Alexandra sentou-se no sofá e esperou que Alec se junta-se a ela. Sentia-se nervosa, poucas pessoas sabiam o que tinha acontecido e ela preferia que assim fosse, mas aquele era um assunto que não podia evitar para sempre. Principalmente com Alec.
- Queres café?! - Alec estendeu-lhe uma chávena que ela não aceitou.
- Obrigada. Estou nervosa que chegue.
- Se não queres falar no assunto...
- Não é um tema sobre o qual goste de falar, mas algum dia terei de o fazer. - Alexandra esfregou as mãos nas pernas - A minha educação não foi como a da maioria das jovens da minha idade. Em resultado disso cresci com uma ideia muito concreta do namoro e do casamento em si. Como se o facto de casar fosse uma obrigação. Era essa a função da mulher, casar e ter filhos! Quando conheci Miguel pensava ter encontrado o homem da minha vida. Mas com quinze anos qual é o homem que não é especial?! Oferecia-me flores e levava-me a passear, nunca namorei com outro homem! Estava encantada com o namoro mas durante esse tempo nunca fui para a cama com ele. Mas um dia ele bebeu demais e acabou por dormir lá em casa no sofá, quando o senti na minha cama tentei...
- Ele obrigou-te?! - Alec estava furioso.
- Não, claro que não! Deixei-me convencer, faltavam apenas uns meses para o casamento. Porque não?! - Alexandra baixou a cabeça - A minha madrinha sempre me disse que se negamos algo a um homem ele acaba por procurar noutro lugar. Não queria que fosse procurar outra! Por isso... - Ela encolheu os ombros - Arrependi-me logo a seguir, senti-me mal, aquela noite ia contra os valores que me foram incutidos! Devia de casar virgem! Sei que é uma idiotice, mas foi assim que me educaram e quando ele regressou a casa a meio da noite...
- Deixou-te sozinha?!
- Porque haveria de ficar?! Já tinha o que queria! Depois disso fiquei com a sensação que tinha desiludido a minha mãe. Por muito arrependida que estivesse não havia modo de apagar o que tinha feito, e como íamos casar tentei esquecer. Dias depois ele disse que queria desmarcar o casamento. Que tinha percebido que não me amava, que seria um erro enorme casarmos... - Ela limpou uma lágrima - Um dia quando cheguei ao trabalho os meus colegas discutiam o meu desempenho sexual.
- Não lhe partis-te a cara?!
- Quando o confrontei, nem se alterou! - Ela manteve o olhar fixo no chão - Com a maior calma do mundo disse que nem o facto de ser virgem, tinha compensado os anos de espera. E esse foi o único motivo pelo qual me tinha pedido em casamento. Afinal não era todos os dias que se está com uma virgem! Como se não basta-se ainda disse que eu não era a mulher que ele tinha idealizado para ele, se soubesse que era tão "sonsa" na cama nem tinha tentado. Quando percebi, tinha a cafetaria cheia de colegas, que assistiam à cena como se fosse uma peça de teatro. Senti-me humilhada e a única coisa que queria era fugir dali. Falei com António sobre a minha saída da empresa, mas ele não aceitou o motivo. Disse que eu estava de cabeça quente, e naquele estado não se tomam decisões. Que era estimada na empresa, sei que sim, mas para mim era demasiado esgotante trabalhar ali, precisava de me afastar um tempo. António disse que era melhor tirar uns dias para pensar, se depois desses dias, ainda pensasse assim ele aceitava a minha demissão.
Alexandra olhou para Alec, continuava olhando para ela. Os olhos que sempre foram brilhantes perderam o brilho, como se ele compreendesse a sua dor.
- Quando esteve no hotel foi apenas uma infeliz coincidência?
- Não foi, não. Veio dizer que estava arrependido, que tinha cometido um erro e que queria remarcar o casamento.
- Posso deduzir que não aceitaste!
- Depois de tudo o que me disse?! Nunca! - Alexandra levantou-se - Clara tinha razão. Ela esteve com ele, na noite que fomos a Cascais, e como tinha bebido demais acabou por falar no que eu iria herdar e que ele tinha de pensar no seu futuro... Bem, Clara deduziu que ele queria dar o golpe do baú! Não sei como ele descobriu que a minha madrinha tinha bens quando eu só soube hoje! Sempre imaginei que ela fosse apenas proprietária da vivenda onde vive. Mas tem casas e quintas alugadas, sem esquecer o dinheiro no banco. Por isso o canalha, pois não tem outro nome, apareceu aqui!
- Só nesse momento percebeste as intenções dele.
Naquele momento o telemóvel tocou, Alec olhou o ecrã e desligou-o, mas voltou a tocar logo de seguida.
- Desculpa. - Alec atendeu e ela entregou-se aos seus pensamentos. Sentia-se melhor depois de contar a Alec, como se tivesse tirado um peso de cima. Tivera aquilo guardado dentro de si como se, ao não falar no assunto, este desaparecesse. Desde que vivia com Alec, negava-se a pensar em Miguel e no que lhe dissera. Quando estava com Alec não pensava em nada mais, apenas nele e em desfrutar de cada segundo. A sua cabeça, não pensava na noite que dormiu com Miguel, nem nas coisas que não sentiu, estava concentrada em Alec, naquilo que a fazia sentir e no dia em que ele não a deseja-se mais. Olhou para ele, só de imaginar um dia longe dele sentia um nó na garganta e o estômago ficava embrulhado.
Ao notar a importância que Alec tinha para ela percebeu que um dos seus maiores temores tinha acontecido. Desde que ele lhe pediu para morar com ele, ela sabia que se aceitasse iria procurar nele o amparo masculino que nunca teve, iria ficar dependente dele e imaginar uma relação que não exista. E isso apenas lhe traria dor quando Alec não a quisesse a seu lado. Sentindo as lágrimas nos olhos subiu para o quarto. Alec, tornara-se o seu porto de abrigo e isso podia ser muito perigoso.
Quando Alec se deitou ela fingiu dormir. Sentiu o braço dele sobre o seu corpo aconchegando-a, beijou-lhe o cabelo e encostou a cabeça ao pescoço dela. Minutos depois sentia que ele adormecera, ela ainda ficou algum tempo acordada pensando no que sentia por ele. Desejava-o e gostava de estar com ele. Com ele tinha descoberto que fazer amor é a troca de caricias e prazer entre duas pessoas e não a satisfação de apenas uma. Podia dizer que Alec tinha-a ajudado a descobrir-se, e, para sua surpresa, gostava da pessoa que era nesse momento! Porque não aproveitar como tinha feito até ali?! Pensando nisso adormeceu com um sorriso nos lábios.
Apesar de ter decidido aproveitar a vida ao lado dele, o ritmo alucinante do trabalho deixava-lhe pouco tempo disponível para estarem juntos durante o dia. Muitas vezes cruzavam-se no hotel, mas apenas sorriam ou trocavam um breve beijo. Ela deixara de se importar com quem a visse e isso contribuía para que andasse mais animada. Isso e o casamento de Marisa. Enquanto tratava dos últimos detalhes percebeu que gostava de organizar aqueles eventos. Um dia poderia abrir um negócio.
- Sobe um pouco mais. - Alexandra dava orientações a uma das suas ajudantes - Fantástico, segura com a fita e faz um laço.
- Muito trabalho?! - Alec abraçou-a pela cintura.
- Os últimos retoques. Nada demais, amanhã é o grande dia.
- Não vejo a hora de terminar. Marisa não se consegue aguentar!
- Então?!
- Está nervosíssima. Optei por a mandar para casa.
- Fizeste bem.
- Tudo o que faço é na perfeição!
- Logo quero confirmar isso! - Alexandra beijou-o levemente e afastou-se a sorrir - Maria... - Mostrou um esboço a Maria - isto é o que pretendo. Achas que consegues?!
- Não vejo porque não. O problema é fazer um laço tão grande ali em cima.
- Vamos fazer isso aqui, depois é só colocar. Esperemos que fiquem no tamanho certo!
- O mais que pode acontecer é ter de descer e fazer de novo.
- Tens razão. - Alexandra voltou-se - Alec desculpa... - Mas ele já tinha saído. - Homens!
Na manhã do casamento Alec e Alexandra chegaram cedo ao hotel para confirmar se estava tudo como tinham planeado, Alec tinha reservado dois quartos para que se pudessem vestir ali, o que lhe facilitava o trabalho visto ela querer colocar os arranjos nas mesas e colocar as flores frescas ao correr do altar, o que levou toda a manhã. Mas ao início da tarde estava tudo pronto para receber os primeiros convidados.
Marisa entrou apressada no elevador com o vestido na mão, estava tão nervosa que não olhou para eles.
Alexandra olhou para Alec, tinha apenas a toalha enrolada à cintura. Desejou abraçá-lo e meter-se no duche como tinham feito uma vez. Afastou a vista dele e concentrou-se em terminar de se vestir, Aquele não era o momento para divagações, precisava ajudar Marisa a vestir o vestido de noiva.
Ao ver Alec levar Marisa para o altar, sentiu um murro no estômago. A luz do sol transformava Alec num deus grego, nunca lhe parecera tão lindo e tão sensual. A camisa branca em contraste com o fato preto dava-lhe um ar viril. Afastou o olhar, se continuasse a olhar para ele, iria chorar.
A cerimónia foi linda, emocionou-se ao ouvir os votos deles. Disfarçadamente limpou uma lágrima e começou a brincar com a menina das alianças, para não pensar no que o seu coração sentia perante o toque da mão de Alec. O som da orquestra começou a ouvir-se depois da cerimonia e continuou durante a festa. Ela sentia-se feliz por Marisa ter gostado de como preparara o salão. Se bem que a festa não correu exactamente como tinham planeado. Ao início da noite resolveram abrir as portas que davam para o hall do hotel, pois alguns hóspedes sentiam curiosidade e apareciam no jardim onde iam ficando para dançar.
- Parabéns! - Alec sussurrou-lhe ao ouvido enquanto dançavam.
- Parabéns?!
- Está tudo fantástico, a festa é um sucesso.
- A julgar pelos hóspedes que se juntaram, assim parece.
- Sinal que têm bom gosto. - Alec beijou-a brevemente - Diz-me, os padrinhos podem abandonar a festa?!
- Essa parte pertence aos noivos.
- Mas eles não se vão aborrecer se usurparmos essa parte. Quero levar-te para casa, passei o dia todo a imaginar-me a tirar esse vestido e fazer amor contigo até te deixar louca.
- Mais ainda?!
Alexandra arrepiou-se ao sentir a respiração dele no seu pescoço e um calor familiar percorreu o seu interior. Alec começou a dar pequenos beijos no seu pescoço o que a deixou a gemer. Olhou para as pessoas que se divertiam e pouco depois dirigiu-se à saída guiada pela mão de Alec.
Alexandra olhava a chuva que caía lá fora, o verão tinha chegado ao fim. Com a chegada do Outono os clientes diminuíram um pouco. Os eventos esses ainda eram regulares e tinha festas de Natal agendadas. Mas por agora, não passavam de esboços num pedaço de papel ou no computador.
- Queres um café? - Marisa entrou no escritório tirando-a dos seus pensamentos.
- Claro. Nem que seja para matar o tempo!
- Alec regressa hoje?
- Sim. Ao fim da noite.
- Estão juntos à quanto tempo?! Três meses?
- Quatro.
- Quando entrei lembrei-me da menina mulher que apareceu aqui no verão, cheia de indecisões. Agora vejo no lugar dela uma mulher diferente, decidida. - Marisa sorriu-lhe - Planos?!
- Laborais ou pessoais?!
- Os laborais também me interessam, mas confesso que estou mais interessada nos pessoais.
- Um dia de cada vez. Nada mais que isso.
- Pareces triste ao dizê-lo.
- Cada dia que passa espero que me diga que acabou, que posso arrumar as minhas coisas.
- Não me parece que Alec vá dizer-te algo parecido.
- As aparências iludem.
- E se isso acontecer que pensas fazer?
- Regressar à minha quinta. Por isso quero que me prometas que quando isso acontecer não vais colocar-me prazos de despedimento nem outras burocracias.
- Sabes que isso não depende só de mim!
- Eu sei, mas se tal acontecer eu seria a última pessoa que ele vai querer ver.
- Ai que conversa mais triste! Ainda está pior que o dia! Vamos mas é tomar café.
Pouco depois entravam no bar do hotel onde pediram para levar o café a uma das mesas.
- Mas prometes que não me vais dificultar a vida?
- Se é isso que queres.
- Não conseguiria trabalhar aqui e ver Alec com outra mulher.
- Compreendo... Ai rapariga! - Marisa saltou ao sentir o café quente nas pernas. - Estás a dormir?!
- Desculpe, não sei o que aconteceu. Vou buscar...
- Deixa, trás outro café se faz favor. E toma cuidado deste vez.
- Sim senhora.
- Espero que esta rapariga melhore com o tempo! - Marisa acabou de limpar a saia - Mas Alec disse algo a respeito?
- Não.
- Então não sei porque pensas que vai acabar.
- Olha para mim. Alec tem mulheres mais bonitas e sofisticadas que...
- Nem quero acabar de ouvir esse disparate. E pensar que ainda à pouco estava a dizer que estás diferente!
- No que diz respeito a Alec nada mudou!
- Pois devia! - Marisa bebeu o café - Olha, que tal jantarmos juntas?
- Onde?
- No centro comercial, abriu um espaço novo com saladas.
A meio da conversa o telemóvel de Marisa tocou e regressaram ai trabalho. Ela reviu todos os projectos que tinha e resolveu começar a contactar algumas floristas para saber que tipo de flores poderiam contar nesta época. Ainda estava ao telefone quando Marisa voltou a entrar no escritório.
- Alec teve um acidente. Ligaram do hospital!
- Alec?!
Naquele momento ela sentiu como se o chão se abrisse a seus pés. Não podia perder Alec, não assim...
- Alexandra, vamos?!
- Sim...
O caminho até ao hospital nunca lhe pareceu tão demorado. Até o trânsito parecia mais lento, como se tentasse que ela não chegasse a tempo.
- Sabes que aconteceu?
- Apenas disseram que ele teve um acidente. Reconheceram o nome e avisaram o hotel.
- Espero que não seja grave.
- Felizmente tenho uma amiga aqui. Podemos saber como ele está por ela.
Estacionaram o carro e entraram no hospital a correr. Marisa deixou-a na sala de espera e foi falar com a sua amiga, talvez assim conseguissem ir vê-lo. Alexandra sentou-se sentindo as pernas a tremer. Dirigiu-se à janela, abriu-a ligeiramente. Precisava de sentir o ar fresco.
- Tens noção que isso é proibido?
Alexandra voltou-se com o coração aos pulos, Alec olhava para ela sorrindo. Aparentemente estava bem, um pouco pálido mas bem. Sem pensar correu para ele e abraçou-o, afastando-se ao ouvir um gemido de dor quando se encostou a ele.
- Estás bem?! Que pergunta idiota, sofreste um acidente e eu a magoar-te!
- Apesar da dor gosto de ter-te aqui.
- Estás muito ferido?- Olhou para a camisa dele - Tens sangue!!!
- É uma ferida superficial.
- Quero ver!
- Por muito que me agrade que me tires a roupa, prefiro que não o faças.
- Alexandra... Alec! - Marisa olhou para eles - Graças a Deus! Como estás?!
- Bem. Podemos sair daqui e ir para casa?
- Eu levo-os.
Durante o percurso Alec contou que despistou-se quando o carro que ia à sua frente travou bruscamente. Travou tentando evitar a colisão, que conseguiu evitar, mas como o piso estava molhado perdeu o controle do carro e acabou por embater num muro. Recordava-se do som da pancada no muro e de vozes difusas e distantes. Não se recordava de muito mais depois disso. Quando recuperou os sentidos estava deitado na ambulância. Os médicos tinham feito vários exames para despistar qualquer derrame interno e chegaram à conclusão que, além do corte no ombro, estava apenas magoado.
- Não se fala mais nisso. - Marisa estava exasperada - Segundo o meu contrato, na tua ausência sou que dirijo o hotel, e é isso que penso fazer. Por isso não penses aparecer por lá assim. E tu, como estamos em época baixa vais ficar em casa para te certificares que cumpre o repouso recomendado.
- Eu avisei que era teimosa. - Alec olhou para Alexandra.
- Estou apenas preocupada com a tua recuperação.
- Tensa razão, ele precisa de descansar. - Alexandra segurou a mão de Alec. - Mas promete que se precisares de algo telefonas.
- Ao mínimo sinal de problemas.
Alexandra olhava para Alec, que depois de ter tomado a medicação com uma taça de chá, adormecera no sofá. O seu coração encolheu-se ao ver o enorme penso que apanhava o ombro e um pouco das costas. Se algo acontecesse a Alec ela não iria aguentar. Uma enorme dor dilacerava o seu peito ao pensar que ele podia não ter sobrevivido ao acidente. Grossas lágrimas caíam pelo seu rosto ao perceber o que realmente sentia por ele. Amava-o, agora sabia. Foi preciso aquele acidente para ela ver isso!
O telefone tocou e ela apressou-se a atender para não o acordar.
- Sim?!
- Menina!
- Diga Mónica.
- É verdade?! O menino teve um acidente?!
- É sim. - Ela calou-se ao ouvir o choro do outro lado.
- Desculpe menina... Conheço o menino à tanto tempo...
- Não tem de pedir desculpas.
- Quer que vá para aí?
- Agradeço imenso mas não é preciso, ele adormeceu e penso que vai dormir toda a noite.
- Se precisar de alguma coisa é só telefonar.
- Obrigada Mónica.
- Menina?!
- Sim?!
- Vai cuidar dele não vai?
- Vou sim, não se preocupe.
- Obrigada menina.
Adormeceu consistente do amor que sentia por ele. E que enquanto ele a quisesse a seu lado, ela estaria ali. Acordou sobressaltada, olhou o sofá vazio. Um barulho ouviu-se no andar de cima. Correu até lá, Alec tentava vestir uma camisa.
- Porque não me chamas-te? - Ela ajudou-o a vestir-se.
- Estavas a dormir. E eu é que tenho de fazer o penso, não tu.
- E pensavas ir sem dizer nada?!
- Não há motivos para que me acompanhes - Alec agarrou na carteira - Já chamei um táxi...
- Era só o que faltava! - Ela tirou-lhe a carteira da mão. - Podes não acreditar, mas existem pessoas preocupadas contigo! Eu incluída! Por isso, quer gostes quer não vais ter de suportar a minha presença e a minha ajuda! Se não me queres aqui basta dizeres, depressa vou embora!
Alec olhou-a por uns segundos e com o outro braço puxou-a para si, ficando a olhá-la nos olhos.
- Vais teimar em acompanhar-me?
- A única forma de tal não acontecer é mandares-me embora.
Alec beijou-a até que ela se agarrou a ele e o fez gemer de dor.
- Não sei se será boa ideia ficar por perto. - Alexandra afastou-se um pouco.
- É sempre boa ideia ter-te por perto.
No hospital ela voltou a sentir aquela dor no seu coração ao ver a ferida no ombro dele, desviou a vista, mas acabou por fixar o olhar na cicatriz que ele tinha nas costas. Sentiu as lágrimas nos olhos ao imaginar a dor que ele teria.
- Vou imobilizar-lhe o braço.
- Porquê?! - Alexandra sobressaltou-se ao ouvir o médico.
- O sangue que estava no penso deve-se aos movimentos, vamos tentar evitar isso.
- É apenas isso?! Não é nada mais grave?
- Não. Felizmente não há sinais de infecção devido ao ferro.
Alexandra tentou controlar a dor que aumentava ao imaginar um pedaço de ferro espetado nele. Negou-se a pensar na forma como lho retiraram e nas dores que teria na altura.
Com o braço imobilizado Alec ficou mais dependente dela, quando o ajudou a despir a camisa para se deitarem acariciou a cicatriz dele.
- Essa ganhei-a à alguns anos.
- Muitos? - Alexandra olhou para ele, a forma como ele disse "ganhei-a", parecia que considerava a cicatriz um troféu.
- Foi na época que pensava ser invencível. - Alec deitou-se - Estava com uns amigos, nesse dia decidimos ir beber cerveja para umas rochas que havia junto à praia. A meio da tarde, um pouco à nossa frente, um miúdo escorrega e caí ao mar. Lembro-me que não pensei duas vezes, atirei-me sem pensar.
- Meu Deus! Conseguiste...
- Sim, quando saí da água ele estava desmaiado, mas o socorrista chegou e pouco depois ele recuperava os sentidos. Sentei-me na areia, estava exausto, pouco depois as pessoas começaram a comentar o sangue que tinha na t-shirt. Disse que não era nada importante que não me doía nada mas o enfermeiro que chegou na ambulância não o permitiu. Levei vinte pontos, tinha feito um corte nas rochas.
- Como não te doía?!
- O médico disse que foi da adrenalina juntamente com o álcool.
- Imagino que foste o herói para os teus amigos.
- Possivelmente. Não sei. Não os vi nesse dia e depois deixei de me encontrar com eles. Acho que o facto de tentar salvar aquela criança me despertou para a vida! Os pais do rapaz não paravam de chorar, a mãe dele abraçou-se a mim enquanto agradecia vezes em fim. Nunca tinha visto uma pessoa com tanta dor no olhar. Pensei na minha mãe. - Alec forçou um sorriso - Pensei se aquele seria o olhar dela cada vez que não sabia de mim. Naquele instante percebi que arriscava a minha vida de forma estúpida todos os dias, como se ela não tivesse o mínimo valor, imune à dor que causava ás pessoas que me amavam.
- Que disse a tua mãe quando viu que estavas mudado?
- Que lá no fundo sabia que um dia eu iria tomar consciência.
- E tinha razão.
Alexandra deixou-o a descansar enquanto foi telefonar a Marisa. Precisava de umas coisas mas não queria deixar Alec sozinho.
Duas semanas depois Alec já mexia o braço sem qualquer dificuldade e regressaram ao trabalho. Ela sentia-se esgotada e pensou que era devido ás preocupações dos últimos dias. Foi ao bar beber um café e viu a rapariga nova pendurada do braço de Alec sorrindo para ele com os olhos muito brilhantes. Ela estava a atirar-se a ele?! E parecia que ele não se importava com isso! Ao ver que ela estava ali a rapariga baixou a vista e voltou para o bar. Alec, que não tinha notado a sua presença, sorriu ao vê-la. Por uns segundos sentiu-se insegura mas depois, quando falou com Alec, decidiu esquecer aquilo. Se ele tivesse uma amante não seria ali no hotel, onde ela trabalhava, estava a imaginar coisas onde não as havia.
Sem comentários:
Enviar um comentário