Ellen permanecia segurando o braço de Edson como se este fosse uma bóia de salvação.
À medida que Luc se aproximava o coração dela acelerava.
Sentindo-se incapaz de se mexer observou-o enquanto ele abria caminho entre os demais convidados.
Luc vestia um fato preto assim como a camisa, o que lhe conferia um ar estranhamente sensual e perigoso.
Sentiu algum alívio, ainda que momentâneo, quando Luc foi interpelado por um dos convidados. Olhou para Edson para lhe pedir para ir embora, mas Amelie acenou a este, que alheio ao que se passava, desculpou-se e deixou-a entregue a si mesma. Olhou em redor, tentando perceber se alguém notara o seu desconforto, e pudesse ajudá-la a sair daquela situação, mas além de não conhecer mais ninguém, estavam todos embrenhados nas próprias conversas.
Desejou sair dali, ir para casa... Estava certa que ninguém iria notar a sua ausência. Mas tinha prometido a Amelie que ficaria até ao fim da festa. E se saísse, apenas porque temia a reacção de Luc, Amelie não a iria considerar de confiança.
Voltou a olhar para ele, ainda falava com o outro convidado, mas ás vezes olhava para ela como se quisesse confirmar que ainda estava ali.
Ellen sabia que aquele dia chegaria mais cedo ou mais tarde, apenas tinha a esperança que quando isso acontecesse ele fizesse parte do seu passado e não estivesse presente nos seus pensamentos e nos seus sonhos. Baixou a vista ao perceber que ele a olhava fixamente... Naquele momento não se sentia com coragem para o enfrentar. Precisava ficar sozinha e pensar no que fazer...
- Como o mundo é pequeno! - Luc parou à sua frente.
- Sim. - A voz dela não passava de um murmúrio.
- Vamos dançar e, dissimuladamente, procurar um local sossegado, ou preferes falar aqui e arruinar a festa a Amelie!?
- Saímos.
- Concordo.
Luc agarrou-a pela cintura e alheio ao embaraço dela começou a dançar por entre os outros convidados.
O braço dele apertava-a com demasiada força, unindo os corpos como se fossem um só. Aprisionada entre os braços de Luc, foi completamente impossível fugir das recordações que o cheiro, assim como o toque da mão dele lhe despertavam. Mordeu o lábio ao perceber que o seu corpo relaxava ao toque dele.
Mas Luc não estava relaxado, podia sentir como os músculos dele estavam tensos. Desejou voltar atrás, fazer tudo diferente, dizer-lhe a verdade... Mas se o fizesse ele não teria permitido que passasse aqueles dias com ele. E isso era a única coisa que não se arrependia.
A música começou a ouvir-se mais longe, e Ellen olhou em redor ao ouvir o som de uma porta. Estava tão absorta nos sentimentos que ele lhe despertava, que não percebeu que já estavam numa das salas de Amelie.
Apesar de estarem a sós e longe do salão, Luc ainda a abraçava. Olhou para a mão que mantinha no peito dele, e depois olhou para ele. Arrepiou-se ou perceber que o olhar dele estava carregado de ódio. Ódio que nutria por ela.
- Luc, eu...
Sem a soltar, Luc aprisionou-a contra a parede, como tantas vezes fizera e beijou-a. Mas era um beijo sem qualquer sentimento de carinho ou desejo, era um beijo carregado de fúria. A força com que a beijava e a apertava contra a parede, era como se a quisesse castigar...
Mas o corpo dela não estava interessado na espécie de beijo, nem no motivo oculto, apenas queria desfrutar do facto de ele estar ali. E segundos depois de sentir os lábios de Luc sobre os seus, rodeou o pescoço dele gemendo de desejo. Luc aliviou a pressão e o beijo tornou-se mais carinhoso. A mão de Luc procurou o fecho do vestido e pouco depois este deslizou, deixando a descoberto os peitos dela inchados de desejo.
Ellen sentia-se enlouquecer com as carícias e beijos que ele espalhava ao longo do peito nu e traçava um caminho até ao pescoço. Luc levantou-a no ar e encostou o corpo dela à parede com o apoio do seu próprio corpo. Ellen sentia-se mais viva que nunca, desejava-o, precisava dele...
- Luc... Por favor...
Luc abrandou o ritmo das caricias e olhou nos olhos dela. Ellen estremeceu ao ver o brilho do desejo nos olhos dele. Sem separar os corpos, Luc levou-a até uma secretária onde a deitou e recomeçou a beijá-la. Pouco depois Ellen voltava a estremecer de desejo, mas Luc parou e afastou-se dela.
- Reages assim a Jim!?
Ellen olhou para ele sem entender o porquê daquela pergunta. Queria perguntar-lhe porque se afastava quando ela só pensava em estar com ele. Qual a razão de todo aquele espectáculo. Porque fora um espetáculo! Usara o desejo que sentia por ele para a humilhar e o facto de nomear Jim era prova disso. E porque falava nele! ? E como tinha ele conhecimento da relação deles!?Eram perguntas que podia e devia fazer, mas estava envergonhada demais para falar. Se falasse iria começar a chorar e podia não ser elegante como as mulheres que ele levava para a cama, mas não lhe ia dar a satisfação de saber que aquela encenação a magoava. Saiu de cima da secretária com a dignidade que o momento permitia e recompôs o vestido sob o olhar atendo dele.
- Fiz-te uma pergunta.
Ellen olhou-o mais uma vez e sentindo as lágrimas picarem-lhe os olhos, voltou-lhe costas para se dirigir à porta. Quando deu o segundo passo sentiu a mão dele segurar-lhe o braço. Olhou para a mão dele como se fosse a primeira vez que a via, depois olhou-o nos olhos sentindo cada batimento do seu coração na garganta. Segurou o olhar dele em silêncio até que a porta se abriu.
- Estás aqui.
Ellen sorriu amargamente ao ouvir a voz de Edson, e baixou a vista momentaneamente quando o amigo se aproximou deles. Esperava que Edson não percebesse o quão irresponsável estivera a pontos de ser. Quando voltou a olhar Luc, o olhar dele parecia mais furioso que anteriormente. Edson olhou para eles de sobrolho franzido.
- Está tudo bem !?
- Sim. -Ellen retirou o braço com fúria e fez uma vénia para Luc.- Com sua licença.
Ellen colocou a mão no braço de Edson e a vontade de chorar aumentou. Olhou para o amigo e falou com voz trémula e quase inaudível.
- Gostava de ir para casa.
- Claro! - Edson acariciou a mão dela sem deixar de a olhar.
- Um aviso de amigo. - Luc olhou para Edson - Cuidado com ela. Não imagina do que é capaz para alcançar os seus objectivos.
- Mas de quem pensa que está a falar?!
Edson soltou Ellen e voltou-se para Luc que soltou uma gargalhada.
- Se achas que ela é só tua, ainda és mais idiota do que pensava.
Ellen tentou segurar o amigo, mas não foi a tempo de evitar que o punho de Edson acertasse na cara de Luc.
- Edson, por favor. Não vale a pena.
Ellen olhou para o amigo sentindo as lágrimas eminentes.
- Tens razão. - Edson colocou-lhe o braço nos ombros.- Vamos embora.
Ellen sentia-se envergonhada com aquela situação. A culpa era dela, não devia de ter permitido que Luc a beijasse. Se não o tivesse consentido, Edson não o teria esmurrado.
Edson mantinha o braço nos seus ombros enquanto a acompanhava até à saída, como se a protegesse de algo ou alguém, mas os convidados pareciam mais interessados numa loira que bebera demais e estava a dançar escandalosamente, que neles.
- Não devias de o ter esmurrado.
- Como não devia?! - Edson olhou para ela - O tipo trata-te como uma fulana e pretendes que fique calado?!
- A tua noiva e Amelie não merecem essa afronta. Que dirão?!
- A minha noiva, com toda a certeza, iria compreender. Em relação a Amelie, vou voltar e explicar-lhe que não te encontras bem e que te vou acompanhar a casa.
- Amelie pode precisar de mim, eu disse que ficava.
- Acho que ela vai entender.
- Não quero arranjar-te problemas. Tu não fazes ideia de quem ele é...
- E não me interessa. - Edson abriu a porta do carro - Não é um tipo qualquer que me demove dos meus princípios. Não mudei assim tanto.
- Já vi que não.
- Não vou demorar.
Edson fechou a porta e regressou ao salão. Ellen acompanhou os passos dele.
O amigo, qual cavaleiro da távola redonda, sempre fora um defensor das Damas em apuros, ou de um ou outro oprimido. Chegou mesmo a colocar-se em problemas em algumas ocasiões.
Recordou um episódio dos tempos da faculdade.
Alguns dias antes do Natal, um colega apresentou queixa dele por o ter encostado à parede. Todos pensaram que era a última vez que ele iria sair em defensa de alguém, mas não foi assim. Quando regressou à faculdade, dirigiu-se ao queixoso e avisou-o que o facto de namorar não lhe dava o direito de maltratar a namorada, que se a voltasse a tocar, ele não se limitaria a encostá-lo à parede.
Sorriu ligeiramente ao recordar esses dias. Não, Edson não tinha mudado. Ainda sorria quando Edson regressou minutos depois.
- Amelie estima as tuas melhoras.
- Não tinhas porque mentir.
- Não menti. Ela não perguntou e eu não disse. - Edson voltou-se para ela- Não estás bem. Eu não devia de ter insistido para que me acompanhasses, mas apenas pretendia que te divertisses um pouco. Desculpa.
- Eu é que peço desculpa. Por minha causa perdeste o leilão.
- Não te preocupes. - Edson sorriu - De qualquer das formas não ia adoptar. Apadrinhei três cães e entreguei o cheque. Amelie ficou mais que satisfeita.
- Obrigada. Mas não era preciso bateres em Luc. Ele tem...
- Aquele era Luc MacKeane!? - Edson travou a fundo - O que tu... Oh Deus... Esmurrei Luc MacKeane!?
- Sim.
- Acho que vou começar a ler a imprensa cor de rosa.
- Ele não sai apenas na imprensa rosa! Na semana passada deu uma entrevista para um canal televisivo.
- Definitivamente tenho de me actualizar.
- Assim parece.
- Só espero que, se ele apresentar queixa, e eu for preso, me vás visitar!
- Não sejas dramático!
- Não seria a primeira vez e agora tenho antecedentes. - Edson assobiou - Luc MacKeane!
- Não me parece que Luc vá fazer queixa.
- Espero que não. Ou terás de me visitar na cadeia e levar cigarros e algum bolo.
- Tu não mudas!? - Ellen beliscou-lhe o braço.
- Para quê!? A vida é muito mais divertida assim.
- Deus queira que não tenhas filhas.
- Porquê!?
- Pobres rapazes, nem quero imaginar o que lhes poderias fazer.
- É só andarem direitinho.
Ellen sorriu ao imaginá-lo a avisar os namorados das filhas. Pouco depois Edson estacionava junto à porta dela.
- Ficas bem!?
- Sim, não te preocupes.
- Se ele aparecer não hesites em ligar. Magnata ou não, não admito que te ofenda.
- Obrigada.
Ellen entrou em casa sentindo que o mundo ruíra à sua volta. A tristeza abateu-se sobre ela e enroscou-se no sofá, revivendo aqueles momentos. Não se tinha como uma pessoa de ímpetos, mas quando estava com Luc agia de forma diferente, como se não fosse ela. Ele despertava-lhe desejos que não conseguia controlar.
E esse descontrole levava-a a procurar qualquer notícia sobre ele, devorando tudo o que encontrava e muitas vezes perguntava-se se era completamente verdade o que lia. Mas naquele momento eram mais as certezas que as dúvidas.
Amaldiçoou-se por não ter publicado o artigo. Se o tivesse feito não teria de trabalhar numa coisa que não gostava. Mas a sua consciência não lhe permitia escrever coisas tão pessoais sobre ele. Ela era a única jornalista que sabia onde era a casa que ele herdara dos pais. Usar a intimidade que partilharam, para expor o que ele tanto prezava, não lhe parecia correto. Mas ele não tinha qualquer tipo de moral ou escrúpulos, pois não pensou nos sentimentos dela ao humilhá-la!
Porque era assim que se sentia, humilhada! Tratou-a como se fosse uma...
Ellen levou a mão aos olhos ao sentir uma luz sobre estes. Abriu-os ao recordar a noite anterior. Adormecera no sofá a pensar, mais uma vez, em Luc. Uma lágrima deslizou pelo rosto, limpou-a furiosamente. Ele não merecia uma única lágrima dela! Iria apagar Luc MacKeane da sua cabeça e do seu coração.
Passou o domingo a arrumar a casa como se assim arrumasse o seu mundo interior. Mas nem o cansaço afastou Luc dos seus sonhos.
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