Alexandra escolhia um vestido, enquanto Alec marcava um número no telemóvel.
- Marisa! - Alec calou-se por instantes - Que faria sem ti?! Talvez meia hora. - Alec desligou e olhou para ela - Tenho de ir, importas-te de ir com Mateus?!
- Sim, não tem problema.
- Vou dizer-lhe quando descer!
- Não é preciso, eu falo com ele.
- Então até já.
Alec deu-lhe um beijo rápido antes de sair. Alexandra acabou de se vestir e entrou na casa de banho para apanhar as roupas que tinham deixado no chão. Alec tinha-lhe dito para não se preocupar com isso, pois Mónica, a esposa de Mateus, limparia tudo mais tarde. Mas ela não queria deixar as roupas ali espalhadas, não era apenas por não estar acostumada a que lhe fizessem as coisas, era principalmente porque achava que deixar a casa de banho naquele estado, rondava a falta de respeito.
Depois de se certificar que tinha a roupa toda no cesto maquilhou-se, apanhou a sua mala e saiu do quarto. Quando estava a fechar a porta uma senhora de meia idade acabava de subir as escadas com um cesto vazio.
- Bom dia menina.
- Bom dia. Suponho que seja a dona Mónica. - Alexandra sorriu tentando parecer à vontade - Alec falou-me de si. Prazer em conhecê-la.
- Obrigada menina. O gosto é todo meu, mas retire o dona, apenas Mónica. - Mónica olhou para ela e depois sorriu - Desculpe. O menino não me disse que trabalhava. Quer que lhe prepare algo para o pequeno almoço?
- Não é preciso. Obrigada.
- Desejo-lhe um bom dia menina.
- Igualmente Mónica.
Alexandra começou a descer as escadas, entrou na cozinha para pedir a Mateus que a levasse mas, pela janela viu que ele estava no jardim a tratar das flores. Sentiu-se mal por interromper o trabalho dele, não havia necessidade. Chamaria um táxi. Telefonou para a central e preparou café enquanto esperava, nesse instante Mónica entrou na cozinha apressada.
- Desculpe menina. - Mónica esfregou as mãos no enorme avental - É preciso preparar o quarto de hóspedes?!
O quarto de hóspedes?! Não havia mais ninguém em casa além dela e de Alec!
-Notei que a cama estava desfeita quando fui abrir as janelas. - Mónica continuou perante o silêncio dela. - Se tem visitas...
Alexandra ainda pensava se teria ele dormido lá e não fora de casa como ela supunha! A julgar pela conversa de Mónica assim parecia. O coração dela parecia querer saltar do peito com a notícia. Olhou para Mónica, que olhava para ela esperando uma resposta.
- Obrigada, mas não vai ser preciso. - Apressou-se a dizer.
- Com certeza menina.
A caminho do hotel, ela tentava perceber em que momento Alec tinha regressado a casa sem que ela notasse. Devia de estar realmente magoado com ela, para dormir noutro quarto que não o dele. Felizmente já tinham resolvido tudo. E da melhor maneira. Sorriu ao recordar como Alec a levou ao colo até ao duche e depois fez amor com ela debaixo do chuveiro. Tentou pensar noutra coisa quando reparou que o motorista olhava para ela através do espelho retrovisor.
Quando chegou ao hotel Alec estava numa reunião com Marisa. Comeu algo no bar e começou a organização da festa de beneficência que teriam esse fim de semana. Restavam-lhe apenas dois dias e faltava tratar de tanta coisa.
Desde que se tornou as relações públicas do hotel que aquele tipo de eventos eram recorrentes. Apesar da relutância inicial de Marisa em usar o salão, os eventos depressa se tornaram motivo de conversa na vila e acabaram por ser uma boa publicidade para o hotel, chegando a serem notícia numa revista onde Marisa deu uma entrevista. Dias depois Marisa acabou por concordar que era uma pena não aproveitar o enorme salão que permanecia fechado a maior parte do tempo.
- Preciso delas para este fim de semana. - Alexandra calou-se ao ver Marisa na porta e fez-lhe sinal para que entrasse - Sim, rosas vermelhas e brancas. Têm de estar aqui ás nove em ponto.
- Acabei de anotar. Não se preocupe senhora, a carrinha estará aí no sábado às nove sem falta.
- Obrigada.
Alexandra desligou o telefone e tomou nota dos valores a pagar enquanto Marisa olhava o esboço que ela tinha feito para a festa.
- Nunca imaginei que este tipo de evento pudesse ter tanto sucesso.
- Geralmente tem, se bem que nem sempre. Ao inicio pensei que seria complicado, o salão faz parte do hotel e pensei que era usado pelos hóspedes, quando percebi que apenas era usado em datas festivas lembrei-me da dificuldade que tive em encontrar um espaço para a festa de aniversário de António, então tive a ideia.
- E muito boa mesmo. Olha, tens tempo para um café?
- Claro. Algum problema?
- Não. Mas preciso de um café e quero falar contigo.
Marisa pediu os cafés e bebeu o dela rapidamente, ficando a olhar para ela.
- Rafael pediu-me em casamento.
- Parabéns! Mas isso é fantástico. - Alexandra olhou para ela, não parecia muito animada - Não?!
- Sim... Esperei este momento tanto tempo que ainda não acredito! - Marisa sorriu - Queria pedir-te duas coisas.
- Sim diz.
- A primeira é que... bem, pode não parecer, mas o trabalho absorve-me imenso e bem, acho que és a única pessoa, sem contar Alec, a quem poderia chamar de amiga. E gosto bastante de ti.
- Oh...também gosto imenso de ti.
- Por isso queria convidar-te para minha madrinha.
- Tua madrinha?! Será uma honra.
- Sério?! Aceitas?
- Claro. Nada me impede.
- Fantástico. Temos de combinar para escolher os vestidos.
- Isso é a segunda coisa que me queres pedir?
- Não. E confesso que fico meio sem jeito, tens imenso trabalho e compreendo se não aceitares mas se aceitares...
- Diz de uma vez, estás a deixar-me nervosa.
- Podes organizar a festa?
- Não estás a confiar demais em mim?
- Claro que não! - Marisa olhou espantada para ela - És uma boa profissional, eu sei disso e os nosso clientes também. Todos eles dizem que és fantástica, com ideias criativas. Não sei porque és tão insegura!
- Talvez porque nunca elogiaram o meu trabalho.
- Não elogiavam! Agora não falam de outra coisa. E se não falarem, não importa. Sabes que és boa no teu trabalho, não deves deixar ninguém dizer-te o contrário.
- Obrigada. Então diz-me, quando será o enlace?
- O mais breve possível. Assim que souber a data serás a primeira a saber. Mas podemos começar a escolher o local.
- Pensas convidar muita gente?
- Não. Apenas a família e alguns amigos chegados.
- Podíamos fazer aqui no salão. Se estiver disponível nessa data.
- Essa era uma óptima ideia. Vou falar com Alec...
- Eu falo com ele. Certamente terás mais coisa em que pensar, deixa a festa comigo.
Nessa noite, quando falou a Alec sobre o convite de Marisa e sobre a festa no salão, ele achou uma excelente ideia e sugeriu que fizessem a cerimónia civil no jardim do hotel.
- A sério que não te importas?!
- É o mínimo que posso fazer por ela. E tens usado o salão para imensas festas, é apenas uma festa diferente. Pode ser que os hóspedes gostem e comecem a querer casar ali.
- O que não me surpreendia. A vista é fabulosa e o jardim é enorme.
- Temos de planear as coisas de forma a não incomodar os restantes hóspedes.
- Já pensei nisso. - Alexandra saiu do sofá, onde estava aninhada nos braços dele, e foi apanhar a sua pasta que era cada vez maior - Estive a fazer este esboço - Alexandra deu-lhe um bloco - Podemos fechar a porta da entrada com uma fita de seda, a entrada dos convidados do casamento será através das janelas que, se concordares, mandamos retirar. Tenho de discutir com Marisa os detalhes da decoração, como que cor quer, que flores prefere... esse tipo de coisas.
- Vejo que não se escapou nenhum detalhe!
- Espero que não. Mas com o avançar dos dias outras coisas irão surgir.
- Por falar em coisas que vão surgir. - Alec apanhou a carteira e deu-lhe um cartão - Para pagares as despesas da festa.
- Falaste com Marisa a respeito?! Não me parece que ela...
- Ela é como tu... teimosa. - Alec beijou-lhe a face - Eu depois falo com ela, é a minha prenda de casamento.
- Nesse caso vou guardar o cartão. Qual o limite?
- Não tem, usa para o que for preciso. O teu vestido incluído, assim como o dela.
- Claro que não! Os vestidos são oferta minha.
- O teu trabalho para a festa é mais que suficiente, eu insisto em pagar todas as despesas.
- Se não te importas eu prefiro...
Alec beijou-a intensamente, impedindo-a de continuar. Quando se afastou dela, Alexandra respirava com alguma dificuldade. O seu coração batia descontrolado e os seus olhos brilhavam de desejo.
- Não vou permitir que inicies outra discussão por causa do dinheiro.
- Não gosto que gastes o teu dinheiro comi...
Alec voltou a beijá-la
- És complicada demais. - Alec falou mas sem a soltar - Mas já percebi como dissuadir-te das tuas intenções.
Alec beijou-a novamente e segundos depois Alexandra entregou-se a ele, deixando que beija-se o seu corpo enquanto lhe retirava a roupa. Mas quando tentou fazer o mesmo com ele, ele levantou-se e despiu-se rapidamente sem deixar de a olhar.
- Outro dia... prometo...
Pouco depois ela esquecia que queria desfrutar do corpo dele, como ele desfrutara do dela e que estavam na sala... Nada mais importava, só eles.
Alexandra acordou sentindo a respiração suave dele no seu cabelo. Recordou como ele a carregou nos braços e a levou para o quarto, como durante a noite permaneceu com um braço sobre as ancas dela ou a puxava para dormir no seu peito, onde ainda estava. Nunca imaginou que pudesse sentir felicidade no simples facto de dormir aninhada nos braços dele. Olhando o sol, que aparecia por cima das árvores, lembrou-se que um dia deixaria de acordar assim... Formou-se um nó na sua garganta ao pensar nisso, apoiou a mão no colchão para se levantar mas Alec puxou-a de volta.
- Enquanto eu permanecer na cama tu também ficas.
- Mas eu tenho...
Alexandra tentou novamente sair mas ele agarrou-a e deitou-a sobre o corpo dele olhando-a nos olhos. Uma lágrima formou-se neles deslizando pelo rosto dela e Alec acompanhou-a até ela cair na almofada.
- Que aconteceu?
- Nada. A sério.
- Sei que as mulheres são mais ou menos bipolares, mas as lágrimas têm sempre um motivo. E não te vou deixar sem que me digas o que te incomoda.
- Ao ver o nascer do sol lembrei-me da minha mãe. - Alexandra desviou o olhar, com medo que ele notasse que estava a mentir.
- Sinto muito. -Alec beijou-lhe a testa e depois foi descendo até à boca.- Se pudesse eliminar essa saudade, acredita, não hesitaria.
- Obrigada. - Alexandra engoliu em seco - Acho melhor sairmos da cama, temos de trabalhar.
- Com a condição de almoçares comigo.
- Combinei com Marisa irmos ver alguns vestidos. - Alexandra viu que ele ficou decepcionado - Mas podemos almoçar contigo, se não te importares que ela vá.
- Almoçar com duas mulheres bonitas... Parece-me lindamente.
Marisa esperava por ela, tinham marcado o casamento para o mês seguinte. Alexandra achou muito rápido mas se era isso que a amiga queria assim seria. Falou-lhe da sugestão de Alec, em realizarem o casamento no jardim e Marisa concordou. Seria bem mais prático realizar tudo ali, bastava falar com o juiz.
Almoçaram com Alec e ele deixo-as no centro comercial. Muitos vestidos de noiva depois, Marisa acabou por se decidir por um vestido curto com a saia aos folhos, corpete bordado e sem ombros. Uma grinalda simples e umas sandálias brancas completavam o vestido. Alexandra achou um pouco estranho aquela escolha, para ela os vestidos de noiva deviam de ser compridos, mas teve de concordar que Marisa ficava linda. Para ela escolheram um vestido, também curto, em rosa velho com pequenas mangas, se ela pudesse chamar mangas à pequena tira de tecido que apenas tapava três dedos de ombro! Marcaram com o cabeleireiro e regressaram ao hotel.
Alexandra contava apenas com um mês para prepara tudo, com a festa de beneficência em mãos não tinha muito tempo. Falou com o cozinheiro do hotel por causa da ementa e decidiram mandar fazer numa pastelaria o bolo de noiva.
Fez uma lista das coisas que precisava e à medida que os dias iam passando, era um alivio riscar cada um desses itens. Apenas restava confirmar a entrega do tecido branco para decorar o salão.
- A senhora comprometeu-se...
- Eu sei menina, mas tente compreender. O fornecedor disse que não compensa vir fazer apenas essa entrega.
- Pago o que for preciso. Preciso desse tecido sem falta e Lisboa não fica assim tão longe!
- Peço-lhe desculpa mais uma vez.
Alexandra ficou a olhar o telefone quando a dona da loja de retalhos desligou. Por momentos ficou ali a olhar o telefone, tentando, mentalmente, encontrar solução.
- Não pensas ir para casa hoje? - Alec entrou no escritório
- Vou mais tarde, tenho de fazer alguns telefonemas primeiro. - Alexandra apanhou a sua agenda e começou a folheá-la - Eu depois apanho um táxi.
- Em casa temos telefones. - Alec fechou-lhe a agenda - Não te pago para trabalhares até à exaustão.
- Mas faltam menos de duas semanas para o casamento e acabaram-me de me dizer que não vão entregar o tecido que pedi.
- Porque não contratas-te uma empresa de decoração?! É trabalho demais para ti, mal te vejo nestes dias.
- Não sejas exagerado! Vou para casa contigo todas as noites!
- Sim e carregada de folhas e papéis para a festa.
- Não quero falhar a Marisa, prometi-lhe que organizava a festa e vou fazê-lo.
- Nem que isso te deixe de rastos. Porque não pediste ajuda?
- Tenho duas pessoas a ajudarem-me. Acho que chega perfeitamente!
- Muito bem, aprendi que não vale a pena discutir contigo, posso ajudar em algo?!
- Se souberes de alguém que forneça uma quantidade enorme de tecido...
- A quem fizeste a encomenda?
A caminho de casa Alec ofereceu-se para ir com ela a Lisboa comprar o tecido na manhã seguinte. Embora relutante, por não ir trabalhar no dia seguinte, acabou por concordar que era a única solução. Nessa noite Alec deixou-a a sós com os seus esboços e chamadas telefónicas. Quando se foi deitar Alec dormia, deitou-se e manteve-se o mais afastada possível para não o acordar mas assim que deitou a cabeça na almofada ele colocou o braço em cima da sua cintura, puxando-a para junto dele e ela adormeceu a ouvir a respiração dele.
- Alexandra?! Vamos, eu avisei-te que andas a trabalhar demais.
Alexandra abriu os olhos e viu que Alec estava pronto para sair. Sentou-se rapidamente na cama mas ele sossegou-a.
- Respira fundo e relaxa. Mónica está a terminar o pequeno almoço. Vais tomar um bom duche, eu vou avisar Marisa que hoje não iremos ao hotel e depois do pequeno almoço vamos a Lisboa. E não quero discussões.
- Sim senhor! - Alexandra respondeu prontamente endireitando-se como se estivesse no exército.
- Acho que vou começar a dar-te ordens mais vezes.
Ele beijou-lhe os lábios e ela rodeou-lhe o pescoço com os braços puxando-o para a cama. A respiração deles depressa se agitou e os corações batiam como se fossem um só, Alexandra afastou-o a sorrir e saiu da cama.
- Vou aguardar por elas. - Alexandra picou-lhe um olho e entrou na casa de banho.
Por alguns minutos pensou que ele ia entrar, mas pouco depois começou a ouvir a voz dele ao telemóvel. Sentindo uma ligeira desilusão entrou no duche, fazer amor com ele era como uma droga, precisava sempre de mais. Saiu do duche e enrolou-se na toalha, vestiu umas calças pretas com uma camisa branca. Maquilhou-se ligeiramente e olhou o resultado no enorme espelho. Apanhou um elástico e colocou-o na mala, se em Lisboa estivesse o calor que ela recordava, iria precisar dele.
Naquele instante viu que Alec estava encostado na porta a olhá-la.
- Sei que estamos atrasados. - Alexandra escovou o cabelo mais uma vez.
- Não estou a dizer nada. - Alec caminhou até ela e beijou-lhe o pescoço - Atrasados?! Quando voltares a provocar-me vou ensinar-te o significado de atraso.
- A provocar-te?!
- Se não tivéssemos de ir a Lisboa não sairias da cama com aquela facilidade
- Prometes?!
- Não me provoque menina Melo! - Alec apertou-a entre o seu corpo e o móvel da casa de banho - Ou não respondo pelos meus actos.
- Nesse caso proponho irmos comer.
Lisboa estava cada vez mais perto, podia sentir o cheiro no ar. Pensou na madrinha que não via à imenso tempo e sentiu um desejo enorme de a ver. Depois de pedir a Alec para a levar lá ligou à madrinha a dizer que iria passar a visitá-la. Ao fim da manhã saiam do armazém com a quantidade de tecido necessária para a decoração, o que deixou Alexandra mais tranquila.
Alec conduzia entre o transito rumo à costa, ela fechou os olhos e absorveu aquele aroma.
- Sentes saudades disto?
- Em parte. - Admitiu - Acho que se pudesse empacotava um pouco do mar.
- É só disso que tens saudades?
- Sim. De que outra coisa poderia ter saudades?
- De algum admirador.
- Não tive admiradores.
- Apenas Miguel.
- Se assim lhe quiseres chamar. - Alexandra olhou para os prédios. - Podemos mudar de assunto?
- Como queiras.
Alexandra notou que ele queria continuar a falar de Miguel, mas ela preferia esquecer que ele existia e que o tinha conhecido! Alec parou o carro junto à vivenda para que ela saísse enquanto ele ia estacionar. Alexandra bateu à porta e colocou um sorriso no rosto, esperando ver a velha empregada da madrinha. Mas quem abriu a porta foi Miguel e ela ficou parada nas escadas a olhar para ele. Que estava ele a fazer ali, na casa da sua madrinha?! Depois recordou que a madrinha sempre gostou dele. Tentou mostrar-se menos surpreendida.
- Não vais dizer nada?! - Miguel olhava para ela mas não saía da entrada.
- Não tenho nada para te dizer. - Alexandra encarou-o - Desculpa, não é verdade.
- Eu sei o que é, não precisas de dizer. Eu aceito-te de volta.
- Acho que estás a perceber mal. A única coisa que tenho a dizer-te é bom dia. Afinal fui bem educada e convém não esquecer a boa educação, ainda que as pessoas não a mereçam.
- Estou a ver que Sintra soltou-te a língua!
- Está tudo bem?! - Alec apareceu atrás dela.
- Sim, Miguel estava de saída.
- A tua madrinha...
- Não te preocupes. - Alexandra interrompeu Miguel - Eu aviso-a que tiveste de sair.
Alexandra estendeu a mão a Alec e entrou deixando Miguel na entrada. Esperava que ele fosse embora e não teimasse em ficar. Felizmente saiu, e ela pode respirar de alivio. A madrinha estava e ler junto à janela. Quando a viu sorriu e abraço-a por algum tempo. Notava-se que sentira a falta dela e que estava felicíssima por a ver. Alexandra apresentou Alec como um amigo mas a madrinha deitou-lhe um olhar que dizia que não acreditava, mas por alguma razão não ficou vermelha como era habitual nem se envergonhou. Com cerimónia encenada, a madrinha enfiou o braço no braço de Alec e encaminharam-se para a sala de estar, onde quis saber tudo da vida dela. Alexandra contou-lhe sobre a sua vida em Sintra e do feliz que estava. A madrinha sorriu e admitiu que ultimamente, além de se sentir cansada, andava muito preocupada com ela. Mas felizmente era preocupação infundada e agora podia ir para o lar. Não que se sentisse velha, apenas sentia-se sozinha, principalmente depois da velha senhora, que trabalhava para ela se reformar. Falou no assunto ao médico dela e ele tinha-lhe falado muito bem de um determinado espaço onde tinham tudo o necessário para terem uma vida confortável e activa, com médicos e enfermeiros à disposição. Alexandra observou as brochuras, que a madrinha de deu e acabou por concordar, era um lugar esplêndido.
A madrinha insistiu em que ficassem para almoçar e concentrou a sua atenção em Alec que parecia não se importar com isso.
Quando, a meio da tarde, Alec disse que tinham de regressar, acompanhou-os à porta onde abraçou Alexandra com lágrimas nos olhos enquanto Alec foi buscar o carro.
- Vejo que Miguel é assunto arrumado!
- Sim, felizmente. - Alexandra segurou a mão que a madrinha lhe estendia.
- Fico feliz por ti. À algum tempo que ando para te dizer, mas por algum motivo vou sempre adiando.
- Que se passa?! Está doente?!
- Estou bem, sossega, apenas quero dizer-te que não precisas de te preocupar quanto ao teu futuro. Sabes que não tenho mais ninguém e quando eu...
- Não quero falar disso, a madrinha...
- Deixa-me terminar. Quando esse dia chegar, esta casa será tua. Assim como as restantes e as herdades. As casas estão todas arrendadas e rendem bom dinheiro. Dinheiro que está no banco. Mas o meu advogado depois falará contigo.
- Tudo isso lhe vai fazer falta.
- Minha querida, na minha idade?! Tive uma boa vida e sabes que sempre fiz.
- Eu sei, apenas não sei que dizer quanto a isto.
- Apenas que me vão visitar na residência. Agora vai, Alec está à espera, e um homem como ele não merece que o façam esperar.
Entrou no carro em silêncio, ainda assimilava a conversa da madrinha. Não sabia que tinha mais casas, além da vivenda onde vivia, nem herdades! De repente lembrou-se da conversa de Clara sobre as heranças e o motivo do renascer da paixão de Miguel por ela!
- Que canalha! - Alexandra exclamou.
- Desculpa?! - Alec olhou para ela. - Canalha?! Se à alguém que...
- Desculpa. Oh Deus! Desculpa! - Alexandra colocou uma mão no braço dele e notou que estava tenso - Não estava a falar de ti. Desculpa.
- Posso saber de quem falavas?
- De Miguel.
- Estou a ver.
Alexandra estava plenamente consciente que teria de falar de Miguel, agora não tinha como evitá-lo.
Sem comentários:
Enviar um comentário