Alec estacionou o carro no pátio e ajudou Alexandra a sair do carro. Black e Faísca vieram ao encontro deles cheirando Alec impedindo que caminhasse.
- Voltem para o vosso canto. - Alexandra acariciou a cabeça deles e depois de olharem para Alec mais uma vez obedeceram-lhe.
Segurando a mão de Alec dirigiu-se ao anexo sentindo uma felicidade enorme. A casa ainda estava quente pela lareira que Pedro acendia todos os dias ai inicio da noite. Depois de colocar um pau no lume que se extinguia, Alexandra sentou-se no sofá ao lado dele.
- Queres um café ou um chá?!
- Não. - Alec segurou-lhe a mão - Para uma mulher que saiu daqui, onde tudo é simples, onde as pessoas confiam umas nas outras, és demasiado desconfiada!
- Eu?! - Alexandra recostou-se no peito dele.
- Sim... Nunca senti por outra mulher o que sinto por ti.
- Acho muito bem!
- Desde que me caíste nos braços, que só pensava na forma de te manter a meu lado. Pelo menos até descobrir porque me tiravas o sono e porque não conseguia pensar em mais nada durante o dia. - Alec beijou-a - Quando soube que ias trabalhar para mim, nem queria acreditar. Ia poder ver-te todos os dias, ias ficar a meu lado, mas tu querias recusar o emprego!
- Não queria o emprego se mo dessem porque dormia contigo!
- Deixaste isso bem claro na altura. - Alec beijou-lhe o cabelo - Os dias foram passando e percebi o que sentia por ti, amava-te e de alguma forma haveria de conseguir que me amasses também. - Alec apertou-a junto ao peito - Sabia que me desejavas mas isso não me chegava. Queria ser o único homem que te beijava e te tocava, o único que te fazia suspirar de desejo.
- E és.
- Mas mesmo tendo-te ali a meu lado, ainda tinha um fantasma a rondar-me, um sobre o qual tu não querias falar, Miguel. Na viagem a Lisboa, quando o viste, fiquei com a sensação que algo mudara. Estavas diferente... Quando me falaste do que ele te fez, tive vontade de o matar e ao ver as tuas lágrimas pensei que naquele dia tinhas descoberto que ainda o amavas.
- Não! Chorei de raiva de mim mesma! O único sentimento que ele me inspira é ódio e desprezo!
- Acho que o medo de te perder me fez ver o que não existia. - Alec levantou-se - Quando tive o acidente e te vi, ali no hospital com os olhos cheios de dor, apesar de não o dizeres, convenci-me que me amavas. Principalmente depois de insistires em me acompanhares ao hospital. Eu sentia-me feliz e tu parecias feliz a meu lado. Até que chegaram as dores de cabeça, e eu pensei que havia algo mais que não te permitia dormir.
- Sabias isso?!
- A cada movimento teu esperava que me dissesses o que te incomodava, mas os dias iam passando e parecia que te era penoso estar a meu lado. Decidi viajar e dar-te um tempo. Mas quando cheguei a Londres apenas pensava em ti, e percebi que estava a fazer o que nunca fiz, desistir! Estava a desistir da única coisa que realmente queria na vida! Tu... Lembrei-me que Miguel te enviava flores... Era isso que querias?! Então irias receber flores todos os dias. - Alec olhou-a de repente - Desculpa... Devia de ter perguntado antes... foste ao médico?
- Sim. Não é grave, coisas completamente normais.
- Ainda bem. - Alec sorriu
- Estavas a dizer... - Alexandra gostava de o ouvir dizer que a amava, que não queria perdê-la.
- As flores... pois, não podia permitir que me esquecesses.
- A julgar pelos telefonemas que me fizeste, não estavas muito preocupado com isso. - A voz dela mostrava a tristeza que sentia ao recordar.
- Meu amor, pensava que não me amavas. E apenas tentava que a minha estadia lá não me fosse tão penosa. A cada dia que passava se tornava mais difícil estar longe de ti. O meu pai não pode viajar por problemas de saúde, por isso decidi ir até lá e dizer-lhes que vivia com a mulher que amava e que pensava casar-me a mais depressa possível.
- Casar?!
- Claro! Amo-te e não quero correr o risco de te perder.
- Tens noção que um papel não me obriga a ficar a teu lado!?
- Isso foi a primeira coisa que me assustou. Ver que estavas a mudar! Aquela mulher frágil que era propensa a cair-me nos braços, a que eu queria proteger de tudo e todos, estava a desaparecer, no seu lugar nascia uma mulher mais segura e mais decidida. E se quisesses sair e conhecer o mundo? E se percebesses que não me amavas?! E se eu fosse o primeiro da tua lista de amantes?
- Meus Deus! As coisas que pensas de mim!
- Um homem inseguro pensa em muita coisa! E ultimamente parecias não te importar se não te tocava.
- Senti a tua falta todas as noites! Doía-me mais a tua ausência que a cabeça.
- Apenas queria que descansasses. Pensei que as dores de cabeça eram do trabalho! Quando voltei de Londres não estavas, e nenhuma delas me dizia onde estavas. Mónica disse que tinhas ido visitar a tua madrinha, que por sinal está de perfeita saúde.
- Foste visitá-la?!
- Claro, precisava ver-te. Queria pedir-te em casamento, mas mais uma vez tiveste de complicar tudo. Primeiro tive de convencer Clara sobre os meus sentimentos para que me desse a tua morada, pois se alguém sabia onde estavas era ela. Mas tu, por uma razão que me era desconhecida, não me querias ver e expulsaste-me daqui.
- Pobrezinho! - Alexandra beijou-lhe o pescoço.
- Bem podes dizê-lo! - Alec sorriu-lhe - Depois Marisa, que se negava a dizer-me o que se passava. Mas quando o fez, parecia uma águia a defender os filhos! Nunca a vi tão furiosa, depois disso tive de a convencer que não tinha amante nenhuma! Depois tive de arranjar uma ama para que aquela miúda idiota pudesse vir e dizer a verdade!
- Coitada, é mãe. Uma mãe faz tudo por um filho.
- Tens pena dela?!
- Tu não?!
- Se ela tivesse falado comigo... Mas estou a desviar-me do assunto. Depois de a convencer a dizer porque o fez...
- Como conseguiste?
- Prometi-lhe que não a despedia.
- Por isso te amo. - Alexandra levantou-se ligeiramente e beijou-o nos lábios - Pareces um tirano mas tens um coração enorme.
- Podes parar?! - Alec fingiu-se ofendido mas apertou-a mais junto a ele - Quero dizer-te o que sofri por ti e tu estás a provocar-me!
- Peço desculpa!
- Não peças... eu gosto... - Alec aconchegou-a nos seus braços - Continuando, depois disso tudo, ainda tive de subornar o dono de um restaurante para ficar com o restaurante só para nós. Finalmente estavas ali e tudo corria como planeei, mas mesmo assim, não estava muito seguro! Parecias não querer ver-me mais. Como se não me amasses.
- Oh... Não te preocupes, depressa arranjavas outra, afinal mulheres é coisa que não falta! - Alexandra brincou com a frase que ele usou no restaurante. - Era questão de horas até teres outra mulher lá em casa.
- Estava magoado e a perder a esperança que voltasses para mim. - Alec beijou-a - A única mulher que quero lá em casa és tu. E ocasionalmente a minha mãe e irmã.
- Vêm viver connosco?!
- Não, apenas virão de visita. Aquela casa era dos meus pais. Nunca passei muito tempo lá, mas Mónica e Mateus cuidaram sempre dela. Apenas passava lá dias esporádicos, mas quando percebi o muito que significavas para mim mandei arranja-la para nós.
- Para nós?! Como sabias que aceitava viver contigo?!
- Não sabia, mas não ia desistir facilmente. - Alec beijou-a - Quando me caíste nos braços a primeira vez, a tua reacção deixou-me curioso. Primeiro pensei que tinha sido propositado, que procuravas uma aventura, não serias a primeira. Mas quanto mais pensava, mais me parecias envergonhada com a situação, o que me levou a perguntar por ti na recepção.
- Não acredito que foste perguntar por mim!
- Claro que fui. Não deixava de pensar em ti, tinha a teu perfume no casaco e a cada movimento parecia que te sentia nos meus braços. Por isso segui-te até à igreja.
- Tu seguiste-me?!
- Não fiques aborrecida, afinal salvei-te de uma queda. - Alec ficou muito sério - Era refrescante estar contigo, sem mentiras. Podia ser eu próprio, não precisava fingir que não gostava de coisas tão simples como caminhar na areia molhada. As pessoas que conheço apenas dão valor a jantares em restaurantes caríssimos, férias em países exóticos. As mulheres que conheço fazem tudo para conseguirem um marido rico. - Fez uma pausa- Até as hóspedes do hotel, embora nunca saíssem com nenhuma, algumas delas mostravam-se bastante disponíveis, depois de saberem quem era. Só quando me falaste no emprego percebi que não sabias quem era. O que me levou a amar-te ainda mais. Estavas comigo por mim, não pelas coisas que te podia dar.
- Isso é uma coisa que não gostava, nem gosto, que gastes o teu dinheiro comigo.
- Sei, achavas que te tratava como uma amante. Mas amo-te e adoro comprar-te coisas, quando te prepus morares comigo era porque te amava e não por outro motivo qualquer. Para mim já eras a pessoa que queria a meu lado para sempre, a minha mulher, aquela que seria a mãe dos meus filhos. Isto se os quiseres.
- Pois... isso...
- Não vou pressionar-te...
- Lembras-te das dores de cabeça?! - Alexandra interrompeu-o.
- Sim... - Alec ficou tenso - Não era uma coisa simples?!
- Sim, tão simples que desaparece ou melhor aparece nove meses depois, neste caso em sete meses.
- Não estou a perceber.
- Não?!
Alexandra levantou-se e colocou-se de perfil sujeitando o vestido ao corpo, Alec olhou para ela e ela levou uma mão à barriga. Alec seguiu o movimento que ela fez e depois levantou-se rapidamente abraçando-a e beijando-a ao mesmo tempo.
- Vou ser pai?!
- Humhum!
- Por isso tinhas dores de cabeça?! Nunca ouvi tal coisa!
- A médica disse que era por causa do stress.
- Stress?!
- Porque andavas distante e pensei que já não me querias.
- Não te queria?! Sabes a tortura que era não te tocar?!
- Posso imaginar, já que senti o mesmo.
- Quer dizer que o bebé está bem?
- Sim.
- Devia de estar a teu lado nesse momento.
- Desculpa...
Alec parou de a abraçar e afastou-se muito sério.
- Não pensavas dizer-me?!
- Sim, mas mais tarde. Quando conseguisse olhar para ti sem desejar matar-te!
- Por ficares grávida?! Não queres o bebé?!
- Claro que quero! Não imagino a minha vida sem ele, assim que o vi, tão pequenino amei-o tanto, de uma forma tão sublime, tão intensa...
- Então porque não me disseste?!
- Porque no dia que soube que estava grávida, descobri que supostamente tinhas uma amante.
- Tanta confusão que podíamos evitar se falássemos. - Alec beijou-lhe a testa - E para evitar mais confusões, tenho uma questão!
- Sim?!
- A gravidez impede que... - Alec beijou-lhe os lábios.
- Não...
- E está tudo bem entre nós?!
Alec estendeu os beijos ao pescoço e para o peito, sorrindo ao ver que ela estremecia.
- Sim...
- E Pedro não quererá defender a tua honra?
- Calaste e levas-me para a cama?!
- Com todo o prazer do mundo.
Quando o galo cantou já Alexandra olhava o rosto de Alec, que dormia tranquilamente. Saiu da cama sem fazer barulho e foi procurar Faty, devia-lhe uma explicação. Black levantou a cabeça quando ela abriu a porta e ficou sentado ao lado dela, enquanto ela apreciava o sol que brilhava por entre algumas nuvens cinzentas. Nunca o nascer do dia lhe pareceu tão bonito, acariciou a cabeça de Black e dirigiu-se à casa principal.
- Isso que dizer que vais para Sintra? - Pedro não parecia muito feliz.
- Tenho de falar com Alec...
- Não! Tens de ir com Alec, não falar! - Faty interrompeu-a - Não se encontra um homem assim todos os dias!
- Mas e os projectos...
- Os projectos?! Ora Pedro... Não se perde nada. Afinal não fizemos nada mais que mudar algumas coisas para o anexo!
- Eu estava a pensar que, se aceitarem, podiam ficar vocês a cuidar da pousada.
- Nós?! Mas isso... - Pedro saltou da cadeira. - Sim, suponho que sim.
- Óptimo! - Alexandra levantou-se - Vou ter com Alec e já voltamos.
- Isso... esperamos por vocês para o pequeno almoço.
Quando terminaram o pequeno almoço o projecto tinha tomado outro rumo. Tendo em conta a extensão do terreno, Alec tinha proposto que em vez de fazerem a pousada na casa principal, esta seria a base com o escritório, onde eles viveriam e onde receberiam os hóspedes. Construiriam vários anexos no terreno, num total de dez, para não sobrecarregar o espaço e esses é que seriam alugados. Alexandra achou a ideia magnífica, pois assim os hóspedes teriam mais privacidade.
- Virão visitar-nos?
- Claro. - Alexandra abraçou Faty.
- Ainda antes do bebé nascer?!
- Prometo.
- Afinal temos de vir entregar os convites. - Alec apertou a mão a Pedro - Foi um prazer conhecê-los.
Durante a viagem de regresso Alexandra passou boa parte da mesma a falar ao telemóvel, Marisa queria saber como estava e Clara, se ela estava ofendida por ter dado a morada a Alec.
Quando Alec parou o carro na entrada no hotel Marisa correu ao encontro deles, Clara juntou-se a eles pouco depois, embora um pouco mais comedida que Marisa.
Dois meses depois Alexandra olhava para Alec que falava com Marisa, enquanto ela acariciava a sua enorme barriga e recordava as últimas semanas.
Um mês depois de terem regressado, casaram pelo civil no jardim do hotel, pois ele não queria que o seu filho nascesse fora do sagrado matrimónio. Alec mostrava-se um marido atencioso e incansável. Levando-lhe o pequeno almoço à cama todos os dias. Durante as consultas de obstetrícia fazia mais perguntas que ela, o que divertia a médica. Após uma ligeira discussão, pois ela achava que não havia necessidade de casar novamente pelo religioso, chegaram a um consenso. Iriam casar e baptizar o filho no mesmo dia. Sorriu ao recordar os votos dele...
- ... Prometo amar-te e amparar-te todos os dias da minha vida, principalmente quando caíres nos meus braços.
Todos sorriram, enquanto eles se beijavam. Mas eles sabiam que aqueles simples votos eram muito mais abrangentes, que incluíam muito mais do que os demais pensavam. E ela pensou que aquilo era o que mais queria, cair e ficar nos braços dele.
FIM
Adorei. Ficou muito bonito, cada vez escreves com mais alma e coração. Muitos parabéns.
ResponderEliminarObrigada :)
ResponderEliminarMais uma belíssima história que prendeu do principio ao fim. Parabéns
ResponderEliminarObrigada :)
EliminarLindo <3
ResponderEliminarObrigada Ana Maria :) <3
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