segunda-feira, 17 de abril de 2017

À TUA ESPERA 6ª PARTE



Ainda ensonada Isabel sorria, tinha sonhado com Jimin. No sonho ela rodeava o pescoço dele e depois de um apaixonado beijo ela admitia que ainda o amava. Esticou a mão e tacteou tentando encontrar a mesa de cabeceira para acender a luz. Mas a sua mão apenas encontrou o vazio. Naquele momento recordou onde estava, sentou-se rapidamente e esperou que os olhos se acostumassem à penumbra. Entretanto tentou recordar os últimos acontecimentos da noite anterior.
A última coisa que tinha memória era da voz de Jimin, suave e calma, a falar com a mãe na sala ao lado enquanto ela bebia chá olhando o lume na lareira. Depois disso nada mais, apenas o sonho. Sobressaltou-se ao pensar que talvez não tivesse sonhado! E se ela tivesse admitido a Jimin que o amava?! Não que isso fosse um problema propriamente dito, mas como ele se mostrava indiferente ela não ia passar pela vergonha de admitir que ainda o amava! Ele teria colocado algo no chá que a fez adormecer?! Não queria acreditar que Jimin seria capaz disso, mas na verdade, já não o conhecia. Tinha adormecido no sofá dele e ainda ali estava. Naquele instante a sua única preocupação era sair dali, de preferência sem acordar Jimin. Precisava afastar-se dele.
Recordando a disposição dos móveis começou a dar pequenos passos. Tropeçou várias vezes e depois de bater com o joelho em algo conseguiu chegar à janela. Abriu ligeiramente a persiana e procurou os seus sapatos. Viu-os junto à mesa, em cima desta a sua écharpe e o telemóvel. Olhou para o ecrã, quatro da manhã! Felizmente tinha acordado antes do sol nascer! Que vergonha se as pessoas que trabalhavam para ele chegassem e a encontrasse ali. Agarrou os sapatos e sem os calçar dirigiu-se à porta, esperava sair sem fazer barulho. Felizmente a porta não fez um único som e conseguiu sair sem o acordar.
Assim que saiu, pediu um táxi e esperou na entrada do condomínio. Durante esse curto espaço de tempos, passaram imensas coisas pela sua mente, principalmente que conversas suscitaria a sua saída  ao porteiro e ao segurança que olhavam discretamente, mas não o suficiente para ela não perceber. Seguramente seria tema de conversa por alguns dias. Finalmente o táxi chegou e pode livrar-se do olhar deles.

Entrou em casa tentando fazer o menor barulho possível, contrariamente ao que esperava assim que se deitou adormeceu e só acordou quando o despertador tocou. Admirou-se quando percebeu que a sua nova "amiga" tinha desaparecido. O que aumentou a suspeita sobre ele ter colocado algo no chá. Não conseguira ver-se livre da dor de cabeça com medicamentos e de repente desaparecia assim? Com um simples chá?!  Não podia ser. Algo ele tinha feito para que ela dormisse toda a noite. Tomou um duche rápido e vestiu-se à pressa, queria chegar antes de Jimin ao escritório. Quando estava a tomar café, Jill apareceu pronta para sair.

- Já acordada?!
- Hoje tenho de ir mais cedo, temos de terminar as folhas das férias. - Jill serviu-se de café - Posso ir contigo? Logo vou sair com umas colegas e elas deixam-me em casa depois. Porque não vens connosco?
- Obrigada mas não posso. Mas se estiveres pronta podemos ir juntas.
- Estou mais que pronta. Se vejo estas folhas terminadas nem acredito.
- Não sei porque te queixas, não querias um trabalho de secretária?!
- Mas imaginava algo mais emocionante.

Isabel riu e Jill fez uma careta. Quando entraram no carro Jill ligou o rádio e começou a cantarolar a melodia.

- Existe alguma que te seja desconhecida?!
- Claro que sim, as clássicas.
- Pois, não te imagino a cantar la Boheme.
- Isso seria um pesadelo. - Jill bateu com a mão na testa - Já me esquecia, Lisa telefonou.
- Que queria?
- Não disse muito, telefona logo à noite. Não sei porque não te liga para o telemóvel.
- Outra das imensas manias de Lisa, a radiação do telemóvel faz mal à cutis.
- Pensa ficar para perpetuar a espécie?! Bela peça fica! Desculpa. É tua mãe, não devia...
- Não tens porque pedir desculpas.
- Oh...à que tempos não ouvia esta! - Jill aumentou o volume da rádio e começou a acompanhar a melodia - By the rivers of babylon, there we sat down... Vamos... tu também conheces esta!

Isabel deixou-se contagiar pela alegria de Jill e fizeram o resto da viagem a cantarolar as várias músicas, o que originava risos.
 Isabel respirou de alívio ao ver que entre os poucos carros que se encontravam no estacionamento, o de Jimin não estava. Falando de trivialidades entraram no edifício e Isabel despediu-se de Jill junto aos elevadores. O andar onde trabalhava estava praticamente vazio, apenas Maria, a empregada de limpeza, arrastava o carrinho da limpeza para fora do escritório do sr Crost. Sorrindo à senhora entrou no escritório de Jimin e ligou os computadores antes de rever a agenda do dia. Além de duas reuniões o dia seria bem calmo. Estava a tirar as pastas referentes às reuniões quando ouviu a porta abrir, não precisou de se voltar para saber que era ele.

- Não te disseram que é má educação sair sem avisar? - Jimin voltou-a para olhar para ela.
- Seria uma falta de educação muito maior se te acordasse. - Isabel tentou regressar à secretária mas ele impediu-lhe o passo - Eu preciso...
- Deixa isso! - Jimin tirou-lhe as pastas da mão e permaneceu na sua frente - No mínimo devias ter deixado um bilhete.
- Não. - Isabel encarou-o - Se me tivesses acordado tínhamos evitado esta situação.
- Situação?! Que situação?! Precisavas dormir. E tentei acordarte, mas quando te toquei no braço abraçaste-me e...
- Abracei?! Não me recordo. - Isabel desviou o olhar, não queria pensar que podia ter dito algo, que afinal não tinha sonhado. - Devia estar a sonhar.
- Possivelmente. - Jimin afastou-se dela - Para a próxima tem cuidado com o sítio onde adormeces, nem todos os homens são compreensivos como eu.
- Por quem me tomas?! - Isabel estava vermelha de raiva pela insinuação dele - Não costumo adormecer em casas alheias! E se adormeci foi por causa daquele maldito chá. Que lhe meteste?!
- Que lhe meti?! Não acredito! Acaso insinuas que coloquei algo que não era suposto?! - Jimin voltou-se e segurou-lhe o pulso com força - É isso que pensas?! Diz!
- Que queres que pense? Tens de admitir que é estranho! - Isabel sentia os dedos dele apertar o pulso cada vez mais - Há vários dias que não consigo dormir e vou adormecer justamente na tua casa?! E depois de beber um chá preparado por ti?!
- Não acredito no que estás a insinuar.
- Não insinuo... - Isabel tinha a respiração agitada - Tenho a certeza!

Isabel percebeu que ele estava furioso. A respiração dele estava ofegante e a força que exercia no seu pulso tinha aumentado consideravelmente. Mas apesar da enorme vontade de chorar, ela não ia pedir para a soltar pois estava a magoá-la,  nem ia pedir desculpas pelo que dissera, apesar de saber que tinha sido injusta com ele. A dor que vira momentos antes no olhar dele dizia-lhe que ele não tinha feito o que ela supunha.

- Sabes o que devia de ter feito?!
- O quê?!
- Isto. - Jimin puxou-a abruptamente e beijou-a com fúria, para a soltar momentaneamente - E mesmo que gritasses devia ter-te levado para a minha cama.

Jimin voltou a beijá-la, Isabel sentiu o coração bater rapidamente, a simples ideia de acordar na cama dele era suficiente para a deixar descontrolada. Durante o beijo algo aconteceu, pois de repente tornou-se mais suave, mais carinhoso.  Ela gemeu e sentiu como ele a apertava contra o seu corpo, notou a força do desejo dele contra a sua anca. Mas nesse instante Jimin afastou-se e ela ficou um pouco desorientada. Não conseguiu evitar recordar o tempo em que ele a afastava naquelas mesmas circunstâncias.

- Bom dia Jimin, queria agradecer o jantar de ontem. - Paul entrou no escritório sem bater. - Bom dia Isabel. Bela pediu para te dizer que gostou imenso de te conhecer e espera que consideres beber café com ela um dia.
- Bom dia sr. Crost. - Isabel mexeu nuns papéis fingindo estar ocupada - Quando Bela quiser.
- Tens de deixar de me chamar sr Crost. Faz-me sentir velho. - Paul voltou-se para Jimin - Esta juventude acha que depois dos quarenta somos dinossauros.
- Ainda não cheguei lá bom amigo. - Jimin sorriu para Paul, sabia que o amigo já tinha ultrapassado a barreira dos quarenta à muito - Que posso fazer por ti?
- Queria rever contigo a situação das encomendas com os Farlind...

Isabel voltou a sua atenção para o computador, Jimin saiu com Paul o que a tranquilizou ligeiramente. Ela não conseguia esquecer a discussão e muito menos o beijo. Não compreendia como ele conseguia manter-se tão calmo, nem como ouviu Paul antes mesmo deste chegar ao escritório. Sentia que depois de cada beijo, ao ver como ele se afastava, sentia-se mais sozinha e magoada. Se a beijou para castigá-la, tinha conseguido, ela não seria capaz de pensar em melhor forma de a fazer sofrer.

Pouco depois Jimin regressara ao escritório mas, mais uma vez, agia como se nada se tivesse passado. Ela respirou fundo e lutou contra as lágrimas que ameaçavam cair sempre que dedicava mais algum tempo a pensar no assunto. Mentalmente agradeceu os emails, aos quais  tinha de responder que lhe proporcionava assim um motivo para evitar um contacto visual com ele. Para sua surpresa, apesar do início do dia ser algo conturbado, a manhã passou calma. Por volta da uma da tarde, Paul apareceu com mais papeis para Jimin rever e arrastou este para almoçar. Quando eles saíram pôde deixar sair a frustração que sentia e, quando conseguiu falar sem chorar ligou a Jill para almoçar mas esta já tinha comido umas sandes. Sem vontade de almoçar sozinha acabou por ficar no escritório. Trabalho não faltava.
Durante a tarde, apesar de notar que ele olhava para ela, evitavam tocar-se ou até mesmo trabalharem na mesma secretária. Isabel não chegou a perceber se por opção dela, se dele.
No fim do dia, quando ela lhe passou uns papéis para ele assinar, Jimin agarrou a mão dela e ficou a olhar o pulso que estava avermelhado.

- Desculpa. - Jimin massajou-lhe o pulso - Não devia ter-me alterado. Mas quando me acusaste de colocar algo no chá...
- Eu é que peço desculpa. - Isabel lutava contra o formigueiro que lhe percorria o corpo sempre que ele lhe tocava. - Sei que não o farias.
- Sabes?! - Jimin olhava para ela sem deixar de lhe acariciar o pulso - Não estavas certa do contrário?
- Estava, mas acho que estava errada.
- Achas...ou seja, ainda não tens a certeza.
- Não. Sim, tenho. - Isabel tinha dificuldade em concentrar-se - Jimin pára...
- Porquê?!
- Não podes fazer isto.
- O quê? Tocar-te ou beijar-te?!
- As duas coisas.
- E se não quiser?
- Tens de parar, é demasiado doloroso.
- Não tem de ser.
- Mas é. - Isabel puxou a mão - Se não precisas de mim vou indo. Lisa vai ligar e eu quero estar em casa.
- Claro.

Jimin soltou-lhe a mão e ela terminou de arrumar as pastas. Pouco depois vestia o casaco para deixar o escritório, Jimin acompanhou-a até à porta com o olhar, podia senti-lo nas suas costas.

- Isabel?
- Sim?! - Ela respondeu sem se voltar.
- Até amanhã.
- Até amanhã Jimin.

A melancolia instalou-se novamente ao pensar que mais uma vez ele voltava a brincar com ela ao jogo do gato e do rato. Beijara-a para depois se afastar e passar o dia a evitá-la. Nem a tinha convidado para almoçar como fazia sempre. O facto de ele a afastar era o que mais lhe doía, mentalmente reviu todos os momentos em que ele a afastou, desde os seus dezassete anos até aquele momento.
 Tinha acontecido demasiadas vezes, mas mesmo contrariada tinha de reconhecer que pelo menos desta vez Jimin tinha motivos para a afastar. Paul aparecera repentinamente e se ele não o tivesse feito, ela morreria de vergonha. Mas saber isso não impedia de sentir a mesma rejeição de outros tempos. Os anos tinham passado e ela ainda o amava e desejava-o tanto ou mais como naquele tempo. E trabalhar com ele estava a revelar-se uma prova de fogo aos seus sentimentos. Porque tinha regressado?! Justamente quando ela desistira dele e se resignara em refazer a sua vida sem ele!

A água quente acalmou-a um pouco e quando Jill regressou do supermercado, ela cantarolava enquanto fazia salada de frango com ananás para o jantar.

- Estás animada. - Jill deixou os sacos das compras em cima da bancada.
- É mais terapia que animação.
- Cantar para não chorar?!
- Mais ou menos isso.
- Lisa?!
- Não. - Isabel encolheu os ombros - Com as loucuras de Lisa eu sei lidar.
- Então que se passa? - Jill fechou a porta do frigorífico com o joelho - O jantar correu mal?! Não te perguntei, como chegaste tarde...

Isabel contou a Jill como correu o jantar e como adormeceu no sofá de Jimin, o que levou Jill a rir imenso.

- Não tem piada. - Isabel falava tristemente.
- Desculpa mas tem. Olha que só tu. Em vez de te atirares ao homem voltas para casa. Eu tinha procurado o quarto dele e... - Jill parou ao ver a cara da amiga - Desculpa. Sei que tu ainda estás magoada por Phil te ter traído.
- Phil?! Não é isso. - Isabel ajeitou-se no sofá procurando uma posição mais confortável, tinha de falar com alguém - Lembras-te de te dizer que andei com Jimin na faculdade?
- Sim...
- Nós namorámos. - Isabel olhou para ela esperando uma reacção mais eufórica - Não pareces surpreendida.
- Devia?
- As pessoas ficam admiradas e não compreendem.
- Em primeiro lugar ninguém tem nada com isso e em segundo, as pessoas... quais pessoas?!
- Bem, não as pessoas no geral. Apenas Lisa.
- Ah Lisa! Pois, acredito que não compreenda. - Jill sentou-se com as pernas cruzadas no sofá em frente a ela - Agora quero as partes sórdidas e picantes.
- Queres... eu também queria.
- Como querias?! Não acredito! Ele é gay?
- Claro que não! Mas eu era menor e ele queria esperar.
- Menor... tipo treze, quatorze anos?!
- Dezassete, quase dezoito.
- Então eras tu que não querias... desculpa. Não tenho porque perguntar. Eu comecei aos quinze, mas cada pessoa é diferente.
- Aos quinze?! Bolas! - Isabel encarou-a de olhos muito abertos, como dizer-lhe que ainda era virgem? - Foste precoce.
- Fui. Mas quero saber que disse Lisa.
- Nada.
- Agora fiquei totalmente ás escuras. Lisa não entendia mas também não sabia?!
- Lisa nunca soube. Sabes como ela reage ás pessoas que não pertencem ao "nível" dela. - Isabel falou com algum sarcasmo - Ela deixou de falar com a própria mãe porque esta casou com Billy. Só voltou a falar com ela porque precisou de alguém que cuidasse de mim sem me abandonar.
- Deve de ter sido difícil para ti abandonares a tua casa e os teus pais.
- Para mim?! Não. Lisa nunca esteve comigo, sempre tive amas para a substituir. Felizmente fui educada pela minha avó, ou seria uma fotocópia de Lisa.
- Não acredito. Além da tua ingenuidade tens um coração bondoso demais.
- Podes não acreditar mas cheguei a odiá-la. Agora não sei bem que sentimentos me desperta, a minha avó e Billy ensinaram-me o que é o amor e o respeito pelos demais. E nunca vi mal algum em estar com pessoas diferentes de mim, brinquei neste mesmo quintal com todas as crianças do bairro. Nunca vi outra coisa a não ser mais um amigo de brincadeiras. Posso dizer que fui uma criança feliz, pelo menos até que a minha avó faleceu.
- Depois não foste?
- Feliz?! Não. - Isabel encolheu os ombros - Tive de regressar a casa. Como era adolescente, e não uma criança, não precisava de companhia. Sem amigas, passava os dias sozinha ou com os empregados enquanto Lisa ia de viagem com o meu pai. Quando Jimin entrou na minha vida senti que era alguém especial. Fazia-me rir, não era como os miúdos mimados daquela faculdade em que Lisa me enfiou. Finalmente tinha alguém com quem conversar e quando dei por mim não conseguia viver sem ele. Claro que fiquei assustada! Principalmente porque sabia o que Lisa pensava de pessoas como ele. Pensei conseguir esconder isso dela mas um dia viu-me com ele e ameaçou meter-me num colégio interno se continuasse a ver pessoas "inferiores" a mim.
- Que horror!
- Vivia apavorada, além de ser menor de idade, tinha em mim os valores que a minha avó me incutiu, logo sentia-me na obrigação de lhe obedecer! O que originou um duplo conflito interior. Por um lado Lisa que me proporcionava o sustento necessário e do outro Jimin que era tudo para mim. Não queria deixar de o ver e não lhe podia dizer o que Lisa pensava dele. Como achas que ele se iria sentir?! Desejei tanto ter a minha avó comigo naquele momento.
- Acredito que sim. Nessa idade queremos gritar o mundo o que sentimos e tu não podias.
- Falei com Mima, a irmã de Billy, para mim é como uma segunda mãe. Se visses a cara dela quando lhe disse que sentia uns calores... - Isabel calou-se ao ver a cara dela - Pois, essa mesma. Nem todas temos a tua sorte.
- Imagino que Mima te tivesse esclarecido sobre o assunto.
- Sim, mas existia Lisa, que sempre que estava em casa, me controlava como um falcão e Jimin que queria esperar pelo momento certo, pelo meu aniversário. Não via a hora de fazer dezoito anos, queria ser independente, queria ser livre para amar. - Isabel encolheu as pernas e abraçou-as - Apenas precisava terminar os estudos, a minha avó certificou-se que não iria precisar de Lisa para subsistir. Mas nenhuma das duas... - Isabel calou-se ao ouvir o telefone - Lisa, oportuna como sempre.
- Queres que atenda?!
- Não. Algum dia tenho de a enfrentar, mas obrigada.

Isabel respirou fundo antes de atender o telefone. Mesmo sendo adulta, Lisa ainda tinha o poder de a intimidar.

- Sim?!
- Finalmente! - Nem um olá sequer - Olha, vou dar um jantar para alguns amigos chegados, estou a contar contigo.
- Não sei se posso. - Era típico de Lisa, não se dignava a perguntar o que fosse.
- Claro que podes. Certamente a tua patroa não se vai opor a que tires a tarde. Tens de ter tempo para ir ao spa e ao cabeleireiro.
- Lisa, eu já...

Isabel não teve tempo de acabar a frase.

- Olha. - Lisa começava a ficar impaciente - O jantar é na sexta feira, ás sete em ponto, por isso não te atrases.
-  Mas eu tenho...

Lisa já tinha desligado, Isabel ficou a olhar o telefone. Decididamente Lisa não tinha consideração por ninguém! Apenas a vontade dela prevalecia. Ela ia dar um jantar e ela, como filha tinha de ir.

- Está tudo bem? - Jill estava com os pratos na mão para jantarem. - Falaste muito pouco.
- Como se Lisa tivesse interesse em ouvir o que os outros têm a dizer.

Isabel ajudou Jill a colocar a mesa em silêncio. Precisava pensar em como escapar daquele jantar.

- Acho que está na hora de a enfrentares.
- Penso nisso muitas vezes, mas acabo desistindo. - Isabel bateu com o garfo no prato - Porque tenho de estar sempre preocupada em não magoar ninguém?!
- Porque és tonta. E tu?! Quando pensas em ti?!
- Amanhã ou depois.
- Ou quando não puderes aproveitar a vida.
- Lisa é tudo o que me resta. - Grossas lágrimas começaram a cair no prato - Não tenho mais ninguém, não é a melhor pessoa ao cimo da terra, mas é a minha mãe. Apesar de nunca ter tido o direito de lho chamar.
- Se puder fazer algo para te ajudar.
- Obrigada. Sei que se pudesses... - Isabel calou-se e olhou para ela de olhos esbugalhados - Mas podes, vais ao jantar comigo.
- Eu?! Ah não, eu não tenho paciência para ricos snobes.
- Nem eu! Assim tenho com quem falar. Não vais deixar que enfrente aquela gente sozinha.
- Mas tu conheces todos.
- Nem por isso, alguns serão amigos novos, dos quais ela quer presumir. Por favor...
- Está bem, mas Lisa não vai gostar quando lhe disseres.
- Não lhe vou dizer.
- Isso é que não, não vou aparecer sem avisar.
- Amanhã, ligo a avisar o mordomo.
- O mordomo...
-Sim.
- E é assim que temos um encontro com o snobismo às sete da tarde!
- Ricos e snobes... - Isabel começou a rir e levantou o copo cheio de sumo - Ao nosso jantar de snobismo.

Mas a alegria era apenas aparente, Isabel conhecia Lisa demasiado bem, sabia que quando esta soubesse que Jill ia ao jantar, no mínimo, iria fazer uma cena ou então iria telefonar a dizer que ia cancelar o jantar. O que não seria mau de todo...

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