quarta-feira, 22 de março de 2017

ENGANOS 9ª PARTE



Quando regressaram à pastelaria, Paola e Pepe esperavam-nos à mesa. Entre um pedaço de tarte e uma chávena de café ficou a conhecê-los um pouco melhor, falaram da sua terra natal, do Portugal que apenas viram de passagem, do carinho que tinham por Richard, do desejo de conhecer o neto que sabiam que tinham...
 Sentiu uma espécie de melancolia ao despedir-se. Formavam um casal peculiar, as discussões que tinham por qualquer coisinha, e que acabavam sempre bem, faziam deles um casal muito divertido. E teve pena por saber que o filho não mantinha contacto com eles, não conseguia imaginar o que eles sentiam ao ver os dias passar sem saber dele, renovando esperanças a cada novo dia, ansiando por um telefonema, uma carta...

- Nunca foste a uma venda de garagem?! - Richard interrompeu aqueles tristes pensamentos - Sempre pensei que essas vendas fizessem parte da nossa infância.
- Da tua talvez. - Christina mexeu no telemóvel, depois daquele beijo, sentia que algo tinha mudado, mas não percebia o quê - Eu desconhecia-as por completo.
- Hoje em dia fazem-se por toda a Europa, a ideia é vender o que não interessa, desfazer-se do que não se usa e ganhar algum dinheiro. Coisas que se descobrem nos sótãos dos avós ou na casa que se comprou, na sua maioria são coisas sem interesse. Esta a que vamos hoje, é um pouco diferente. O proprietário faleceu, deixando como herança a propriedade e o recheio.
- Como aquela casa que fomos ver?!
- Mais ou menos, essa foi herdada por uma só pessoa e com todo o recheio. Aqui não foi o caso, a propriedade foi deixada a um familiar e o recheio da casa a outro. Como as relações não são as melhores, o herdeiro da propriedade deu apenas um mês ao primo para retirar tudo da propriedade, o que não conseguir retirar nesse tempo fica na propriedade, mais concretamente para o novo proprietário.
- Mas isso é pura maldade!
- As pessoas fazem tudo por dinheiro.
- Dispensava um primo assim. Mas não conseguia um preço melhor se contrata-se alguém ou se vendesse a uma só pessoa?
- Talvez, mas para isso precisava de tempo, tempo esse que não dispõe. Por outro lado é muito difícil vender um recheio assim na totalidade. E se contratar alguém, o tempo continuaria a ser escasso para conseguir um bom valor. Possivelmente venderia por um preço abaixo do valor real, se juntares a comissão, que não são baixas, o lucro seria irrisório ou mesmo nulo. Num aspecto tens razão, se a pessoa dispõe de tempo e não precisa de dinheiro imediato, o mais prático é contratar alguém que consiga um bom preço por elas. Ainda que tenha de pagar por isso.
- Então, quando fomos àquela casa - Ela mexeu-se no banco de forma a olhar para ele - Que por sinal era horrorosa, pagaram-te para ires?!
- Não. - Ele riu perante a sinceridade dela - Nesse caso fui como comprador, interessavam-me umas coisas, que sabia fazerem parte do recheio em venda. Apenas comprei o que me interessava. Se fosse para representar o herdeiro, iria ver o recheio, faria um inventário e procedia à venda. Depois receberia uma comissão por cada peça que vendesse.
- Ah! Ou seja, existem duas formas de nos desfazermos do que não nos interessa.
- Três.
- Três?!
- Sim, não te podes esquecer da mais velha e mais prática de todas.
- Que é...
- Deitar no lixo.
- Mais prática e velha impossível.

Richard abrandou a velocidade e entrou numa enorme propriedade. Uma considerável quantidade de carros já ocupavam parte do terreno. Um casal jovem e um homem mais velho entravam e saiam de casa carregando coisas que colocavam na rua.

- Parece que além de lhes limitar o tempo, ainda lhes impôs local para o fazer.
- Coitados.
- Vamos entrar.

Richard segurou-lhe a mão como se o fizesse desde sempre e abriu caminho por entre as pessoas que estavam a ver as porcelanas e outros bens mais pequenos. Ela observou-as atentamente, pela forma como se vestiam, dava para perceber que havia ali pessoas de todos os estratos sociais. Imaginou-se a fazer uma venda daquelas quando quisesse mudar a decoração, ou em vez de doar as coisas. Depressa afastou essa ideia, não gostou de imaginar estranhos a mexer nas suas coisas, seleccionado o que achavam digno de ser reutilizado.

A casa era enorme e como ela esperava, estava cheia de coisas lindas. Olhou para o homem mais velho, que transportava um vaso alto de porcelana, que segundo Richard era da dinastia Ming e valia uma pequena fortuna. Um serviço de chá chamou a sua atenção. Richard deixou-a a ver com mais atenção o serviço e foi com o casal para o andar superior. Achou o serviço lindo, muito elegante, todo em branco, apenas debruado com um fio dourado e uma pequena rosa, também dourada num dos lados, a medo segurou uma chávena.

- Não te sabia apreciadora deste tipo de vendas.

Christina quase deixou cair a chávena ao ouvir a voz de Willie.

- Se a partisse eras tu que pagavas. - Ela colocou a chávena no sítio e abraçou-o - Quase que deixo cair a chávena!
- Até parece! - Willie depositou um beijo no rosto dela - Vieste sozinha?
- Não, vim com Richard.
- Então é melhor desaparecer. Ainda sinto as mãos dele no meu pescoço.
- Não sejas exagerado!
- Exagerado?! Tive pesadelos por uns dias.
- Podia ser pior. Podiam ser meses. - Christina riu-se - E tu, estás sozinho?
- Não. Acho que a perdi, já é a segunda vez desde que chegámos.
- Noiva em fuga.
- Algo do género.

Os dois riram, pouco depois uma loira de olhos azuis chegou perto deles sorrindo.

- Estás aqui. - A loira sorria para eles e segurou a mão de Willie - Ando sempre a perdê-lo.
- Correcção, tu é que andas sempre a desaparecer, procurando alguém que te explique e te diga se a peça é de boa qualidade. As pessoas querem vender, lógico que dirão que é bom.
- Não vou levar para casa uma porcaria só porque te envergonhas de perguntar.
- Nisso ela têm razão, nunca compreendi esse teu embaraço em dizer que não sabes algo. - Christina sorriu ao ver como ele baixava a cabeça o que despertou alguma desconfiança da loira.
- Duas contra mim! Rendo-me ás evidências e admito, tens razão. - Willie depositou um beijo nos lábios da noiva - Amor, apresento-te Christina.
- Agora percebo... - A surpresa inicial da mulher desapareceu instantaneamente - É um prazer conhecer-te finalmente.
- O prazer é meu. Amor!
- Desculpa! - Willie ficou muito atrapalhado e elas riram - Lisa, o meu amor chama-se Lisa.
- Prazer Lisa. Aproveito para vos dar os parabéns pelo casamento. - Christina sorriu para Lisa e esta devolveu o sorriso - Encontraram algo que gostem?!
- Muitas coisas,  principalmente as mesas... - Lisa calou-se ao ouvir o seu telemóvel - Desculpem.

Lisa afastou-se e Willie começou a contar a Christina como Lisa estava encantada com a escolha da casa e não de um apartamento, mas ela deixou de o ouvir, apenas conseguia ver o olhar furioso de Richard fixo neles. Ainda era um mistério para ela como ele conseguia aproximar-se sem que ela o notasse.

- Interrompo?! - Richard olhava fixamente para Willie - Acho que já nos conhecemos.

Christina viu Willie engolir em seco e pensava no que fazer quando Lisa se juntou a eles. A animosidade era evidente. Lisa segurou a mão de Willie e ficou a olhar para os dois homens sem perceber. Sem pensar Christina apoiou a mão no peito de Richard dando um ar de intimidade.

- Acho que estás a fazer confusão. - Christina sentia o coração dele bater rapidamente debaixo da sua mão - Richard, apresento-te Willie e Lisa. Estão noivos e procuram algo para a casa nova.
- É amigo de Christina?! - Lisa deu o primeiro passo, beijando Richard na face.
- Algo do género. - Richard respondeu colocando o braço na cintura de Christina.
- Estou a ver - Lisa sorria - Um dia cheio de surpresas este! Consegui encontrar o quadro que estava à procura, finalmente conheço a ex do meu noivo e ainda conheço o "amigo" dela no mesmo dia! E tudo no mesmo sítio!
- Assim parece! - Richard aceitou a mão de Willie - Encontraram algo interessante? Talvez possa ajudar.
- Richard é antiquário. - Christina explicou e Lisa  parecia ter encontrado uma tábua de salvação.
- Sério?! - Largou a mão de Willie e concentrou-se em Richard - Adoro uma mesa que está lá fora...

Lisa voltou-se para Richard e quase o arrasta para o local onde estava a mesa que pretendia comprar.

- Por instantes pensei que me fosse estrangular - Willie olhava para a noiva, que falava sem parar agarrada ao braço de Richard. - Mas dadas as circunstâncias até não correu mal!
- Não!
- Bem melhor que ter as mãos dele no meu pescoço.
- Isso acredito.

Lisa não soltou Richard um minuto, se gostava de uma peça arrastava Richard até lá para pedir opinião. A julgar pelo sorriso dele não estava incomodado, ou então não o demonstrava. Como também iam ficar para a tarde, Richard convidou-os para almoçar com eles, convite que foi aceite com a maior alegria por parte de Lisa.
Durante a viagem, até ao restaurante, Christina notou que ele estava mais relaxado, mas tinha o semblante carregado, como se algo o preocupasse.

- Não me disseste que era teu ex-namorado. - Richard confirmava pelo espelho que Willie saíra atrás dele na rotunda - Pensei que...
- Tiras-te conclusões. - Christina ficou abatida repentinamente - Willie é um amor, seria incapaz de fazer mal a uma mosca.
- Agora que o conheci sei que não. Foi gentil da parte dele aceitar as minhas desculpas.
- Ele é assim. Muito coração pouca maldade.
- Tenta perceber o que me levou...
- Acho melhor esquecermos isso.
- Não vou esquecer. Apenas adiar, falamos com calma em casa. - Richard estacionou o carro e fez sinal a Willie - Neste momento só quero desfrutar deste dia agradável, na companhia de pessoas que gosto. Vamos?!

Perante a ideia de ele gostar dela ficou sem fala, ele queria passar o dia com pessoas de quem gostava, e isso incluía-a a ela! Ainda que isso a colocasse ao mesmo nível de Willie e Lisa, duas pessoas que ele mal conhecia, era uma melhoria. Durante o almoço, Lisa disse que Richard fizera questão de oferecer, a mesa que ela adorava, como prenda de casamento. Lisa monopolizou a conversa com os preparativos do casamento, pelo menos até que chegou o café e pediu opinião a Christina sobre o vestido de noiva. Aí os homens iniciaram uma conversa só deles e relembravam façanhas da juventude, enquanto elas se perdiam nas fotografias dos vestidos que Lisa tinha no telemóvel. Esta estava indecisa, entre um vestido direito sem véu com uma pequena tiara ou um de corte princesa com um véu sobre o rosto e cauda!
Meia dúzia de vestidos depois, já ela se imaginava num vestido de noiva estilo deusa grega. Mas o sonho foi interrompido, pela semelhança entre uma das modelos e a ruiva de voz melosa. Sentiu um nó na garganta, Richard nunca iria olhar para ela como olhava para aquela ruiva. Receando que as lágrimas começassem a cair pediu licença e foi para a casa de banho. Escondeu-se num cubículo até ter controle sobre as lágrimas que caíam. Lavou a cara tentando disfarçar os efeitos do choro, os olhos permaneciam brilhantes. Antes de sair retocou a maquilhagem, aquele brilho podia passar despercebido a Willie e a Lisa, mas sabia por experiência própria que não escapava a Richard.

Ao fim da tarde sentia-se cansada e doía-lhe um pouco a cabeça, talvez pelo calor da mão dele, que parecia queimar-lhe a pele, ou talvez porque, depois de Willie e Lisa partirem, começou a pensar nos acontecimentos do dia anterior e em como nenhum deles falou no assunto, como se tal não tivesse acontecido. Mas tinha acontecido, ele considerava-a propriedade dele, assim como considerava sua uma peça de porcelana ou um quadro. Relembrou o momento em que ele rodeou a cintura dela ao conhecer Lisa, demonstrando isso mesmo. Ao contrário do dia que estava a terminar, não gostava da sensação de ser considerada propriedade, nem dele nem de ninguém!
Tirando algumas situações isoladas, adorou o dia que passou na companhia dele, embora o dia não tenha começado da melhor forma, depois de estarem em casa de nonna, algo mudou entre eles. E de todos os atribulados dias, que tinha partilhado com Richard desde que ele entrou na sua vida, aquele acabou por ser o melhor, independentemente do que acontece-se, recordaria esse dia para sempre.

- Pensei irmos jantar. Achas bem?
- Se quiseres.
- Se quiser... Passou-se algo que desconheça?
- Estou apenas cansada. - Odiava quando ele parecia ler-lhe os pensamentos - Nada demais.
- Então vamos para casa, peço para te prepararem...
- Não! - Percebeu que falou alto demais, mas horrorizava-a a ideia de estar na mesma casa que a ruiva com quem ele dividia a cama, pela manhã teria de a enfrentar, mas nessa noite não - Desculpa, é que estou cansada e doí-me a cabeça, apenas quero chegar a casa e deitar-me.
- Sendo assim, vamos directamente para tua casa.
- Obrigada.

Christina recostou a cabeça e fechou os olhos, não queria estragar o que para ela tinha sido, até ali, um dia fabuloso. Preferia ir para casa e chorar na solidão do seu quarto, enquanto o imaginava nos braços da ruiva amada. Uma pequena lágrima deslizou pela sua face, sem abrir os olhos voltou o rosto para o vidro ocultando a lágrima.

Richard, que ficou em silêncio toda a viagem, fez questão de a acompanhar até ao seu apartamento, Christina abriu a porta e deu-lhe um breve beijo na face.

- Obrigada. - Olhou-o nos olhos, sentiu que estava quase a chorar - Adorei o dia.
- O dia ainda não terminou. - Ele beijou-a levemente nos lábios e depois de lhe tirar as chaves da mão entrou em casa. - Vai vestir algo mais confortável, eu vou fazer algo para comermos.
- Mas eu...
- Sê boa menina e faz o que te digo.

Richard já tinha tirado o casaco e arregaçava as mangas da camisa, desistindo de o contrariar, entrou no quarto, vestiu um fato de treino e voltou para junto dele. Por instantes observou-o a mexer nos tachos e no frigorífico, tendo em conta o número de vezes que abriu a porta do frigorífico parecia procurar algo.

- O que procuras? - Quando ele se voltou e lhe sorriu meio sem jeito, ela sentiu o coração encolher, abanou a cabeça ligeiramente tentando afastar aqueles pensamentos - O que vais fazer?
- Procuro água com gás. - Voltou a abrir o frigorífico - Vou fazer panquecas.
- A água não vai nascer aí dentro, por muitas vezes que abras o frigorífico.
- Isso quer dizer que não tens?!
- Tenho, mas não aí.

Christina juntou-se a ele na cozinha, enquanto ele fazia as panquecas ela procurou o toping de chocolate e as compotas. Ele preparou um tabuleiro e levou tudo para a mesa em frente ao televisor, procurou um filme e sentou-se junto a ela. Perante o à vontade dele, ela esqueceu as dúvidas que tinha e a ruiva de voz melosa.

- Confesso que me desiludiste. - Richard bebeu um pouco de café - Esperava algo diferente.
- Desiludi-te?!
- Pensei que fosses vestir um pijama ou algo parecido.
- Oh!
- Quando te imagino em casa, imagino-te com uma camisa de seda preta - Ele levou a mão até ao canto da boca dela - Um pedaço de chocolate.
- Desculpa, eu... - Ela levou um guardanapo até aos lábios.
- Não - Richard segurou a mão dela - É um desperdício de chocolate.

Com o dedo, voltou a roçar o canto da boca dela sem deixar de a olhar nos olhos, sentiu-se hipnotizada por ele. Por muito que tentasse não conseguia pensar noutra coisa se não nos dedos dele, tocando os lábios dela e nas sensações que esse toque lhe provocava.

- Eu... - Ela começava a gaguejar - Não podes...
- Não posso?!

Christina fechou os olhos quando ele tocou os lábios dela com os dele, passando com a língua onde supostamente havia chocolate. Os lábios dele procuravam os dela avidamente, sem pensar em nada mais ajudou-o a tirar a camisa. Precisava de senti-lo, saber que era real e não um sonho. Pouco depois as roupas dela juntaram-se à camisa dele no chão. E quando ele a pegou ao colo e a levou até ao quarto, ela não pensou na ruiva, apenas pensava no que sentia quando ele a tocava e em como desfrutava disso.

Um leve barulho acordou-a, abriu os olhos preguiçosamente. A almofada ao lado estava vazia, levou a mão até ela, ainda estava quente. Talvez ele estivesse na casa de banho. Olhou o relógio, quatro e vinte da madrugada! Sorrindo como uma adolescente apaixonada, recordou cada beijo que Richard tinha dado no seu corpo, levando-a a desejar que ele não terminasse nunca aquela doce tortura. As mãos dele pareciam deixar um rasto de fogo a cada caricia, fazendo o inferno parecer uma simples fornalha, comparado com o calor que sentia no seu interior.

O som de uma buzina acordou-a. Olhou a cama vazia, ele não estava! Levantou-se na esperança que ele estivesse na cozinha, mas a casa estava tão vazia como a sua cama. Tinha um bilhete na porta do frigorífico.

" Desculpa, sair assim. Mas tenho uma reunião importante à primeira hora do dia. Vejo-te em casa."

Nada mais. Pela centésima vez, desde que o conhecia, sentiu-se uma idiota. Sentou-se no sofá e ficou ali olhando o céu lá fora. Queria poder voltar atrás, ao tempo em era dona da sua vida, ao tempo em que se deitava e adormecia certa do dia seguinte. Queria voltar a ser a mulher que era antes de conhecer Richard, ao tempo em que desconhecia as caricias dele e as sensações que lhe despertava! Reparou que estava a chorar quando a campainha tocou. Limpou as lágrimas com a mão e foi abrir, mais uma vez o vizinho precisava de leite.

James abriu a porta sorrindo, ao entrar em casa a pequena Yorin correu ao seu encontro.

- Olá linda! - Christina beijou a face rosada da pequena que desapareceu a seguir. - Quanta energia.
- É mesmo menina. - James segurou o casaco dela - O menino ainda não desceu.
- Obrigada, espero no escritório.

Christina ligou o computador e procurou alguma nota relativa à reunião que ele teve essa manhã. Não encontrou nada. Talvez não tivesse tempo e lhas entrega-se antes de sair para o escritório principal.

- Richard querido!

A voz da ruiva, que lhe parecia cada dia mais irritante, ouviu-se e desejou ter fechado a porta do escritório.

- Querido! - Pela voz estava a ficar irritada - Vamos chegar atrasados, sabes como odeio chegar atrasada.
- Tenho tudo controlado. - Richard estava mais calmo que a ruiva - James já pediu para prepararem o avião.
- Por isso te adoro. Que faria eu sem ti?!

Dirigiu-se até à porta para a fechar e Richard segurando a ruiva pela cintura, da mesma forma que a tinha segurado a ela no dia anterior. Sentindo as lágrimas queimarem-lhe os olhos, recuou-o ficando de costas para a porta e agarrou no telemóvel.

- Olá mãe.
- Olá, está tudo bem?
- Oh mãe, já não lhe posso telefonar?!
- Claro, mas a esta hora da manhã...
- Sonhei consigo, sabe como sou com estes sonhos. - Mentiu - Acordei com saudades.
- Eu também tenho saudades tuas, aliás, todos temos. Porque não vens com Richard fazer-nos uma visita. O teu pai simpatizou com ele, sabes o complicado que é alguém conquistá-lo.
- Eu sei... - Pelo canto do olho viu Richard passar com a ruiva na porta - Mas um dia destes vamos aí.
- Filha?! - A voz de Marylin soava preocupada - Está tudo bem?!
- Sim! Não te preocupes. Olha tenho de ir trabalhar.
- Adoro-te!
- Eu também te adoro.

Christina desligou o telefone e ao voltar-se deu de caras com Richard, que não tinha boa cara.

- Bom dia. - Cumprimentou-o - Pensei que tivesses deixado algo da reunião desta manhã.
- Foi cancelada. - Ele olhou-a fixamente - Já não te doí a cabeça?!
- Não. Felizmente já passou.
- Ainda bem. Eu tenho de sair agora mas estou de volta à noite.
- Queres que faça algo em especial?!
- Richard querido! - A ruiva apareceu na porta do escritório - Estás a descuidar-me!
- Vou já. Pede a James as chaves do carro por favor.

 Richard não se voltou na direcção da ruiva, falava sem tirar os olhos Christina, quando ouviu os passos da ruiva no corredor aproximou-se dela.

- A única coisa que quero é encontrar-te aqui quando regressar. Prometes que estás?
- Não sei. - Não queria aceder facilmente, embora o seu coração já se tivesse decidido - Se precisares de mim.
- Se precisar de ti... - Ele sorriu e levou uma mão ao rosto dela.
- Richard querido! Estou a perder a paciência! - A ruiva apareceu novamente na entrada do escritório.
- Até logo.

Quando a casa ficou em silêncio levou a mão ao rosto, onde a pele ainda queimava pelo toque dele. Retirou a mão rapidamente, estava a ser idiota, e em grande escala. Tinha de sair daquele torpor e analisar aquilo friamente. Sempre fora prática, não podia deixar que ele tolda-se o seu discernimento, por muito que o amasse não podia permitir isso!

-Concentra-te nos factos - falava para si mesma - Avalia tudo friamente...

Fizera amor com ela e deixara-a sozinha durante a madrugada, segundo ele tinha uma reunião, mas agora ela sabia que tal nunca aconteceu. Mas quando chegou ali, ainda não eram nove horas, ele ainda estava no quarto. A julgar pelo cabelo molhado estava no duche e pela atitude da ruiva, tinham uma relação e planos que incluíam um avião. Juntando a isso o cancelamento de última hora da reunião, o facto de sair de sua casa durante a madrugada, como se fosse um amante. A exigência da ruiva em que lhe desse atenção... Ora, saíndo da sua casa por volta das quatro da madrugada até às nove da manhã...
Como podia ser tão idiota, a pontos de ponderar esperar por ele, se estava tudo claro como água?! Saiu da sua cama para se meter na cama com a ruiva de voz irritante! Passou o resto da noite ou da madrugada com ela! Possivelmente estava mais que acostumada a dividi-lo com outras mulheres, mas ela não faria parte desse harém! Não se o pudesse evitar!

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