terça-feira, 26 de dezembro de 2017

ENCONTROS AZARADOS 6ª PARTE




Após algumas voltas na cama, Caterine resolveu levantar-se. Ficar deitada, a olhar o tecto enquanto se lamentava pelo atraso da noite anterior não ia fazer voltar o tempo atrás. E tempo era coisa que não se podia dar ao luxo de perder. A pouco mais de um mês para entregar a chave daquele apartamento, ainda não tinha começado a empacotar as suas coisas. Embora levasse apenas as coisas pessoais ainda ia levar umas boas horas a encaixotar.
Decidida a usar o tempo de forma útil vestiu um roupão e ligou a máquina do café. Enquanto esta aquecia procurou as caixas que tinha trazido do centro comercial e colocou uns livros dentro de uma delas.
Negando-se a abrir o álbum de fotografias que pertencera à sua mãe, embrulhou-o cuidadosamente e guardou-o no fundo da caixa. Certamente iria vê-lo e chorar abraçada a ele, mas num futuro próximo, não naquele momento.
Aquele álbum estava cheio de recordações. As festas da escola, os natais, as férias junto à costa...  Cada fotografia contava a história da grande mulher que a mãe tinha sido. Eram apenas elas as duas, elas e a tia que lhes dera abrigo naquele mesmo apartamento. E até Gino entrar na vida delas a sua família resumia-se à sua tia que cuidava dela sempre que a mãe não estava e à sua mãe que trabalhava de sol a sol, e ainda algumas horas no turno da noite num hospital, para que nada lhe faltasse. Nunca falava do pai dela, do seu marido, e as poucas vezes que o tinha feito foi para responder às perguntas dela.
Sabia que a mãe casara porque estava grávida, mas após a cerimónia, que se realizou pelo civil, decidiram seguir caminhos diferentes. Apenas se voltaram a encontrar aquando do divórcio. Nunca percebeu porque tinham casado se não se amavam, nem conseguiu que a mãe lho explicasse! A mãe, que explicava tudo detalhadamente, quando lhe perguntou o motivo, apenas obteve um sorriso e um breve: "Porque era mais simples".
Sabia que a mãe não diria nada mais, por isso esqueceu o tema. O que era bastante fácil visto não
conhecer o pai. Não tinha nem uma fotografia.  Ele simplesmente não fazia parte da família dela, a figura paterna apenas ganhou forma com a chegada de Gino.
Era ainda uma criança quando ele começou a aparecer para visitar a sua mãe e levá-las a jantar. Chegava todos os dias à mesma hora, brincava com ela  ou lia-lhe uma história enquanto a sua mãe se vestia. Na maioria dos dias ficavam em casa, mas duas vezes por semana eles saíam e ela ficava com a tia. Nessas noites a mãe chegava mais tarde. E foi assim até que a sua mãe aceitou viver com ele.
Apesar de não ser filha dele, ele sempre a tratou como tal. E mesmo contra os desejos da sua mãe, ele...

A campainha tirou-a daqueles pensamentos. Passou a mão na capa do álbum e apertando o roupão abriu a porta.

- Nat...

As suas palavras foram sufocadas por um exigente beijo de Nathan, que fechava a porta com o pé enquanto a apertava contra a parede.

- Senti tanto a tua falta! - Nathan falava encostado aos lábios dela - Passei a noite a andar pela cidade, esperando o nascer do dia ou que telefonasses. Só depois percebi que era fim de semana. Vais trabalhar?
- Não, não vou. - Caterine estremeceu ao sentir os lábios dele no pescoço.- Tu és louco.
- Sim. Estou convencido que estou louco por ti. Não consigo pensar em mais nada. Só penso em ti, nos teus beijos, no teu corpo. - Nathan segurou o rosto dela entre as mãos - Em que momento te tornaste tão importante para mim?!
- É neste momento que digo que me pergunto o mesmo?!

Olharam-se em silêncio por algum tempo, depois Nathan sorriu e beijou-a com alguma urgência. Com a respiração ofegante Nathan levou Caterine em braços até ao quarto onde durante algum tempo Caterine se perdeu novamente nas carícias dele.


- Estas caixas todas... - Nathan apontou para o sofá onde as caixas se iam amontoado - Vais mudar-te?
- Sim. Já o devia ter feito mas, além de dispor de pouco tempo, custa um pouco sair da casa onde fui feliz.
- Ninguém te obriga a sair.
- Infelizmente sim. Recebi uma carta dos herdeiros do apartamento, precisam dele no início do ano.
- Suponho que precisam da casa para habitação própria.
- Sim. - Caterine meteu mais uns livros noutra caixa. 
- E tens para onde ir? Podes viver comigo.
- Estás a propor vivermos juntos?!
- Porque não?! Não somos totalmente indiferentes um ao outro.
- Não, não somos. - Caterine sorriu perante aquela proposta. - Agradeço, mas não é necessário.
- É a primeira vez que sou descartado assim.
- Assim!?
- Não que tivesse feito a mesma proposta a outra pessoa, mas não tiveste qualquer dúvida! Nem pensaste no assunto.
- Não há muito a pensar. Gosto de estar contigo mas vivermos juntos... Não te parece um pouco precipitado?!
- Não! Sei o que sinto e quero, não tenho qualquer dúvida. Mas não vamos estragar o fim de semana com discussões sobre o suposto tempo que as coisas devem levar a acontecer. - Nathan segurou uma moldura - A tua mãe?!
- Sim. - Caterine olhou a fotografia carinhosamente.
- É muito doloroso quando nos deixam.
- É...

Como se tivessem planeado aquele momento sentaram-se no sofá lado a lado em silêncio.

Com o fim de semana a terminar, Caterine reconheceu que este não correu como tinha planeado inicialmente. Ao invés de empacotar as suas coisas disfrutou da companhia de Nathan
O tempo era dividido entre a cama e o sofá com alguma conversa pelo meio. Conversavam sobre os mais variados assuntos e numa dessas conversas Caterine convidou-o para o jantar de aniversário de Jess.

- Estamos a progredir.
- Progredir?!
- Não queres viver comigo, mas vais apresentar-me aos teus amigos. Considero isso um bom progresso.
- Quer dizer que aceitas?
- Sem a mínima hesitação. Diz-me, que lhe  deve oferecer!?
- Uma coisa qualquer.
- Uma coisa qualquer não se dá a quem queremos impressionar.
- E porque a queres impressionar?!
- Porque é tua amiga. Se quero descobrir os teus segredos, algo que possa usar para te levar a aceitar a minha proposta...
- Se esperas encontrar algum segredo vais ficar desiludido. - Caterine interrompeu-o sorrindo.
- Duvido que me desiludas.
- Não sou santa. - Caterine fez uma careta - Mas não precisas de impressionar Jess, ela é...
- Jess!? - Nathan olhou para ela de sobrolho franzido.
- Algo contra os diminutivos?
- Não, claro não. - Nathan beijou-lhe a mão - Desculpa, interrompi-te.
- Jess é do mais simples que há. Conheci Jess quando comecei a trabalhar para ela e com o tempo acabámos amigas. Embora nos conheçamos à alguns anos, apenas nos tornámos sócias à relativamente pouco tempo. É casada e a melhor pessoa que conheço. Leal, trabalhadora, de confiança...
- Não tem defeitos a rapariga?!
- Falta de paciência e um temperamento algo azedo.
- Não sei se quero conhecer uma pessoa com esse temperamento.- Nathan fez uma careta.
- Não é para tanto. Vais gostar dela.
- Muito bem, vou confiar em ti. Que levo?
- Bombons.
- Por causa do temperamento?! - Nathan sorriu-lhe.
- Ela adora bombons e um pouco de doce nunca fez mal a ninguém. - Caterine recordou as divergências de Jess com o irmão e pensou que a amiga bem precisava de adoçar a vida.
- Não, não fez. - Nathan puxou-a pela cintura e começou a tirar-lhe a camisola.
- Que estás a fazer?! - Caterine fingiu-se surpreendida.
- A tomar a minha dose de doçura.



Quando no dia seguinte Caterine entrou no escritório de Jess, a voz desta fazia-se ouvir no pequeno espaço.


- Como é que é?! - Jess gritava para o telemóvel - Deves estar a brincar comigo! Foste tu que me voltaste costas, não eu! Não te faças de vítima Harry, não combina contigo.

Caterine ficou junto à porta observando como Jess atirava com o telemóvel para cima da secretária furiosamente.

- O teu irmão?!
- O meu querido irmão! Acreditas que me convidou para almoçar com ele!? Que existem alguns mal entendidos e coisas assim.
- E porque não vais?
- Porquê?! Porque já me magoou o suficiente. Ontem disse-lhe tudo o que tinha para dizer. Não temos mais nada sobre o que falar. Além do mais não quero ouvir o quão esquisita sou, que ele queria ter sobrinhos, que devia ir ao médico, talvez seja um transtorno hormonal! Ou então que devia de ter pensado nele e na família antes de decidir dar um passo destes! - Jess respirou fundo - Desculpa, tu não tens porque aguentar os meus problemas familiares. - Jess sentou-se - Tudo pronto para o casamento dos Roice?!
- Faltam pequenos detalhes, mas estará tudo pronto a tempo.
- Nunca vi uma noiva que quisesse casar a meio da semana.
- É o dia do aniversário dela.
- Ha... está explicado. - Jess ligou o computador - E como vão as coisas contigo e o homem maravilha. Sempre o vais levar à festa de natal?
- Sim.
- Estou super curiosa.
- Não vejo porquê. É apenas um homem.
- Sim, mas um que te deixa a cantar pelos corredores e a sorrir mais que o normal. Ou achas que ninguém notou? No bar não se fala de outra coisa.
- Não acredito!
- Pois podes acreditar. - Jess recuperou o sorriso.
- Não entendo o motivo de tanta conversa.
- Não é por coscuvilhice, é apenas curiosidade. Dado a forma como se conheceram e a rapidez com que evoluiu a relação. Não me admirava nada se um dia anunciasses o casamento.
- O único casamento que ocupa o meu pensamento é...- Caterine calou-se ao ouvir o telemóvel. Era Lori! Tinha de pensar em algo.- Sim?!
- Caterine. Temos de...
- Ainda não consegui resolver esse pormenor. Ligo-lhe dentro de dez minutos!? - Caterine agitou o telemóvel na mão e olhou para Jess. - Como estava a dizer. O único casamento que me preocupa é o dos Roice. E para bem desse casamento é melhor terminarmos esta conversa.
- Salva pelo gongo menina Caterine.
- Até logo.

Caterine sorria ao fechar a porta do escritório de Jess. Esperava que esta não tivesse percebido quem era ao telemóvel ou teriam a surpresa arruinada. E tinha de agradecer a Lori. O telefonema evitara que Jess se embrenha-se em teorias sobre Nathan. Se esta soubesse que ele a tinha convidado para viverem juntos, seguramente iria oferecer-se para madrinha do casamento.
E ela começava a pensar em Nathan como o homem que poderia levá-la ao altar. Assim como a sua mãe, ela também não precisou de muito tempo para se perder por um homem que mal conhecia mas que a fazia feliz.

- Desculpa. - Caterine fechou a porta do seu escritório assim que Lori atendeu o telemóvel - Estava com Jess.
- Eu percebi. Ela não suspeitou de nada?
- Não. Estava interessada noutras coisas. Que querias?
- Como a levamos para o teu apartamento sem que suspeite?
- Já tenho tudo planeado. Se bem a conheço não falhará.
- Nem quero acreditar que não desconfiou.
- Pelo menos não demonstrou.
- Não seria a primeira vez que descobria nas vésperas.
- Esperemos que não!



Caterine saiu do escritório a correr. Não queria perder outro encontro com Nathan.
Uma hora depois de se vestir olhou novamente para o relógio e foi até à janela. O atraso de Nathan estava a deixá-la nervosa. Tinham combinado jantar e ir ao cinema, mas até à data não havia sinal dele.  O que juntamente com o facto de Nathan não atender o telemóvel lhe causava um desconforto geral.
Quando se deitou horas depois, sentia uma angústia tão grande, que embora se esforçasse não conseguia conciliar o sono. A cabeça latejava, o coração batia descompassado, sentia as lágrimas eminentes. Todo o seu corpo parecia prever uma desgraça.
O que era uma idiotice, não conhecia Nathan à tempo suficiente para sentir algo assim.
Que lhe tinha feito para que se preocupasse com ele daquela forma?!
A madrugada chegava ao fim quando o telemóvel tocou, sentindo as lágrimas nos olhos, ao ver que não era o número dele, atendeu com voz trémula.

- Sim?!
- Parece que faltei ao nosso encontro. - Nathan praticamente sussurrava.

Ao ouvir a voz dele sentou-se automaticamente na cama.

- Estás bem ?! - Naquele momento o que menos a preocupava era o encontro fracassado.
- Sim. O mesmo não posso dizer de Mabell.
- Mabell?! Que lhe aconteceu?
- Desmaiou. Os médicos ainda estão a fazer exames.
- Em que hospital estás? Vou para aí.

Pouco depois chegava ao hospital. Com passos apressados dirigiu-se à sala de espera onde Nathan estava juntamente com Rose que dormia numa das cadeiras.

- Que aconteceu? - Caterine abraçou Nathan como se pretendesse confirmar que ele estava ali.
- Mai encontrou-a desmaiada no chão da sala. Esteve aqui até ao inicio da noite mas teve de regressar por causa do filho.
- Rose?! - Caterine olhou para a outra mulher que dormia calmamente.
- Apenas tomou conhecimento da gravidade depois de estarmos aqui. Pensou que a irmã estivesse a dormir. Chegou a repreender Mai porque a acordou.
- Que dizem os médicos?
- Por enquanto nada. - Nathan sentou-se na cadeira ao lado de Rose. - Peço desculpa. Estraguei o nosso encontro. Mas não podia deixá-la sozinha. Esqueci-me do telemóvel no carro e...
- Esquece isso. - Caterine segurou-lhe a mão - O importante é Mabell.
- Sim. Não tens de trabalhar?
- Ainda tenho uma hora.
- E resolveste passá-la no hospital.
- Não tinha planos melhores.



Enquanto conduzia Caterine pensava em Mabell e Rose. Estavam sozinhas no mundo, sem ninguém que as ajudasse. O único número que elas tinham era o de Mai, que não podia ficar com elas as vinte e quatro horas do dia, e de Nathan, um perfeito desconhecido até à poucos dias.
Mas era preferível ter um desconhecido ao lado quando acordasse que não ter ninguém.
Sabendo da dificuldade de Rose, Nathan fora incapaz de a deixar sozinha no hospital. E ela também se sentia um pouco responsável por aquelas duas mulheres. Talvez devido a isso lhe era doloroso deixar Nathan com Rose, enquanto ia trabalhar.
Sentia que o estava a abandonar quando precisava dela. Mas era apenas por algumas horas e Nathan prometera ligar quando tivesse novidades sobre o estado de Mabell. Se conseguisse passava no hospital durante a hora de almoço. Podia ir com Jess e... O seu coração ficou apertado ao recordar que era o dia do aniversário dela!
Não podia ir, teria de esperar que Nathan telefonasse. Por muito que se preocupasse com Mabell, tinha uma tarefa a realizar.
Olhou pelo retrovisor antes de tomar o caminho do centro comercial.


Algum tempo depois Caterine entrava no escritório de Jess com um ramo de flores.

- Muitos parabéns!
- Ui... Já começamos...
- Começamos!? Não estou a perceber.
- Aposto que isto é apenas o início de um dia cansativo.
- Não senhora. Este ano resolvi respeitar os teus desejos. Nada de bolo nem de cantares de felicitações - Caterine abraçou-a - Mas não te livras de pagar um café ao fim do dia. Porque não vais inventar uma desculpa para não pagar. Ou vais?
- Não. Pago o café com todo o gosto.
- Então não se fala mais em aniversários. Um dia feliz.
- Obrigada.

Caterine deixou o escritório de Jess e dirigiu-se ao dela. Precisava confirmar as entregas.
Estava tão embrenhada no trabalho que não percebeu que a manhã tinha terminado. Agarrou o telemóvel e enviou uma mensagem para Nathan perguntando por Mabell. Tamborilava os dedos impacientemente quando um som anunciou a chegada da resposta.  Ao ver que não havia novidades recordou Rose. Que seria dela se Mabell ficasse internada?! Ou se Mabell não...
Fechou os olhos afastando a ideia de que o pior poderia acontecer.
Não havia nada mais triste que estar só. Não ter ninguém a quem pudesse recorrer. Uma lágrima escorregou pela face perante a ideia de Mabell não recuperar.

- Vamos almoçar? - Jess entrou nesse momento.
- Sim.
- Estás bem?
- Claro. - Caterine controlou as lágrimas. - Estou apenas preocupada com uma amiga.
- Espero que não seja eu. - Jess brincou mas ao ver os olhos dela fez uma careta - Já percebi que é sério.
- Esquece. Não quero estragar o teu aniversário com conversas deprimentes.
- Vais estragá-lo se não me disseres que te preocupa.
- Sabes como sou. Conheci Mabell e Rose à pouco tempo mas gosto tanto delas... - Caterine encolheu os ombros - São irmãs e vivem sozinhas. Mabell é autónoma, mas Rose sofre de algo que os médicos ainda não identificaram. Pode estar no presente e depois remete-se ao passado e volta ao presente em questão de segundos, tudo isto deixa Rose dependente da irmã. O problema é que Mabell desmaiou e vai ficar no hospital. - Caterine suspirou - Não sei que fazer para ajudar. Se Mabell ficar no hospital quem cuidará de Rose?!
- Não têm familiares?
- Não.
- Certamente haverá alguma instituição.
- Mabell não quereria ver a irmã num lugar assim. Frio, desprovido de sentimentos.
- Nem todas são tão más como dizem.
- Mas não com mesmo carinho. Se tu visses! Elas entendem-se apenas com o olhar. Mas agora com Mabell no hospital... - Caterine suspirou - É perante estas situações que me pergunto se será este o meu futuro. Se não fosse por...
- Que disparate! Tens amigos.
- Os amigos não são família!
- Desculpa a pergunta, mas esta conversa é uma indirecta à minha pessoa?!
- Indirecta?
- Sim. Por causa do meu irmão.
- Não!! Juro que não! Mas agora que falas nisso acho que devias falar com ele. Se te procurou por algo foi.
- Vamos almoçar que a falta de proteínas está a mexer com os teus neurónios!


Caterine olhava para a chuva que anunciara a sua presença ao início da tarde e parecia aumentar de intensidade com o aproximar da noite. Estava completamente imersa no vai-vem das pessoas, que caminhavam apressadas, que se assustou com entrada de Jess.

- Tens a certeza?! - Jess falava ao mesmo tempo que fazia sinal a Caterine. - Vou tomar café com Caterine, depois...

Caterine sorriu e desligou o computador. O seu plano estava a correr como planeara. Se bem que não totalmente. Esperava apresentar Nathan a Jess nessa noite mas este tinha telefonado para avisar que não poderia ir com ela ao jantar. Mabell tinha acordado mas ia ficar internada para observação, ele não podia deixar Rose sozinha. Tinha reservado um quarto no hotel e no dia seguinte falaria com Mabell.

- Ei?! - Jess estalou os dedos na frente do rosto dela.
- Desculpa. Estou pronta.
- Lori não quer vir ao nosso encontro. Diz que lhe doí a cabeça. Já lhe disse que deve ir ao médico.
- Se é apenas uma dor de cabeça...
- Que dura à quase uma semana!
- Nesse caso acho que deve ir.

Algum tempo depois estavam sentadas na pastelaria com uma fumegante chávena de cappuccino. Jess não parava de atender telefonemas de felicitações. Caterine olhou para o relógio, tinha de arranjar forma de ir com Jess até à papelaria. O tempo escasseava!
Estava a entrar em desespero quando Jess desligou o telemóvel.

- Vês porque não gosto deste dia?! Bolas! Não preciso que me recordem que estou a ficar velha!
- Velha?! Deus do céu! Até parece que tens cem anos!
- Quase! - Jess agarrou o telemóvel quando este tocou mas não atendeu- Queres jantar connosco?
- Lori deve querer um jantar mais íntimo. Fica para outro dia.
- Não sejas parva! Vais e não se fala mais nisso.
- Está bem. Vamos só apanhar umas coisas que encomendei para o apartamento.
- Vamos, estou curiosa quanto à decoração que estás a fazer.
- Nada de mais. Tudo muito simples. Recordas o esboço que fiz para...

A conversa girou em torno da decoração do apartamento até entrarem na loja de decoração. Caterine pediu para lhe trazerem a encomenda que tinha feito dias atrás e quando estava a pagar o telemóvel dela tocou.

- Sim?!
- Sou eu... - Lori sussurrava - Que queres que diga?!
- Agora?! Mas eu não estou no escritório. - Caterine fez uma pausa e olhou para Jess - Se é mesmo necessário! - Caterine desligou o telemóvel - Os Roice!
- Que foi desta vez?
- Acreditas que perderam a lista dos convidados?
- Devem saber quem convidaram!
- Não é essa lista. É a que indica quem se senta com quem!- Caterine fingiu procurar algo na mala - Logo agora que já paguei os vasos! Onde coloquei o talão?!
- Qual o problema?!
- Não vou andar com eles no carro! E se acontece algo?! Viste quanto paguei por eles?!
- Continuo sem ver o problema. Tu vais aturar os Roice que eu levo os vasos para o teu apartamento.
- Fazes isso?! - Caterine estendeu-lhe as chaves antes que Jess desconfiasse de algo e abraçou-a com lágrimas nos olhos  - Obrigada.
- Tens de ir ao médico.
- Eu?! Porquê?!
- Não reparaste que andas muito emotiva?! Choras por tudo e por nada!
- É desta época, recordo tanto a minha mãe...

Caterine afastou-se limpando as lágrimas. Tinha de concordar com Jess, ultimamente estava muito emotiva. Concordava com Jess, mas não podia perder tempo a analisar a situação.
Apressou o passo, era imperativo que chegasse a casa antes de Jess. Tendo em conta que esta tinha de carregar com as caixas, acomodá-las no carro e levá-las até ao apartamento, tinha tempo de sobra. Mas era melhor não dar por garantido.


- Ela?! - Lori correu para ela assim que entrou no apartamento.
- Não deve demorar.
- Apaguem as luzes. - Lori pediu aos convidados.
- E fiquem em silêncio. - Ouviu-se uma voz ao fundo.

Minutos depois ouviu-se a chave na fechadura e a porta abriu-se vagarosamente dando passagem a uma Jess irritada.

- Mas que raio está nestas caixas?! Chumbo!? - Ouviu-se a porta fechar com um estrondo - Se te apanho...
- SURPRESA!!!

Ao som das vozes juntou-se o de duas caixas que caíam no chão de madeira. Caterine olhou para Lori e começaram a rir. Felizmente tinham falado com a proprietária da loja e esta tinha concordado em encher as caixas com latas e frascos que eram para reciclagem.











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