sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

ENCONTROS AZARADOS 9ª PARTE



Caterine ainda não acreditava na monstruosidade que tinha dito. Como fora capaz de dizer algo semelhante!? Ao vê-lo apenas desejou fazê-lo sofrer como ela sofria e naquele momento o desejo de magoá-lo era superior a tudo o mais.
Não o devia ter feito! Devia de ter pensado bem no que estava a dizer. Quando Nathan soubesse a verdade nunca lhe iria perdoar! .
Ela própria ainda se arrependia de ter considerado o aborto como solução, mas quando soube que estava grávida ficou assustada e por breves momentos pensou nisso, mas não passara disso, de um infeliz pensamento sem consequências. Pelo menos até àquele momento, mas agora Nathan pensava que ela tinha abdicado do seu filho e odiava-a por isso.

Ao perceber que estava mais preocupada com o que ele sentia, que com ela própria, deixou escorregar o corpo pela parede até ficar sentada no chão. Desejou não sentir aquele doce sentimento que invadia o seu coração, mas que ao mesmo tempo lhe causava tanta dor.
Estava apaixonada por um homem que tinha usado sem pensar no que ela iria sentir! Porque foi o que ele fez! Usou-a! Usou-a sem a mínima consideração, mostrando o seu verdadeiro eu, a sua verdadeira personalidade e ela insistia em preocupar-se com o que ele sentia e pensava!
Ele não seria uma boa influência para o seu filho. Iria transmitir-lhe todo aquele egoísmo e falsidade.
Decididamente era melhor assim, era melhor ele desconhecer a gravidez. Afinal não precisava dele, sentia-se perfeitamente capaz de criar o seu filho.


- Que lhe disseste!?

Caterine olhou para Jess com os olhos brilhantes pelas lágrimas. Não tinha coragem de repetir o que tinha dito a Nathan.  

- Nada.
- Nada!? - Jess apontou para o corredor vazio - Ele não saía abruptamente por nada.
- Disse-lhe que não o quero voltar a ver.
- Como!? E essa criança?! Vais negar-lhe o direito de estar com o pai!?
- Claro que não! Podem estar juntos sempre que queiram.
- Mas sem a tua presença...
- Sim.
- Ao menos disseste-lhe isso?
- Como deves compreender ainda estou assimilando a ideia. Não estava à espera de ficar grávida.
- Desculpa, não pensei nisso... - Jess sorriu - Não és a primeira a ser apanhada desprevenida. Desde que não entrem em guerras idiotas tudo se resolverá.
- Guerras?!
- Quem fica, quando fica, por quanto tempo... Essas coisas. Mas isso é assunto vosso e quando  Harry se mudar será mais simples.
- Vai ficar!?

 Caterine tinha esquecido por completo que ele pretendia viver em Londres. A ideia de partir por uns meses e regressar quando não corresse o risco de o encontrar tinha sido gorada. Como viver, e trabalhar, numa cidade onde podia encontrá-lo?! Bem, se ele ficava, partia ela. Podia recomeçar em qualquer lado, sempre que esse sitio fosse longe de Nathan ou Harry, ou lá como se chamava.

- Sim. Ainda tem umas coisas a tratar, mas depois muda-se definitivamente.
- Fico feliz por ti.
- E não por essa criança?!
- Sim, também.
- Harry adora crianças. Vai ser um óptimo pai. Quando éramos crianças Harry ...
- Jess! - Caterine interrompeu-a - Sabes que te adoro mas não quero falar do teu irmão.
- Muito bem. - Jess sentou-se. - Não falamos mais dele.
- Obrigada.
- Se não queres falar de Harry, falamos de trabalho. Diz-me, quando pensas regressar? Lori ainda não se sente a cem por cento.
- Estou a pensar vender a minha parte da...
- Vender?! Vais deixar-nos?
- Sim, é o melhor.
- Como melhor?! Precisamos de ti! Como vamos fazer com a parte da decoração e os preparativos? Este mês foi uma loucura!
- Acredito, mas agora mais que nunca tenho de pensar em mim.

A confiança que Caterine sentia começou a abandona-la perante a relutância de Jess. Se Jess não comprasse ou não concordasse em vender a parte dela, graças a uma clausula que impedia qualquer uma das partes de vender sem o consentimento da outra, seria obrigada a ficar e veria Nathan diariamente. Não, não podia ficar! O seu coração não ia aguentar! Deus! Porque tivera de se apaixonar?!

- Em ti?! Não te entendo. Não gostas de trabalhar connosco? É isso?!
- Não! Adoro estar aqui com vocês, mas não posso ficar.
- Porque não!? Acabaste de comprar casa e infelizmente não tens mais ninguém. Vais ser mãe. Acho que o mais sensato é ficares perto dos amigos, de quem te pode auxiliar. Sem falar no pai da criança. Harry será uma ajuda preciosa quando esse bebé nascer.
- Não posso. Não entendes?! - Caterine sentiu que ia desabar - Não agora que tu e Nathan... Que vocês... Se vocês ainda...

Caterine não encontrava palavras para descrever o que sentia. Ao olhar para Jess a visão ficou turva pelas lágrimas e abafou um soluço.

- Que nós... - Jess aproximou-se dela - O que me estás a esconder? Sabes que podes contar comigo.
- Eu sei. Não é isso.
- Então porque queres ir? Se tens medo que Harry não cumpra os seus deveres de pai...
- Não o posso ver todos os dias. - As lágrimas escorriam pelo rosto de Caterine - Não posso.
- Não podes... - Jess olhou-a fixamente - Deus! Como não percebi?!  Estás apaixonada pelo meu irmão!
- Sim... - As lágrimas aumentaram.
- Se o amas porque não falas com ele?! Porque não tentam...
- Não! Nunca vou esquecer que me usou. - A tristeza que Caterine sentia foi substituída por uma raiva mal contida - Cada vez que o visse ia recordar o que vivi com ele e a forma como me usou, como me mentiu.
- Ele não te mentiu!
- Não?! Como chamas ao que ele fez?!
- Sim, houve alguma confusão, mas mentira?! Não me parece.
- É igual a Barry. Pensou apenas nele e usou-me para chegar a ti.
- Não! Ele não sabia que éramos amigas.
- Por favor Jess! - Caterine interrompeu-a sarcástica  - Ele falava contigo todos os dias! EU falei-lhe de ti quando o convidei para o jantar do teu aniversário! Inclusive disse o teu nome! Queres fazer-me acreditar que não sabia?!
- Desculpa mas não posso acreditar nisso. Ele não te faria isso. Ele sempre foi justo!
- Justo?! Estás a falar do homem que se afastou porque não aceita que gostes de outra mulher?! O homem que não te telefonou nem no dia do funeral dos teus pais?! Onde está a justiça nisso tudo?!
- Ele sentiu-se magoado. Um pouco egoísta da parte dele é certo, mas entendo que não seja fácil aceitar.
- Se gosta de ti devia respeitar a tua decisão, não julgar-te! E muito menos castigar-te afastando-se.
- Precisou de tempo para aceitar. Como foi que disseste na altura?! Ah, sim. Foi algo do género "Não importa o tempo que levou, o que importa é que está aqui e quer conhecer Lori"
- Nessa altura não sabia do que ele é capaz!
- Não te vou convencer do contrário pois não?! Não neste momento! Estás apaixonada. Apaixonada e magoada.
- Acho que é melhor para todos eu vender a minha parte da sociedade. Sei que esperavas que Lori voltasse e retomasse a sociedade, mas não sei se consigo aguentar.
- E eu acho que queres fugir.
- Para tudo há uma primeira vez.
- Neste momento não podemos comprar a tua parte. Ao menos vais dar-me tempo para encontrar alguém?
- Quer dizer que aceitas a venda?
- Se é isso que queres.
- Quanto tempo?
- Um, talvez dois meses.
- Tanto tempo?!
- Dizes isso por Harry?!  - Jess sorriu ao ver a cara dela - Tem uma viagem programada amanhã bem cedo por causa de um novo cliente, sabe Deus onde, e não sabe quando terminam as negociações.
- Dois meses... Não mais que isso.
- Perfeito. Vou falar com Lori a respeito.
- Jess? - Caterine chamou-a quando esta se afastou. - Posso perguntar uma coisa?
- Diz.
- Nathan é mesmo o nome dele ou isso também é...
- Como te disse anteriormente, ele não te mentiu. É esse o nome dele, pelo menos um deles.
- Entendo...
- Entendes?!

Por momentos pareceu-lhe que Jess ia dizer mais alguma coisa. Mas Jess sorriu e afastou-se deixando-a apreensiva. Conhecia Jess demasiado bem, esta não iria deixar o assunto tão facilmente. Ela arranjaria forma de voltar a falar em Nathan, tentar que se reencontrassem. Felizmente a viagem dele dava-lhe alguma tranquilidade.


Caterine olhou o monitor e respirou fundo ao introduzir mais um nome. Sentia-se exausta, e mais sensível que o normal. Chorava por qualquer demonstração de carinho o pela falta dela. Mas segundo o seu obstetra era perfeitamente normal pois o seu corpo estava a sofrer imensas transformações.
Durante as noites chorava até adormecer sentindo falta de Nathan o que a levava a sentir raiva de si própria por não conseguir esquecê-lo. Durante o dia as coisas eram mais simples, o ritmo do trabalho não lhe deixava muito tempo livre para pensar nele e tal como Jess prometera, não o voltara a ver.

 Quase a sair para mais uma ida ao cinema com Jess e Lori, Caterine olhou o seu roupeiro que, devido ao crescimento da barriga, lhe parecia mais parco que o costume. Acabou por vestir umas leggins cinzentas e uma camisola branca. Gostava de sair com elas, era bom poder descontrair, só esperava não começar a chorar como quando foram ver Hachiko. Meia hora depois do filme terminar ela ainda chorava. Aliás ela chorava em todas as sessões a que assistiam.
Embora se sentisse esgotada, queria aproveitar todos os momentos que pudesse na companhia delas, era o único momento em que não sentia o peso da solidão, essa, estava à sua espera quando regressava a casa para se apoderar dela. Nesses momentos pensava que era melhor telefonar a Nathan, contar-lhe sobre a gravidez, nunca iria conseguir criar o seu filho sozinha. Mas depois olhava para a fotografia da sua mãe e percebia que sim, que seria capaz. A sua mãe tivera dificuldades maiores que ela e conseguira. Porque não conseguiria ela?!

Faltavam poucos dias para terminar os dois meses e Jess não tinha encontrado um comprador. O sentimento de alegria que sentiu ao saber isso, confirmou-lhe que a sua partida, embora forçada, lhe seria bastante penosa. Pensar que iria deixar Jess e Lori era suficiente para ficar com lágrimas nos olhos, mas pensar que não voltaria a ver Nathan levava-a ao choro compulsivo.

Muitas vezes acordava arrependida por lhe fazer acreditar que já não estava grávida e agarrava o telemóvel para lhe dizer a verdade, na maioria da vezes desligava assim que terminava de marcar o número, mas algumas vezes teve coragem de completar a chamada, e nessas ele não atendeu.
Convenceu-se que apenas lhe restava resignar-se e aceitar as consequências das suas acções.
Mas a cada dia que passava tornava-se mais difícil esquecer que Nathan era o pai do seu filho e que merecia saber.


- Caterine?!
- Sim?!

 Caterine voltou-se e a sua camisola ficou presa na gaveta deixando em evidencia a barriga que começava a tomar forma.

- Não tarda terás de começar a vestir roupa apropriada.
- Sim. - Caterine acariciou a barriga - Por enquanto ainda vou vestir as camisolas.
- Vi umas calças lindíssimas.  Podemos... - Jess calou-se ao ouvir o telemóvel - Harry?! Sim, não tem problema.

Caterine olhou para Jess enquanto esta guardava o telemóvel no bolso.

- Algum problema?!
- Não. Harry teve um imprevisto e não vai regressar tão cedo.
- Oh...
- Bem, vamos ver as calças?
- Sim.



Como sempre, Caterine esperava dentro do carro que Claire saísse da escola. Ao ouvir a campainha da escola saiu do carro esperando ver Claire saltitar por entre as demais crianças. Mas desta vez não havia saltinhos nem sorrisos. O rosto de Claire estava triste! Que teria acontecido?! Correu na direcção dela e abraçou-a.

- Que aconteceu linda?
- Eu não tenho pai?
- Pai?!
- A professora disse para pintarmos o nosso pai. Eu disse que não podia pintar porque não tenho e todos se riram de mim. Onde está o meu pai? Ele não gosta de mim? Foi por isso que ele nos deixou?

A dor espelhada nos olhos de Claire parecia uma faca que trespassava o coração dela. A dor era tão forte que Caterine acordou naquele instante e levou uma mão à barriga.
Antes que se arrependesse, agarrou o telemóvel e, enquanto as lágrimas molhavam a camisa de dormir, escreveu uma mensagem.
" Precisamos falar. Existem coisas que precisas saber"


Sentindo as lágrimas aumentarem atirou com o telemóvel para a almofada e recostou-se olhando o tecto.
Por muito que isso a magoasse não ia permitir que o seu filho viesse ao mundo sem o conhecimento do pai.
Adormeceu esperando a resposta que apenas chegou quando estava a tomar duche.
As pernas dobraram-se ao ler a mensagem e sentou-se na cama olhando o ecrã do telemóvel.
" Dadas as circunstâncias não temos nada a falar"

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