segunda-feira, 20 de março de 2017

ENGANOS 8ª PARTE



Christina sentou-se no banco traseiro do táxi e recostou a cabeça respirando fundo. Não conseguia apagar da sua cabeça a imagem da amiga, a julgar pelo estado do olho dela, esta tinha sofrido bastante nas mãos de Joss. Estremeceu ao imaginar a amiga a ser espancada, esperava que Ana pudesse recomeçar e encontrasse alguém que a fizesse feliz.
 Assim como ela esperava encontrar alguém, alguém que um dia a ajudasse a esquecer Richard.

 O sol desaprecia por detrás dos edifícios quando chegou a casa de Richard. Inconscientemente levou a mão à mala procurando no seu interior o grosso envelope.  Ana deu-lho antes de subir para o comboio pedindo-lhe para o abrir em casa.

As luzes do escritório estavam apagadas, apesar da penumbra que envolvia a habitação, conseguiu vislumbrar Richard no sofá. Acendeu a luz e observou-o.
Mantinha o olhar perdido num ponto invisível para ela, parecia-lhe cansado. Sentiu vontade de ir até ele, abraça-lo e apagar do rosto dele aquela expressão, mas lembrou-se da ruiva de voz melosa e a compaixão transformou-se em ciúmes, que por sua vez se tornaram em ódio.

- Desculpa ter saído assim.
- Resolveste o assunto?
- Sim. Acho que sim.
- Achas?! Ou seja, saídas destas vão-se repetir.
- Espero que não.
- Eu também. Não quero ter de te recordar que me pertences, pelo menos durante o horário de trabalho.
- Sei quais são as minhas obrigações e sempre cumpri o contrato! - Christina não gostou do tom de voz dele - Permaneço aqui até à hora que a ti te convém! O dia de hoje foi uma excepção, não podia deixar de ir!
- Claro! Todos temos emergências.
- Como disse anteriormente, espero que não se repita. - Christina preferiu não dar importância ao tom de voz dele - Mas mesmo que assim seja, isso não te dá o direito de dizer que te "pertenço". Não sou uma peça que adquiriste numa feira ou num leilão.

Caminhou em direcção à porta, decidida a ir embora, mas lembrou-se que se o fizesse estava a desdizer as suas próprias palavras, ele ainda não a tinha dispensado. Contendo as lágrimas eminentes, começou a organizar os papéis que anteriormente tinha deixado em cima da secretária. Desejava que pelo menos ele saísse dali. Podia sentir o olhar dele fixo nela, como um falcão rondando a caça.

- Não?! Eu tenho a certeza que sim. - Richard arrastava as palavras, segundos depois estava junto a ela - Ás vezes esqueço-me que não vale a pena argumentar contigo, não consegues ver o óbvio.
- O óbvio?! Claro! Tu achas que...

Mais uma vez ele aprisionou-a entre as suas pernas e beijou-a, abafando a reclamação dela. Richard não precisou de insistir muito para que ela se rendesse. A respiração agitada dela e a forma como as suas mãos procuravam a pele dele, reflectia a urgência que tinha em sentir o corpo dele contra o dela.
Sentindo a resposta dela tirou-lhe a camisola e com pequenos beijos, que iam desde o seu pescoço até à curva dos seus seios, levou-a a pedir-lhe para não parar. Sem a soltar apagou a luz e encostou-a à porta do escritório mantendo o corpo dela preso pelo seu. Christina pensou que ia enlouquecer de desejo quando sentiu a saia subir até à cintura e a mão dele procurou as cuecas para lhas tirar. Mordeu o lábio inferior, tentando abafar os gemidos, ao sentir como ele a levava uma e outra vez ao limiar da loucura pelo prazer proporcionado, até que finalmente apagou o fogo que a queimava por dentro.

- Agora diz que não me pertences.

Ao vê-lo afastar-se Christina sentiu-se a mais reles das mulheres, ele tinha-a usado, tinha usado o desejo que sentia por ele para a subjugar. Preferiu não lhe responder, estava psicologicamente débil demais para o fazer, se o fizesse possivelmente iria chorar. E não se iria humilhar a esse ponto.  Prometendo a si mesma colocar um fim àquelas situações, que se estavam a repetir com demasiada frequência, recompôs a roupa procurando algo para dizer.

- O facto de me sentir atraída por ti não quer dizer que seja tua.
- Uma coisa engloba a outra.
- Tens a certeza?! - Christina apanhou a mala e munindo-se de toda a coragem abriu a porta - Eu não estava tão segura.

Saiu consciente que bateu a porta com força demais, o que chamou a atenção de algum do pessoal doméstico. Sem se importar com o que pensavam abandonou a casa, o frio que se fazia sentir na rua obrigou-a a aconchegar o casaco ao corpo. Caminhou ao longo da avenida perdendo-se na multidão até chegar ao centro da cidade, onde chamou um táxi e foi para casa, para deixar sair toda a frustração e raiva em forma de lágrimas.

Debaixo da água quente do duche, pensava no que fazer para acabar com aquele desejo incontrolável que sentia por ele, era tão intenso que chegava a ser doentio. Bastava ele tocar-lhe que ela esquecia até quem era. Acabou o duche sem conseguir encontrar uma resposta concreta.
Fez um chá e apanhou o envelope que Ana lhe tinha dado. Embora lho tivesse entregue em mão, o espaço para morada dela estava preenchido. Sem grande ânimo sentou-se na cama, recostou-se nas almofadas e abriu-o.
Continha uma pequena caixa vermelha e duas folhas cuidadosamente dobradas. Abriu a caixa, um pequeno pano de seda envolvia uma moeda muito bem cuidada. Por momentos sentiu-se eufórica, se aquela moeda era a de Richard estava ali a resposta à suas preces. Não querendo alimentar falsas esperanças, pensou na outra possibilidade, podia não ser, Joss podia tê-la trocado por outra, afinal não se ia deixar enganar por uma principiante como Ana. Desdobrou uma das folhas. Estava endereçada a Richard...

" Dr. Richard, em primeiro lugar gostaria de pedir desculpas por o ter colocado na situação incomoda de procurar outra ama..."

Christina voltou a dobrar a folha e colocou-a em cima da cama junto à caixa. Desdobrou a outra folha, essa era destinada a ela.

" Querida amiga, se tiveste compaixão desta idiota e aceitaste falar comigo, algum do conteúdo desta carta não te é desconhecido. Mas se continuas furiosa comigo, o que entendo, e não nos encontrámos, aqui te explico o que se passou. Não sem antes te dizer que me arrependo tanto, não sabes como me mortifico por te ter colocado nesta situação. Agora sei que tinhas razão a respeito de Joss, mas isso não justifica a minha conduta, na caixa está a moeda que roubei ao dr. Richard, entrega-lha por favor. Sei, por exclusão de partes, que te culpa por isso e sendo o homem implacável que é, arranjou forma de te fazer pagar. Pensei em enviá-la para os escritórios, mas além do medo que senti ao pensar que se podia extraviar, não tinha a certeza se ele te libertaria do castigo que te impôs. A melhor forma de te ajudar, é seres tu a entregar-lha. Entrega-a juntamente com a outra folha, lá está a minha confissão, certifica-te que ele sabe que não foste tu a roubá-la. Apenas foste vitima da amizade que nos uniu, e espero que aguente esta provação. Tenta desculpar esta doida que muito se arrepende. O que me leva a outro pedido, peço-te por o que mais ames, espera dois dias. Apenas dois dias antes de entregares a moeda. Deixa-me sair do país e recomeçar uma vida nova. Talvez não o mereça, por tudo o que te fiz passar mas sei que entenderás quando souberes o tipo de homem que é Joss..."

A carta detalhava todos os acontecimentos da vida dela durante o tempo que esteve com Joss, alguns dos quais ela ouviu nessa mesma manhã. Dobrou a carta e guardou-a numa gaveta. A outra voltou a colocá-la no envelope junto com a caixa da moeda.
Bastava esperar mais um dia, talvez dois para ela se ver livre de Richard. Dele, dos beijos e caricias. Sentindo uma mistura de alívio e desgosto, por finalmente se poder afastar dele adormeceu.

Saiu de casa mais cedo e apanhou um táxi, queria evitar que Richard a fosse buscar. Não estava com animo de dividir com ele o reduzido espaço do carro. Assim que James abriu a porta, a voz melosa do dia anterior procurava o " Richard querido".  Temendo encontrar a ruiva foi para o escritório e fechou a porta. Já lhe bastava ter de o enfrentar.
A voz melosa fez-se ouvir mais algumas vezes até que o silêncio se instaurou na casa.
Voltou a concentrar-se no trabalho esperando Richard a qualquer momento, mas ele não apareceu, o que a levou a ter sentimentos contraditórios.
A meio da manhã Carmem espreitou pela janela do jardim com Yorin, convidando-a para o café, que se tornara rotineiro sempre que estava em casa. Era os seus momentos de paz, durante uns minutos, sob a sombra da trepadeira, podia esquecer Richard. Bebiam o café no jardim enquanto Yorin brincava, era impressionante como ela já andava sem medo e começava a dizer algumas palavras correctamente. As duas estavam tão absortas na pequena que nem repararam em James, este precisou tossir para que notassem a sua presença. Ela tinha de ir atender o telefone, o "menino" exigia a sua atenção.

- Sim?
- Hoje não vou a casa, assim que terminares o que aches necessário podes sair.

Richard parecia-lhe cansado, a voz estava mais arrastada que na noite anterior. Recriminou-se por pensar no bem estar dele, quando ele não se incomodou de a usar como uma reles...

- Muito bem. Peço a James para...
- E está pronta amanhã bem cedo. - Richard interrompeu-a - Ás seis estou em tua casa.
- Mas a essa hora ainda é de noite!

A única resposta que chegou do outro lado foi o som do telefone a desligar. Ficou mais um pouco com Yorin e Carmem antes de regressar ao trabalho. Sem ele ali terminou mais depressa, mas preferiu ficar com Carmem, disse a si própria que apenas queria estar com Yorin, mas no seu intimo sabia que relutava em voltar porque queria vê-lo ao menos uma vez.

A cidade ainda dormia quando ela acordou, tomou um duche e bebeu um café enquanto esperava por ele. Com o olhar seguiu um gato pelos telhados do prédio em frente e perdeu-se entre as sombras a as luzes da cidade. O toque da campainha soou alto demais para o sossego da madrugada e entornou café na camisa branca.

- Bolas! - Olhou o relógio, faltavam quinze minutos para as seis - Richard?!
- Sim.
- Só um momento. - Olhou o seu reflexo no espelho da sala, não tinha sido boa ideia vestir aquela blusa de seda - Desculpa, mas tenho de...

Calou-se perante o absurdo da situação, porque tinha de pedir desculpas!? Ainda não eram seis horas! Foi ao quarto apanhou a primeira que encontrou e abriu-lhe a porta.

- Entra! - Tentou falar normalmente mas a camisola parecia irritar a sua pele, levou a mão ao peito massajando a zona e ele seguiu o gesto com o olhar - Podes dar-me um segundo?!
- Estás bem?
- Sim, apenas um imprevisto. - Viu-o contrair o maxilar. - Não demoro.

Lavou a zona que começava a ficar vermelha pelo calor do café e colocou creme hidratante. Irritava-a ter uma pele tão sensível, gostava de ter a pele do pai, nunca fazia hematomas, nem ficava vermelha ao menor calor! Vestiu outra camisa e apanhou um casaco, não gostou de ver o conjunto, despiu a saia consciente que ele estava ali ao lado, que se quisesse podia aparecer no quarto a qualquer instante, percebeu que intimamente desejava que ele o fizesse. Raivosamente atirou a saia para dentro do roupeiro e vestiu umas calças pretas.

- Podemos ir. - Anunciou ao entrar na sala.

Ele olhou-a de cima a baixo, parecia aprovar a escolha, mas não fez qualquer comentário. Devia de estar a pensar que tinha mudado de roupa por ele, tinha de lhe dizer o que aconteceu antes que tira-se ideias precipitadas.

- Já foste a uma venda de garagem? - Richard não lhe deu tempo de se justificar - Tenho de ir a uma e pensei que talvez gostasses.
- Vais comprar uma garagem?!
- Nunca foste a uma venda de garagem?! -Ele controlou o riso quando abriu a porta do carro e ela agradeceu por isso. - Faço questão de te explicar enquanto tomamos café.
- Café?!
- Sim. Ou esqueceste o que é?!

Christina contou o seu pequeno acidente com o café e ele riu brevemente. Uma sombra substituiu o brilho nos olhos dele, antes de se concentrar no transito.

- Imagino que me culpes por esse pequeno inconveniente.
- Não! - Ela estava chocada - Porque o faria?!
- Não sei, ultimamente tenho a sensação...

Richard calou-se e ligou o rádio. Fizeram parte do percurso em silêncio, até que ele parou na beira da estrada. Deixaram o carro no pequeno largo, onde uma placa anunciava " A casa da Nona".  Richard segurou-lhe a mão antes de subirem as pequenas escadas de pedra, ladeadas por flores altas. No cimo das escadas, rodeada por árvores, uma pastelaria. Christina olhava encantada, nunca imaginaria algo assim ali, à saída da cidade, tudo aquilo parecia tirado de um conto de fadas. A construção de pedra, salpicada por vasos de flores vermelhas e as janelas de madeira branca. No pátio que antecedia a pastelaria, as mesas de ferro forjado assim como as cadeiras, aguardavam o sol da primavera para receber as visitas. À sua frente uma enorme porta de madeira, completamente aberta, parecia dar-lhes as boas vindas. Christina ainda não tinha absorvido aquela imagem, quando uma mulher, de baixa estatura e com as faces coradas saiu ao encontro deles.

- Sejam bem vindos. - A mulher calou-se por instantes a olhar para eles - Richard?! És tu?!
- Olá nonna. - ele deixou-se abraçar por ela - Como estás?!
- Como estou?! - Fingiu-se ofendida - Pepe! - Gritou antes de o voltar a abraçar. - Pepe!

Christina viu-se abraçada por aquela efusiva e carinhosa mulher. Pouco depois um homem alto apareceu, passada a surpresa inicial abraçou Richard. Depois das apresentações foram conduzidos ao interior da pastelaria, nonna falava sem parar concentrando toda a sua atenção em Richard. Pepe preparava o pequeno almoço enquanto ela se afastava deles, deliciada com a decoração do espaço interior. Quadros antigos e alguns xailes de seda decoravam as duas enormes salas. Os quadros retratavam alguns dos portos mais bonitos do mundo. Os xailes de vários tamanhos levaram-na a outro tempo. Levantou a mão até tocar na ponta de um, só tinha visto xailes assim uma vez, à muito tempo numa casa de fados em Portugal. Esses xailes eram usados pelas fadistas.

- Não são lindos?! - Pepe olhava para eles com admiração. - Conhece Portugal?
- Só lá fui uma vez -  Retirou a mão envergonhada -  Faz muito tempo.
- A minha mãe dizia que era um país lindo.
- A sua mãe era portuguesa?
- Não, a minha avó é que era. Mas emigrou para Itália, casou por lá e lá ficou. De Portugal restam apenas recordações, entre as quais esses xailes.
- Como veio parar aqui?! - Christina baixou a vista - Desculpe. Não era minha intenção...
- Eu é que devo pedir desculpa. Deve de estar cheia de fome. Venha. - Pepe acompanhou-a até à mesa onde Nonna e Richard ainda falavam - Fiquei pelos mesmos motivos da minha avó, a vida trouxe-me aqui. Eu só tive um ponto a favor, quando saí de Itália já trazia il mio amore! Paola.
- Paola?! Pensei que fosse Nonna!

Pepe riu-se e a mulher juntou-se a ele no riso.

- Nonna é o termo carinhoso italiano para avó. -Richard serviu-lhe café enquanto lhe explicava.
- Desculpe pensei que...
- Não tem porque pedir desculpas. - Pepe deu-lhe uma fatia de tarte - Prove isto.
- Pepe! Não enchas a rapariga  de bolos. - Nonna olhou para ela - Quer mostrar que sabe fazer bolos.
- Sei?! - Pepe colocou as mãos na cintura - Faço os melhores bolos da zona!
- O que não é difícil, tendo em conta que não vive aqui mais ninguém!

A resposta não se fez esperar, seguida de outra resposta à altura. Richard, ignorando a acesa troca de palavras, agarrou-lhe a mão e levou-a até às traseiras da pastelaria, onde as árvores abrigavam uma mini cascata, que serenamente deixava cair as suas águas formando um riacho que seguia encosta abaixo.

- Não era melhor tentar ...
- Não te preocupes, não tarda está tudo bem.
- Achas?! Eu não estou tão segura.

Richard contou-lhe que aquelas "discussões" eram normais entre eles, mas que não passavam de uma maneira de passar o tempo. Pois o amor que sentiam um pelo outro era enorme. Conhecia-os desde a infância, quando andou com Franco, o filho deles, à escola e ficaram grandes amigos. Não sabia como, nem porquê lhe chamava nonna, sempre o fizera. Como o pai dele estava sempre ausente frequentou aquela casa durante anos, até que Franco, aos dezassete anos, fugiu com uma mulher mais velha que o afastou da família. Como Franco fugiu depois da discussão com ele, achou melhor afastar-se.

- Porque discutiram?!  - Christina não compreendia. - Desculpa, não tenho nada com isso.
- Porque Franco não acreditou em mim. - Richard olhou o vazio - Uma noite, dormi aqui. Ela aproveitou que todos estavam a dormir e entrou no meu quarto, eu tinha a idade de Franco, achei estranho e pensei que tivesse acontecido algo, mas quando ela se meteu na minha cama vi o que ela pretendia. Disse-lhe que se fosse embora, que nunca trairia um amigo. Não gostou mas saiu, devia de ter percebido que ela não ia deixar as coisas ficarem assim. Na manhã seguinte Franco estava à minha espera para me pedir que partisse, que nunca mais o procurasse e se por acaso o visse fingisse que não o conhecia, ele faria o mesmo. Tendo em conta o que os pais dele sentiam por mim, não ia contar o que se tinha passado, mas agradecia que me afastasse deles.
- Os pais de Franco sabem disso?!
- Sim, procuraram-me meses depois. Pepe tinha-a visto entrar no meu quarto e quando deixei de aparecer imaginou o que sucedeu.
- Então acreditam em ti! - Christina lembrou-se da ruiva de voz melosa e desejou estar errada, mas sabia que ele não tinha mais dezassete anos - E Franco?!
- Não acreditou em mim, nem nos pais. Simplesmente desapareceu, nunca mais escreveu aos pais. Achei que vir aqui estava a recordar-lhes o filho.
- À quanto tempo não vinhas aqui?
- À quase um ano. Estive cinco sem os visitar - Richard fechou os olhos momentaneamente - Mas depois o meu irmão...

Richard calou-se, falar sobre aquilo parecia penoso para ele. Levou a mão até à dele que pendia junto ao corpo, por uns segundos deixou ficar a mão sentindo o calor dele percorrer a sua, transmitindo esse mesmo calor ao resto do corpo. Ele segurou-a com mais força e caminharam sem dizer nada junto ao riacho até chegarem junto à nascente.  Ali de cima apenas se via uma parte do telhado da pastelaria. O sol abria caminho por entre as copas das árvores, acordando os pássaros e fazendo cair as gotas de orvalho.   Christina estava encantada, nunca vira uma paisagem assim, sentia o calor do corpo de Richard nas suas costas.

- Gostas?! - Ele segredava-lhe ao ouvido, como se tivesse medo de espantar os pássaros que chilreavam ali perto .
- Sim, é lindo!
- É assim tão fácil fazer-te feliz?!

Christina voltou-se e olhou-o nos olhos. Talvez fosse melhor mentir-lhe, talvez fosse melhor voltar para junto de Pepe e Paola sem lhe responder, talvez devesse fugir... Talvez, mas não queria. Algo naquele local a fazia acreditar que talvez fosse possível, talvez ele pudesse ama-la como ela o amava. E com esse pensamento a alentar o seu coração, desta vez foi ela que o beijou.

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