sexta-feira, 16 de junho de 2017

ESPERANDO UM SINAL 9ª PARTE



Alisia andava de um lado para outro na sala. Nessa manhã Priscilla tinha-a avisado que regressava da escola com o pai Linus. Que este a apanhava na escola depois da explicação de Linus. Não era a primeira vez que a filha regressava da escola com o vizinho, mas este à muito que estava em casa. Quando lhe perguntou por ela disse-lhe que Priscilla tinha telefonado a dizer que afinal tinha de ficar até mais tarde por causa de um trabalho. Agradeceu sentindo um aperto cada vez maior no peito, Priscilla nunca tinha feito nada igual!

Estava a ficar desesperada. Telefonou para a escola e de lá informaram-na que Priscilla saíra com as colegas do costume. Saiu para a procurar nos sítios que elas costumavam frequentar. A pastelaria, o jardim, o centro comercial... A cada novo local aumentava o seu temos!
Depois deambulou pelas ruas, regressando apenas quando se recordou que Priscilla tinha perdido a chave de casa. Perdeu a conta ás vezes que tentou ligar-lhe, mas o telemóvel da filha estava desligado ou sem cobertura! Num estado de total desespero começou a ligar para todas as colegas de que se recordava. Marcava mais um número quando ouviu um carro parar na rua. Com o coração a bater descontroladamente e com as lágrimas nos olhos correu para a porta.

- Nicholas?!

Vê-lo foi como se o seu maior temor tomasse forma. Até aquele momento negava-se a aceitar que algo de mal tinha acontecido à sua menina, mas Priscilla só saía da escola com alguém conhecido! E a única pessoa que ela sabia ser capaz de coisas horrorosas estava ali à sua frente!

- Onde está?! Que lhe fizeste?!

Alisia acusou-o ao mesmo tempo que as lágrimas caíam pelo rosto sem as conseguir evitar.  Nicholas segurou-lhe os pulsos quando ela começou a bater-lhe no peito.

- Queres acalmar-te e explicar-me do que me acusas?!
- Como se não soubesses! - Alisia olhou-o por entre as lágrimas.
- Podes não acreditar, mas não sei do que falas.
- Priscilla! Onde está?! - Alisia afastou-se dele.
- Priscilla desapareceu?! - Nicholas olhou para ela com o sobrolho franzido - E pensaste que estava comigo?!
- Com quem mais pode estar? Adora-te! Mas não vou permitir que...
- Ligaste para os colegas de escola?!
- Sim. E para a escola.

Algo na voz dele a fez olhar para ele, despia o casaco e olhou a casa atentamente.

- Tens a certeza que não fugiu de casa?!
- Porque fugiria?!
- Não sei. Viste se falta algo no quarto, alguma roupa?
- Não...

Alisia dirigiu-se para o quarto da filha e Nicholas acompanhou-a, mantendo-se em silêncio enquanto ela abria e fechava gavetas.

- Não falta nada!
- Procuraste pelas ruas?!
- Sim. Também telefonei para a escola, para as colegas, fui aos sítios que gosta de frequentar! - Alisia sentou-se rendida - Não sei que mais fazer!
- Foste à outra casa?! Ou ela não tinha amigas lá?
- Uma ou duas...

Alisia agarrou no telefone e por uns segundos a sua esperança renasceu, até que a chamada foi para o atendedor.

.- Bolas... Não atendem!
- Vamos, eu conduzo.

Alisia não contestou e poucos minutos depois saíam da cidade. A cada minuto que passava, Alisia ficava mais desesperada. E o desespero aumentou quando não a encontraram no antigo bairro. Regressaram a casa quando a noite caía sobre os prédios.
Negou-se a comer e sentou-se no sofá a olhar a rua. Apenas pensava que anoitecera e continuavam sem noticias de Priscilla.

Alisia deu um salto quando o telemóvel tocou. Ao ver o número não atendeu, era um cliente. Não tinha cabeça para novas encomendas! Deixou o telemóvel em cima da mesa e sentou-se encolhida num canto do sofá sem saber que fazer. Quando o telemóvel voltou a tocar foi Nicholas que atendeu. Ela ouvia ao longe como ele explicava o sucedido, ao ouvi-lo mencionar o nome da filha sentiu um desejo enorme de estar junto ás coisas dela.

Abriu a porta do quarto e com as lágrimas caindo deitou-se na cama da filha abraçando a almofada.

- Bebe. - Nicholas estendia-lhe uma chávena.
- Não quero.
- Não podes ficar assim.
- Como não?! É minha filha! Tu não...

Nicholas abraçou-a quando as lágrimas aumentaram e o soluçar tornou-se incontrolável.

- Entendo melhor do que pensas.

Alisia olhou para ele, reconheceu a preocupação no olhar dele. Talvez ele sentisse algo por Priscilla, talvez gostasse realmente de Priscilla, talvez o tivesse acusado precipitadamente. Deixou-se envolver pelo calor reconfortante do abraço dele. Naquele momento precisava de apoio, de alguém que entendesse o quanto sofria.

- Ela não te disse nada que te levasse a suspeitar de algo?
- Não.
- Nem falou se queria visitar uma amiga?
- Não.
- Um namorado?!
- É uma criança!
- Não. Por muito que o tentes evitar ela é uma adolescente! E começa a estar a tenta aos rapazes.
- Mesmo assim! Não tem namorado.
- E se tivesse dizia-te?!
- Sim! - Alisia olhou para ele - Quero acreditar que sim, que me diria.
- Ir a algum lugar em particular...
- Não!

Alisia afastou-se dele, não lhe queria dizer que ela queria ir vê-lo e ela lhe disse que o esquecesse!  Arrependia-se tanto disso! Se pudesse voltar atrás! Nicholas começou a andar pela sala, Alisia seguia-lhe os movimentos atentamente, parecia realmente preocupado com Priscilla. Pouco depois viu-o agarrar o telemóvel.

- Joe preciso de um favor! Priscilla desapareceu.


Alisia olhou para ele. Viu como o rosto dele mudou de fisionomia ao ouvir o que lhe diziam do outro lado, e como no segundo seguinte ele passou a mão pelo cabelo e gritou.

- Quero lá saber das quarenta e oito horas! É uma criança!

Nicholas voltou a passar a mão no cabelo enquanto lhe respondiam.

- Eu sei... Vou enviar-te por mensagem.

Alisia olhou para ele enquanto ele procurava algo no telemóvel.

- Consegues ver? Obrigado, fico a dever-te uma.

Quando desligou sentou-se ao lado dela e abraçou-a enquanto lhe sussurrava.

- Vamos encontrá-la.
- A quem ligaste?!
- À policia. Tenho lá alguns amigos.
- Achas que ela...

Alisia começou a chorar ao pensar nas possíveis situações. Ao olhar para ele mais uma vez, percebeu que ele não estava envolvido no desaparecimento de Priscilla. Por muito frio que fosse, nem ele conseguia fingir tanta preocupação. Naquela altura agradeceu por ele estar ali.

- Não. Ela está bem. Vais ver...

Acordou sobressaltada! Como podia ter adormecido quando a sua filha estava desaparecida?! Olhou para o relógio, não tinha dormido tanto como pensava, apenas tinha passado meia hora desde que Nicholas tinha telefonado para a policia. Levantou-se e sentiu uma enorme dor de cabeça, ouviu Nicholas ao longe e seguiu o som da voz dele até à cozinha.

- Não me interessa o que tens de fazer, nem quem tenhas de acordar. Pergunta aos teus contactos, a todos! Alguém deve de ter visto algo! Ela não pode ter desaparecido assim.

Alisia encostou-se à parede. A quem ele ligava desta vez?!

- Sim, é uma menina. - Nicholas continuava - Já te enviei a fotografia. Ficarei eternamente grato.

Nicholas voltou a ficar em silêncio e ela susteve a respiração, os segundos de silêncio eram um desespero para ela, não queria ouvir nada que a levasse a duvidar dele.

- Desde que me dês alguma informação útil podes pedir o que quiseres.

Alisia continuava ali de pé a ouvir como ele fazia café e ouviu o barulho que a chávena fez quando a colocou e cima da mesa.

- Boa noite, preciso de falar com alguém que me informe se deu entrada no hospital uma menina...

Alisia levou a mão à boca tentando abafar um soluço. Ele estava a ligar para os hospitais! Contrariamente ao que tentava transmitir, ele também não estava muito certo da segurança de Priscilla.

- Devias de estar a descansar. - Nicholas desligava o telemóvel - Priscilla vai encontrar-te num...
- Estavas a ligar para o hospital! Tu também não acreditas que ela está bem!
- Claro que acredito! E tu também tens de acreditar! - Nicholas voltou a abraça-la - Cada hospital que me diz que não deu entrada nenhuma menina, é uma esperança renovada. Percebes?! Tudo indica que ela está bem.
- Então porque não telefona?!
- Talvez não consiga. Vamos tentar descansar um pouco. Assim que nascer o sol vamos falar com Joe.
- Ele vai ajudar?!
- Sim. - Nicholas beijou-lhe o cabelo - Muito em breve Priscilla está aqui a comer bolo de chocolate. Confia em mim!

Confia em mim! Ele pedia-lhe que confiasse nele! Amava-o! Confiar nele era o menor dos seus problemas!

O sol entrava pela janela da cozinha, iluminado a silhueta de Nicholas que olhava o telemóvel pensativo.

- Alguma noticia?!
- Ainda não!

Alisia sentiu um novo aperto, e as lágrimas voltaram aos seus olhos. Nicholas abraçou-a e beijou-lhe a testa e os olhos cheios de lágrimas. Pouco depois os lábios dele procuravam os dela. Não era um beijo que despertasse desejo ou qualquer sentimento menos digno. Apenas pretendia transmitir força e apoio. Com as mãos acariciando o pescoço dela olhou-a nos olhos.

- Vamos?! Joe está à nossa espera.
- Sim.

Durante o percurso Alisia recordou a última vez que viu a filha. Como lhe gritou, como lhe negou uma visita a Nicholas!
Nicholas que passou a noite a telefonar aos seus contactos, exigindo resultados! Não se importou se as pessoas a quem ele ligava eram boas ou más. A única coisa que ela queria era ter a sua menina em casa! Se não fosse por ele, teria de aguardar. Pois a lei dizia que deviam de esperar quarenta e oito horas. Quem fez aquela lei idiota não devia de ter filhos! Quem aguenta tanto tempo?!

- Joe é boa pessoa.

 Nicholas segurou a mão dela e ela apertou-a nervosa.

- Vais ficar comigo?!
- Eu preferia. Se não te importares.
- Obrigada.

Alisia voltou a apertar  a mão dele e ele levou-a aos lábios.

- Chegaram cedo.

Alisia olhou na direcção da voz que ela reconheceu.

- Inspector?!
- Olá Alisia. Lamento que o nosso encontro tenha umas circunstâncias tão infelizes.
- Sim...
- Venham para o meu gabinete. Assim que Nicholas me telefonou comecei a investigar.

Durante uma hora ficaram no gabinete de Joe. Alisia tentava responder ás perguntas dele. Algumas delas não faziam o menor sentido para ela! Mas quando saíram de lá a esperança dela estava renovada. O inspector tinha divulgado a fotografia de Priscilla e todos os agentes tinham uma cópia. E tinha colocado agentes em todos os terminais de autocarro, assim como nas estações de metro e comboio, sem esquecer os aeroportos.

- Joe vai encontrá-la. Ele é o melhor inspector que conheço.
- É um dos teus amigos?!
- Conhecemos-nos à imenso tempo!
- E confias nele?!

Alisia recordou a "ajuda" que Nicholas deu ao inspector. Se ele se deixava subornar por Nicholas, que garantias tinha de que ele não aceitava um outro suborno de uma outra pessoa?! Nicholas olhou para ela com os olhos semicerrados.

- Crescemos juntos. Confiaria a minha vida a Joe se fosse preciso. Porque dizes isso?!
- Por nada. Apenas quero encontrar a minha filha.
- E vamos encontrar. Prometo que a vamos encontrar.

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