quinta-feira, 18 de maio de 2017

NOS TEUS BRAÇOS 6ª PARTE





A manhã estava a chegar ao fim quando Alexandra e Clara entraram no Convento de Mafra.

Apesar da beleza das salas o que mais lhe despertou a atenção foi a biblioteca, com chão revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira em estilo rococó, situadas em duas filas laterais e separadas por um varandim, contêm milhares de volumes encadernados em couro. Segundo apuraram,  tinha uma colecção de mais de 36 000 livros com encadernações em couro gravadas a ouro, incluindo uma segunda edição de Os Lusíadas de Luís de Camões. Ali podem encontrar-se vários temas, medicina, farmácia, história, geografia e viagens. Passando pela filosofia e teologia, direito canónico e direito civil, matemática, história natural, sermonária e literatura.
Olhavam os livros quando um jovem aproximou-se delas e sussurrou que na biblioteca costumam habitar morcegos, segundo os mais velhos, ajudam a preservar os livros. Aquela curiosidade levou-a a pensar em Alec e no que estaria a fazer.

- Estou faminta. - Clara tapou os olhos com a mão ao chegarem à rua.
- Eu também, acho que passámos por uma pastelaria à pouco.
- É melhor irmos para a estação. - Clara fez sinal a um táxi que passava - Não podemos perder o comboio, ou não estarei a horas no hotel.
- Era uma boa desculpa para ficar mais um dia.
- Pois era... - Clara disse ao taxista para as levar à estação e voltou-se para ela  - Por acaso percebeste o que se passou no hotel ontem?!
- Ontem?!
- Que cabeça a minha! Como podias ter percebido?! - Clara chegou mais perto dela - Parece que Fábio, o relações publicas, foi despedido. Suspeitam de roubo! Estão a tentar abafar a situação! Sabes, isto é mau para a imagem do hotel. Muito mau mesmo! Marisa, a gerente comentou ao recepcionista, que por sinal é seu namorado. Eu bem achei muito estranho ele ter um trato tão familiar com ela... Mas avante, ele comentou com o cozinheiro, que comentou com a mulher da limpeza, que me contou a mim.
- Sério?! - Alexandra fez um esforço para controlar o riso. - Para quem quer abafar a noticia, esta espalhou-se bem depressa.
- Só te estou a contar a ti. - Clara revirou a vista em sinal de impaciência - Não percebes?! Aqui está uma boa oportunidade. Podias candidatar-te ao lugar.
- Eu?! - Alexandra olhou-a admirada - Eu não percebo nada de hotéis.
- Ora! Tudo se aprende! E não és parva, aprendes num instante. Uma secretária não tem de perceber de relações publicas?!
- Sim é verdade, convém saber! - Alexandra sorriu para ela - Mas temos coisas mais interessantes para falar que isso.

Mas, apesar de não falarem nisso, ela não deixou de pensar no assunto, Clara tinha razão! Era uma boa oportunidade, estava sem emprego e não podia regressar a casa. Precisava de um meio de subsistência e, por questão de orgulho, não queria recorrer à madrinha.

Depois de se despedir de Clara, subiu para o quarto e sentou-se a olhar o quadro de Monet... gostava daquela pintura...  Lembrava-lhe a visita ao palácio, Alec e o primeiro beijo...
Respirou fundo, pensar nele não lhe resolvia a vida. Tinha de fazer algo produtivo... Como falar com alguém que a pudesse elucidar sobre a vaga de emprego. E não podia esperar muito, sabia que assim que se soubesse da vaga, esta depressa seria preenchida.
Desceu e falou com o recepcionista, que se mostrou admirado por ela saber da vaga, visto esta ainda não existir oficialmente! Alexandra comentou vagamente a situação, sem nomear os envolvidos  e ele, depois de pedir a maior descrição sobre o assunto, acabou por falar lhe sobre os requisitos necessários. Comentou que o patrão só regressaria no final da semana e até lá, possivelmente, não iam contratar ninguém. Agradeceu e regressou ao quarto pensando nos requisitos necessários... Era licenciada em relações publicas,  tinha boa postura, falava fluentemente várias línguas e dominava um computador com grande facilidade. Não custava nada tentar. Procurou na sua conta de email o currículo e enviou-o para os recursos humanos do hotel.

Quando desceu para jantar sentia-se sozinha, pois não tinha Clara para conversar. Como não viu Alec desde que regressaram de Cascais, pensou que ele tinha retomado a sua vida...Se não fosse aceite para o lugar, não ficaria mais tempo no hotel. Aqueles dias, até que o dono do hotel regressasse, iriam parecer-lhe meses!
O casal Reis convidou-a para ir à vila com eles, mas preferiu ficar no hotel a ler. Estava cansada, o dia tinha sido muito cansativo, por isso deitou-se cedo. Adormeceu imediatamente e dormiu toda a noite.
Acordou com o sol a brilhar em toda a sua plenitude, enchendo o quarto de luz. Depois do duche desceu e foi tomar o pequeno almoço na vila, comprou um livro e fruta num comércio. O dia estava tão agradável, que acabou por ficar no jardim por algumas horas a observar as pessoas que passeavam por ali, regressando ao hotel apenas depois do almoço.

O recepcionista saiu do seu posto e dirigiu-se a ela sorrindo.

- Pode dispensar-me uns minutos? - Ele olhou para os lados e depois segredou-lhe. - Marisa, a gerente do hotel, pretende falar consigo.
- Comigo?!
- Peço desculpa, mas comentei com Marisa o seu interesse na vaga e ela achou melhor avisar o chefe. Ao inicio acho que não gostou muito que se soubesse sobre a situação, mas depois deu carta branca a Marisa.
- Ele não quer falar comigo primeiro?!
- Marisa é quem trata disso. Se ainda está interessada ela está à sua espera.
- Claro que estou!

Simpatizou com Marisa, era uma mulher bonita e muito profissional. Que sem grandes rodeios lhe descreveu o que esperavam dela e qual a remuneração que iria auferir. Ficaria um mês à experiência, experiência que começaria no inicio do mês, se ambas as partes ficassem satisfeitas, o contrato seria renovado anualmente. Quando saiu do escritório, levava na mão a cópia do contrato.

Alexandra contava os dias que faltavam para o fim de semana.
Tinham passado dois dias desde que falara com Marisa, e faltava apenas um dia para a chegada do dono do hotel e isso deixava-a apreensiva. Tinha um certo receio de que ele não simpatiza-se com ela, ou pior que, como dizia a madrinha, lhe mete-se "mão"! Ela não trabalharia para um homem assim! Lembrou-se de António, nunca teve esse tipo de problemas com ele. Tratou-a sempre como uma filha, recordou o dia que a mandou chamar para substituir a sua secretária. Sentiu-se orgulhosa por a ter escolhido a ela, uma jovem recém formada. Inicialmente seria temporário, apenas até que chegasse alguém mais qualificado. Mas a sua facilidade em falar várias línguas, aliado ao facto de ser bastante organizada agradou a António e acabou por ficar. Sentia falta dele e de Maria, eles eram como família para ela. Abanou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e foi observar a vila. As luzes já brilhavam por toda a vila e deixou-se ficar a observar o vai vem dos carros e os barulhos nocturnos. Perdeu a noção do tempo, até que uma brisa suave a obrigou a tomar consciência que ainda estava com os calções e o top dessa manhã. Esfregando os braços regressou ao quarto e retomou a leitura do Exorcista, estava tão absorta na leitura que se sobressaltou ao ouvir uma breve pancada na porta do quarto. Amaldiçoando o seu gosto literário foi abrir a porta, mas assim que a abriu viu-se arrebatada nos braços de Alec, que a beijou demoradamente.

- Sentiste a minha falta? - Alec falava contra a sua boca ao mesmo tempo que fechava a porta do quarto com o pé.
- Um pouco... - Alexandra tentava raciocinar.
- Um pouco?! - Alec parou de a beijar e olhou-a nos olhos. - Pois eu senti imenso a tua falta!
- Sentiste?! - Alexandra cruzou os braços no pescoço dele.
- Não imaginas como foram estes dias em Londres sem ti.
- Foste a Londres?!
- Sim. - Alec recomeçou a beijá-la - Mas falamos depois.
- Concordo...

Quando acordou, Alec olhava para ela fixamente, algo no seu olhar fez o seu coração encolher-se e mexeu-se na cama sentindo-se desconfortável.

- Nem penses! - Alec puxou-a para junto dele.
- Agora não me posso mexer?!
- Não se isso implicar saíres da cama.
- Tenho de o fazer.
- Porquê?!
- Tenho de fazer umas pesquisas, refrescar os meus conhecimentos. - Alexandra sentou-se na cama tapando os seios com o lençol - Se tudo correr bem, vou trabalhar aqui no hotel como relações públicas. Sabes que trabalhei como relações públicas para António?!
- Não.
- Trabalhei pouco tempo, depois fui para sua secretária. Mas isso não interessa,  abriu uma vaga aqui e...
- Abriu?!
- Sim... - Alexandra olhou para ele irritada por a interromper - Como decidi não regressar a Lisboa pensei que seria uma boa forma de reiniciar a minha vida. Mas quero estar preparada para quando conhecer o dono do hotel. Não gosto de trabalhar para uma pessoa que não conheço.
- Como assim?!
- Gosto de saber para quem trabalho! Imagina que é daqueles velhos que...

Alec começou a rir e ela olhou-o com ar reprovador.

- Se me disseres o motivo da risota posso juntar-me a ti.
- Onde foste buscar a ideia que o dono é velho?!
- Seguramente não será muito jovem. Mas eu disse imagina! Gosto de pensar em tudo. O que me leva a ti.
- A mim?!
- Claro! Depois de trabalhar no hotel não podemos... bem, não podemos ver-nos mais.
- Isso quer dizer que se nos encontrarmos tenho de tapar os olhos?!
- Podes parar de brincar?! Isto é muito importante para mim!
- Desculpa.
- Acho que se ele souber que fui...fomos... que nós...
- Que fizemos amor?! E que repetimos?!
- Pois... Isso! - Alexandra ficou vermelha. - Ele não gostaria de saber que contratou uma leviana.

Alec soltou uma gargalhada e ela atirou-lhe uma almofada antes de sair da cama levando consigo o lençol.

- Se vais rir de tudo o que digo podes ir embora! - Alexandra olhou-o com fúria - E fecha a porta ao sair!

Deixou cair o lençol e o espelho reflectiu o seu corpo nu, envergonhou-se ao lembrar-se a noite de sexo! Meteu-se no duche sentindo as faces arderem de vergonha. A educação dela não lhe permitia ter encontros fortuitos, não sem se sentir culpada! Não estava preparada para a vida despreocupada que as jovens levam. A maioria delas, na idade dela, já tinham mais namorados que ela teve cães! E teve uns quantos! Mas ela tinha regras! E se as tivesse respeitado, como devia, não tinha cometido o erro de dormir com Miguel! E Alec, por muito mulher que ele a fizesse sentir, tinha sido outro erro! Se soubessem que tinha deixado o namorado, bem, ele a tinha deixado, depressa começavam a dizer o que Alec tinha pensado, que fora para a cama dele por despeito! E ela não podia permitir isso.
Ainda pensava nas divagações da sua reputação quando se enrolou na toalha.

- Alexandra! - Alec batia na porta do quarto de banho - Posso entrar?
- Não!
- Então sai. Temos de falar.
- Não quero falar contigo! Podes ir embora!
- Não vou sem falarmos. - Alec calou-se por instantes - Não sais?!

Alexandra olhou-se no espelho, ainda sentia as faces arderem, Alec despertava nela desejos que pensava estarem destinados aos casais, não a serem partilhados com um desconhecido!

- Muito bem. - Alec voltou a falar -  Vou entrar!

E entrou, Alexandra estava de costas para a porta. Olhava o seu reflexo no espelho ao qual se juntou o de Alec deixando-a ainda mais envergonhada.

- Peço desculpa. - Alec encostou-se ao lavatório junto a ela - Fui insensível, mas tu foste dramática.
- Dramática?! - Alexandra colocou as mãos nas ancas - Não, fui realista.
- Realista?! Tens noção que o facto de termos dormido na mesma cama, não faz de ti leviana!?
- Claro que faz! Uma mulher que se respeite não anda saltando de cama em cama!
- Não se a cama for partilhada com o mesmo homem.
- Eu... - Alexandra fechou os olhos  - Tu não entendes.
- Então podes explicar-me durante o pequeno almoço.
- Não! Já te disse que vou começar a trabalhar no hotel, não quero que os meus colegas andem a comentar a minha vida nos corredores do hotel!
- Achas que comentavam?!
- Tenho a certeza! Como achas que fiquei a saber desta vaga?
- Não sei, mas gostaria muito de saber. Como soubeste?
- Como se sabem estas coisas, uma pessoa comentou a um amigo, que comentou a outro e a outro até que chegou a mim através de uma amiga.
- Clara! - Alec sorriu e cruzou os braços sobre o peito - Não te vou fazer mudar de ideias?
- Não. Adoro estar contigo, não o vou negar, mas tenho de pensar em mim e na imagem que transmito às pessoas com quem trabalho.
- Principalmente ao dono do hotel.
- Sim.
- Bem, se não te vou demover... Até logo.
- Alec, não posso estar contigo novamente.
- Até logo.

Alexandra sentia-se desolada por ter decidido nunca mais estar com Alec, mas era o mais correto a fazer.  Não queria ser alvo de comentários. Até àquele dia não tinham o que comentar... Lembrou-se do beijo que deu a Alec quando regressaram ao hotel! Alguém teria visto?! Fez um esforço para se recordar... Não tinha a certeza, mas esperava que não. Não queria ser conhecida por dormir com os hóspedes! Ela sabia que aquele era o tipo de conversa que se gosta de comentar durante as pausas para o café. Seria motivo de especulações por muito tempo, assim como tinha sido na cafetaria da empresa!
Saiu para tentar esquecer Alec, por alguma razão não conseguia deixar de pensar nele e nas saudades que teria dele.

Estava sentada no jardim, quando o telemóvel tocou. Era um número privado, atendeu apreensiva.

- Sim?
- Alexandra Melo?!
- Sim.
- Fala Marisa, como está?!
- Bem obrigada.
- Óptimo. Quando chegar ao hotel pode vir falar comigo?
- Eu estou no hotel.
- Fantástico. Nesse caso podemos falar agora?
- Claro, vou imediatamente. Está no seu gabinete?
- Não. Estou no gabinete da direcção. Tem uma placa a indicar.
- Eu vou...

Mas Marisa já tinha desligado, Alexandra caminhou o mais rápido que o seu vestido justo lhe permitia. Naquele instante achou que aquele vestido não era a roupa adequada para uma entrevista mas quando decidiu vesti-lo não esperava ter aquela reunião.

Alisou o vestido quando avistou a porta da direcção ao fundo do corredor, nesse instante viu Marisa, que se aproximava com umas pastas na mão.

- Já chegou?! - Marisa olhou para ela e sorriu - Tenho de tratar de uns assuntos urgentes, mas vou apresentar-lhe o dono do hotel e enquanto se apresenta a ele, eu trato disto e já me junto a vocês.
- O dono?!
- Sim, chegou antes do previsto. - Marisa segurou-lhe o braço - Ele é assim, aparece quando menos esperamos. Parece uma águia, sempre vigilante.
- Parece assustador!
- Parece, mas não é. - Marisa colocou a mão na maçaneta da porta - Nervosa?!
- Um pouco. - Alexandra respirou fundo quando Marisa abriu a porta.
- Alexandra, apresento-lhe o dono do hotel, Alec Gordon. Alec, esta é Alexandra, a pessoa de quem te falei. Se me dás licença...

Alexandra ficou a olhá-lo sem se mexer do lugar, ele devolveu-lhe o olhar ao mesmo tempo que a porta se fechava atrás de Marisa. Por uns instantes sentiu um calor imenso, seguido de um frio que a fez esfregar os braços. Queria andar, mas as pernas pareciam não obedecer.

- Acho melhor sentares-te uns instantes. - Alec levou-a até uma cadeira.
- Não me quero sentar!
- Acho melhor que o faças, parece que vais desmaiar a qualquer momento .
- Normal! Não esperava isto!
- O quê?! Que fosse o dono do hotel?!
- Sim, deixaste-me acreditar que... podias ter... Por isso te riste quando disse que...
- Costumas falar assim?!
- Como?!
- Com meias frases. - Alec agarrou outra cadeira e sentou-se frente a ela - Como se não soubesses que dizer.
- E não sei! Pensava que eras um hóspede do hotel. Que dono fica no seu hotel e se mistura com os seus hóspedes?!
- Eu. - Alec segurou-lhe a mão - Peço desculpa mas não foi intencional. Bem, esta manhã foi. Achei refrescante a tua inocência.
- Refrescante?! Não, pela tua reacção achaste cómico. - Alexandra retirou a mão e levantou-se encarando-o furiosa - Mas compreendo que aches muita piada ao facto de não ser muito experiente nestas coisas, principalmente no que diz respeito aos homens! Que por sinal, insistem em usar-me como se eu não ...

Alec agarrou a mão dela e puxou-a para si para a beijar. Alexandra apoiou as mãos no peito dele tentando afastá-lo mas ao sentir a língua dele, carinhosa sobre os seus lábios, forçando-os a uma resposta, rendeu-se.
Ao sentir os braços dela no seu pescoço, Alec apertou-a mais e ela gemeu quando sentiu o calor das mão dele na sua pele através do vestido. Afastou-a pouco depois, estendeu a mão para o telefone e ouviu-o dizer a Marisa que precisava de uma determinada pasta. Desligou enquanto lhe sorria.

- Assim temos mais tempo.
- Para quê?
- Para que te recomponhas. E para falarmos.
- Não vou trabalhar para ti.
- Porque não?!
- Preciso explicar?!
- Agradecia. - Alec sentou-se - Se me deres um motivo válido aceito que te vás embora.
- No hotel sabem que saímos juntos, vão começar a falar.
- Isso não é motivo! Não és a primeira hóspede que levo até à vila...
- Acredito que não. - Alexandra interrompeu-o sentindo uma dor no coração ao imaginá-lo com outras mulheres, a fazer as mesmas coisas que tinha feito com ela.
- Levei Clara uma vez e o casal Reis também.
- Clara?!
- Sim. - Alec olhou-a muito sério - Não faz parte dos serviços do hotel "entreter" as hóspedes. E não vejo qualquer problema se souberem! A minha vida pessoal só a mim diz respeito, tu também devias de pensar menos no que os demais comentam a teu respeito!
- Talvez. Mas o facto é que me incomoda.
- Muito bem. Se não queres não te posso forçar, mas acho que cometes um erro ao renunciares ao lugar. Precisas do emprego, eu de uma funcionária de confiança. Sei que não vais "aliviar" os hóspedes dos seus pertences! Trabalharás muito é verdade, mas serás recompensada. Não vejo desvantagens no facto de aceitares, apenas benefícios para ambas as partes.
- Não entendes?! Quando se souber vão dizer que só me deste trabalho porque dormimos juntos.
- Finalmente chegámos à cerne da questão! Isso incomoda-te?
- Não quero ser conhecida como a amante do patrão!
- Nunca te vi como amante.

O olhar de Alec perdeu o brilho e levantou-se dirigindo-se à janela no mais profundo silêncio ficando de costas para ela. Momentos depois Alexandra mexeu-se na cadeira incomodada com aquela situação. Desde que o conheceu que a sua vida tinha mudado, e imenso! Quando estava com ele esquecia todos os valores que a sua mãe lhe incutira, bastava ele beijá-la que ela esquecia até quem era! Com ele parecia outra pessoa!

- Alec! - Alexandra sussurrou - Tens de entender, eu não...
- Se te convencer que não fui eu que te contratei, ficas?!

Alec permanecia de costas para ela, olhando o jardim mas a sua voz parecia cansada. Alexandra sabia que ele não ia entender as razões dela, assim como sabia precisar do emprego. Precisava pensar no que fazer, mas longe dele, onde não a pudesse influenciar. Levantou-se disposta a pedir-lhe tempo para pensar mas ele voltou-se, por uns momentos olharam-se em silêncio, o coração dela parecia querer saltar do peito perante o olhar dele. Sentiu os olhos ficarem húmidos, abriu a boca para dizer algo mas ele falou primeiro.

- Ficas?! - Alec caminhou para ela e segurou-lhe o braço - Alexandra?! Ficas?!

Nesse instantes Marisa entrou no escritório e ficou a olhá-los brevemente.

- Peço desculpa. Pensei... Com licença.
- Marisa! - Alec falou sem desviar o olhar do dela - Preciso de um favor.
- Sim! Com certeza!
- Importa-se de dizer a Alexandra o que me disse no dia que telefonou para Londres?!
- Sim, claro...

Alexandra observou como Marisa rodeava a secretária, fingindo não ver que ele ainda tinha a mão no braço dela, mantendo-a ali, quando ela desejava fugir o mais depressa possível.

- Bem. - Marisa olhou para eles - Quando recebi o currículo da Alexandra percebi que era a resposta ao nosso problema. Não podemos estar sem um relações públicas muito tempo. O hotel é enorme e muito bem frequentado, ter ou não um relações públicas faz imensa diferença. Como lhe disse ao telefone nesse dia, a notícia tinha chegado aos hóspedes, era urgente contratar alguém! Meter um anúncio no jornal, fazer entrevistas... bem, tudo isso levantava perguntas... as especulações seriam imensas e perderíamos credibilidade junto dos hóspedes. Mas como tinha mencionado que preferia ser você a escolher o próximo funcionário, não o queria fazer sem a sua autorização! Alexandra cumpria os requisitos necessário para o lugar e, segundo me informaram, estava disposta a começar a trabalhar. Contratá-la antes que a noticia se espalha-se evitava muitos problemas. Felizmente os hóspedes, parecem desconhecer a situação, e é preferível que assim permaneça. - Marisa mexeu nuns papéis - Quando me disse que fizesse o que achava melhor apressei-me a contactar Alexandra e felizmente ela concordou com os termos.
- Quando falámos nesse dia... - Alec permanecia a olhá-la. - ...disse-me como se chamava a pessoa em questão ou que estava hospedada aqui no hotel?! -
- Não. Só lho comuniquei quando chegou ao hotel, quando lhe pedi para assinar uns documentos.
- Obrigada Marisa. Pode deixar-nos a sós uns minutos?!

Marisa saiu em silêncio. Alec esperou uns instantes para lhe soltar o braço.

- Como podes ver não tive nada que ver com o facto de trabalhares aqui.
- Isso não invalida o facto que quando chegaste... quando foste ter comigo... quando estiveste no meu quarto...
- Quando fizemos amor?!
- Pois!
- Porque é tão complicado dizeres que fizemos amor?!
- Não desvies a conversa! - As faces de Alexandra estavam vermelhas - Não estávamos a falar disso!
- Peço desculpa! Podes continuar.
- Nessa altura já sabias que pensava trabalhar para ti e não disseste nada.
- No inicio pensei que soubesses e estivesses a brincar com a situação.
- Nunca brinco com coisas sérias!
- Mas pedi-te desculpa por isso! Recordaste?! Eu recordo-me, estavas enrolada numa toalha, demasiado grande e recordo que me apeteceu tirar-ta. - Alec sorriu - Estás a ficar corada!
- Normal! Tens conversas impróprias em sítios impróprios!
- Estou no meu escritório, com a mulher que me deixa louco de desejo... Não vejo o que seja impróprio.
- Tudo isso, essas coisas são feitas na privacidade do quarto...
- Ou da sala... na sala também é bom! Ou não?!
- Sim é... - Alexandra tentava evitar as carícias dele - Podes parar?! Marisa pode entrar.
- Marisa não entra sem que lho peça.
- Se ficar, digo SE, ficar a trabalhar para ti vais insistir em que nos encontremos?!
- De que forma a minha resposta vai influenciar a tua decisão?!

Alexandra afastou-se dele um pouco e sentou-se na cadeira mais afastada o que provocou um sorriso em Alec.

- Tens razão, preciso de trabalhar. Não quero viver ás custas da minha madrinha enquanto desocupam a minha quinta. Mas não quero ser motivo de conversas no hotel, sei por experiência própria que não lido bem com isso...
- Quer dizer que ficas? - Alec aproximou-se dela.
- Desde que mantenhas as mãos afastadas de mim!
- Porquê?! Eu gosto... Tu gostas...
- Alec...

Alexandra não terminou, Alec beijou-a provando o muito que a desejava e ela correspondeu. Alec soltou-a quando ela gemeu de prazer.

- Acho que temos de combinar um almoço de negócios, num sítio privado, precisamos definir até onde podemos ir.
- Definir?!
- Claro. Gosto que os meus funcionários se sintam confortáveis no local de trabalho, por isso temos de deixar claro o que é permitido. Podes fazer uma lista das coisas que serão permitidas.
- Apenas te peço que te mantenhas afastado.
- Isso não posso prometer. Mas prometo comportar-me quando nos encontrarmos.
- Sim! Assim como agora, quando Marisa entrou!
- O que tem Marisa?!
- Achas que ela não percebeu?! Não me parece idiota!
- Não é, mas também sabe guardar segredo. Afinal namora com Rafael e poucas pessoas sabem.
- Isso não te incomoda?! Quero dizer, que namorem no local de trabalho.
- Desde que o façam nas horas de descanso e cumpram com o seu trabalho, não vejo qualquer problema nisso. - Alec abriu a porta - Marisa será discreta a respeito. Mas vê o lado positivo, assim terás alguém com quem falar de mim nas minhas costas. Não é isso que as mulheres fazem?! Falar mal dos homens?!
- Acho que não me sentiria confortável a fazê-lo!
- Ainda bem. Prefiro que as nossas noites sejam apenas nossas.

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