segunda-feira, 19 de junho de 2017

ESPERANDO UM SINAL 12ª PARTE




Alisia olhava para Priscilla enquanto corria na praia com Less. Seguiu-a com o olhar até que ela entrou dentro de água e depois afastou-se de Nicholas que olhava para ela sem entender a súbita mudança de humor.

- Estás assim porque falei em casamento?
- A verdade é que não pensei em casar outra vez.
- Isso quer dizer que não aceitas?
- Toda esta situação prova que não nos conhecemos bem. Os sentimentos podem mudar e podemos...
- Os meus não vão mudar! - Nicholas voltou a segurar-lhe o rosto para olhar bem nos olhos dela - Sei o que sinto! Amo-te! Dizes que já te conquistei... Não tenho tanta certeza!

Alisia sentiu um aperto quando ele se afastou dela e ficou pensativo a olhar a praia.

- Amo-te, mas tenho medo.
- Tens medo?! - Nicholas olhou para ela - Medo devias sentir quando ajudas uma pessoa que nunca viste! Não quando digo que te amo e quero acordar a teu lado o resto da minha vida! - Ele respirou fundo - Quando me chamaste naquela manhã fiquei intrigado. Quem nos dias de hoje, se oferece para ajudar uma pessoa que nunca viu?! E que nem estava a pedir ajuda?! Não queria acreditar nessa altura, e muito menos quando me ofereceste a roupa do teu marido e um café! Estavas realmente preocupada com o meu bem estar!
- Faria o mesmo por outro qualquer!
- Acredito que sim. - Nicholas sorriu - Naquele momento pensei que talvez fosses o tipo de pessoa que me podia ajudar na associação! Se quando te conheci suspeitava disso, depois de falar com Pete e Rafael fiquei com a certeza. Eras um eu melhorado, com um coração em maior escala.
- Precisas de ajuda na associação?!
- Sim. - Nicholas encolheu os ombros dando a entender que naquele momento isso não era o mais urgente - No dia seguinte, quando fui entregar-te a camisa, já tinha feito algumas perguntas sobre ti. Estavas desempregada e segundo Rafael, à procura de emprego. Apenas se esqueceu de me dizer que eras viúva!
- Ele não gosta de falar de assuntos pessoais dos demais.
- E eu fiquei com a ideia que ele tinha algum tipo de interesse em ti!
- Rafael?!
- Foi evasivo em algumas respostas... Por isso quando fui a tua casa, pensava que eras casada. Fui para te convidar a trabalhar comigo na associação. Terias direito a uma casa na ilha e emprego para o teu marido se ele assim quisesse. Mas depois apareceu Priscilla...
- Se pensavas convidar-me, porque não me falaste na associação?!

As dúvidas voltaram ao coração dela.  Não fazia sentido querer convidá-la a trabalhar com ele e depois esconder a associação!

- Porque pouco depois de sair da tua casa, Joe ligou-me a pedir para levar Sarah para a ilha. E ninguém podia saber onde ela estava. - Nicholas sentou-se  em frente a ela - Eu tinha quase a certeza que podia confiar em ti, mas Joe não concordou! Se bem que agora confia cegamente em ti.
- Confia ?!
- Sim, disse algo sobre seres muito mais que uma cara bonita.
- Oh... - Alisia ficou envergonhada ao recordar a conversa.
- Queres explicar-me?!
- Tivemos uma pequena conversa, mas embora falássemos sobre a mesma coisa, não falávamos sobre o mesmo.
- Como ?!

Alisia explicou-lhe que na altura suspeitava que ele tinha subornado Joe para sair ileso do julgamento e Joe percebera que ela sabia da importância que o depoimento dele tinha para Sarah.

- Tu pensaste que tinha...- Nicholas passou a mão pelo cabelo - Agora percebo porque não queres casar! E pensaste algo mais, além de tráfico e suborno?! - Ele olhou-a e pelo olhar dela percebeu que havia algo mais - Não acredito! Que mais?!
- Não é bem o que penso de ti. É mais o tipo de pessoas que te rodeiam.
- Zoe e as outras não...
- Não me refiro a elas, mas ás outras pessoas. Aquelas ás quais tiveste de telefonar por causa de Priscilla.
- Não percebo.
- Ouvi quando disseste que não te importava quem tinham de acordar, nem o que tinhas de pagar.
- Isso!? Infelizmente conheço muita gente de carácter duvidoso, mas ajudaram-me muitas vezes. E acho que uma viagem, ou uma estadia num hotel com a amante, é um preço muito pequeno a pagar quando se trata da segurança de quem está ao meu cuidado.
- O que prometeste para encontrar Priscilla?!
- Nada em concreto mas o que fosse preciso. Não me interpretes mal, mas quando percebi era tarde demais, já estava perdidamente encantado com a tua filha! Naquela noite enquanto ela me mostrava o álbum de fotografias, senti um certo rancor por aquele homem que não levava a filha à praia, nem lhe permitia ter um gato! E fiquei abismado com o que senti quando vi a tua fotografia em bikini e pensei num outro homem a tocar-te! Nunca me sentira atraído por ninguém assim! Por isso quando me disseste que eras viúva, confesso que fiquei sem saber que fazer e decidi ir para o hotel! Mas durante o regresso pensei que estava a ser idiota e regressei.
- Estavas pois.
- Tanto ou mais do que tu estás a ser agora?!
- Não estou a ser idiota!
- Não?! Permiti-me discordar!

Alisia olhava para ele sem saber que lhe responder quando Priscilla entrou a correr e puxou o braço  de Nicholas para lhe falar ao ouvido. O semblante de Nicholas mudou enquanto ouvia o que ela lhe segredava. Depois ele sorriu e segredou algo a Priscilla, que depois de o abraçar com força, voltou para a praia.

- Queres falar-me de Mat?! Ou terei de perguntar a Priscilla?!
- Que te disse?
- Queria saber se vou tratar-te como Mat!

Nicholas segurou-lhe um braço e com a outra mão levantou-lhe o rosto para a olhar nos olhos. Alisia não gostou da sombra que viu no olhar dele.

- O que ela queria dizer com isso?
- Ela nunca falou com ninguém sobre nada e agora faz de ti seu confessor!?
- Talvez precise de alguém que lhe dê segurança.
- Eu dou-lhe segurança! - Alisia afastou-se dele.
- Desculpa. Não foi isso que quis dizer. Mas preciso que me digas o que te preocupa. Preciso de saber que confias em mim o suficiente para me dizeres o que aconteceu na sua totalidade e não apenas as pequenas coisas que vão preocupando Priscilla.

Alisia olhou para ele, sabia que ele tinha razão, e independentemente de casarem ou não, pois não estava segura de querer casar, a verdade era que o amava e não se baseia uma relação em meias conversas.
Foi a vez dela fixar um ponto indefinido enquanto retrocedia nas suas recordações.

- A minha vida não foi fácil. Quando a minha mãe adoeceu, o meu pai não teve outra alternativa a não ser vender a nossa casa para pagar as consultas. O médico aconselhou um ambiente calmo para a recuperação dela e mudámos-nos para uma casa com jardim afastada da cidade. Mas depois a minha mãe faleceu e ele não suportou a dor. - Alisia limpou uma lágrima - Poucos meses depois suicidou-se. Fiquei com uma filha de seis anos e não tinha casa nem emprego. O senhorio deu-me dois meses para procurar uma casa que pudesse pagar, mas o dinheiro que restava era pouco. Como deixei a escola para cuidar da minha avó não conseguia arranjar emprego, e sem emprego não havia casa. E sem essas coisas, teria de entregar Priscilla no mesmo sítio que não consegui deixá-la quando nasceu!
- Não tinhas a quem pedir ajuda?!
- Não tinham ninguém. E se recorresse a uma associação seguramente iriam tirar-me Priscilla. Por uns meses trabalhei num armazém. Foi onde conheci Mat. Era simpático e a única pessoa que não me julgava por ser mãe solteira. Começou por convidar-me a um café e pouco depois pediu-me em casamento. A minha primeira reacção foi dizer que não. Afinal ele tinha idade para ser meu pai! Mas ele disse que não era bem um casamento, que ele precisava de alguém para lhe fazer companhia nos últimos dias da sua vida. Fizemos do casamento uma espécie de contrato de trabalho. Casávamos mas cada um dormia na sua cama. Eu prometia nunca o abandonar nem arranjar outro homem, e ele cuidaria de mim e de Priscilla. Não comentaria com ninguém o nosso casamento para que todos pensassem que éramos uma família feliz.
- A julgar a tua voz não foi assim.
- Nos primeiros meses sim. Era um homem encantador, mas depois da doença que o levou a ficar acamado fez dele um homem insuportável.
- Priscilla disse que ele te tratava mal.
- Ela era muito pequena, não entendia que ele era assim por causa da doença.
- Doente ou não, isso não lhe dava o direito de te magoar!
- Nunca me magoou! Não fisicamente.
- Não vejo diferença alguma! O que te dizia?
- Não gosto de falar disso. E pertence ao passado.
- Não, se isso vos faz pensar que posso ser como ele! É por isso que não queres casar?
- Em parte. - Alisia admitiu - Um casamento implica compromisso, uma entrega. E não conseguiria viver a teu lado quando...

Nicholas beijou-a calando assim o devaneio dela. Quando a soltou as lágrimas caíam pelo rosto dela.

- Porque não aceitas que te amo e me deixas cuidar de ti ?! De vocês?!
- Porque um dia vais dizer-me as mesmas coisas que Mat me dizia. - Alisia fechou os olhos tentando controlar as lágrimas - Com Mat era fácil suportar o que dizia. Basta sair de casa e deixá-lo a falar sozinho. Claro que me magoava quando dizia que era uma inútil! Que o facto de ajudar os outros nunca me levaria a lado nenhum... Mas depois de algum tempo, isso deixou de me atingir. Mas se fosses tu, eu não conseguiria suportar. Não suportaria ouvir isso da pessoa que amo.
- Nunca te direi isso. Simplesmente porque não é verdade! E seguramente as pessoas que ajudaste não te acham uma inútil. Se perdesses tempo a ouvir o que os demais dizem de ti percebias o bem que fazes aos que te rodeiam! Pete acha que és um anjo. Uma das tuas vizinhas diz que és uma alma bondosa demais para este mundo cruel! E eu, como posso dizer que és uma inútil quando sou como tu?! E estava a esquecer Rafael! Se bem que convenientemente! Segundo ele um dia sem te ver é como um dia sem sol! - Nicholas fez uma careta - Gostava de lhe dizer que vai ter de arranjar outro raio de sol!
- Ele disse isso?!
- De onde achas que fiquei com a ideia que ele sentia algo por ti?! Não gostei... Mesmo nada... Eras o meu raio de sol, não dele! O meu arco-íris.

Alisia sorriu ao ouvi-lo divagar. Ele tivera ciúmes dela! Talvez estivesse a ser como ele disse, uma idiota! Que mulher deixa de casar com o homem que ama porque teve uma má experiência?!  Nicholas era o homem que amava e que Priscilla adorava. E ela ia deixar escapar a oportunidade de ser feliz por causa de um casamento infeliz ?! Um casamento que não passara de um contrato de conveniência?!

- Achas engraçado?! Não achei muita piada. Não sou ciumento, mas ouvir outro homem dizer que a nossa mulher é...
- Nossa?!
- É... um pouco presunçoso não?! Mas já achava que eras minha. Apenas falta um pequeno detalhe, comunicar-te esse facto!
- Pequeno?!
- Minúsculo... Mas convenhamos, está a ser mais complicado convencer-te que te amo, que foi convencer-te a passares uns dias aqui.
- Nessa altura tinhas uma aliada.
- Se esse é o problema...

Nicholas soltou-a e começou a dirigir-se para a porta. Mas ela segurou-lhe a mão e sorriu-lhe.

- Talvez não seja necessário.
- Talvez!?

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