sexta-feira, 9 de março de 2018

O CONTRATO 9ª PARTE



Bella olhou para o avião à sua frente e depois para ele.

- Não disseste que íamos de avião!
- Tens medo?! - Ele olhou para ela com ar divertido.
- Claro que não! Mas podias ter mencionado algo!
- Não vamos discutir por isso! - Marc puxou-a e beijou-a brevemente.
- Principalmente porque não resolve nada. Ás vezes pergunto-me se o fazes conscientemente.
- O quê?
- Decidires tudo sozinho. Mesmo quando isso envolve terceiros!
- E isso aborrece-te?
- Imenso! Mas enfim! - Bella apertou o cinto do casaco e respirou fundo - Onde vamos?
- A França. Murat. Conheces?
- Não.
- Vais gostar da cidade.
- Uma cidade... - Bella não gostava de cidades, o barulho, a enorme agitação, a confusão no geral.
- Não faças essa cara. - Marc sorriu - Se não gostares voltamos no primeiro voo que houver disponível.


Entre as mais variadas conversas debateram a abertura da porta na casa de Bella e ela perdera-se de tal forma nos prós e contras que quando percebeu o avião iniciava a descida no aeroporto. Marc recolheu as bagagens e pouco depois entravam no carro que ele tinha alugado para prosseguirem viagem.
Bella olhou para a paisagem, era lindíssima, muito diferente da paisagem do seu país. As diferenças evidenciaram o facto de estar longe de casa. Ao tomar consciência da distância começou a sentir-se um pouco apreensiva quanto à viagem. Deixara a sua casa, ainda que temporariamente, apenas porque ele lho pedira e estava num país desconhecido com um homem que mal conhecia.

- Marc...
- Sim?! - Ele olhou-a brevemente.
- Se quiser posso regressar ainda esta noite?
- Ainda não chegámos e já estás arrependida?!
- Não é isso... - Bella não queria ofendê-lo, não quando parecia terem encontrado uma espécie de entendimento. - Não conheço ninguém e...
-  Vou estar sempre a teu lado. Prometo.

Algo no sorriso dele transmitiu-lhe confiança, isso e a tonalidade com que o por-do-sol coloria a paisagem, ajudou-a a esquecer a  apreensão que sentia.
Algum tempo depois entraram em Murat. Se esperava ver enormes edifícios cheios de centros comerciais, bastou um olhar mais atento para perceber que estava enganada. Murat não era como ela tinha imaginado. Era uma cidade bastante tranquila, com casas de tectos em pedra e construídas com rochas vulcânicas.
Ao perceber que ela estava encantada com tudo o que via, Marc parou o carro e começaram a percorrer as ruas, em algumas delas ainda se podia ver restos de neve. As pessoas pareciam afáveis e a julgar os olhares que lhe eram dirigidos, percebeu que não recebiam muitos turistas.

- Estava com medo que pedisses para regressar, mas estou a ver que gostaste.
- É linda! - Bella escorregou num pouco de neve e ele segurou-a. Aquela situação recordou-lhe quando ficaram na pousada. Naquela altura tinha ido para cuidar dos sobrinhos dele, mas que estava a fazer naquele pequena mas encantadora cidade?! - Que estou aqui a fazer?!
- E se te disser que nada?!
- Como assim, nada!?
- Esquece o que disse.
- Não posso! - Bella olhou-o fixamente - Não sei o que te levou a exigires a minha presença mas se isto é alguma forma...
- Confia em mim. - Marc interrompeu-a e segurando a mão dela recomeçou a caminhar.
- Não é uma questão de confiar!
- Isso quer dizer que confias em mim ou que não confias?!
- Não desvies a conversa! - Bella puxou a mão e voltou a escorregar. E inevitavelmente voltou a cair nos braços dele.
- Não o estou a fazer. - Marc olhou para os lábios dela e depois voltou a fixar o olhar - Acalma-te, não convém que te irrites.
- Não convém?!
- As pessoas podem ficar com uma ideia errada da situação.
- Pois não estou nada preocupada com isso!
- Acredito que não. - Marc pareceu momentaneamente triste - Chegámos.

Bella olhou para a casa que tinha à frente. Uma enorme vivenda, toda ela em pedra, erguia-se diante dos seus olhos. As janelas pareciam enormes olhos espiando quem passava por ali.

- Quem vive...

Ela não teve tempo de continuar a pergunta, naquele momento a porta abriu-se e um homem de aspecto severo apareceu no umbral.

- Boa noite menino... - O homem fez uma vênia na direcção dela. - Menina.
- Boa noite. - Bella olhava para o homem como se visse um fantasma.
- Boa noite Antunes.
- A viagem foi agradável?
- Sim, foi óptima.
- Fico feliz em ouvi-lo.
- Obrigada Antunes. - Marc deu-lhe o casaco - A minha mãe?
- Madame está na salinha.
- Obrigada. - Marc voltou-se para ela - Vamos?
- Ele fala português?! - Bella sussurrou junto ao ombro dele.
- Sim.
- E a tua mãe vive aqui?!
- Sim.

Bella olhava encantada para as enormes molduras com as mais variadas pinturas, algumas delas pareciam-lhe retratos pintados à mão já muito antigos. Ela parou em frente a uma moldura onde duas mulheres, com uns penteados austeros, exibiam vestidos compridos. Nesse instante Marc colocou a mão nas costas dela e abrindo uma porta fê-la entrar.

- Podemos?!
- Marc!!

Uma mulher de estatura média com cabelo curto e extremamente magra, olhava para eles com um enorme sorriso.

- Mãe! - Marc aproximou-se e beijou as faces da mulher - Como te sentes?!
- Pensei que chegasses amanhã com a tua irmã.
- Resolvi fazer-te uma surpresa.
- E conseguiste! - A mulher fixou o olhar em Bella - Oh... Desculpa. Deves ser Bella.
- Sim. - Bella sorriu perguntando-se porque aquela mulher sabia o nome dela - Prazer em conhecê-la.
- O prazer é todo meu. - A mulher sorriu e depois de lhe indicar o sofá olhou para Marc - Continuas a fazer tudo da forma que queres!
- Não é a única... - Bella baixou a cabeça ao notar que olhavam para ela. Ele com olhar exasperado e a mãe dele com olhar divertido.
- Agora tenho de mandar Antunes preparar tudo à pressa. Os quartos e o jantar!
- Tens sempre tudo nas mais perfeitas condições. - Marc beijou a face da mãe - E além disso vamos jantar fora.
- Vão vocês.
- Tens de sair de casa.
- Vou todos os dias ao jardim!
- Isso não é sair!
- Não?! E eu pensei que sair era tirar qualquer coisa do lugar habitual. Como saio de casa pensei que estava a sair!
- Mas precisas conviver!
- Falo todos os dias com Antunes.
- Refiro-me a conviver com os teus amigos.
- Antunes é um dos meus melhores amigos!
- Desisto! Jantamos em casa! - Marc olhou para Bella - Vou apanhar as malas.

Quando Marc saiu Bella sentiu-se um pouco abandonada e manteve o olhar na porta mesmo depois de ele a ter fechado. A presença dele dava-lhe alguma segurança.

- Uma criança crescida! Desde que me lembro que dá ordens a todos! E pelo que vi tu não és excepção.
- Peço desculpa. Não pretendia ser mal educada ou intrometida.
- Porque achas pensaria isso?!
- Você é a mãe dele e...
- Michele, sinto-me ainda mais velha quando me tratam com formalidade. E sei reconhecer os defeitos dos meus filhos. Acho que qualquer mãe deve saber. - Michele acendeu um cigarro e ofereceu-lhe - Um mau costume eu sei... mas todos temos de morrer de algo.
- Mas quanto mais tarde melhor.
- Tudo depende do ponto de vista. - Uma sombra cruzou o olhar dela - Mas esquece os meus vícios e diz-me... Vicência. Como está?

Bella olhou para ela sem entender e depois recordou que Michele estava a falar da esposa do sr Fernando. Esta tinha falecido repentinamente à três anos apanhando todos se surpresa.

- Faleceu à três anos.
- Faleceu?! Como a vida é injusta... E Luísa?!
- Luísa está muito bem. Até à pouco tempo era presidente da junta e diretora...

Michele fez perguntas sobre todos os que andaram a estudar com ela e que, assim como ela, frequentavam as festas nos arredores de Chaves.
Quando Marc chegou elas ainda recordavam esses tempos e durante o jantar, que Antunes improvisou, a conversa passou pelos tempos em que Michele morou em Portugal.
Bella ficou a saber que Michele era neta de portugueses e que o pai, embora tivesse nascido em França acabou por se apaixonar por uma portuguesa durante umas férias mais prolongadas no solar que fora comprado para terem um local fixo sempre que pretendessem ir a Portugal.
Falou dos amores de adolescente e dos tempos em que estudou em Chaves.
Ao ouvir os relatos de Michele sobre esses tempos percebeu que as gentes da aldeia tinham mudado muito pouco. Elas continuavam a gostar de ajudar o próximo tanto ou mais como gostavam de comentar a vida alheia.
A noite deu lugar à madrugada e ela sentia alguma relutância em deitar-se.

Quando acordou precisou de alguns minutos para perceber onde estava. Ao recordar Michele sorriu, gostava dela. O cheiro a café chegou até ela abrindo-lhe o apetite, vestiu o roupão e saiu da cama. Seguiu o cheiro pelas salas vazias mas chegou a uma cozinha igualmente vazia. A cozinha estava resplandecente. As bancadas de mármore branco contrastavam com a escura madeira dos móveis e dos electrodomésticos. Passou a mão pelo frio mármore e dirigiu-se à janela. O jardim, envolto num espesso nevoeiro, parecia saído de um conto de fadas.

- Não consegues dormir?!

Bella assustou-se ao ouvir a voz de Marc e voltou-se rapidamente. Com o cabelo húmido, Marc parecia-lhe ainda mais sensual e o seu corpo respondeu com um desejo crescente.

- Dormi lindamente.
- Pois eu dormi muito mal  - Marc aproximou-se e beijou-lhe os lábios levemente.
- Sim?! Porquê?!
- Senti a tua falta. - Agarrou-a pela cintura e puxou-a para junto de si.
- Pára... alguém pode entrar.

Marc olhou-a fixamente e depois afastou-se um pouco. O que decepcionou Bella.

- Se dormiste bem, coisa que não acredito, que fazes levantada tão cedo?
- Cheirou-me a café.
- O cheiro vem da pastelaria que fica aqui perto.
- Achas que consigo fazer-me entender para conseguir um café?
- Tenho a certeza. Afinal metade das pessoas daqui são descendentes de portugueses.
- São?!
- Ficarias admirada com a quantidade de emigrantes que residem em França. Mas não vais sozinha, prometi ficar a teu lado e é isso que vou fazer.

Bella olhou-o nos olhos e teve de se controlar para não lhe perguntar porque não cumprira a promessa durante a noite enquanto sonhava com ele.

- Vou vestir-me.


Depois de um duche rápido Bella vestiu umas calças pretas e uma camisola da mesma cor e apanhou um casaco. Quando chegou ao fundo das escadas Marc já esperava por ela. Depois de beberem café passearam pela cidade. Algumas pessoas aproximavam-se deles cumprimentando Marc e sorrindo para ela.
Quando regressavam a casa um carro aproximou-se deles e duas crianças correram ao seu encontro.

- Tio!
- Niños! - Carmen saiu do carro no segundo seguinte - Não me dão descanso! Preciso mesmo de férias! E de um café bem forte!
- Aborrecendo a mãe a esta hora?! - Marc agarrou os sobrinhos ao colo - Acho que é falta de açúcar. Vamos comer um bolo bem grande.
- Boa!!!
- Ele sabe que o açúcar aumenta o nível de excitação? - Bella sorriu para Carmen e ajudou-a a tirar Bea do carro.
- Se não sabe tem todo o fim de semana para descobrir. - Carmen sorriu e regressaram à pastelaria.

Uma hora mais tarde entravam em casa com as crianças gritando pela avó.

- Mas que invasão é esta?! - Michele abraçava os netos enquanto os beijava repetidamente.
- Como te sentes?
- Bem. - Michele soltou os netos e estes desapareceram imediatamente.
- Que bom! - Carmen beijou a mãe - Assim podemos sair e passear.
- Mas estaria melhor se não insistissem em tirar-me de casa!
- Apenas queremos que saía um pouco. Que conheça pessoas novas!
- Ainda agora conheci Bella!
- Não vamos começar! - Marc olhou pela janela - Mas que...

Carmen olhou para a janela e depois de dar Bea a Bella, saiu a correr atrás de Marc. Bella olhou pela janela e viu os gémeos tentando subir a uma árvore.

- Tanto alarido por uma simples subida.
- Podem magoar-se.
- Nunca subiste a uma árvore?
- Subi imensas!- Bella sorriu ao recordar esse tempo mas ao recordar como o pai ficava preocupado o sorriso desapareceu.
- Ainda bem! Tenho de recordar àqueles dois a quantidade de vezes que subiram a uma árvore.
- Não se devem ter esquecido.
- Claro que não! Apenas fingem que nunca o fizeram. - Michele olhou aproximou-se da janela - Dará um bom pai. Não concordas?

Bella olhou para o jardim, Marc corria atrás de Pablo que, enquanto corria, olhava para trás para verificar se o tio estava longe dele.

- Sim... Acho que sim.
- Marc adora os sobrinhos. - Michele olhou para ela e depois para a neta - Nunca pensaste em casar e ter filhos?

Bella olhou para a criança nos seus braços. Era tão pequenina, tão vulnerável... Sim, sempre desejara ter filhos, pelo menos dois. Mas esse sonho já não fazia parte dos seus planos. Bea sorriu para ela e ela sentiu um aperto no coração. Nunca teria filhos!

- Não penso nisso.
- Não?! Os teus olhos dizem o oposto. - Michele falou carinhosamente - Não podes ter filhos? Desculpa! Não tenho o direito de perguntar isso.
- Posso. - Bella forçou um sorriso - Pelo menos acho que sim.
- Então porque dizes isso?
- Houve tempos que o desejei mas depois de certas situações resolvi esquecer.
- Já percebi. Magoaram-te.
- Um pouco.
- Um dia vais conhecer o homem certo e aí vais voltar a pensar nisso.
- E isso existe?! O homem certo!
- Certo não quer dizer perfeito. O homem que as novelas nos tentam vender não existe! Mas existe o homem que faz tudo por nós, o que faz tudo para nos ver felizes. E existe o amor e esse resolve tudo. O dia que encontrares o homem que te fará esquecer os problemas com apenas um sorriso, cujo abraço te pareça mais seguro que uma casa, que te faça sorrir ao ouvires a sua voz, podes ter a certeza que estás perante o teu homem certo!
- Foi isso que sentiu com o seu marido?
- Algo parecido. Anda comigo, quero mostrar-te uma coisa. .

 Michele começou a caminhar na direcção da porta e ela seguiu-a levando Bea nos braços. Entraram numa sala contígua à sala onde estavam. Michele agarrou uma moldura e acariciou-a sorrindo antes de lha entregar. Não podia negar as semelhanças entre Marc e aquele homem. Marc talvez tivesse o maxilar mais forte e fosse mais bem constituído.

- O seu marido?!
- Nunca vou esquecer o dia que o vi pela primeira vez. Foi no verão, durante uma festa na aldeia. Ele trabalhava num bar onde fomos beber café. Ele ofereceu os cafés e eu fiquei curiosa quanto ao motivo daquela oferta. Quando lho perguntei ele disse que apenas pretendia chamar a minha atenção. Sorriu e afastou-se. Dias depois, aquele bar era o meu local preferido e quando me perguntou se queria namorar com ele, não precisei de tempo para pensar. Apesar de me irritar imenso, pois era exactamente como Marc, bastou aquela troca de olhares para perceber que era o homem da minha vida. Quando os meus pais me proibiram que o visse, fugi de casa. Não me arrependo de nada, tivemos uma vida repleta de alegrias, com algumas dificuldades é certo, mas com amor superámos todas. Quando ele partiu levou um pedaço de mim. Mas dou graças pelos filhos que me deu - Michele abriu a porta e saíram para o corredor. - Se bem que ficámos aquém dos que pretendíamos. Quando fazíamos planos para o futuro falávamos em ter a casa cheia de crianças... - Michele suspirou - Não estava destinado.
- Agora tem netos e outros virão.
- Outros?! Duvido! Carmen está viúva e ...
- Viúva?! Mas Bea é tão pequena! - Bella aconchegou a menina nos seus braços.
- Carmen estava grávida quando o marido morreu. Foi um momento muito duro.
- Acredito.

Enquanto regressavam à outra sala Bella apenas conseguia pensar naquelas crianças que cresceriam sem um pai. Crianças que nunca teriam um pai presente nas festas da escola, um pai para as levar à piscina ou ao parque.

- Mas tens razão. Outros virão, afinal ainda me falta ver os filhos de...
- Estas crianças! Nós nunca fomos assim! - Carmen apareceu seguida de Marc.
- Aconteceu algo?! - Marc olhou para elas e Bella desviou a vista. - Mãe?!
- Não. Estávamos apenas a... - Michele calou-se ao ver as lágrimas de Bella.
- Peço desculpa. - Bella sentia as lágrimas escorreram sem as conseguir controlar. Precisava sair dali. Respirou fundo e forçou um sorriso antes de olhar para Carmen.
- O que se passou aqui?!

Bella ainda ouviu a pergunta de Marc mas a resposta essa ficou do outro lado da porta. Refugiou-se no seu quarto e sentou-se junto à janela deixando as lágrimas correrem livremente. Que se passava com ela?! Porque a magoava tanto olhar para a pequena Bea?! Ou seria da possibilidade de não ter filhos?! E porque não poderia?! Podia engravidar! O facto de não estar casada não a impedia de tal! E se não pudesse ter filhos próprios sempre podia adoptar! Existia toda uma imensidão de alternativas, bastava pesquisar um pouco.

- Bella! - A voz de Marc soou através da porta.
- Já desço.
- Estás bem?
- Sim. Apenas preciso de estar sozinha.
- E eu prefiro ver-te. Abre.
- Marc... por favor. Agora não.
- Agora sim! Se não abrires a porta vou buscar a outra chave e entro na mesma.

Bella olhou para a porta indecisa quanto ao que fazer. Sabia que ele faria o que dizia. Era obstinado o suficiente para o fazer. E se não fosse apanhar a chave ia continuar a bater na porta chamando a atenção de todos e não estava na casa dela. E sem pensar mais destrancou a porta e voltou para a cadeira junto à janela.

- Que aconteceu?
- Nada. Falávamos de crianças, da família e eu recordei o meu pai.
- Foi só isso?!
- Sim. Sinto saudades dele. - Bella olhou para ele - Deves saber o que é.
- Sei...

 Marc segurou-lhe uma mão e puxou-a de forma a que ela se levantasse. Olhou-a nos olhos e depois de lhe beijar os cabelos envolveu-a num abraço.
O calor do corpo dele de alguma forma transmitia-lhe a paz que precisava. Reconheceu que precisava de um abraço, do abraço dele. Deixou-se ficar ali sentindo o conforto que o corpo dele lhe transmitia até que o seu corpo começou a pensar noutras formas de conforto.

- Devíamos descer.
- Achas?
- Não só acho, como tenho a certeza.
- Pois eu acho que devíamos ficar - Marc olhou-a nos olhos e beijou-lhe os lábios levemente.
- Marc... Não... - Bella fechou os olhos quando ele lhe beijou o pescoço.
- Não?! - Marc falava entre beijos que distribuía pelo pescoço dela - Porquê?!
- Porque quero estar contigo.
- E não podemos?!
- Estamos na casa da tua mãe!
- E preferias que ela não soubesse que dormimos juntos...
- Sim.

Marc olhou-a fixamente. Pareceu-lhe ver tristeza no seu olhar mas ele sorriu levemente e envolveu-a num abraço ainda mais apertado e sussurrou.

- Faltam apenas dois dias. Dois dias, depois disso és minha.


Durante o resto do dia Bella conversou com Michele e evitou Marc o máximo que conseguiu pois a proximidade dele, além de a fazer pensar em coisas menos próprias, levava-a a desejar ser mãe e isso era mais que suficiente para chorar.
A noite, em vez de lhe dar o descanso que precisava, apenas lhe deu sonhos eróticos o que a obrigou a sair da cama acalorada pelo desejo.  Desceu cedo pensando encontrar todos a dormir mas Carmen já se encontrava na cozinha a preparar o pequeno almoço de Bea.

- Bom dia.
- Bom dia Bella. Espero que o choro dela não te tenha acordado.
- Não. Estou sem sono.
- Eu mal dormi e temia que acordasse a casa inteira. Não sei o que tem!
- Talvez estranhe a casa. - Bella sorriu a ver Carmen abrir a boca de cansaço - Queres ajuda?
- Não te importas? - Carmen sorriu agradecida.
- Claro que não. Eu cuido dela. Aproveita para descansar um pouco mais.
- Bem preciso.

Bella sentou a pequena Bea na cadeirinha e começou a cantar-lhe enquanto lhe dava de comer. Pouco depois Bea começou a rir e a acenar o que originou uma chuva de papa pela cozinha.

- Canto assim tão mal?! - Bella limpou o rosto da pequena.
- Cantas lindamente.

Bella voltou-se e viu Marc parado na porta a sorrir para ela.

- Estás aí à muito?
- Desde que a galinha pintadinha saiu do ninho.
- Podias ter dito algo.
- E perder este concerto?! - Marc sentou-se junto à sobrinha e acariciou-lhe a bochecha - Então és tu a causa deste repentino desassossego.
- A tua irmã não dormiu nada.
- E a julgar pela tua vestimenta tu também não.
- Que tem a minha roupa?!
- Não estás em pijama. O que indica que acordaste à algum tempo. O que por sua vez me diz que não dormiste bem. - Marc segurou a mão dela e atraindo-a para si beijou-a - Já que não queres dormir comigo na próxima visita vou pedir a Antunes que coloque um sofá no teu quarto.
- Próxima?! - Bella sentiu o corpo estremecer de desejo - Quem disse que haverá uma próxima?

Marc perdeu o sorriso de repente e depois de olhar para a sobrinha dirigiu-se para a porta, onde parou sem se voltar.

- Os gémeos fazem anos para a semana. A minha irmã comentou que gostava que fosses.
- Se precisarem de mim irei encantada.
- Não estás a entender. Vais como convidada, não para cuidar deles.
- Nesse caso acho melhor não. É uma festa familiar e eu...
- Com quiseres. Mas serás tu a comunicar essa tua decisão.

Bella ficou a olhar para a porta até que Bea chamou a sua atenção. Que tinha acontecido ali?! Ela sabia perfeitamente que quando ele a beijava perdia a noção do correto, apenas pensava em estar com ele, mas dissera algo que não devia?!

- Que tem Marc?! - Michele entrou nesse instante na cozinha e olhou para a confusão gerada pela neta. - Como pode um ser tão pequenino ter uns pulmões tão fortes?!
- Acordou-a?
- Não. - Michele beijou a bochecha da neta - Durmo muito pouco. Marc passou por mim aborrecido, sabes que aconteceu?
- Acho que foi porque lhe disse que não ia à festa de aniversário dos gémeos.
- E porque não vais?! Tens outros compromissos?
- Não... - Bella começou a recolher a tigela da papa de Bea - Apenas não quero intrometer-me numa festa familiar.
- Não digas disparates! Caso não tenhas reparado todos gostamos muito de ti. Principalmente os gémeos. E olha que eles não se deixam conquistar facilmente!
- Eu também gosto deles.
- Então não se fala mais nisso. Vais e pronto.

Aquela frase recordou-lhe outra conversa e sorriu. À algum tempo Marc usara aquela mesma expressão.

- Muito bem. Vou. Como recusar um convite tão amoroso como esse?!

Michele olhou para ela e depois começou a rir.

- Desculpa...  Já estou a falar como Marc.
- Já está sim senhora.
- Mas se consegui convencer-te não me arrependo. - Michele olhou-a seriamente - Porque vais... Não o disseste apenas para calares esta velha tonta.
- Em primeiro lugar não é velha nem tonta e depois, nunca digo que faço algo sem ser com essa intenção.
- Obrigada... Obrigada.

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