Alisia saíra do centro de emprego da mesma forma que tinha entrado, desempregada! Tentando distrair-se foi até ao centro comercial. Olhava a montra cheia de livros, quando a mãe de Sly saiu de uma loja chamando-a. Tentou recordar-se do nome dela, mas não conseguia! Acenou à mulher perguntando-se porque depois de serem mães, eram conhecidas por a mãe deste e daquele, e não pelo próprio nome?!
- Alisia!!
A mulher levou uma mão ao peito e respirou fundo, como se tivesse percorrido uma longa distância e não o corredor do centro comercial!
- Bom dia, como está?! E Sly?! À imenso tempo que não vai lá a casa.
- Está bem, apenas um pouco constipado. É este clima... - A mulher fez uma pausa - Ainda bem que a vejo, Ann falou-me do bolo que lhe fez, seria possível fazer-me um?!
- Quer um bolo?! - Alisia ficou a olhar a mulher, não esperava que a esposa do vereador quisesse um bolo dos dela.
- Logicamente que lhe pago. Ann disse que estava divinal...
Aquele pedido fez nascer na cabeça dela mil e uma ideia. Com um pouco de publicidade talvez conseguisse.
- Que me diz?! Pode fazer?
- Claro. - Alisia procurou a agenda na mala - Deixe-me anotar não me vá esquecer.
No caminho até casa pensou no seu futuro negócio. Porque não tinha pensado nisso?! Todas as semanas fazia bolos para as vizinhas, se bem que cada uma pagava o valor que entendia, aquilo podia ser a resposta aos seus problemas! Usaria a internet para divulgar o seu pequeno negócio. Precisava de ver o que era necessário para se estabelecer legalmente.
Nessa tarde, quando Priscilla entrou em casa ela estava toda empolgada, já tinha uma lista de bolos que podia fazer e os preços. Priscilla prontificou-se a ceder as fotos dos seus bolos de aniversário para dar "cara" aos bolos na página que a mãe criara. E enquanto a mãe fez o jantar foi ela que compôs a página com fotos alusivas ao produto.
- Mas que linda! - Alisia abraçava a filha - Como percebes tanto disto?
- Oh mãe! Na escola usamos muito os computadores.
- Isso quer dizer que já está?!
- Agora esperamos que os "amigos" venham deixar opiniões.
- Prefiro que deixem encomendas!
Duas semanas depois Alisia tinha um número razoável de encomendas, todas particulares. Tinha deixado uns quantos bolos nas pastelarias do centro comercial, na esperança que lhe encomendassem alguns. Embora isso significasse ter de ir entregá-los! Mas quando lhe telefonaram a resposta não era exactamente a esperada. Gostaram dos bolos, mas apenas queriam assinar contrato no inicio do ano. O que significava que teria um mês de dificuldades. O montante que tinha no banco era muito pequeno para aguentar os dias que faltavam! Seria com muito custo, e sacrificando a prenda de Natal de Priscilla, que chegariam ao fim do mês. Mas tentava animar-se pensando que pelo menos desta vez era temporário. Quando iniciasse o ano podia respirar de alivio! A sua vida ia melhorar.
- Nas férias posso ajudar-te. - Priscilla contava as velas - Depois podemos ir à praia e comer gelados todos os dias...
- Claro! Um bem grande.
Alisia limpou as mãos ao pano mas a filha foi mais rápida.
- Eu vou...
Priscilla desceu da cadeira e foi abrir a porta, Alisia correu pouco depois ao ouvir os gritos da filha.
- Que aconteceu?! Priscilla?! - Alisia calou-se ao ver a filha sentada no chão com um gatinho bebé ao colo - Mas que é isso?!
- Um gato... é meu! Mandaram entregar para mim.
- Mandaram entregar?! Que conversa é essa?
- O homem perguntou se era a casa da menina Priscilla Snow. Logo sou eu!
- Mas quem te mandou um gato?! Deixa-me ver a caixa!
Alisia olhou a caixa cheia de buracos, não tinha nada além do nome de Priscilla e a morada. Olhou a cara feliz da filha com o gato siamês ao colo.
- Parece que aumentámos a família.
- Oh...é tão lindo!!!
- Como lhe vamos chamar?
- King! Ou Quenn! Depende se é menina ou menino.
- Por agora é apenas gato.
-Gato não... lindo! - Priscilla colocou o gato no chão - Anda lindo, vou mostrar-te a casa.
- Ai a minha vida... - Alisia olhou os dois - Era o que me faltava - Falava sozinha - Mais uma boca para alimentar! Preciso de comprar comida, areia, uma caixa...uma cama... Ai céus!
- Mãe, disseste algo?
- Não... apenas pensei alto.
- O lindo vai dormir comigo... Ele cheira bem... - Priscilla levantou o gato - Cheira...
Priscilla passava o dia com o gato ao colo, apertava-o tanto que o pobre gato já se escondia dela. Demorou alguns dias para Priscilla perceber que ele, embora gostasse de mimos, não gostava de ser apertado e precisava de andar. Dias depois era King que corria atrás de Priscilla para todo o lado.
- Deixa o animal e termina de te vestir.
- Oh mãe...só mais um bocadinho!
- Já estamos atrasadas. - Alisia colocou a roupa da filha em cima da cama. - Cinco minutos. Ouviste?!
- Mas não tenho aula agora... e é a última semana...
- Sei que não tens aula, mas tenho de entregar uns bolos antes de te deixar na escola.
- Está bem... Gostava de ser gato...
Alisia sorriu perante o comentário da filha e deixou-a a vestir-se.
Confirmou se tinha tudo arrumado, preparou o pequeno almoço à filha e preparava-se para fazer as contas quando a campainha tocou. Quando abriu a porta Alisia ficou sem palavras.
- Bom dia Alisia. - Nicholas sorria - Posso entrar?
- Claro, desculpa. Entra.
Alisia desviou-se para que ele passasse e acompanhou-o até à sala pensando no que estaria ali a fazer.
- Pensei que depois da tua visita atribulada não voltasses à vila.
- Apenas vim ver como estão. - Nicholas olhou em redor - Priscilla gostou do gato?
- Foste tu que o mandas-te? - Recordou a conversa dele com a filha e percebeu que só podia ter sido ele. - Obrigada, adorou.
- É a minha forma de agradecer. - Nicholas levantou uma mão quando ela abriu a boca - Sei que não era preciso agradecer, mas gosto de o fazer. Por isso queria convidar-vos para irem passar as férias de Natal comigo. Tenho uma ilha...
- Vamos de férias?! - Priscilla entrou naquele instante e abraçou Nicholas.
- Não, não vamos!
Alisia encarou-o, e pela sua expressão, assim como Priscilla, ele também não gostou que tivesse negado o convite.
- Mas porquê?! - Falaram os dois a mesmo tempo.
- Porque não.- Alisia respondeu prontamente.
- Isso não é um motivo válido! - Nicholas olhava para ela com uma mão no ombro de Priscilla.
- Não é não! - Priscilla olhava para ela com os olhos muito abertos - E a ele não lhe podes dizer: Porque sou tua mãe!
Nicholas riu-se da imitação que a menina fez da mãe e ela teve de concordar que era assim que ultimamente justificava muitas das suas decisões.
- Porque não podemos. - Alisia olhou o relógio - E temos de ir embora, estamos atrasadas.
- Ao menos posso pagar-te um café depois de deixares Priscilla na escola?!
- Claro. - Priscilla deu a mochila à filha - Encontramos-nos na pousada?
- Ui... - Priscilla assobiou - Vão começar os falatórios.
Saíram de casa juntos mas partiram em direcções opostas. Alisia repreendeu a filha, ter ajudado Nicholas não lhes dava o direito de abusar da boa vontade dele. Priscilla pediu desculpa e manteve-se em silêncio o resto da viagem. Quando chegaram à escola beijou-a antes de sair do carro, mas mal deu dois passos regressou.
- Mãe?! Quando vou dormir a casa de Amy estou a abusar dela?!
- Claro que não.
- Então não percebo porque não podemos ir com Nicholas!
Priscilla deu mais um beijo à mãe e entrou no recinto da escola sorrindo. Alisia olhou a filha por entre os colegas. A resposta demorara mas fora assertiva, a continuar assim daria uma boa advogada! Ou uma boa deputada!
Sorria quando se misturou com os demais carros, que paravam por breves minutos à porta da escola.
Quando entrou na pousada ainda sorria pelo comentário da filha, por muito que gostasse de fazer a vontade à filha não iam com Nicholas! Teria de esperar pelo verão seguinte para terem férias.
- Desculpa. - Alisia sentou-se na cadeira ao lado dele - Esta hora é muito complicado.
- Não te preocupes. - Nicholas fez sinal a Rafael. - Agora diz-me porque não queres ir.
- Porque não.
- Priscilla não está quase de férias?!
- Sim, para a semana já não têm aulas.
- Então não vejo porque não podem ir! - Nicholas calou-se quando Rafael se aproximou e manteve-se calado até que ele se afastou - Pelo que percebi não tens trabalho, Priscilla não tem aulas, à imenso tempo que não têm férias. Então porque não me deixas agradecer o que fizeste por mim?!
- O gato é mais que suficiente.
- O gato é para Priscilla. As férias são para ti, ainda que ela também as desfrute. Não te estou a pedir nada do outro mundo, apenas que aceites passar as férias de natal na minha casa.
- Não me parece o mais correto! E não te ajudei para que...
- Eu sei que não! - Nicholas interrompeu-a - Mas não gostarias de estar uns dias sem te preocupares com a rotina diária?!
- Claro que sim. Mas não...
- Olha, a casa na ilha é enorme. A praia é a escassos metros, podes estar na varanda a ler e deixar Priscilla ir nadar. Podes passear na cidade ou à beira mar. Tens tudo o que precisas para descansar. Para renovares as baterias para o ano que aí vem. Não queres deixar este clima frio nem que seja por apenas duas semanas?! Se não queres ver estas férias como uma forma de agradecimento, então vê-as como uma prenda de Natal. Acho que tanto tu como Priscilla merecem uma prenda assim.
Alisia olhou para ele, sim podia encarar aquilo como a prenda de natal de Priscilla... De qualquer forma não tinha dinheiro para lhe comprar nada! Mas não... Não podia aceitar, que diriam as vizinhas quando soubessem?! Não ia conseguir evitar os comentários!
- Agradeço imenso. Mas não posso. - Alisia levantou-se - Obrigada pelo café.
- Alisia - Ele segurou-lhe a mão - Teria todo o gosto em que aceitasses o convite. Ao menos promete que vais pensar.
- Sim. - Alisia apenas conseguia pensar no calor que lhe percorria o braço.
- Sim?!
- Sim, vou pensar.
- Fico feliz por isso.
Durante o resto do dia Alisia não conseguiu pensar em outra coisa sem ser na proposta de Nicholas. Sem encomendas novas não lhe restava pensar em muita coisa mais, isso e nas suas dificuldades económicas! Era bem mais agradável pensar na proposta de Nicholas. E a chegada de Priscilla apenas acrescentou planos para as supostas férias, se as aceitasse!
A noite não ajudou a tomar uma decisão. Enquanto bebia café rodava o cartão que Nicholas lhe tinha dado com o número de telemóvel dele. Precisava tomar uma decisão. Colocou a chávena na máquina e depois de deixar uma nota a Priscilla, dizendo onde estava, saiu.
Abriu a porta da igreja e olhou em redor para se certificar que estava mesmo vazia. Sentou-se olhando o infinito e começou a falar, como sempre fazia. Quando estava a preparar-se para sair viu-a, ali estava a senhora de sorriso doce. Olhava para ela sem dizer uma só palavra, como se esperasse que Alisia se dirigisse até ela de livre vontade. Segurou a maçaneta da porta e abriu-a, mas voltou a fechá-la e dirigiu-se a ela. Embora gostasse de falar com os santos, era melhor ter alguém que lhe respondesse.
A senhora ouviu-a com toda a atenção, sem se manifestar. Quando ela terminou, segurou-lhe a mão e sorriu.
- E tu gostavas de ir?
- Sim. Não por mim, mas pela minha filha.
- Então vai.
- Mas sou viúva e as vizinhas vão comentar.
- Se não for isso, irão comentar outra coisa qualquer. E não vejo que mal possa vir de uns dias de descanso. Como disseste, és viúva. Não tens de te justificar perante ninguém!
Alisia abraçou a senhora e saiu da igreja com a certeza que uns dias de férias não fariam mal a ninguém. E sempre podia fazer algo em casa de Nicholas, não tinham de ser necessariamente uma carga para ele.
- Isso quer dizer que vamos?! - Priscilla abraçava a mãe. - Vamos à praia... King gostará de água?!
- Não me parece. E temos de perguntar a Nicholas se ele pode ir.
- Não o vou deixar aqui!
- Porque não perguntamos a Nicholas primeiro?
- Eu telefono. - Priscilla agarrou o telefone e marcou o número - Nicholas?! Olá... sim... pois... estava a falar com a mãe, queria perguntar-te...
Alisia olhava para a filha, enquanto batia o pé no chão. A sua filha estava uma mulherzinha e ela não tinha percebido! Estava naquela idade complicada, não era criança nem adolescente.
- Era por causa de King... - Priscilla continuava - Ele pode ir connosco?! - Priscilla calou-se muito séria - Sim, acho que sim. - Estendeu o telemóvel à mãe - Quer falar contigo.
Alisia agarrou telemóvel sem saber que pensar da expressão da filha. Viu-a agarrar em King e ir para o quarto.
- Sim?!
- Olá Alisia. Posso concluir que aceitaste o meu convite?
- Sim, isto se ainda...
- Claro que sim! - Nicholas interrompeu-a - Passo a apanhá-las no fim de semana. E seguramente arranjaremos lugar para King.
- Mas posso ir no meu carro!
- Não há necessidade. - Nicholas fez uma pausa - Desculpa mas tenho de desligar, ligo-te depois.
Alisia ficou a olhar o telemóvel. Ia de férias para uma ilha sobre a qual nem o nome sabia, com um homem sobre o qual apenas sabia o nome! Mas não era esse o resumo da sua vida!? Uma sucessão de pessoas que entravam e saiam sem saber muito delas?! E isso nunca a impediu de as ajudar, porque deveria isso de a impedir de ir de férias?!
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