Acordou com o sol a bater-lhe no rosto sentindo uma tranquilidade que há muito não sentia. O silêncio que reinava no quarto dizia-lhe que Steven já tinha descido. Sorriu ao recordar a noite anterior e sentiu-se envergonhada por o temer. A conversa entre eles fluíra de tal forma que só perceberam o adiantado da noite quando a lareira começou a enfraquecer. Steven fez ao careta ao ver que o cesto da lenha estava vazio. Segundo ele sinal que estava na hora de dormir. Lembrava de ter sorrido e aceitado a mão dele para se levantar do tapete pois o sofá, devido ao uso, era demasiado incomodo e eles acabaram por se sentar no chão.
Um som que ela não conseguiu distinguir levou-a a ir até à janela. Steven tentava empurrar um velho carro de mão cuja roda pedia a gritos um pneu novo. Entre o chão húmido pelo orvalho e a falta de roda a cena tinha algo de cómico.
Decidida a desfrutar daquela luta desigual deixou-se ficar à janela mas pouco depois Steven regressou a casa dando o "espetáculo" por terminado. Nesse instante um pássaro voou junto ao vidro e como que hipnotizada seguiu-o com o olhar até ele desaparecer por entre as árvores. Como gostaria de ser livre como ele...
Temendo chorar ou deixar-se levar por pensamentos negativos vestiu-se e desceu.
Decidida a desfrutar daquela luta desigual deixou-se ficar à janela mas pouco depois Steven regressou a casa dando o "espetáculo" por terminado. Nesse instante um pássaro voou junto ao vidro e como que hipnotizada seguiu-o com o olhar até ele desaparecer por entre as árvores. Como gostaria de ser livre como ele...
Temendo chorar ou deixar-se levar por pensamentos negativos vestiu-se e desceu.
- Droga! Mas como raio funcionas?!
Steven mexia na cafeteira que fazendo um ruído estranho lhe dava uma água "suja" por pó de café.
- Meteste o café no filtro?
- Filtro?! É suposto?
- Deixa que eu faço. - Valerie procurou os filtros sob o olhar atento dele- A minha mãe também fazia café numa máquina destas.
- Então é tradição de família.
- Não sei. Não conheço mais ninguém da família.
- Estranho.
- Porquê?
- Por acaso tu achas normal não conheceres a tua família? - Steven olhou-a uns instantes e depois continuou - Pois... Começo a achar que as minhas conversas com a tua mãe têm duplo sentido.
- Se fossem só as tuas. - Valerie ligou a máquina e olhou para ele - Às vezes também tenho essa sensação. De que não está a dizer exatamente o que quer.
- Ou que esconde algo.
- Isso. - Valerie olhou para o liquido negro que enchia a chaleira e agarrou uma caneca - A minha mãe é uma mulher muito misteriosa. Principalmente no que diz respeito ao seu lado da família. Por exemplo, eu só estive aqui duas ou três vezes.
- Eu passava a vida em casa dos meus avós- Steven agarrou a caneca que ela lhe estendia - Finalmente um café. Vamos aproveitar este sol e tomar o pequeno almoço lá fora?
- Boa ideia.
- Meteste o café no filtro?
- Filtro?! É suposto?
- Deixa que eu faço. - Valerie procurou os filtros sob o olhar atento dele- A minha mãe também fazia café numa máquina destas.
- Então é tradição de família.
- Não sei. Não conheço mais ninguém da família.
- Estranho.
- Porquê?
- Por acaso tu achas normal não conheceres a tua família? - Steven olhou-a uns instantes e depois continuou - Pois... Começo a achar que as minhas conversas com a tua mãe têm duplo sentido.
- Se fossem só as tuas. - Valerie ligou a máquina e olhou para ele - Às vezes também tenho essa sensação. De que não está a dizer exatamente o que quer.
- Ou que esconde algo.
- Isso. - Valerie olhou para o liquido negro que enchia a chaleira e agarrou uma caneca - A minha mãe é uma mulher muito misteriosa. Principalmente no que diz respeito ao seu lado da família. Por exemplo, eu só estive aqui duas ou três vezes.
- Eu passava a vida em casa dos meus avós- Steven agarrou a caneca que ela lhe estendia - Finalmente um café. Vamos aproveitar este sol e tomar o pequeno almoço lá fora?
- Boa ideia.
Sentaram-se nos degraus da varanda e, para sua surpresa não retomaram a conversa, ficaram apenas olhando o jardim que, apesar de limpo, precisava de cuidados específicos. Algum tempo depois o barulho de um carro fê-los levantar acreditando que seria a sua mãe mas, em vez dela, saiu do carro um homem forte que acenou na direção deles.
- Conheces? - Steven olhou para ela e depois para o homem que estava junto ao enorme portão de ferro preto.
- Não...
Institivamente ela segurou a mão dele ao mesmo tempo que caminhavam na direção deste.
- Bom dia. - O homem retirou o gorro - Peço desculpa por vir cedo mas por aqui acordamos primeiro que o sol. - Ele sorriu abertamente para Valerie - A minha mãe não se enganou, a menina é igualzinha à sua avó. - Nesse instante o seu rosto ficou ligeiramente avermelhado - Desculpem os meus modos. Sou Tim, tagarela por natureza, a minha mãe era governanta no solar e pediu para os receber. Peço desculpa por não estarmos aqui quando chegaram mas já era tarde para o nosso filho.
- Não se preocupe. Só temos a agradecer a vossa disponibilidade - Steven abriu o portão . - Não sabia que ainda havia trabalhadores no solar.
- Não...
Institivamente ela segurou a mão dele ao mesmo tempo que caminhavam na direção deste.
- Bom dia. - O homem retirou o gorro - Peço desculpa por vir cedo mas por aqui acordamos primeiro que o sol. - Ele sorriu abertamente para Valerie - A minha mãe não se enganou, a menina é igualzinha à sua avó. - Nesse instante o seu rosto ficou ligeiramente avermelhado - Desculpem os meus modos. Sou Tim, tagarela por natureza, a minha mãe era governanta no solar e pediu para os receber. Peço desculpa por não estarmos aqui quando chegaram mas já era tarde para o nosso filho.
- Não se preocupe. Só temos a agradecer a vossa disponibilidade - Steven abriu o portão . - Não sabia que ainda havia trabalhadores no solar.
- Na realidade não somos mas sabe como são as localidades pequenas. O sentido do dever fala mais alto. - Tim colocou o gorro novamente - Espero que a casa estivesse minimamente confortável. E que tenham gostado do bolo. É o favorito do meu filho.
- Estava muito bom. - Valerie olhou para o carro tentando perceber se estava sozinho - Não quer entrar?
- A sua mãe já chegou?
- Ainda não.
- Nesse caso agradeço mas vou começar por ver o que se pode fazer no barracão e nos estábulos.
- Não entendi. - Valerie olhou para Steven que se mantinha em silêncio - Vai ficar aqui?
- A sua mãe pediu ajuda à minha mãe que por sua vez me pediu a mim. E como sabe nunca se nega um pedido a uma mãe. Não precisa de me acompanhar, conheço o solar como a palma da minha mão.
Sem aguardar resposta Tim entrou no carro e fê-lo atravessar o enorme portão. Para surpresa deles, após retirar um bloco e uma caneta do carro, encaminhou-se para as traseiras do solar desaparecendo entre os enormes arbustos.
- Todo um personagem.
- Mesmo.
Valerie manteve o olhar no caminho que Tim tomara sem qualquer cerimónia.
- A minha mãe não te falou nele?
- Não. Imagino que, como não nos recebeu ontem, se tenha sentido na obrigação de vir.
- Talvez.
- Acho melhor seguir o exemplo de Tim e iniciar a vistoria antes que a tua mãe chegue.
- Até porque em algum momento teremos que o fazer.
Mas, ao invés de seguir Steven até casa, ela ficou a admirar a enorme casa que se erguia diante dela.
A imponente construção estava praticamente coberta pela hera que apenas deixava ver uma ou outra pedra da construção e as janelas de madeira. Ao aproximar-se da entrada fechou os olhos e recordou a primeira vez que entrou ali.
- Estava muito bom. - Valerie olhou para o carro tentando perceber se estava sozinho - Não quer entrar?
- A sua mãe já chegou?
- Ainda não.
- Nesse caso agradeço mas vou começar por ver o que se pode fazer no barracão e nos estábulos.
- Não entendi. - Valerie olhou para Steven que se mantinha em silêncio - Vai ficar aqui?
- A sua mãe pediu ajuda à minha mãe que por sua vez me pediu a mim. E como sabe nunca se nega um pedido a uma mãe. Não precisa de me acompanhar, conheço o solar como a palma da minha mão.
Sem aguardar resposta Tim entrou no carro e fê-lo atravessar o enorme portão. Para surpresa deles, após retirar um bloco e uma caneta do carro, encaminhou-se para as traseiras do solar desaparecendo entre os enormes arbustos.
- Todo um personagem.
- Mesmo.
Valerie manteve o olhar no caminho que Tim tomara sem qualquer cerimónia.
- A minha mãe não te falou nele?
- Não. Imagino que, como não nos recebeu ontem, se tenha sentido na obrigação de vir.
- Talvez.
- Acho melhor seguir o exemplo de Tim e iniciar a vistoria antes que a tua mãe chegue.
- Até porque em algum momento teremos que o fazer.
Mas, ao invés de seguir Steven até casa, ela ficou a admirar a enorme casa que se erguia diante dela.
A imponente construção estava praticamente coberta pela hera que apenas deixava ver uma ou outra pedra da construção e as janelas de madeira. Ao aproximar-se da entrada fechou os olhos e recordou a primeira vez que entrou ali.
Iria entrar esse ano para a escola e a sua mãe deixara-a no jardim aguardando. Recordava que estava assustada pelo tamanho da casa e por esta não ser pintada como a sua mas depressa esqueceu o medo quando um cachorro correu na sua direção para lhe lamber as mãos. Sorriu ao recordar o velho pastor alemão.
- Apesar de teres vindo poucas vezes parece que foste feliz aqui.
- Não me recordo muito bem mas acho que sim.
Valerie não pode deixar de notar no ar descontraído dele. Sentiu-se algo idiota por se ter preocupado demasiado com aquele fim-de-semana.
- Não me recordo muito bem mas acho que sim.
Valerie não pode deixar de notar no ar descontraído dele. Sentiu-se algo idiota por se ter preocupado demasiado com aquele fim-de-semana.
- Bom, vamos mas é fazer algo. - Steven arregaçou as mangas.
- Vou abrir as janelas a casa precisa de luz natural.
- Eu vou verificar as torneiras e as tomadas.
- Vou abrir as janelas a casa precisa de luz natural.
- Eu vou verificar as torneiras e as tomadas.
Após abrir as janelas dirigiu-se à cozinha. Desligou a máquina do café e olhou em redor, a luz do dia revelava toda a grandeza e elegância do espaço. Cada móvel parecia desenhado para facilitar as tarefas ali realizadas. Os armários, de madeira castanha, ocupavam praticamente toda a altura das paredes, as portas tinham uns puxadores de ferro que lhe conferia um ar campestre. No centro uma mesa enorme com duas gavetas e uma base por baixo cheia de cestos de vime. Abriu os armários um a um e ficou admirada com a organização destes. Certamente obra da mulher de Tim. Nem queria imaginar a trabalheira que a pobre mulher tivera. Trabalho em vão pois teriam que retirar tudo e verificar o que ainda se podiam usar, passado tantos anos certamente haveria muita coisa que atualmente não tinha utilidade mas isso competia à sua mãe decidir. Ao abrir a última porta ficou atónita com tanta caneca mas o seu olhar prendeu-se numa em específico. Uma caneca branca com um cavalo em relevo.
Aquela simples peça de loiça fê-la recordar a última vez que ali tinha estado. Tinha onze anos e a visita acontecera durante o verão.
Aquela seria diferente que, contrariamente às anteriores que eram escassas e curtas, aquela seria uma visita mais demorada pois o seu pai estava internado devido a um coice de cavalo e a sua mãe decidiu que o melhor era ficar uns dias com a avó até que o pai estivesse recuperado. Lembrava-se da enorme curiosidade em explorar a mansão e arredores. Cada divisão era uma aventura para ela e quando se juntava à avó as perguntas sucediam umas às outras sem dar descanso á pobre mulher. Apenas quando descobriu a biblioteca foi parca nas perguntas. Nesse dia só lhe ocorreram duas perguntas: São todos seus? E posso ler? A avó mal teve tempo de responder pois saiu disparada em direção á biblioteca e levou três dias a percorrer as estantes. Depois a sua atenção foi captada pelos enormes quadros pintados à mão, que decoravam o corredor do andar de cima onde estavam os quartos. Também eles vitimas da sua curiosidade e quando a avó lhe disse que a maioria eram familiares tivera a sensação que afinal não estava tão sozinha como pensava. Depois desse dia, sempre que saía do quarto ao acordar, percorria o corredor dando os bons dias a todos. Sorriu ao recordar a vénia que fazia ao tetravó que segundo a sua avó era duque...
Aquela seria diferente que, contrariamente às anteriores que eram escassas e curtas, aquela seria uma visita mais demorada pois o seu pai estava internado devido a um coice de cavalo e a sua mãe decidiu que o melhor era ficar uns dias com a avó até que o pai estivesse recuperado. Lembrava-se da enorme curiosidade em explorar a mansão e arredores. Cada divisão era uma aventura para ela e quando se juntava à avó as perguntas sucediam umas às outras sem dar descanso á pobre mulher. Apenas quando descobriu a biblioteca foi parca nas perguntas. Nesse dia só lhe ocorreram duas perguntas: São todos seus? E posso ler? A avó mal teve tempo de responder pois saiu disparada em direção á biblioteca e levou três dias a percorrer as estantes. Depois a sua atenção foi captada pelos enormes quadros pintados à mão, que decoravam o corredor do andar de cima onde estavam os quartos. Também eles vitimas da sua curiosidade e quando a avó lhe disse que a maioria eram familiares tivera a sensação que afinal não estava tão sozinha como pensava. Depois desse dia, sempre que saía do quarto ao acordar, percorria o corredor dando os bons dias a todos. Sorriu ao recordar a vénia que fazia ao tetravó que segundo a sua avó era duque...
- Um milhão pelo motivo desse sorriso.
- Ah?! - Valerie olhou para o marido sem entender.
- Estavas a sorrir e a olhar para o infinito como se estivesses noutro lado.
- Estava a recordar a... - O som do telemóvel encheu o ar e percebeu que Steven estava relutante em atender. - Não vais atender? Pode ser importante.
- Pois...
Valerie seguiu o marido com o olhar enquanto este se afastava ao mesmo tempo que atendia a chamada. Devia ser do escritório, ele não gostava de falar de negócios diante dela. O pouco que sabia era o que ouvia nos jantares de natal e fim de ano da empresa. Steven ficara à frente da empresa de exportações quando o pai dele decidiu aproveitar os anos que lhe restavam a conhecer o mundo. A única coisa que ela sabia concretamente era que o marido era bom no que fazia pois segundo o gerente do banco a conta aumentava substancialmente. Tudo graças ao trabalho e astúcia dele. As exportações tinham aumentado e Steven investiu parte dos rendimentos em imóveis o que aumentou os rendimentos mas também a sua carga laboral. Sabia que ele procurara alguém para o ajudar mas a última vez que o ouvira falar nisso ainda tinha conseguido. Se tivessem um casamento normal podiam falar dessas coisas abertamente.
- Ah?! - Valerie olhou para o marido sem entender.
- Estavas a sorrir e a olhar para o infinito como se estivesses noutro lado.
- Estava a recordar a... - O som do telemóvel encheu o ar e percebeu que Steven estava relutante em atender. - Não vais atender? Pode ser importante.
- Pois...
Valerie seguiu o marido com o olhar enquanto este se afastava ao mesmo tempo que atendia a chamada. Devia ser do escritório, ele não gostava de falar de negócios diante dela. O pouco que sabia era o que ouvia nos jantares de natal e fim de ano da empresa. Steven ficara à frente da empresa de exportações quando o pai dele decidiu aproveitar os anos que lhe restavam a conhecer o mundo. A única coisa que ela sabia concretamente era que o marido era bom no que fazia pois segundo o gerente do banco a conta aumentava substancialmente. Tudo graças ao trabalho e astúcia dele. As exportações tinham aumentado e Steven investiu parte dos rendimentos em imóveis o que aumentou os rendimentos mas também a sua carga laboral. Sabia que ele procurara alguém para o ajudar mas a última vez que o ouvira falar nisso ainda tinha conseguido. Se tivessem um casamento normal podiam falar dessas coisas abertamente.
- Já me tinha esquecido o incómodas que são estas viagens. - Lana colocou uma pequena mala no chão e estendeu os braços na direção da filha - Espero que vocês tenham dormido bem.
- Sim, muito bem. - Valerie depositou um beijo no rosto da mãe e abraçou-a - Porque não veio conosco?
- Para atrapalhar?! - Lana afastou-se da filha e olhou o enorme salão - Steven queria contratar uma empresa para recuperar e limpar a casa mas neguei-me.
- Porquê?! - Valerie olhou a mãe sem saber se estava mais admirada por esta negar a oferta de Steven se por este se ter oferecido.
- Olha... porquê... porque não preciso de esmolas.
- Não era uma esmola. - Steven entrou nesse momento - Mas respeito a sua decisão. - Steven voltou-se para Valerie - Podemos falar em privado?
- Claro.
Valerie segui-o em silêncio até ao quarto ainda meio atónita com a recusa da sua mãe. Sempre dissera que toda a ajuda é bem vinda. Porque se negava a aceitar a ajuda dele?
- Tenho que voltar à cidade. - Steven agarrou a mala e colocou as poucas coisas que tinha trazido.
- Algum problema?
- Nada que não se resolva. - Steven fechou a mala e olhou para ela - Não há necessidade de ires, são coisas da empresa e penso voltar amanhã mesmo.
- Se é isso que queres.
- Desculpa sair assim mas tenho mesmo que ir. A minha ideia, já que a tua mãe recusou a minha ajuda financeira, era ajudar no máximo que pudesse durante o fim de semana, mas não estava a contar com este imprevisto.
- Daí se chamarem de imprevisto.
- Tens razão. - Steven depositou um beijo no rosto dela e desceu.
Por uns instantes ficou ali no meio do quarto pensando no que teria acontecido para ele partir assim e deixá-la ali sozinha. Bom, não estava sozinha, estava com a sua mãe. E ali no meio de nenhures não havia motivos para ele implicar. O som do carro levou-a à janela. Pedira tanto a Deus que ele lhe desse uns minutos de sossego e ali estavam eles. Não uns minutos, porque Deus é generoso deu-lhe um dia inteiro. Então porque sentia aquele aperto no peito e não alivio?
- Não sei que fazer com tanto quarto - Lana entrou nesse instante - Se ao menos tivesse netos
- Ai mãe... - Valerie sorriu para a mãe - Um dia destes.
- Um dia...
O resto do dia foi passado a abrir armários e velhos baús. Um deles, cheio de álbuns, prendeu a sua atenção e só o deixou de lado porque a mãe prometera nessa mesma noite "apresentar" a família.
Havia tanto para fazer no solar, janelas e portas para substituir, o telhado precisava de uma revisão pois, segundo Tim, algumas aves tinham construído lá o ninho desviando algumas telhas. Atoalhados que precisavam de ser lavados, lareiras para limpar, móveis para doar e outros para destruir... a lista parecia não ter fim. Após o jantar foi buscar o baú dos álbuns mas quando regressou á sala a sua mãe adormecera no sofá. A "apresentação" familiar teria que esperar.
- Sim, muito bem. - Valerie depositou um beijo no rosto da mãe e abraçou-a - Porque não veio conosco?
- Para atrapalhar?! - Lana afastou-se da filha e olhou o enorme salão - Steven queria contratar uma empresa para recuperar e limpar a casa mas neguei-me.
- Porquê?! - Valerie olhou a mãe sem saber se estava mais admirada por esta negar a oferta de Steven se por este se ter oferecido.
- Olha... porquê... porque não preciso de esmolas.
- Não era uma esmola. - Steven entrou nesse momento - Mas respeito a sua decisão. - Steven voltou-se para Valerie - Podemos falar em privado?
- Claro.
Valerie segui-o em silêncio até ao quarto ainda meio atónita com a recusa da sua mãe. Sempre dissera que toda a ajuda é bem vinda. Porque se negava a aceitar a ajuda dele?
- Tenho que voltar à cidade. - Steven agarrou a mala e colocou as poucas coisas que tinha trazido.
- Algum problema?
- Nada que não se resolva. - Steven fechou a mala e olhou para ela - Não há necessidade de ires, são coisas da empresa e penso voltar amanhã mesmo.
- Se é isso que queres.
- Desculpa sair assim mas tenho mesmo que ir. A minha ideia, já que a tua mãe recusou a minha ajuda financeira, era ajudar no máximo que pudesse durante o fim de semana, mas não estava a contar com este imprevisto.
- Daí se chamarem de imprevisto.
- Tens razão. - Steven depositou um beijo no rosto dela e desceu.
Por uns instantes ficou ali no meio do quarto pensando no que teria acontecido para ele partir assim e deixá-la ali sozinha. Bom, não estava sozinha, estava com a sua mãe. E ali no meio de nenhures não havia motivos para ele implicar. O som do carro levou-a à janela. Pedira tanto a Deus que ele lhe desse uns minutos de sossego e ali estavam eles. Não uns minutos, porque Deus é generoso deu-lhe um dia inteiro. Então porque sentia aquele aperto no peito e não alivio?
- Não sei que fazer com tanto quarto - Lana entrou nesse instante - Se ao menos tivesse netos
- Ai mãe... - Valerie sorriu para a mãe - Um dia destes.
- Um dia...
O resto do dia foi passado a abrir armários e velhos baús. Um deles, cheio de álbuns, prendeu a sua atenção e só o deixou de lado porque a mãe prometera nessa mesma noite "apresentar" a família.
Havia tanto para fazer no solar, janelas e portas para substituir, o telhado precisava de uma revisão pois, segundo Tim, algumas aves tinham construído lá o ninho desviando algumas telhas. Atoalhados que precisavam de ser lavados, lareiras para limpar, móveis para doar e outros para destruir... a lista parecia não ter fim. Após o jantar foi buscar o baú dos álbuns mas quando regressou á sala a sua mãe adormecera no sofá. A "apresentação" familiar teria que esperar.
Colocou uma manta sobre as pernas da mãe e foi para a biblioteca procurar algo para ler. Percorreu com o olhar a imensidão de capas sem se conseguir decidir pois não conhecia a maioria dos autores. Agarrou a pequena escada com intenção de ver melhor os livros nas prateleiras de cima mas o seu olhar ficou preso num exemplar em cima da mesa junto à janela. Agarrou o livro com cuidado, não tinha pó, sinal que fora colocado ali recentemente. A autora, embora conhecida, era uma estreia para ela. Orgulho e Preconceito de Jane Austen. Naquele momento o luar entrou por entre as vidraças de cima iluminando o espaço. Interpretou aquilo como um sinal e juntou-se à sua mãe junto á lareira. Apesar de nunca ter lido nada da autora depressa percebeu que esta se tornaria numa das suas autoras preferidas. Ficou encantada com a rebeldia de Elizabeth e inicialmente detestou Mr. Darcy pelo orgulho que este emanava mas não precisou ler muito para perceber que não se importava nada de ter um Mr. Darcy na sua vida. O fascínio pelos personagens era tal que era impossível pensar em dormir, naquele momento ela precisava conhecer melhor a família Bennet e ficar a par das peripécias da pobre mãe que só pensava em casar as suas cinco filhas.
Já passava da meia noite quando a mãe acordou e lhe retirou o livro das mãos obrigando-a, como se ela fosse criança, a ir para a cama. Obedeceu à mãe mas a noite não lhe trouxe o sono, nem o descanso, pretendido. A imprevista ausência de Steven não lhe permitira ter um sono tranquilo, pelo contrário, fora agitado e curto. Demasiado curto. A ténue luz que entrava pelo quarto levou-a até à janela e ficou fascinada com as cores que a natureza lhe oferecia naquele novo dia. Temendo perder um minuto daquele fantástico espetáculo saiu de casa em direção ao jardim decidida a apreciar o nascer do dia mas durante o breve passeio até às traseiras da casa a sua atenção prendeu-se num pequeno portão de madeira. Precisava de um bom restauro mas o sua beleza era inegável. Empurrou-o e à sua frente, por entre a densa vegetação, existia um estreito caminho de terra batida, em alguns sítios conseguia ver umas pedras mas a sua maioria estava coberta de terra. Sentia que a natureza a convidava a explorar o local. Não conseguindo conter a curiosidade decidiu seguir em frente e descobrir até onde a levaria aquele caminho. Olhou o relógio consciente que não podia demorar para não assustar a sua mãe e ligou o alarme com a hora de regresso. Respirou fundo, e sentindo-se como uma criança ajeitou o casaco e seguiu atenta a tudo o que a rodeava. Pouco depois à sua frente aparecia um lago de águas calmas. Numa das margens o que restava de um banco de madeira. Teria que perguntar a Tim a história por detrás daquele banco. A sua imaginação dizia-lhe que tinha de existir um motivo para aquele banco no meio das árvores. Pouco depois a vegetação tornou-se mais densa e tinha que afastar alguns ramos para conseguir seguir o caminho que se propusera ao sair de casa. Uns ramos mais "teimosos" ocultavam uma pequena cabana. Naquele momento um som abafado ouviu-se ali perto. Parou de empurrar os ramos e ficou em silêncio tentando perceber de onde vinha o som mas fora em vão. O barulho cessara praticamente ao mesmo tempo que ela parara. Pensando que o som que ouvira era o local a responder à sua intromissão seguiu empurrando os ramos e pouco depois chegara à entrada do que outrora fora um quintal. Olhou-o tentando adivinhar como seria nos tempos em que ali vivia alguém. Imaginava a cerca de madeira pintada de branco, os canteiros de pedra cheios de roseiras e tulipas. O banco de ferro preto com almofadas enormes onde certamente a dona da casa esperava pelo marido enquanto as crianças brincavam na relva bem cuidada. O desgaste da pedra dos degraus era testemunha do vai e vem que ali houvera. As janelas de madeira ainda tinham restos de tinta castanha e para sua surpresa os vidros ainda estavam intactos. Sem conter a curiosidade sobre o seu interior empurrou a porta que cedeu com demasiada facilidade.
Já passava da meia noite quando a mãe acordou e lhe retirou o livro das mãos obrigando-a, como se ela fosse criança, a ir para a cama. Obedeceu à mãe mas a noite não lhe trouxe o sono, nem o descanso, pretendido. A imprevista ausência de Steven não lhe permitira ter um sono tranquilo, pelo contrário, fora agitado e curto. Demasiado curto. A ténue luz que entrava pelo quarto levou-a até à janela e ficou fascinada com as cores que a natureza lhe oferecia naquele novo dia. Temendo perder um minuto daquele fantástico espetáculo saiu de casa em direção ao jardim decidida a apreciar o nascer do dia mas durante o breve passeio até às traseiras da casa a sua atenção prendeu-se num pequeno portão de madeira. Precisava de um bom restauro mas o sua beleza era inegável. Empurrou-o e à sua frente, por entre a densa vegetação, existia um estreito caminho de terra batida, em alguns sítios conseguia ver umas pedras mas a sua maioria estava coberta de terra. Sentia que a natureza a convidava a explorar o local. Não conseguindo conter a curiosidade decidiu seguir em frente e descobrir até onde a levaria aquele caminho. Olhou o relógio consciente que não podia demorar para não assustar a sua mãe e ligou o alarme com a hora de regresso. Respirou fundo, e sentindo-se como uma criança ajeitou o casaco e seguiu atenta a tudo o que a rodeava. Pouco depois à sua frente aparecia um lago de águas calmas. Numa das margens o que restava de um banco de madeira. Teria que perguntar a Tim a história por detrás daquele banco. A sua imaginação dizia-lhe que tinha de existir um motivo para aquele banco no meio das árvores. Pouco depois a vegetação tornou-se mais densa e tinha que afastar alguns ramos para conseguir seguir o caminho que se propusera ao sair de casa. Uns ramos mais "teimosos" ocultavam uma pequena cabana. Naquele momento um som abafado ouviu-se ali perto. Parou de empurrar os ramos e ficou em silêncio tentando perceber de onde vinha o som mas fora em vão. O barulho cessara praticamente ao mesmo tempo que ela parara. Pensando que o som que ouvira era o local a responder à sua intromissão seguiu empurrando os ramos e pouco depois chegara à entrada do que outrora fora um quintal. Olhou-o tentando adivinhar como seria nos tempos em que ali vivia alguém. Imaginava a cerca de madeira pintada de branco, os canteiros de pedra cheios de roseiras e tulipas. O banco de ferro preto com almofadas enormes onde certamente a dona da casa esperava pelo marido enquanto as crianças brincavam na relva bem cuidada. O desgaste da pedra dos degraus era testemunha do vai e vem que ali houvera. As janelas de madeira ainda tinham restos de tinta castanha e para sua surpresa os vidros ainda estavam intactos. Sem conter a curiosidade sobre o seu interior empurrou a porta que cedeu com demasiada facilidade.
- Bolas! Quase que me mata.
- Desculpe. - Valerie olhava atónita para o homem que estava à sua frente esfregando a cabeça. - Pensei que não estivesse ninguém em casa.
- Pois já viu que tem.
- Desculpe. - Valerie olhava atónita para o homem que estava à sua frente esfregando a cabeça. - Pensei que não estivesse ninguém em casa.
- Pois já viu que tem.
O homem continuava esfregando a cabeça visivelmente aborrecido. Valerie sentiu uma vergonha enorme. Que diria ele a ver a sua casa ser invadida por uma estranha?
- Desculpe.
- Está a repetir-se.
- Não sei que mais dizer. - Valerie olhou-o envergonhada - Sinto muito ter entrado assim.
- Mas não lamenta ter atirado com uma porta na minha cabeça.
- Claro que sim! Por quem me toma?!
- Não sei. Nunca a vi por aqui.
- Deixe-me ver se está ferido.
- É enfermeira?
- Não sabia que era preciso ser. - Valerie levou a mão até á dele e retirou-a deixando a descoberto um vinco enorme em tons avermelhados na testa dele. - Amanhã terá um pequeno hematoma mas não é grave.
- Desculpe.
- Está a repetir-se.
- Não sei que mais dizer. - Valerie olhou-o envergonhada - Sinto muito ter entrado assim.
- Mas não lamenta ter atirado com uma porta na minha cabeça.
- Claro que sim! Por quem me toma?!
- Não sei. Nunca a vi por aqui.
- Deixe-me ver se está ferido.
- É enfermeira?
- Não sabia que era preciso ser. - Valerie levou a mão até á dele e retirou-a deixando a descoberto um vinco enorme em tons avermelhados na testa dele. - Amanhã terá um pequeno hematoma mas não é grave.
- A cabeça não é sua.
- É sempre assim? Já pedi desculpa. Talvez assim aprenda a não ficar atrás das portas.
- Não estava atrás da porta. Eu ia sair quando fui agredido.
Naquele momento o relógio dela recordou-lhe que estava na hora de regressar.
- Desculpe mas tenho que ir. E para que conste, não o agredi. Não intencionalmente.
- Se você o diz.
- Oh... Olhe, sabe que mais? Não tenho paciência para gente arrogante. Principalmente quando ainda não bebi café. Até mais ver.
- É sempre assim? Já pedi desculpa. Talvez assim aprenda a não ficar atrás das portas.
- Não estava atrás da porta. Eu ia sair quando fui agredido.
Naquele momento o relógio dela recordou-lhe que estava na hora de regressar.
- Desculpe mas tenho que ir. E para que conste, não o agredi. Não intencionalmente.
- Se você o diz.
- Oh... Olhe, sabe que mais? Não tenho paciência para gente arrogante. Principalmente quando ainda não bebi café. Até mais ver.
O caminho de regresso pareceu-lhe demasiado curto para o que sentia. Vergonha por se ter deixado levar por um capricho de criança e entrado numa casa sem ser convidada, raiva por aquele homem a considerar capaz de uma agressão. Quem é que ele se julgava?! Não a conhecia de lado nenhum! Então porque supunha algo semelhante? Esperava bem que ele não tivesse comprado a casa mas se assim fosse que a sua mãe não fizesse amizade com o vizinho. Não se queria cruzar com ele quando a viesse visitar. Era arrogante, exasperante e sem educação! Não largara a mão dela quando ela lhe retirou a dele para lhe ver a testa. A boa educação diz que não se deve segurar a mão de uma senhora demasiado tempo e ele segurara pois ainda sentia o calor da mão dele na sua.
- Que raiva! - Valerie empurrou o pequeno portão com fúria - Olha que...
- Algum problema?
Valerie olhou para a mãe e forçou um sorriso.
- Não. Estava a falar comigo mesma.
- É mal de família.- Lana sorriu tristemente - O teu pai falava muitas vezes sozinho, dizia que...
- Gostava de uma conversa inteligente. - Valerie acabou a frase pela mãe - Desculpa ter saído sem te avisar.
- Não és mais criança. E imaginei que estivesses a explorar a zona. Sei como gostas do campo.
- É verdade. - Valerie olhou para o solar - Pensas realmente viver aqui?
- Sim. Já falei com Steven e os advogados dele vão tratar de tudo para colocar a quinta no teu nome, era o que o teu pai...
- Não quero saber disso. Só estou preocupada. Aqui não conheces ninguém.
- Tenho Tim e a esposa dele.
- Por acaso eles sabem que irão trabalhar para ti?
- Detalhes sem importância.- Lana fez um gesto de impaciência com a boca - E, como estava dizendo, futuramente o filho dele correrá por estes jardins. E quem sabe se não brincará com um dos meus netos.
- Oh mãe.
- Olha, porque não vamos ver os álbuns até que Steven chegue?! Porque chega hoje, não?
- Acho que sim.
A mãe "apresentou" a família e contou histórias da sua infância. De como fora feliz ali e de como fugia, pelo mesmo portão que ela usara, para ir até à aldeia comer gelados. Valerie percebeu que a mãe não falara da sua juventude e que colocara de lado um álbum mesmo sem o abrir, o que aumentou a sua curiosidade. Queria saber o motivo que levava a sua mãe a "fugir" daquele álbum e a esconder as suas aventuras de adolescência mas o olhar da sua mãe mostrava dor, muita dor. Sabia que algo se tinha passado entre eles pois mal o pai teve alta do hospital foram buscá-la e depois dessa visita nunca mais lá voltou. Alguma coisa tinha acontecido para que a família se tivesse afastado mas se a sua mãe não queria falar nisso ela só tinha que respeitar. Afinal ela também tinha os seus segredos.
O som irritante do telemóvel da sua mãe ecoava pelo salão Valerie olhou para o ecrã. Steven?! Porque não lhe ligara a ela?!
- Podes atender? - Lana começou a colocar os álbuns numa das estantes.
- Estou.
- Finalmente! Não levaste o telemóvel?
- Sim mas... - Valerie sentiu o coração bater apressado. Onde o tinha deixado?
- Não importa. Não vou conseguir ir hoje e não sei se irei amanhã. A situação é mais complicada do que eu esperava.
- Queres que vá no comboio ou de autocarro?
- Esta tarde irá chegar uma equipa de canalizadores para verificarem se existem risco de ruptura em algum dos canos. - Steven continuou ignorando a pergunta dela - A tua mãe não quer um estranho a mexer nas coisas que eram da tua avó, o que eu compreendo, mas penso que será sensata o suficiente para perceber que certas coisas terão que ser feitas por alguém credenciado e não por Tim ou vocês.
- Isso quer dizer o quê?
- Que terás que ficar aí. A equipa que vai trabalha para mim á algum tempo por isso não se preocupem com nada. A menos que a tua mãe insista em pagar o serviço. Vou enviar alguma roupa para ti, imagino que precisarás de algo mais prático.
- Não vens ao solar?
- Vou assim que conseguir resolver tudo.
- Oh mãe.
- Olha, porque não vamos ver os álbuns até que Steven chegue?! Porque chega hoje, não?
- Acho que sim.
A mãe "apresentou" a família e contou histórias da sua infância. De como fora feliz ali e de como fugia, pelo mesmo portão que ela usara, para ir até à aldeia comer gelados. Valerie percebeu que a mãe não falara da sua juventude e que colocara de lado um álbum mesmo sem o abrir, o que aumentou a sua curiosidade. Queria saber o motivo que levava a sua mãe a "fugir" daquele álbum e a esconder as suas aventuras de adolescência mas o olhar da sua mãe mostrava dor, muita dor. Sabia que algo se tinha passado entre eles pois mal o pai teve alta do hospital foram buscá-la e depois dessa visita nunca mais lá voltou. Alguma coisa tinha acontecido para que a família se tivesse afastado mas se a sua mãe não queria falar nisso ela só tinha que respeitar. Afinal ela também tinha os seus segredos.
O som irritante do telemóvel da sua mãe ecoava pelo salão Valerie olhou para o ecrã. Steven?! Porque não lhe ligara a ela?!
- Podes atender? - Lana começou a colocar os álbuns numa das estantes.
- Estou.
- Finalmente! Não levaste o telemóvel?
- Sim mas... - Valerie sentiu o coração bater apressado. Onde o tinha deixado?
- Não importa. Não vou conseguir ir hoje e não sei se irei amanhã. A situação é mais complicada do que eu esperava.
- Queres que vá no comboio ou de autocarro?
- Esta tarde irá chegar uma equipa de canalizadores para verificarem se existem risco de ruptura em algum dos canos. - Steven continuou ignorando a pergunta dela - A tua mãe não quer um estranho a mexer nas coisas que eram da tua avó, o que eu compreendo, mas penso que será sensata o suficiente para perceber que certas coisas terão que ser feitas por alguém credenciado e não por Tim ou vocês.
- Isso quer dizer o quê?
- Que terás que ficar aí. A equipa que vai trabalha para mim á algum tempo por isso não se preocupem com nada. A menos que a tua mãe insista em pagar o serviço. Vou enviar alguma roupa para ti, imagino que precisarás de algo mais prático.
- Não vens ao solar?
- Vou assim que conseguir resolver tudo.
Steven desligou o telemóvel e ela olhou para a mãe que, olhando um dos álbuns, parecia alheia ao que a rodeava.
- Mãe? Steven não vem mas pediu a uns amigos para virem ver as canalizações.
- As canalizações estão boas. - Lana falava calmamente e sem olhar para ela - Basta uns dias de uso normal para funcionarem perfeitamente.
- Estiveram muitos anos sem funcionar.
- Anos?! Mary sempre veio aqui limpar e cuidar da casa. Claro que a idade já não lhe permite fazer as coisas com a mesma facilidade de outros tempos.
- Deves estar a fazer confusão.
- Confusão?! Não estou senil! - Lana bateu com a mão no álbum - Sei bem o que digo. A mãe de Tim continuou a tratar da casa mesmo depois da tua avó falecer.
- Não sabia. Nesse caso temos que lhe pagar estes anos todos de serviço. Vou pedir a Steven que trate disso.
- Vocês são todos iguais... - Lana levantou-se e ficou a olhar o jardim - Vocês pensam que quando chegamos a uma determinada idade somos incapazes de cuidar da nossa vida.
- Não é isso, é que...
- Desculpe senhora. - Tim entrou naquele momento - Está uma carrinha junto ao portão.
- Obrigada Tim. - Valerie olhou para a mãe sem entender o silêncio desta principalmente depois da conversa que estavam a ter - Podes ir abrir? São os canalizadores que o meu marido enviou.
- Com certeza menina.
- As canalizações estão boas. - Lana falava calmamente e sem olhar para ela - Basta uns dias de uso normal para funcionarem perfeitamente.
- Estiveram muitos anos sem funcionar.
- Anos?! Mary sempre veio aqui limpar e cuidar da casa. Claro que a idade já não lhe permite fazer as coisas com a mesma facilidade de outros tempos.
- Deves estar a fazer confusão.
- Confusão?! Não estou senil! - Lana bateu com a mão no álbum - Sei bem o que digo. A mãe de Tim continuou a tratar da casa mesmo depois da tua avó falecer.
- Não sabia. Nesse caso temos que lhe pagar estes anos todos de serviço. Vou pedir a Steven que trate disso.
- Vocês são todos iguais... - Lana levantou-se e ficou a olhar o jardim - Vocês pensam que quando chegamos a uma determinada idade somos incapazes de cuidar da nossa vida.
- Não é isso, é que...
- Desculpe senhora. - Tim entrou naquele momento - Está uma carrinha junto ao portão.
- Obrigada Tim. - Valerie olhou para a mãe sem entender o silêncio desta principalmente depois da conversa que estavam a ter - Podes ir abrir? São os canalizadores que o meu marido enviou.
- Com certeza menina.
Valerie esperou que Tim saísse da sala para retomar a conversa com a mãe mas não teve oportunidade pois a mãe resolvera subir.
A equipa que Steven enviou depressa encheu a casa de homens subindo e descendo fazendo os mais diversos trabalhos. Após falar com Hall, que lhe garantiu não precisar dela, decidiu fazer o mesmo que a sua mãe e subiu para o quarto. Tentou ler mas o barulho dos homens não a deixavam concentrar. Lembrou-se do banco junto ao lago e a ideia de ler ali parecia demasiado apelativa. Sem hesitar agarrou o livro e uma manta e desceu decidida a aproveitar o sol.
Ao chegar ao jardim a sua mãe falava com Tim que lhe mostrava umas folhas enormes.
A equipa que Steven enviou depressa encheu a casa de homens subindo e descendo fazendo os mais diversos trabalhos. Após falar com Hall, que lhe garantiu não precisar dela, decidiu fazer o mesmo que a sua mãe e subiu para o quarto. Tentou ler mas o barulho dos homens não a deixavam concentrar. Lembrou-se do banco junto ao lago e a ideia de ler ali parecia demasiado apelativa. Sem hesitar agarrou o livro e uma manta e desceu decidida a aproveitar o sol.
Ao chegar ao jardim a sua mãe falava com Tim que lhe mostrava umas folhas enormes.
- Vou passear um pouco. - Valerie olhou para as folhas onde se via um projeto do jardim.
- Fazes bem. - Lana respondeu-lhe sem deixar de olhar para a folha que Tim segurava.
- Fazes bem. - Lana respondeu-lhe sem deixar de olhar para a folha que Tim segurava.
Valerie empurrou o portão e notou que este se abria com mais facilidade. Sorriu pensando na quantidade de vezes que a sua mãe o teria aberto nas suas fugas e nas inúmeras aventuras que vivera na sua juventude. Ainda sorria quando chegou ao banco junto ao lago mas desta vez tinha uma ocupante. Uma mulher de aparência frágil e franzina olhava o lago como que hipnotizada. Possivelmente ela era a dona daquele banco e naquele momento revivia o que outrora foram tempos felizes. Não querendo ser uma intrusa decidiu regressar ao solar.
- Arrependeu-se?
- Desculpe?!
- A menina vinha aqui fazer alguma coisa mas por alguma razão resolveu dar meia volta e regressar.
- Não quero ser intrometida.
- Aqui na vila ninguém incomoda ninguém. Somos como uma grande família. - A mulher olhou fixamente para ela - A menina é igualzinha à sua avó. Já lhe tinham dito?
Valerie olhou a mulher com visível assombro. Seria amiga da sua avó?
- Conheceu a minha avó?
- Todos conheciam. - A mulher fez sinal com a mão para que ela se sentasse- Trabalhei para a sua avó muitos anos. E ainda conheci a sua bisavó.
- É a mãe de Tim?
- Sim. Estou a ver que não me obedeceu, mesmo sem conhecer as pessoas fala sem parar. Aquele rapaz não tem emenda. Mas que se pode esperar?! Quem sai aos seus...
- É parecido com o pai?
Naquele momento a mulher soltou uma gargalhada. Não se surpreendia, até ela tinha vontade de rir pois as semelhanças eram evidentes mas achou indelicado sugerir que ela estava a falar demais.
- Com o pai? Ai menina, vê-se que não o conheceu. Se lhe arrancasse duas frases seguidas era muito. O meu Tim é como eu. Em começando a conversar diz o que quer e o que não quer também. - A mulher fez uma pausa e esfregou a mão na saia preta- O meu marido era como o seu avô. Se bem que o seu avô era mais rude e queria tudo ao seu jeito. E ai de quem lhe fizesse frente! Não me interprete mal, o seu avô, apesar de austero, era um homem justo e com um enorme coração. Acho que só o vi sorrir no dia que nasceu a sua mãe. Já a sua avó era o oposto, sempre de sorriso no rosto e uma palavra amiga para todos. A sua avó só perdeu o sorriso quando o marido renegou a própria filha.
- Não entendi.
- Outros tempos menina. Bom, acho que vou indo. Já não sou jovem e quero chegar a casa antes da minha nora.
- Quer que a acompanhe?
- Não é preciso. Vou por um atalho e chego lá rapidamente. A menos que queira descobrir como fugir daqui sem ser vista.
- É possível?
- Se estas árvores falassem... Sabe, às vezes é bom fugir de tudo e de todos, ter um espaço só nosso. Tipo um refúgio.
Valerie sorriu para aquela mulher que apesar de só a ter visto naquele momento já conquistara o seu coração. Sentindo um pouco de empatia por aquele ser peculiar seguiu-a, nem sempre a seu lado pois o caminho nem sempre o permitia mas atenta a todas as palavras que lhe dizia e tentando ler nas entrelinhas. Quantas vezes ela inventara desculpas para a ausência da sua mãe?
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