domingo, 23 de abril de 2017

À TUA ESPERA 10 ª PARTE



Isabel olhava incrédula para ele. Não era o pedido que ela idealizara, mas era feito por ele. Amava-o e o facto de ele querer casar era o suficiente para que ela se sentisse feliz.

- Isabel ?! - Jimin falava carinhosamente. - Que dizes?
- Que digo?! - Isabel sempre imaginou que quando chegasse o dia ia chorar, mas apenas sentia uma profunda felicidade -  Que é o pedido de casamento menos romântico que já ouvi.
- E ouviste muitos?!
- Ah?! - Isabel demorou a perceber o que implicavam as palavras que tinha dito e tentou brincar com a situação - Centenas deles. Por isso esperava algo mais... interessante.
- Neste momento é o que tenho, aceitas?
- Sim! - Isabel pendurou-se do pescoço dele - Sim...sim.

Isabel andava nervosa de um lado para o outro, no fim do dia seria a senhora Park. Sonhara com aquele momento desde os dezassete anos e, apesar de ser impossível, idealizara a festa rodeada de amigos e familiares. Mas agora por algum motivo sentia-se apreensiva. Olhou-se no espelho, o cabelo, que estava solto sobre os ombros nus, tinha apenas uma flor branca junto à orelha esquerda. A maquilhagem muito suave em tons pastel realçava os olhos brilhantes dela. A única jóia que levava era uns brincos de pérolas e uma gargantilha que fora da avó.  O vestido era branco pérola, sem ombros, justo e de corte simples. Não era um vestido de noiva mas era elegante o suficiente para a ocasião. Estremeceu ao recordar que ainda teria de escolher um outro vestido, um vestido de noiva mais tradicional pois Jimin insistia num casamento convencional. Na noite anterior tinha-a informado que quando tivessem tempo para se organizar, casariam na igreja e teriam uma festa enorme com muitos convidados. Isabel pensou dizer-lhe que não precisava, que ela era feliz com este casamento mas lembrou-se que ele tinha os pais na Coreia e que estes não puderam deslocar-se tão repentinamente. Acabou concordando, era mais que justo ele ter os pais com ele naquele dia tão especial, ela por seu lado, quando chegasse o dia, apenas iria acrescentar Mima e alguns amigos à sua pequena lista.
Desta vez Mima não podia estar presente porque estava de cama com febre. Sem Mima, a sua lista resumia-se a Jill e ao namorado Milles, que seriam também padrinhos dela.

- Podemos? - Jill espreitou pela porta e entrou seguida de Milles.
- O ramo da noiva. - Milles deu a Isabel um ramo com rosas brancas.
- Obrigada.  Que acham?! - Isabel rodou um pouco.
- Estás linda. - Jill ajeitou a flor que ela tinha na cabeça . - Linda e nervosa.
- Tenho a sensação que algo não vai correr bem.
- E que podia correr mal?!
- Não sei.
- Nervos, isso são nervos.
- Talvez por causa da lua-de-mel. - Milles disse aquilo e elas olharam para ele antes de começarem a rir. - Que foi?! Disse alguma coisa que não devia?!
- Meu doce Milles... - Jill beijou-o sorrindo.

Jimin esperava por eles na conservatória. Isabel sentiu um nó na garganta ao vê-lo num fato preto. O seu futuro marido... Quando saíssem dali estariam casados. Caminhou até ele sorrindo, tinha a certeza que a partir desse dia nada podia impedir a sua felicidade.


- Estás feliz? - Jimin perguntou-lhe enquanto lhe tirava o vestido.
- Muito. - Isabel encostou a cabeça ao peito dele e respirou fundo.
- Fico feliz por ouvi-lo.
- E tu?!
- Esperei este momento durante sete anos.
- Nove anos amor, foram nove anos.
- Sim. Nove.

Isabel achou que ele ficou momentaneamente estranho e voltou a ver uma sombra nos seus olhos. Mas Jimin beijou-a e quando voltou a olhá-lo a sombra tinha desaparecido. Talvez Jimin estivesse preocupado com a reacção da família na Coreia.
Horas depois adormeceu nos braços dele com um sorriso nos lábios.


O avião tinha aterrado em Busan ao inicio da tarde, ao saírem do aeroporto um homem dirigiu-se a Jimin e entregou-lhe umas chaves, que ela veio depois a perceber serem de um carro. Jimin juntou-se ao trânsito e dirigiram-se ao hotel. Ele achou melhor ficarem num hotel na primeira noite, para ter tempo de lhe mostrar um pouco da cidade, pois quando chegassem a casa dos pais dele possivelmente não teriam tanto tempo disponível. Comeram no restaurante do hotel, e saíram para ela descobrir Busan. Jimin tentava descrever-lhe a cidade mas era interrompido por mil e uma pergunta.

Com alguma dificuldade conseguiu explicar que Busan fica situada junto à costa, e é considerada a segunda maior cidade da Coreia, sendo muito procurada pelos turistas devido aos seus templos. A cidade é o centro cultural, educacional e económico da região. É ainda a maior cidade portuária da Coreia do Sul e o quinto porto mais movimentado do mundo. As áreas mais densamente construídas da cidade são situadas em um número de estreitos vales entre o Rio Nakdong e o Rio Suyeong , com montanhas que separam a maioria dos distritos.

Jimin sorriu ao ver como os olhos dela brilhavam quando caminhavam junto à costa. Isabel segurou a mão dele, ela nunca tinha visto uma praia tão grande, segundo Jimin, Busan tem a maior praia da Coreia e o maior rio. Assim como a maior loja de departamentos do mundo, a Shinsegae Centum City.
Regressaram ao hotel quando ela admitiu não conseguir dar nem mais um passo. Precisava descansar, no dia seguinte iam para casa dos pais dele.

O dia nascia quando ela acordou. As olheiras eram a prova da noite mal dormida pelos nervos de se encontrar com os pais de Jimin. Que lhe diria?! Que diriam eles?!

- Estás linda. - Jimin beijou-lhe o ombro nu e abraçou-a. - Não precisas ficar nervosa.
- Não são bem nervos... estou ligeiramente apreensiva. Passaram muitos anos e eles...
- Eles continuam a gostar de ti.
- Achas?
- Porque não o fariam?! - Jimin sorriu e afastou-se - Vou buscar o carro, não demores.
- Cinco minutos e desço.

Su Ji e Timothy saíram ao encontro deles, ela abraçava o pai dele quando ouviu a mãe dizer-lhe que estava ofendida por terem ficado no hotel. Ela sorriu ao perceber que Su Ji falava em coreano e Jimin olhava o chão como uma criança a ser repreendida.

- Su Ji esqueceu-se que sabes coreano. - Timothy acompanhou-a até casa com um braço sobre os seus ombros.
- Acho que é instintivo, em determinadas situações é normal usarmos a nossa língua materna.
- Su Ji aguardava a vossa chegada com grande ansiedade, ela não falou de outra coisa durante toda a semana. Acho que toda Busan sabe da vossa chegada.
- Tenho de dizer à família que o meu filho regressou. - Su Ji sorriu para o marido -  Podes ajudar Jimin?
- Já sei, querem conversar. - Timothy olhou para elas e depois levantou as mãos - Mulheres, independentemente da sua nacionalidade, serão sempre mulheres.

- Preciso saber. - Su Ji olhou lá para fora, os dois homens retiravam as malas do carro - Estás grávida?!
- Grávida?! - Isabel olhou para ela sem perceber. - Não.
- Se estás ficamos felizes, um bebé é uma bênção divina.
- Jimin disse que eu estava grávida?!
- Não. - Su Ji olhou-a fixamente - Não queres dar um filho a Jimin ?!
- Nada me daria mais prazer. - Mas primeiro quero aproveitar o meu marido, acrescentou mentalmente sentindo-se incomodada com aquela conversa.

Su Ji segurou-lhe as mãos e olhou para ela tão profundamente que ela julgou estar numa máquina de rx. Isabel esperava uma atitude semelhante de todos os membros da família, menos da mãe dele.
Com a mesma rapidez com que a submeteu ao pequeno mas estranho interrogatório, Su Ji abraçou-a carinhosamente.

- Não quero vê-lo sofrer novamente. - Su Ji olhou para ela com lágrimas nos olhos.
- Nunca o magoaria. - Isabel sentiu um nó na garganta
- Jimin ama-te demais.  - Su Ji olhou o filho com os olhos brilhantes pelas lágrimas - Ainda recordo a menina apaixonada que eras, mas tinha medo que já não sentisses o mesmo. Felizmente vejo que ainda o amas. Quando regressámos ele sentiu muito a tua falta e isolou-se bastante. Por uns meses pensei que não iria recuperar, mas depois da morte do avô, encontrou um novo objectivo e o jovem sonhador deu lugar a um homem determinado.
- Eu também senti a falta dele. - Uma lágrima deslizou pela sua face e sentiu uma ponta de ciúmes. Lisa nunca a olhou como Su Ji olhava Jimin. Naquele momento sentiu-se afortunada por Jimin a amar. - Nunca o esqueci nem deixei de o amar.
- Isso é a única coisa que importa.
-  O que importa?! - Timothy beijou a face da esposa.
- Tim! Temos visitas! - Su Ji ficou vermelha.
- Isabel não é visita.
- Mesmo assim. Vamos, ajuda-me que tenho de fazer o jantar, a família não vai demorar e o jantar ainda não está pronto.
- A família?! - Isabel olhou para eles
- Não são muitos, mas estão ansiosos por conhecer-te.

 Timothy olhou lá para fora e ela seguiu-lhe o olhar, Jimin tinha regressado ao carro e ficou ali olhando o céu.

- Está muito nostálgico, vou falar com ele. - Timothy saiu ao encontro do filho
- Se puder ajudar em algo. - Isabel olhou para as taças em cima da bancada da cozinha.
- Obrigada, mas Timothy não demora. Porque não pedes a Jimin que te mostre a casa e os jardins?
- Se não precisa de mim. - Isabel dirigiu-se à porta, precisava de falar com Jimin. Que tipo de roupa eles usavam nestes jantares?! Ela não sabia se tinha roupa apropriada.
- Isabel!? - Su Ji chamou-a
- Sim!?
- Posso pedir que não comentes a nossa conversa com Jimin?!
- Claro. - Isabel não planeava fazê-lo, como explicar-lhe que a mãe pensava que se tinham casado por ela estar grávida?!

Como não viu Jimin nem Timothy, Isabel rodeou a casa. O jardim era lindo, flores de todas as cores e feitios formavam uma paisagem digna de ser pintada. As árvores de vários tamanhos davam frescura ao local. Foi atraída pelo som de água, alguns peixes vermelhos brincavam na água límpida do lago. Ajoelhou-se com a ideia de tocar na água, mas o som de vozes impediram-na. Levantou a cabeça e viu Jimin que falava com o pai sentados numa pedra. Contornou o lago e dirigiu-se até lá, ao aproximar-se as vozes tornavam-se mas nítidas.

- Acho que estás enganado.
- O pai não entende. - Jimin fixou a vista num ponto inexistente para ela
- Entender eu entendo, mas não acredito. Não me parece... - Timothy levantou a vista e ao vê-la sorriu-lhe - Acho que a tua esposa reclama a tua atenção.
- Não precisa de ir. - Isabel olhou para Jimin, pareceu-lhe abatido. - Su Ji disse para vir conhecer o jardim. Não queria incomodar.
- Eu é que estou a incomodar, vocês estão em lua-de-mel.

Timothy deixou-os a sós, ela sentou-se junto a ele e permaneceram em silêncio por algum tempo.

- Estás bem?! - Isabel tocou-lhe a mão.
- Vou ficar.  - Jimin retirou a mão e levantou-se. - Desculpa tenho de sair.

Isabel ficou a ver como ele se afastava, recordou o dia que a deixou no jardim depois de uma discussão. Afastou aqueles pensamentos, não era a mesma coisa, Jimin apenas estava nostálgico, foi ali que viveu parte da sua vida e a julgar pela conversa de Su Ji, foi ali que ele sarou as feridas depois do afastamento deles. Talvez estar ali com ela lhe recordasse o que sofreu nesse tempo. Jimin apenas precisava de tempo, nada mais.

Timothy indicou-lhe onde era o quarto e começou a tirar as roupas das malas. Depois de arrumar as cosias sentou-se na cama, era espaçosa com uma colcha branca e almofadas enormes. Acariciou o tecido macio. Olhou para a janela aberta e viu o lago no jardim. Foi até lá, a brisa que chegava até ela tinha era uma mistura de aromas, cheirava a flores e algo mais que ela não conseguiu identificar.

- Podes desculpar-me? - Jimin abraçou-a pela cintura encostando o seu corpo ao dela.
- Deveria?!
- Regressar a casa é sempre...

Isabel voltou-se e colocou-lhe um dedo nos lábios.

- Não tens que te justificar. Su Ji falou-me do jantar.- Isabel mudou de conversa - Imagino que deves sentir-te apreensivo com as reacções dos teus familiares. Estou um pouco nervosa, mas estou aqui para te apoiar.
- Pensei que eu é que teria de te apoiar. - Jimin beijou-a levemente - Não precisas de ficar nervosa, tendo em conta que não preciso de traduzir o que dizem, acho que vai correr tudo bem.


O jantar correu lindamente, o medo inicial depressa se dissipou pois a família dele era muito simpática, contrariamente ao que pensava sentiu-se amada e não debaixo de um microscópio. Embora gostasse de todos, o seu coração foi conquistado pela bebé da prima de Jimin. Tinha apenas seis meses e era um doce de menina. Isabel aproveitava todos os momentos para lhe pegar, num desses momentos o seu olhar encontrou o de Jimin e o seu coração disparou. Um dia eles também teriam um filho.

Isabel fechava a última mala, Jimin já tinha as outras no carro pronto para irem para o aeroporto.
 Apesar de Jimin a deixar sozinha algumas vezes por ter de ir a reuniões de negócios, ela gostou do tempo que passou com Su Ji e achou que a semana passou rápido demais.
Pensou que seria mais fácil despedir-se dos pais dele no aeroporto, mas naquele momento, enquanto abraçava Su Ji, ela sabia que ia sentir saudades deles. À muito tempo atrás eles tinham conquistado o seu coração e agora um pedaço dele ficava ali com eles em Busan.

O avião descolara à algum tempo e ela ainda sentia aquela tristeza no coração. Apertou a mão de Jimin, ele sentiria o mesmo?! Era assim que se sentiam as pessoas quando se despediam dos seus familiares, sabendo que passariam muito tempo até se voltarem a reencontrar?! Se não tivesse em conta Jimin, ela nunca se tinha despedido de ninguém que amasse. Se bem que não podia considerar uma despedida a partida de Jimin, ela não soube que ele ia partir. Limpou a lágrima que deslizava pela sua face, ele estava ali e nada nem ninguém os iria separar.

- Isabel?! - Jimin notou que ela evitou o olhar dele. - Que se passa?
- Nada.
- Estás a chorar. Estás arrependida?!
- De quê?
- De teres vindo, de teres casado comigo?!
- Como queres que me arrependa se me dás tudo o que uma mulher pode desejar?

Isabel viu como ele contraiu os maxilares e o seu olhar ficou vazio. Depois olhou-a nos olhos e sorriu, mas um sorriso que a Isabel lhe recordou o sorriso dele quando se reencontraram.

- Tens razão, porque te arrependerias?!


Isabel percorria o centro comercial com Jill. Apesar de fazerem um mês de casados, Jimin tinha insistido em que ela saísse nessa tarde de sábado. Ela gostava de sair com Jill, e embora preferisse ficar com ele, queria fazer-lhe uma surpresa sem que ele suspeita-se. Sabia que Jimin procurava um livro sem sucesso, e ela esperava que o dono da livraria o tivesse encontrado junto dos fornecedores.

Ao falar com o dono da livraria ficou decepcionada, nenhum fornecedor conseguia arranjar o livro. Faltava apenas confirmar com um, mas o mais seguro era não conseguir. Sem esperança praticamente nenhuma, Isabel deixou o seu número de telemóvel para qualquer eventualidade. Era quase noite e não podia prolongar mais o passeio sem levantar suspeitas.
Deixou Jill e dirigiu-se para casa, ela suspeitava que Jimin tinha preparado algo para essa noite pois tinha dispensado o pessoal. E a insistência dele em que fosse sair com Jill apenas confirmou as suas suspeitas.
Abriu a porta com um sorriso nos lábios, sorriso que morreu ao ver uma mulher, na sala a deslizar um elegante vestido sobre as pernas compridas. Jimin tinha a camisa aberta e ficou branco ao vê-la, mas nada disse. A mulher passou por ela sem dizer uma palavra. Uma dor agonizante atravessou o seu coração e as lágrimas começaram a cair em silêncio. Olhou para ele e imitando a mulher que acabara de sair, fechou a porta e meteu-se no elevador. Agora percebia porque ele insistira em que ela saísse com Jill. Como pode ser tão idiota a pontos de acreditar que ele a amava?!

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