demasiado lúgrebe era certo, mas não passava de uma casa velha e bafienta. A casa devia de estar fechada à anos! Conteve a tentação de abrir uma janela, o homem pareceu adivinhar os pensamentos dela e abriu um janela. Sentiu-se agradecida pelo gesto.

- Peço desculpa. - O homem continuava a abrir janelas - A electricidade foi cortada à imenso tempo.
- Estamos familiarizados com a escuridão. - Ele olhou para ela.

Ela corou, aquele comentário levou-a a recordar a noite anterior, o quase beijo e o beijo que se seguiu depois. Mas pouco depois esquecia o beijo e tudo o mais, ele trabalhava imenso e fazia questão que os seus funcionários fizessem o mesmo. Ou era só com ela que era exigente?!
Passaram a manhã e a maior parte da tarde naquela casa, anotando e tirando fotografias, ele iria comprar o recheio praticamente todo.
O herdeiro não estava interessado em manter a casa nem nada do que estava lá dentro. Segundo Richard havia ali verdadeiras relíquias, os móveis eram todos feitos à mão. O que aumentava o seu valor. Se ele estivesse correcto uma das mesas era uma peça raríssima, apenas existiam duas.
A meio da tarde doía-lhe os dedos de tanto tomar notas e as pernas de tanto subir e descer as escadas. Quando no fim da tarde ele a deixou em casa, sentia-se tão cansada que agradeceu por ele a liberar mais cedo.

Deitou-se cedo e levantou-se ainda de madrugada. Era o dia do aniversário do seu pai.  Como só era esperada ao fim da tarde tinha tempo de comprar a prenda para o pai, sabia exactamente o que lhe levar. Com isso em mente saiu de casa. Tomava o pequeno almoço numa pastelaria quando o seu coração deu um salto.

- Yorin! - Uma voz de homem ouviu-se bem alto - Já te disse que pares de incomodar o teu irmão!

Ouvir o nome da pequena lembrou-a que não tinha avisado onde ia, apenas tinha comentado com o dr. Lond que tinha ido passar o fim de semana com uns amigos. Mas era fim de semana e embora no contrato ela concorda-se em trabalhar qualquer dia, ele não lhe tinha dito nada. E isso também estava escrito, ele teria de a avisar com antecedência! Eram os seus dias de descanso. Durante o mês e meio que trabalhava para ele, nunca precisou dela aos fins de semana. Estava a preocupar-se por nada, sentindo-se mais tranquila acabou o pequeno almoço e dirigiu-se à loja onde viu a prenda perfeita para o pai. Uma cana de pesca. À anos que ele dizia que tinha de comprar uma, mas depois inventava desculpas para não o fazer. Ela sabia que o pai adiava a compra porque o dinheiro fazia falta para coisas mais urgentes, como colocar um telhado novo ou a reparação da cerca, para que o gado não fugisse. O pai não dormiria sossegado se usasse o dinheiro em coisas que eram supérfluas, quando havia tanta coisa a precisar de ser reparada. Era a prenda perfeita! E sorrindo saiu da loja com o estojo devidamente embrulhado de forma a não denunciar o conteúdo. Telefonou à mãe a dizer que ia sair e chamou um táxi para a levar à estação, ainda tinha três horas de viagem.
Durante a viagem pensou no pai e em como era amado pelos filhos e adorado pela mulher. A forma como eles se olhavam, apesar dos quase quarenta anos de casamento, mostrava bem o quanto se amavam. Tinham casado cedo e os filhos não tardaram a chegar. Primeiro o seu irmão Frederik, Fred para os amigos, dois anos depois chegava ela. O pai tinha herdado a quinta dos pais e mudaram-se para lá quando ela tinha meses, viviam do que produziam na quinta, se a colheita era satisfatória e vendia o gado a bom preço, podiam viver mais desafogadamente, mas nem sempre era assim. E havia sempre algo a consertar ou pagar. Ela sabia os sacrifícios que os pais fizeram para eles irem estudar. A mãe, embora gostasse da vida que tinha, sonhava com uma vida melhor para eles. Mas o irmão adorava aquela vida, pouco depois de terminar os estudos casou e voltou para a quinta, para ajudar o pai. Mas ela queria algo mais, não que se envergonhas-se das suas raízes. Não tinha medo de sujar as mãos, sabia pegar no tractor para lavrar a terra e ordenhar uma vaca, simplesmente não gostava delas!

Quando chegou à estação o irmão estava à sua espera com os sobrinhos.

- Fred!
- A minha maninha! - Fred abraçou a irmã com carinho
- Estás a ficar careca?! - Ela gracejou.
- Nem todos herdámos a farta cabeleira da mãe.
- Felizmente fui eu.- Ela sorriu e piscou o olho aos sobrinhos- Mas quem são estes meninos lindos!?
- Oh tia, já somos uns homens!
- Os homens não comem chocolate. Pois não Fred?!

Riram da cara deles e depois de dar aos sobrinhos os prometidos chocolates, entraram na velha carrinha do pai. Fred colocou-a ao corrente da situação, estava tudo a andar sobre rodas, o pai estava a renovar a cerca que misteriosamente caíra durante a noite. A mãe ficara em casa para o pai não suspeitar, a cunhada estava na estalagem a ajudar na decoração e ele, que supostamente tinha ido à oficina apanhar uma peça, tinha de recolher o bolo e deixá-lo na estalagem. Durante o resto da curta viagem Fred contou-lhe as novidades da região, os casamentos e os poucos baptizados...

Os donos da estalagem fizeram um belíssimo trabalho. A sala estava linda, as pequenas mesas cobertas com toalhas brancas, tinham apenas um centro de mesa com flores e uma vela vermelha com fita branca a decorar. Adorou tudo, muito simples mas bonito, bem ao gosto do pai. Durante o almoço falou com a cunhada sobre os restantes preparativos. Quando caiu a tarde a família e os amigos mais chegados começaram a chegar. As prendas eram colocadas numa mesa para esse efeito. À hora combinada apagaram as luzes da sala e esperaram pelo convidado, que ao vê-los sorriu emocionado, mas ao ver a filha não conseguiu segurar algumas lágrimas.

- Estavas metida nisto também?! Podia dar-me uma coisa má.
- O pai tem o coração mais forte que um touro. - Christina abraçava o pai tentando conter as lágrimas.
- Ei. É dia de festa. - Fred interrompeu-os. - Nada de lágrimas.
- Tens razão. Vou procurar a mãe.

Durante o jantar ainda pensou em Richard e nos beijos dele, mas a abertura das prendas distraiu-a desses pensamentos. O pai adorou a prenda dela e depois de um discurso emocionado deu inicio ao baile com a esposa. Ela aproveitou para apanhar ar fresco, a noite estava fria mas a lua estava tão brilhante, que não se importou de apanhar frio só para a contemplar. A última vez que contemplou uma lua assim, tão limpidamente, sem enormes prédios, foi na casa de campo de Richard. Mas porque estava a pensar nele outra vez?! Tinha ali a sua família, as pessoas que realmente amava. Porque não sentia nada por Richard, o facto de gostar dos beijos dele e de pensar nele era por estar sozinha à demasiado tempo.

- Estás aqui. - A cunhada deu-lhe o telemóvel - O teu telemóvel está a tocar à imenso tempo.
- Obrigada. Deve de ser Ana.
- Como está?
- Sinceramente não sei. Telefonou ontem para casa mas estava a trabalhar.

Alguém chamou a cunhada desde o salão e ela ficou sozinha, olhou o número, mas não era Ana, era Richard. Tinha deixado uma mensagem, mas quando ligou para ouvir o telemóvel tocou outra vez e ela assustou-se. Atendeu enquanto se afastava do barulho da festa.

- Sim?
- Onde estás?!
- Caso te tenhas esquecido é fim de semana. A escravidão foi abolida à imensos anos.
- Ao menos atendias o telemóvel. Fazes ideia do número de vezes que te telefonei?
- Não, mas posso confirmar.
- Deixa-te de brincadeiras. Pensei que... - Ele calou-se por uns instantes e depois falou mais calmamente - Onde estás?

Naqueles segundos passaram pela sua cabeça mil e uma razões para ele telefonar. Mas a que mais martelava na sua cabeça, era o facto de ele pensar que ela tinha fugido com algum dos seus preciosos artigos.

- Pensas-te o quê?! Pensas-te que fugi com alguma das tuas relíquias?! - Respirou fundo antes de continuar- Segunda feira estarei aí para cumprir o meu contrato.

Christina desligou a telemóvel sem pensar no que ele podia fazer. Sinceramente não se importava, ele nunca iria confiar nela, iria vê-la como uma ladra para sempre. E isso magoava-a mais do que ela queria admitir. Sentindo as lágrimas deslizarem pela sua face afastou-se o mais que pode da festa.

- Problemas? -A voz da mãe chegou até ela como um bálsamo. Aceitou o abraço da mãe e deitou a cabeça no colo dela, como fazia quando era criança. - Vais ver que não é nada. Amanhã tudo estará melhor.
- Desculpa. - Não conseguiu controlar as lágrimas - Não queria estragar a festa do pai, mas...
- Psiu. Deita essa dor toda fora.

E assim fez, deixou-se ficar no colo da mãe até parar de chorar. Quando terminou sentia-se mais aliviada. Sorriu para a mãe e voltaram para a festa. A mãe era assim, não forçava nada, esperava pacientemente que eles se sentissem capazes de desabafar com ela, coisa que acontecia mais cedo do que inicialmente eles pensavam. Era assim desde sempre e o facto de estar na cidade não mudava isso.

Acordou com o som do tractor, nessa noite dormiu mal, teve alguns pesadelos, onde Richard a acusava de roubo e era levada para a prisão para vergonha da sua família. Abriu a janela e ficou a ver o tractor afastar-se. Depois de tomar banho desceu para ajudar a mãe e a cunhada. Como o almoço seria na estalagem, pouco havia a fazer e mandaram-na apreciar a manhã. Segundo a sua cunhada, na cidade não tinha aquele ar limpo, sem cheiro a alcatrão e a cimento. E tinha razão, ali respirava-se livremente, ali  não sentia as narinas fecharem-se com o fumo dos carros. Apanhando uma maçã saiu e foi passear pela quinta. O velho cão reconheceu-a e foi atrás dela. Voltou a tempo de ajudar a mãe a estender a roupa antes de irem almoçar.

- Voltas no comboio da tarde? - O pai mantinha o braço nos ombros dela - Ainda continuas a dar-te com aquela rapariga?
- Sim pai. Ainda me dou com ela e sim, vou no comboio da tarde. Amanhã tenho de trabalhar.
- A tua cunhada comentou que voltas-te ao teu trabalho antigo.
- Não é bem o mesmo trabalho.
- Espero que não exijam demais de ti. As mulheres são muito desfavorecidas em certos trabalhos.
- Pai sou secretária. Mas acho que me pagam bem. - Tendo em conta o sucedido, acrescentou mentalmente. - Afinal ganho mais do que ganhava anteriormente.
- A julgar pela minha prenda tenho de acreditar em ti.
- Christina. - A mãe chamou-a - Está aqui uma pessoa para...

A voz da mãe tornou-se inaudível quando viu quem a acompanhava. Richard estava ali, bem junto à sua mãe.

- Espero não interromper. - Ele sorriu ao mesmo tempo que estendia a mão ao pai dela - Sei que está de parabéns. Muitas felicidades.
- Obrigada. - O pai apertou a mão dele - Você é?!
- Richard.
- Querido, vamos para dentro. Seguramente Christina e Richard querem falar a sós.
- Mãe...- Ela tentou protestar - Não é preciso...
- Fica para almoçar connosco Richard?! - A sua mãe já arrastava o marido - Seria um prazer.
- Não quero incomodar.
- Não é incomodo nenhum.

Por alguns minutos ficou a olhá-lo em silêncio. Que estava a fazer ali?! E como a tinha encontrado?!

- Podias ter dito que estavas com a tua família.
- Não sabia que tinha de te dizer o que faço nos meus dias de descanso.
- Não comeces.
- Não estou a começar nada, apenas não vejo porque teria que te informar. Se vieste confirmar se trouxe algo que não me perten...

Richard puxou-a de encontro ao seu peito e beijou-a, ficou sem reacção. Ele beijara-a diante de toda a sua família. Que pensariam eles?! Tentou afastá-lo, mas ele aumentou a pressão que fazia para a manter junto a si ao mesmo tempo que o beijo se tornava mais terno. Quando sentiu a mão dele acariciando o seu pescoço não conteve um suspiro. Quando ela ia subir os braços para rodear o pescoço dele, ele afastou-se. Sentiu-se desamparada, ali no meio do jardim a olhar para ele, ao contrário dele que parecia divertido.

- Porque o fizeste?! - Tinha vontade de chorar e ao mesmo tempo de o esbofetear - Porquê?!
- Porque quis e porque os teus pais estão a ver, não me pareceu justo estragar o aniversário do teu pai com coisas desnecessárias.
- Desnecessárias?! - Ela começava a irritar-se - Sabes o que vão pensar?! Os meus pais não são tão liberais como tu.
- Por falar em liberal, depois do almoço, regressas comigo.
- Nem em sonhos! - Ela levantou a voz - Prefiro ir a pé!
- Se vais começar a gritar ou a bracejar vou beijar-te outra vez.
- Não serias capaz!
- Queres tentar?

Não tentou, era melhor os pais pensarem que eram namorados e que tinham discutido, que ter de lhes contar o que realmente se passava. Com isso em mente, colocou o melhor sorriso que conseguiu e entrou no salão com ele.

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