Isabel entrou na pastelaria do bairro para comprar, a jeito de desculpa, o bolo de chocolate favorito de Jill. May, a dona do estabelecimento, que ela conhecia desde os tempos de criança e que não a via desde que começou a trabalhar com Jimin, convidou-a para um café. Isabel começou a ir ali com a sua avó e gostava de manter essa rotina, era uma espécie de tradição. E nos últimos anos fazia questão de ir semanalmente comprar o bolo de chocolate que dera fama à casa e assim conversar sobre os tempos em que a sua avó estava viva. Mas desta vez o convite tinha um motivo oculto, Isabel sabia disso. May queria saber o porquê da ausência prolongada.
E Isabel não se enganara, depois de explicar que não podia ir tanto como gostaria devido ao novo trabalho, situação que deixou May feliz, falaram um pouco sobre o tempo frio que se fazia sentir e de como isso aumentava as dores dela. Dores que, segundo a velha senhora, eram sinal de chuva. Isabel olhou o céu e concordou, as nuvens cinzentas pareciam mais escuras.
Olhou o relógio na parede da pastelaria e desculpou-se por ter de ir. Isabel não esperava que fosse tão tarde. Nessa tarde ao sair de casa pensou regressar a horas de lanchar com Jill, mas a hora do lanche tinha passado à muito, o bolo teria de ficar para a sobremesa do jantar. Sorriu ao imaginar a cara de Jill ao ver o bolo, que segundo ela era o melhor de sempre. Como era sábado podiam ver um filme até tarde enquanto se deliciavam com o bolo.
Ao entrar em casa Isabel ficou branca como a cera. Lisa estava sentada na ponta do sofá! Isabel percorreu a sala com o olhar e viu Jill, com uma chávena na mão, encostada na porta da cozinha a observar a visita que até ali insistia em olhar o chão.
- Lisa. - Isabel cumprimentou-a.
- Como te atreves?! - Lisa olhou-a fazendo um esforço para controlar a raiva.
- Desculpa. Tenho de entregar isto a Jill.
Isabel olhou para Lisa, imóvel, parecia petrificada, ela já esperava algo assim. Esperou aquela visita a manhã inteira, Isabel chegou a pensar que Lisa não tinha notado a falta dela na noite anterior, mas notara, a reacção apenas chegou mais tarde do que ela esperava. Antevendo o sermão sobre a linhagem e a notoriedade dos ricos, passou por ela tentando mostrar uma calma que não sentia e entregou a caixa a Jill.
- Para a sobremesa. - Isabel sussurrou depois - Quando chegou?
- Está aí à mais de uma hora. - Jill sussurrou também - Deve de ter o rabo dorido, não se mexeu uma única vez.
- Não é um sofá de design francês. - Isabel regressou para a sala e confirmou que Lisa continuava furiosa - Estavas a dizer?
- Não voltas a ignorar-me assim! Ouviste?! - Lisa olhava para ela cinicamente - Tenho tentado compreender o que se passa nessa tua cabeça mas chega! Hoje vais ouvir tudo o que tenho para dizer! És uma menina mimada. Pensas que não me deves nada?! Pelo contrário, deves imenso! Quando percebes que não és nada sem mim?! Tudo o que faço é por ti, desde que nasceste que te dou tudo o que uma rapariga pode desejar e que me dás em troca?! Nada! E digo algo? Não! - Lisa parou para ganhar fôlego - Envergonhas-me com as tuas atitudes de menina solidaria, sempre preocupada com os mais desafortunados. - Lisa respirou fundo - E eu?! Nunca tiveste em consideração tudo o que fiz por ti, todos os sacrifícios. Estou farta da tua insolência. Achas que é fácil arranjar-te um marido decente?! Não é! Mas tu dás valor a isso?! Não! E nenhum deles é suficientemente bom, apenas sabes depreciar todos os homens que te apresento. Todos filhos das pessoas mais influentes da sociedade! O que me leva à noite de ontem. Quem pensas que és para abandonar o jantar?! Que seja a última vez que o fazes! Não te admito. Ouviste bem?! Não te admito que...
- Chega! - Isabel, que até ali se manteve calada, gritou interrompendo-a - Quem não admite sou eu! Não sou mais uma criança. Nunca te pedi nada disso. Abandonaste-me nas mãos de amas e empregados, quando regressavas vinhas carregada de roupas caríssimas! Achas que isso é amor?! Preferia mil vezes ter o teu carinho que todos os vestidos que me deste! Sapatos e afins! Dizes que não percebo, não, tu é que não percebes. Depois deste tempo todo não percebeste que não estou à venda! Aliás, nunca estive. Não podes comprar sentimentos! E pára de me arranjar marido. Quando casar será por amor.
- Por amor?! - Lisa soltou uma gargalhada que congelaria a própria Antárctida - Achas que alguma vez me casei por amor?! O dinheiro é que move o mundo. Meu Deus, como és infantil! O amor não existe. Não esse que tu idealizas.
- Não sejas cínica. As pessoas amam-se. Olha a avó!
- Oh sim! - Jill fez uma careta de nojo - A tua amada avó! Ela e as ideias loucas de amor eterno, companheirismo e compreensão. E conseguiu meter essas ideias na tua oca cabeça.
- Não fales dela assim. - Isabel sentiu os olhos encherem-se de lágrimas.
- A tua avó não tinha visão. Não via mais além. O que lhe deu a vida em troca?!
- Amor. - Isabel gritou - Morreu sendo amada por todos e podes crer que sinto a falta dela todos os dias.
- Sentes falta?! De quê?! De andar a pé?! De não ter dinheiro para viajar?! Nem comprar o que queres?
- Nada disso me faz falta. Tenho saudades do carinho que me dava, das conversas, do tempo que perdia para brincar comigo. De sentir que sou amada. Mas isso é coisa que tu não sabes o que é.
- Miúda insolente! Amor! E tu achas que sabes o que é amor?! Acaso achas que amavas...como se chamava ele?! Jim?!
- Jimin! - Isabel sentiu o sangue ferver - Chama-se Jimin.
- Isso, o que quiseres. Achas que não sabia dos teus encontros? Sabes a vergonha que passei quando me disseram? Imagine-se namorar um Zé ninguém! Felizmente foi-se embora e pude viver descansada. Nem quero imaginar como seriam os teus filhos, nem nisso tu...
Isabel deixou de a ouvir, tinha os olhos marejados de lágrimas, para Lisa tudo se resumia à cor da pele, à nacionalidade e ao dinheiro. Da mesma forma que ela não podia chamá-la de mãe, os seus filhos, se um dia os tivesse, nunca poderiam dizer a minha avó.
- Aposto que o esqueceste no dia seguinte. - Lisa continuava - Amor...
- Eu amo Jimin. - Isabel sentia-se rebentar - Ouviste? Amo-o. Tanto como amava naquela época, apesar de não aprovares! E estás enganada, não o esqueci.
Lisa olhou para ela como se estivesse a ver a filha pela primeira vez, deu uma gargalhada e de repente parecia mais calma. Como se aquela gargalhada a liberta-se de algo.
- Quem queres enganar?! Se o amasses terias feito algo. Quando herdaste o dinheiro da tua avó...
- Tua mãe! Custa muito dizer que era tua mãe?!
- A tua avó. - Lisa continuou como se não tivesse sido interrompida. - Deixou-te dinheiro e tu que fizeste? Por ventura procuraste esse teu suposto amor?! Não! Investiste num ridículo curso para não continuares a frequentar a faculdade. Podes tentar acusar-me de te afastar dele mas não fui a causadora disso. Porque não o procuraste quando resolveste vir morar sozinha?! Diz?! Foste atrás dele?! Não, mais uma vez não o fizeste. E sabes porquê?! Porque era uma paixoneta e tu sabias isso. Se o amasses terias feito algo. Eu sim, sei o que é amar. E faço sacrifícios por esse amor, por ti! Não fico sentada à espera que as coisas me caiam no colo.
Isabel olhou para ela e de repente deixou de a ver. Lisa tentava dizer que tinha feito tudo por ela?! Lisa apenas pensava numa pessoa, nela própria. Mas numa coisa Lisa tinha razão, apesar de ser fria e entre todas aquelas palavras azedas, à sua maneira tinha-lhe mostrado que ela não tinha lutado pelo amor de Jimin. Pestanejou e olhou-a no olhos sorrindo.
- Tens razão. - Isabel falava calmamente - Mas nunca é tarde, pois não?! E desculpa dizer-to, mas para que não restem dúvidas, tudo o que fizeste foi por ti, não por mim. A mim nunca me deste nada, pelo menos nada de valor, até o direito de te chamar mãe me negaste.
Perante o olhar atónito de Lisa, Isabel apanhou a sua mala e olhou para Jill que permanecia encostada à porta da cozinha sorrindo. Ao ver o olhar da amiga soube que não precisava de dizer nada. Saiu de casa e entrou no carro. Quando fez a curva conseguiu ver Lisa na porta, gesticulando furiosamente, mas ignorou-a e seguiu em frente.
Por uma vez Lisa tinha razão, até ali ela limitara-se a aceitar o que os demais lhe queriam dar, mas estava na hora de lutar pelo que realmente queria. Amava Jimin e sabia que ele sentia algo por ela, podia ser apenas desejo, ela não se importava pois amava pelos dois. Estava cansada de ser afastada e pensava dizer-lhe isso mesmo.
A chuva finalmente começou a cair quando estacionou junto ao apartamento de Jimin. Saiu do carro sem se importar com a chuva e quando entrou no condomínio os seus cabelos gotejavam tanto ou mais que as goteiras do telhado. O porteiro reconheceu-a e sorriu-lhe quando ela perguntou se o sr. Park estava em casa. Já dentro do elevador começou a ter dúvidas. E se ele estivesse com alguém?! E se recusasse vê-la?! Não! Não podia recuar agora. Se ele estivesse com alguém o porteiro tinha-a avisado e se não a quisesse ver, ela...bem, aí logo veria o que faria. Mas sabia o muito que ele a desejava e se para estar com ele, apesar da sua inexistente experiência, tinha de manipular esse desejo, era isso que faria. Tocou à campainha antes de se arrepender.
- Isabel?! - Jimin parecia admirado de a ver.
Isabel olhou para ele, era consciente da figura ridícula que devia parecer aos olhos dele, com o cabelo pingando e a maquilhagem esborratada. Abriu a boca mas não conseguiu dizer nada, as palavras ficaram retidas na sua garganta. Sem pensar entrou e colocou os braços em redor do pescoço dele e beijou-o. Ele permaneceu imóvel com os braços junto ao corpo, Isabel sentiu que o coração gelava ao notar a frieza dele. Ao pensar que podia ter sido um erro enorme ir ali, uma lágrima desceu pela sua face misturando-se com as gotas que caíam do seu cabelo, quando a lágrima chegou à sua boca, ele colocou os braços em redor da cintura dela e apertou-a contra ele.
O beijo até então ignorado tornou-se apaixonado, exigente e carregado de desejo. Sentiu como o casaco, com a ajuda das mãos hábeis dele, deslizava pelas suas costas caindo a seus pés. Jimin levantou-lhe a cara para a olhar antes de começar a beijar-lhe o pescoço.
- Eu...
Jimin apoderou-se da sua boca, calando-a com um novo beijo apaixonado. Sorria ligeiramente quando a pegou ao colo e a levou para o quarto. A cada passo depositava pequenos beijos na sua boca. Com cuidado depositou-a na cama e despiu a roupa perante o olhar dela, nunca tinha visto um homem nu. Jimin tinha um corpo impressionante, forte, musculado, sem um grama de gordura. Ficou vermelha ou ver como ele estava excitado. Jimin ajudou-a a sair da cama e tirou-lhe a roupa demoradamente entre beijos e caricias que a levavam a descobrir sensações que até ali desconhecia. Por muito que lesse, e Mima lhe tivesse explicado sobre sexo, não estava preparada para aquela avalanche de arrepios intercalados com suores. Quando lhe restava apenas a roupa interior, Jimin deitou-a na cama e começou a beijar o corpo dela, dando pequenos, mas sensuais beijos desde as pernas bem torneadas até ao seu pescoço. Demorando-se na barriga, levando-a a suspirar e suplicar que a fizesse sua. Jimin sorriu-lhe e introduziu dois dedos por debaixo da renda das suas cuecas e lentamente deslizou-as pelas pernas dela. Isabel pensava explodir de desejo, tentou puxá-lo para si, eliminando assim o espaço que ele deixava entre eles, mas Jimin era mais forte e segurou-lhe os pulsos junto à cabeça mantendo-a imóvel. Voltando a percorrer o corpo dela com beijos que ao chegarem aos seus seios, já doridos pelo desejo, a levaram à exaustão. Nunca imaginou que sem chegarem ao acto em si ela pudesse ter tanto prazer. O seu corpo começou a estremecer de desejo, não aguentava mais...
- Jimin... Por favor...
- És minha...
Ao dizer essas palavras Jimin colocou-se entre as suas pernas e penetrou-a. Isabel teve alguma dificuldade em ouvir o que ele disse depois porque uma dor dilacerante, mas momentânea que a fez ficar tensa, percorreu o corpo todo. Jimin notou-o e parou por uns instantes, olhou-a nos olhos e sorriu ao perceber o que tinha acontecido, depositou um beijo na boca dela e recomeçou os movimentos, desta vez mais lentos. Isabel esqueceu a dor e começou a movimentar-se ao mesmo ritmo dele. Os movimentos cadenciados pareciam não ter fim, cada vez que ela pensava que ia desfalecer de prazer, Jimin abrandava, fazendo-a reviver toda aquela deliciosa tortura. Os corpos suados e exaustos negavam-se a dar por terminado aquele encontro. Quando finalmente ele permitiu que ela atingisse o clímax, ela apertou as pernas ao redor das ancas dele obrigando-o a permanecer imóvel dentro dela, sentindo como o corpo dela lhe dizia que estava feliz por estar ali. Nesse instante o corpo dele estremeceu e juntou-se a ela na espiral de emoções que o corpo dela sentia pela primeira vez.
- Esperaste por mim... - Jimin falou junto ao cabelo dela.
- Disse que o faria. - Isabel voltou-se na cama de forma a ficar apoiada no peito dele - Nunca falto ao prometido.
Jimin puxou-a para cima dele e beijou-a demoradamente, instantes depois os gemidos dela voltaram a ouvir-se e, juntos, voltaram a cumprir a promessa feita à muitos anos atrás.
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