- Não pensas ter filhos?
Valerie ficou estarrecida a olhar a sua mãe. Os cabelos brancos já tingiam a sua cabeça por completo e talvez achasse que estava na hora de ser avó. Mas um filho de Steven?! Do homem que devido aos ciúmes aniquilara a sua personalidade e que não mostrava qualquer respeito por ela enquanto pessoa?! Não! Não pensava em filhos!
-Ainda não aconteceu. - Valerie voltou costas à sua mãe e ficou a olhar o jardim tentando não demonstrar que a vida com Steven era insuportável.
- Uma criança é uma bênção e muitas vezes é o necessário para que as coisas façam sentido. - Lana mexeu-se no sofá como se não se sentisse confortável - As pessoas, tal como as situações, muitas vezes não são como imaginamos.
Valerie ficou estarrecida a olhar a sua mãe. Os cabelos brancos já tingiam a sua cabeça por completo e talvez achasse que estava na hora de ser avó. Mas um filho de Steven?! Do homem que devido aos ciúmes aniquilara a sua personalidade e que não mostrava qualquer respeito por ela enquanto pessoa?! Não! Não pensava em filhos!
-Ainda não aconteceu. - Valerie voltou costas à sua mãe e ficou a olhar o jardim tentando não demonstrar que a vida com Steven era insuportável.
- Uma criança é uma bênção e muitas vezes é o necessário para que as coisas façam sentido. - Lana mexeu-se no sofá como se não se sentisse confortável - As pessoas, tal como as situações, muitas vezes não são como imaginamos.
Valerie voltou-se sentindo o coração querer saltar do peito. A sua mãe teria percebido quão triste era a sua vida?!
- Mãe... - A sua voz era quase um sussurro.
- Steven é homem e como todos eles tem necessidades. - Lana olhava a carpete fixamente - É dever da esposa suprimir essas necessidades, e transformar o lar num local tranquilo onde ele deseje voltar. Onde se sinta rei e senhor, onde possa satisfazer os seus desejos.
- E os meus?!
- Depois do casamento os nossos "querer" deixam de existir. O homem não pode estar pendente dos caprichos da mulher, ele só se deve preocupar em proporcionar uma vida financeiramente estável à esposa. A estabilidade financeira é tudo o que importa. - A sua mãe continuou como se lesse um livro onde estavam especificadas as obrigações de cada um. - Após o casamento a mulher tem que perceber, e aceitar, que começou uma nova família e que apesar das dificuldades esse é agora o seu lugar. Não voltando para casa dos pais ou morando sozinha. O seu lugar é ao lado do homem que escolheu para marido. Nem sempre é um mar de rosas mas independentemente das circunstâncias o casamento é sagrado e nunca, mas nunca, deve terminar sem que essa seja a vontade de Deus.
- Acreditas realmente em tudo o que disseste?
- Depois do casamento os nossos "querer" deixam de existir. O homem não pode estar pendente dos caprichos da mulher, ele só se deve preocupar em proporcionar uma vida financeiramente estável à esposa. A estabilidade financeira é tudo o que importa. - A sua mãe continuou como se lesse um livro onde estavam especificadas as obrigações de cada um. - Após o casamento a mulher tem que perceber, e aceitar, que começou uma nova família e que apesar das dificuldades esse é agora o seu lugar. Não voltando para casa dos pais ou morando sozinha. O seu lugar é ao lado do homem que escolheu para marido. Nem sempre é um mar de rosas mas independentemente das circunstâncias o casamento é sagrado e nunca, mas nunca, deve terminar sem que essa seja a vontade de Deus.
- Acreditas realmente em tudo o que disseste?
- Não é questão de acreditar. É assim desde o tempo das cavernas. Sei que os primeiros anos de casados são muito confusos, alguns até atribulados, mas depois tudo melhora. - Lana estendeu uma chávena de chá à filha - Sem açúcar como tu gostas.
Após aquela conversa a mãe mudou o assunto para conversas fúteis e ela desejou ser novamente a menina que se sentava naquele sofá sonhando com as viagens que faria quando fosse adulta. Quando, às três da tarde, se despediu da sua mãe sentiu um nó na garganta e teve que fazer um esforço para sorrir antes de entrar no táxi.
A estação estava quase vazia o que fez aumentar o sentimento de prisioneira. Valerie agarrou uma revista que alguém deixara e um sorriso amarelo nasceu nos seus lábios ao ler um dos títulos. O universo só podia estar a rir-se dela!
Após aquela conversa a mãe mudou o assunto para conversas fúteis e ela desejou ser novamente a menina que se sentava naquele sofá sonhando com as viagens que faria quando fosse adulta. Quando, às três da tarde, se despediu da sua mãe sentiu um nó na garganta e teve que fazer um esforço para sorrir antes de entrar no táxi.
A estação estava quase vazia o que fez aumentar o sentimento de prisioneira. Valerie agarrou uma revista que alguém deixara e um sorriso amarelo nasceu nos seus lábios ao ler um dos títulos. O universo só podia estar a rir-se dela!
"Descubra a palavra que define a sua vida"
Lia-se na capa em letras enormes como se aquele fosse o artigo principal e não um daqueles testes cheios de futilidades. Ela não precisava de ler, muito menos fazer, o dito para saber qual era. Se a sua vida tinha uma palavra essa era NÃO! Não devias, não fica bem, não podes, não gosto...
Essa era a palavra da sua vida. Pelo menos nos últimos anos. Sim... decididamente essa era a palavra que melhor definia a sua vida. Apesar da certeza que sentia começou a ler as perguntas.
Qual é a sua cor favorita? Que flor prefere? Onde gostaria de passar férias? Doce ou salgado? Valerie respondia mentalmente tentando perceber de que forma aquelas respostas levavam a qualquer conclusão.
Anunciaram a linha do comboio e Valerie levantou-se segurando a revista como se esta fosse sua mas ao recordar as dores de cabeça que tinha sempre que lia num transporte colocou-a no lugar onde a encontrara. Estava consciente que a viagem seria no mínimo aborrecida. Geralmente tinha com quem conversar mas desta vez, talvez por ser inverno e chover copiosamente, era a única ocupante da carruagem. Sem outra alternativa tentou admirar a paisagem verdejante que ela tão bem conhecia mas foi em vão. As recordações das viagens que fizera com o pai pareciam mudas perante o chamamento do artigo que ironicamente trouxera à memória o início do seu tempo de clausura. Resignando-se ou tentando perceber como chegara àquela situação , fechou os olhos e deixou de lutar contra os fantasmas do passado.
Qual é a sua cor favorita? Que flor prefere? Onde gostaria de passar férias? Doce ou salgado? Valerie respondia mentalmente tentando perceber de que forma aquelas respostas levavam a qualquer conclusão.
Anunciaram a linha do comboio e Valerie levantou-se segurando a revista como se esta fosse sua mas ao recordar as dores de cabeça que tinha sempre que lia num transporte colocou-a no lugar onde a encontrara. Estava consciente que a viagem seria no mínimo aborrecida. Geralmente tinha com quem conversar mas desta vez, talvez por ser inverno e chover copiosamente, era a única ocupante da carruagem. Sem outra alternativa tentou admirar a paisagem verdejante que ela tão bem conhecia mas foi em vão. As recordações das viagens que fizera com o pai pareciam mudas perante o chamamento do artigo que ironicamente trouxera à memória o início do seu tempo de clausura. Resignando-se ou tentando perceber como chegara àquela situação , fechou os olhos e deixou de lutar contra os fantasmas do passado.
Era verão e o seu pai chegara do trabalho eufórico, um amigo de infância iria comprar umas terras ali perto e, já que este viajava com o filho, achara boa ideia convidá-los para uma refeição caseira. A noticia foi recebida pela sua mãe com algum nervosismo. Esta reclamava do pouco tempo que tinha para preparar um jantar decente, que naquele momento não tinha nada de apresentável para colocar na mesa, que nem podia ao menos fazer uma sobremesa decente. Recordava o beijo que o pai depositara nas faces da esposa enquanto sussurrava: "Tudo o que fazes é maravilhoso".
A mãe ficara vermelha e, apesar do sorriso, regressou ás reclamações, que aumentavam ao ritmo que o tempo diminuía. Ela ajudou como pode e à hora prevista o jantar estava pronto.
Após uma breve apresentação os dois homens dirigiram-se à sala deixando-as com Steven, o filho do amigo, ignorando a presença delas e iniciaram uma viagem ao passado que durou durante o jantar e até mesmo depois deste.
- Acho que o jovem Steven gosta de ti - A sua mãe comentou quando foram à cozinha para fazer café.
- Oh mãe!
- Oh mãe!
- Vi bem que só tem olhos para ti.
- Até porque na sala estão muitas mulheres para escolher!
- Não te rebaixes. És uma mulher linda e é perfeitamente natural que atraías o olhar masculino.
Valerie sentiu o calor subir ao seu rosto, ela também notara o olhar insistente mas pensou que devido à animada conversa dos dois homens os olhares tivessem passado despercebidos aos demais.
Houve momentos em que, dado a insistência do olhar dele, sentiu-se desconfortável mas, o sorriso atrevido que ele lhe devolvia, era sinal que ele achava aquela situação divertida. Noutra ocasião, e noutro lugar, até podia gostar daquele interesse mas naquele momento achou de má educação os olhares insistentes. E começava a ficar irritada com o facto de os seus olhos se cruzarem sempre que ela olhava para ele. Sentiu-se envergonhada por ser apanhada a olhar para ele. E pior que isso era perceber que a sua mãe sorria como se os tivesse apanhado a fazer algo indecente. Sentindo o calor subir ao seu rosto pediu desculpas e foi para a varanda apanhar um pouco de ar fresco. Não gostava quando a sua mãe agia como se ela fosse uma filha solteirona que devia ter casado à muito tempo. Segundo a mãe ela estava a chegar ao seu tempo limite pois toda a mulher deve casar antes dos vinte anos. Irritava-a profundamente quando a mãe se transformava em casamenteira. O dia dela haveria de chegar.
Blue correu na sua direcção mal ela saiu de casa e mostrou a sua alegria pulando à sua volta.
- Já chega. Vais sujar-me o vestido. - Valerie fez uma festa na cabeça do animal e sorriu quando ele desapareceu no escuro da noite.
A noite estava calma como todas as noites de verão, o som dos animais da quinta fê-la sorrir. Adorava aquela paz, aquele cheiro a campo e não se imaginava a viver noutro sítio se não ali.
Valerie sentiu o calor subir ao seu rosto, ela também notara o olhar insistente mas pensou que devido à animada conversa dos dois homens os olhares tivessem passado despercebidos aos demais.
Houve momentos em que, dado a insistência do olhar dele, sentiu-se desconfortável mas, o sorriso atrevido que ele lhe devolvia, era sinal que ele achava aquela situação divertida. Noutra ocasião, e noutro lugar, até podia gostar daquele interesse mas naquele momento achou de má educação os olhares insistentes. E começava a ficar irritada com o facto de os seus olhos se cruzarem sempre que ela olhava para ele. Sentiu-se envergonhada por ser apanhada a olhar para ele. E pior que isso era perceber que a sua mãe sorria como se os tivesse apanhado a fazer algo indecente. Sentindo o calor subir ao seu rosto pediu desculpas e foi para a varanda apanhar um pouco de ar fresco. Não gostava quando a sua mãe agia como se ela fosse uma filha solteirona que devia ter casado à muito tempo. Segundo a mãe ela estava a chegar ao seu tempo limite pois toda a mulher deve casar antes dos vinte anos. Irritava-a profundamente quando a mãe se transformava em casamenteira. O dia dela haveria de chegar.
Blue correu na sua direcção mal ela saiu de casa e mostrou a sua alegria pulando à sua volta.
- Já chega. Vais sujar-me o vestido. - Valerie fez uma festa na cabeça do animal e sorriu quando ele desapareceu no escuro da noite.
A noite estava calma como todas as noites de verão, o som dos animais da quinta fê-la sorrir. Adorava aquela paz, aquele cheiro a campo e não se imaginava a viver noutro sítio se não ali.
- Espero não incomodar. - Steven estendeu-lhe um maço de tabaco.
- Obrigada mas não fumo.
- Algo contra se eu fumar?
- A saúde é sua.
Valerie olhou-o pensando se seria de má educação regressar a casa. Esse era o seu primeiro instinto. Fugir! Algo nele a incomodava mas não conseguia perceber o que era. A sua vontade era voltar para junto dos pais mas não queria que ele pensasse que o estava a evitar por isso sentou-se no banco que o pai tinha construído há alguns anos e fingiu que ele não estava ali. Mas a curiosidade venceu e, aproveitando que Steven estava apoiado numa das traves da varada e de costas voltadas para ela, analisou com detalhe o corpo dele.
No geral era um homem atraente, alto, de porte atlético com olhos cor mel e cabelos loiro escuro, quase castanho. Tudo nele indicava uma personalidade forte. Em nada se parecia com os rapazes da vila que na sua maioria tinham feições delicadas. Decididamente Steven era, como diria Sara, a sua amiga, um homem com todas as letras. Sim. Steven era um homem não um rapaz! Tinha a certeza que ele saberia o que fazer com uma mulher. Sentiu o rubor regressar ao seu rosto. De onde tinha saído aquele pensamento?! Nunca tivera um pensamento amoroso sobre os rapazes da aldeia e muito menos um pensamento tão atrevido quanto o que acabava de ter! Tinha dezassete anos e nunca namorara ou tivera um amigo mais intimo. O primeiro beijo tinha sido roubado no décimo ano por um filho dos vizinhos e ela não lhe falara durante o resto do ano. A mãe achara aquela situação um descalabro e até tinha comentado que era das poucas raparigas da vila que ainda não tinha namorado. "Não vais achar nenhum lord aqui! É melhor decidires rápido antes que os rapazes casem todos e fiques solteirona" Foram as palavras exactas. Apesar do que Steven a fazia sentir fora o único que lhe despertara algum interesse.
E se o achava interessante porque a irritava que ele agisse como se ela fosse a única pessoa na sala? Estava na idade de achar adulador a atenção que ele lhe dava.
- Que achas?
- Desculpe?! - Valerie olhou-o envergonhada como se ele pudesse ouvir os seus pensamentos.
- Estava a perguntar se um dia destes podemos ir beber café.
- Ah! Sim, claro. - Valerie baixou a vista sem acreditar que tinha dito sim!
- Ótimo. Passo amanhã às três.
Sem esperar resposta ele entrou em casa enquanto ela tentava descobrir porque aceitara. Só podia ser o seu subconsciente a dizer-lhe que o achava mais interessante do que queria admitir. Naquele momento percebeu que ele dissera amanhã... Um dia destes não era o dia seguinte! Ele estava a brincar com ela. Só podia! Que falariam?! Não tinham nada em comum. Certamente só se sentia aborrecido e como tal depressa perderia o interesse nela. Sim, era isso. Pensando que seria assim respirou de alívio e desfrutou como pode do resto da noite.
Mas o tempo mostrou-lhe que estava enganada. Durante os três meses que ficaram nos arredores Steven aparecia todos os dias e muitas vezes mais que uma vez. Sem vontade de estar a sós com ele, pois a sua mãe insistia em dar-lhe algum espaço, fizeram da pastelaria o seu local de encontro. Mas os cafés, além de diários, tornaram-se demorados demais o que originou comentários na pequena e pacata vila. Como as únicas opiniões que tinha em consideração eram as dos pais, não ligava ao que diziam daqueles encontros pois ela sabia que era apenas uma amizade. Pouco a pouco sentia-se mais à vontade para debater os mais diversos temas. E independentemente do assunto ele ouvia-a com atenção e respeitava as opiniões dela. Era bom conversar com alguém que não pensava exactamente como ela.
- Obrigada mas não fumo.
- Algo contra se eu fumar?
- A saúde é sua.
Valerie olhou-o pensando se seria de má educação regressar a casa. Esse era o seu primeiro instinto. Fugir! Algo nele a incomodava mas não conseguia perceber o que era. A sua vontade era voltar para junto dos pais mas não queria que ele pensasse que o estava a evitar por isso sentou-se no banco que o pai tinha construído há alguns anos e fingiu que ele não estava ali. Mas a curiosidade venceu e, aproveitando que Steven estava apoiado numa das traves da varada e de costas voltadas para ela, analisou com detalhe o corpo dele.
No geral era um homem atraente, alto, de porte atlético com olhos cor mel e cabelos loiro escuro, quase castanho. Tudo nele indicava uma personalidade forte. Em nada se parecia com os rapazes da vila que na sua maioria tinham feições delicadas. Decididamente Steven era, como diria Sara, a sua amiga, um homem com todas as letras. Sim. Steven era um homem não um rapaz! Tinha a certeza que ele saberia o que fazer com uma mulher. Sentiu o rubor regressar ao seu rosto. De onde tinha saído aquele pensamento?! Nunca tivera um pensamento amoroso sobre os rapazes da aldeia e muito menos um pensamento tão atrevido quanto o que acabava de ter! Tinha dezassete anos e nunca namorara ou tivera um amigo mais intimo. O primeiro beijo tinha sido roubado no décimo ano por um filho dos vizinhos e ela não lhe falara durante o resto do ano. A mãe achara aquela situação um descalabro e até tinha comentado que era das poucas raparigas da vila que ainda não tinha namorado. "Não vais achar nenhum lord aqui! É melhor decidires rápido antes que os rapazes casem todos e fiques solteirona" Foram as palavras exactas. Apesar do que Steven a fazia sentir fora o único que lhe despertara algum interesse.
E se o achava interessante porque a irritava que ele agisse como se ela fosse a única pessoa na sala? Estava na idade de achar adulador a atenção que ele lhe dava.
- Que achas?
- Desculpe?! - Valerie olhou-o envergonhada como se ele pudesse ouvir os seus pensamentos.
- Estava a perguntar se um dia destes podemos ir beber café.
- Ah! Sim, claro. - Valerie baixou a vista sem acreditar que tinha dito sim!
- Ótimo. Passo amanhã às três.
Sem esperar resposta ele entrou em casa enquanto ela tentava descobrir porque aceitara. Só podia ser o seu subconsciente a dizer-lhe que o achava mais interessante do que queria admitir. Naquele momento percebeu que ele dissera amanhã... Um dia destes não era o dia seguinte! Ele estava a brincar com ela. Só podia! Que falariam?! Não tinham nada em comum. Certamente só se sentia aborrecido e como tal depressa perderia o interesse nela. Sim, era isso. Pensando que seria assim respirou de alívio e desfrutou como pode do resto da noite.
Mas o tempo mostrou-lhe que estava enganada. Durante os três meses que ficaram nos arredores Steven aparecia todos os dias e muitas vezes mais que uma vez. Sem vontade de estar a sós com ele, pois a sua mãe insistia em dar-lhe algum espaço, fizeram da pastelaria o seu local de encontro. Mas os cafés, além de diários, tornaram-se demorados demais o que originou comentários na pequena e pacata vila. Como as únicas opiniões que tinha em consideração eram as dos pais, não ligava ao que diziam daqueles encontros pois ela sabia que era apenas uma amizade. Pouco a pouco sentia-se mais à vontade para debater os mais diversos temas. E independentemente do assunto ele ouvia-a com atenção e respeitava as opiniões dela. Era bom conversar com alguém que não pensava exactamente como ela.
Mas o que ela considerava uma amizade depressa tomou outro rumo pois não demorou muito a que Steven a pedisse oficialmente em namoro. Inicialmente não soube que responder pois olhava para ele como um amigo e nada mais. Aquele fugaz pensamento sobre o que ele faria a uma mulher fora exactamente isso. Um pensamento fugaz. A indiferença voltou a reinar no seu peito o que lhe dava uma espécie de tranquilidade sempre que estava com ele. Mas ao ver como o seu pai ficara feliz com a hipótese do namoro acabou por aceitar. Todos os dias o seu pai fazia questão de lhe dizer como estava feliz por ela namorar Steven e a sua mãe agia como se Steven fosse uma dádiva na vida dela.
Mas apesar da alegria de ambas as famílias ela não partilhava da mesma. Ás vezes até sentia um arrepio ao pensar em Steven. Facto que a assustava ainda mais.
No seu intimo sentia que algo lhe escapava simplesmente não sabia o quê. Seria a diferença de idades?! O diferente estilo de vida!? O excesso de flores caríssimas ou os bombons que ele insistia em enviar sempre que estava na cidade? Ela tinha a sensação que Steven enviava aquelas ofertas para lhe mostrar que lhe podia dar tudo o que ela quisesse. Como se ela se fosse importar com isso! Essas ofertas deixavam-na tão ou mais desconfortável como os convites para o acompanhar em festas. Convites que ela declinava. Se nas festas da vila se sentia um pato fora de água, na cidade onde não conhecia ninguém seria bem pior. Os mundos deles eram bem diferentes e muitas vezes pensava se fora acertado aceitar o namoro. As conversas deles baseavam-se em discutir a melhor banda musical, o melhor escritor ou o melhor filme. Nunca falavam da vida em comum ou o que ela esperava do futuro. Tentara falar com ele uma vez mas ele respondera que quando chegasse o momento tudo seria perfeito. Era suposto falarem dessas coisas. Ou não?! O que a levava a outra questão. O que sabia dele?
Que era filho do melhor amigo do pai e que trabalhava com este. E ouvira o pai dele uma vez comentar que ele não dispensava uma boa festa entre amigos. Fosse lá isso que fosse.
Era consciente que a vida dele era mais agitada que a dela e, caso fosse necessário, estava disposta a mudar por ele se ele fosse o tal. Mas não conseguia deixar de pensar que aquele namoro não a fazia sentir como imaginara. Ela imaginara que...imaginara o quê?! Nem ela sabia.
Não sabia bem o que idealizara pois nunca perdera tempo a pensar nisso mas tinha a esperança que o amor seria como nos livros que requisitava na biblioteca. Um amor arrebatador que prometia roubar o ar a quem o sentisse, que a fizesse desejar estar ao lado dessa pessoa todo o tempo do mundo. Independentemente do que sonhara, de uma coisa ela tinha a certeza. Quando finalmente aceitasse casar queria que o marido a olhasse com o mesmo olhar doce com que o pai olhava a sua mãe. Queria sentir que só estava completa com ele, que sem ele a vida não fazia sentido. Queria sentir borboletas no estômago perante a expetativa da sua chegada. Era esse o amor que ela desejava.
Mas apesar da alegria de ambas as famílias ela não partilhava da mesma. Ás vezes até sentia um arrepio ao pensar em Steven. Facto que a assustava ainda mais.
No seu intimo sentia que algo lhe escapava simplesmente não sabia o quê. Seria a diferença de idades?! O diferente estilo de vida!? O excesso de flores caríssimas ou os bombons que ele insistia em enviar sempre que estava na cidade? Ela tinha a sensação que Steven enviava aquelas ofertas para lhe mostrar que lhe podia dar tudo o que ela quisesse. Como se ela se fosse importar com isso! Essas ofertas deixavam-na tão ou mais desconfortável como os convites para o acompanhar em festas. Convites que ela declinava. Se nas festas da vila se sentia um pato fora de água, na cidade onde não conhecia ninguém seria bem pior. Os mundos deles eram bem diferentes e muitas vezes pensava se fora acertado aceitar o namoro. As conversas deles baseavam-se em discutir a melhor banda musical, o melhor escritor ou o melhor filme. Nunca falavam da vida em comum ou o que ela esperava do futuro. Tentara falar com ele uma vez mas ele respondera que quando chegasse o momento tudo seria perfeito. Era suposto falarem dessas coisas. Ou não?! O que a levava a outra questão. O que sabia dele?
Que era filho do melhor amigo do pai e que trabalhava com este. E ouvira o pai dele uma vez comentar que ele não dispensava uma boa festa entre amigos. Fosse lá isso que fosse.
Era consciente que a vida dele era mais agitada que a dela e, caso fosse necessário, estava disposta a mudar por ele se ele fosse o tal. Mas não conseguia deixar de pensar que aquele namoro não a fazia sentir como imaginara. Ela imaginara que...imaginara o quê?! Nem ela sabia.
Não sabia bem o que idealizara pois nunca perdera tempo a pensar nisso mas tinha a esperança que o amor seria como nos livros que requisitava na biblioteca. Um amor arrebatador que prometia roubar o ar a quem o sentisse, que a fizesse desejar estar ao lado dessa pessoa todo o tempo do mundo. Independentemente do que sonhara, de uma coisa ela tinha a certeza. Quando finalmente aceitasse casar queria que o marido a olhasse com o mesmo olhar doce com que o pai olhava a sua mãe. Queria sentir que só estava completa com ele, que sem ele a vida não fazia sentido. Queria sentir borboletas no estômago perante a expetativa da sua chegada. Era esse o amor que ela desejava.
Apesar da suas dúvidas não as partilhou com ninguém e resolveu deixar o tempo correr. Talvez por perceber que o seu pai estava feliz e ela não queria preocupá-lo com as suas dúvidas.
Esse foi o seu primeiro erro pois as suas reservas foram perdendo força e começou a dar por si a sorrir quando ele escrevia ou chegava sem avisar. Convencera-se que tinha sido tola em acreditar nos livros.
Steven não poderia dar mais provas de que a amava e que se importava com ela. Se nunca tivera namorado porque lhe passara pela cabeça que algo não estava certo? Afinal o que sabia ela do amor? Do que é suposto sentir naquela ocasião? Nada! Talvez aquele sentimento afável que sentia por Steven fosse amor.
Esse foi o seu primeiro erro pois as suas reservas foram perdendo força e começou a dar por si a sorrir quando ele escrevia ou chegava sem avisar. Convencera-se que tinha sido tola em acreditar nos livros.
Steven não poderia dar mais provas de que a amava e que se importava com ela. Se nunca tivera namorado porque lhe passara pela cabeça que algo não estava certo? Afinal o que sabia ela do amor? Do que é suposto sentir naquela ocasião? Nada! Talvez aquele sentimento afável que sentia por Steven fosse amor.
Por isso quando chegou o pedido de casamento achou que a única resposta possível seria dizer Sim e dar essa alegria aos pais de ambos.
No dia do casamento a sua mãe chamou-a ao seu quarto onde lhe deu uma caixa com um laço de seda.
- Para logo à noite. - Lana sorriu meio sem jeito - Talvez seja tarde para esta conversa não tarda partem rumo à vossa nova casa e longe de nós. Quero que saibas que é completamente normal estar nervosa, ao contrário do que os filmes nos querem fazer acreditar o verdadeiro amor nasce do convívio entre duas pessoas. Sabes... o amor não é nenhum pudim instantâneo. -Ela sorriu perante a comparação. - Neste momento o que sentes é carinho, amizade, com o tempo irás amar Steven. Parece ser um bom homem, capaz de prover tudo o que precisas para ser feliz. Irás ter algumas dificuldades, nos primeiros tempos, mas serão superadas. - A sua mãe soltou um risinho nervoso - Não te deixes intimidar pela tua inexperiência, Steven saberá o que fazer. Como dizia a tua avó, se não sabes o que fazer, obedece. Obedece e tudo correrá bem.
E assim foi, Steven soube o que fazer. Nessa noite e nas restantes. A única coisa que lhe pedia era para tirar a roupa. E ela obedecia, obedecia e obedecia... não fazia outra coisa. Obedecia cegamente. Uma gargalhada nervosa saiu da sua garganta ao mesmo tempo que uma lágrima deslizava pelo seu rosto trazendo-a de volta ao presente. Olhou em redor, felizmente continuava sozinha. O sol começava a esconder-se por entre as árvores e o seu reflexo nas janelas do comboio tornou-se mais nítido. Não se reconhecia. O cabelo que outrora caía livremente sobre os seus ombros passou a estar constantemente apanhado no alto da cabeça escondendo a natural ondulação e tinha a sensação que até o castanho escuro perdera parte do brilho. O olhar já não brilhava de alegria e as curvas do seu corpo passaram a estar escondidas sob uma saia comprida e larga. Tão larga quanto as blusas que usava. Não importava a cor nem o corte, o importante era esconder qualquer pedaço do seu corpo. As poucas vezes que se dignara a olhar para um espelho ficava com a sensação que as roupas e o cabelo apanhado lhe davam um ar severo. Por momentos encontrou semelhanças com uma das fotografias da sua bisavó. A única diferença era que em todas as fotografias a bisavó ostentava um sorriso rasgado.
E assim foi, Steven soube o que fazer. Nessa noite e nas restantes. A única coisa que lhe pedia era para tirar a roupa. E ela obedecia, obedecia e obedecia... não fazia outra coisa. Obedecia cegamente. Uma gargalhada nervosa saiu da sua garganta ao mesmo tempo que uma lágrima deslizava pelo seu rosto trazendo-a de volta ao presente. Olhou em redor, felizmente continuava sozinha. O sol começava a esconder-se por entre as árvores e o seu reflexo nas janelas do comboio tornou-se mais nítido. Não se reconhecia. O cabelo que outrora caía livremente sobre os seus ombros passou a estar constantemente apanhado no alto da cabeça escondendo a natural ondulação e tinha a sensação que até o castanho escuro perdera parte do brilho. O olhar já não brilhava de alegria e as curvas do seu corpo passaram a estar escondidas sob uma saia comprida e larga. Tão larga quanto as blusas que usava. Não importava a cor nem o corte, o importante era esconder qualquer pedaço do seu corpo. As poucas vezes que se dignara a olhar para um espelho ficava com a sensação que as roupas e o cabelo apanhado lhe davam um ar severo. Por momentos encontrou semelhanças com uma das fotografias da sua bisavó. A única diferença era que em todas as fotografias a bisavó ostentava um sorriso rasgado.
O comboio parou e por instantes a atenção dela prendeu-se nas poucas pessoas que saíam e entravam.
Ela sairia na próxima estação, o marido estaria lá, como sempre aguardando a sua chegada.
- Valerie Dow?! És mesmo tu?
Valerie olhou em direção da alegre voz. Não reconhecia a mulher que sorria abertamente para ela. Tentou encaixar o rosto avermelhado e redondo algures na sua vida mas não conseguia.
- Desculpe. Não estou a reconhecê-la.
- Passaram muitos anos. E afinal eras apenas uma criança quando nós partimos.
Valerie viu o seu rosto ser emoldurado por duas mãos quentes e ásperas enquanto um olhar atento percorria o seu rosto.
- Hum… Eras mais gordinha. - O escrutínio continuava - E o teu olhar era mais brilhante. Bom, também é compreensível. Um pai faz sempre falta.
- Sim. - Valerie semicerrou o olhar tentando esconder a dor que sentia ao recordar o pai - Desculpe, mas ainda não me ocorre o seu nome.
- Oh que cabeça a minha! Arlene. - A mulher sorriu abertamente enquanto tirava o chapéu. - Eu e a tua mãe éramos inseparáveis mesmo depois de nos casarmos. O teu pai e o meu Hall, que também já partiu, tornaram-se amigos e passávamos muito tempo juntos. Vivíamos na quinta ao lado da vossa. Não te lembras? Tinhas o dom de aparecer sempre que fazia tarte de maça…
- Que devorava na varanda com Bill. - Valerie sorriu ao recordar esses momentos. Como era possível ter esquecido os anos mais felizes da sua vida?! - Bill… Faz tanto tempo.
- Imenso. - Arlene sentou-se junto a Valerie - Passavam a vida atrás um do outro. E por algum tempo, eu e a tua mãe, alimentámos a ideia de vocês casarem. - Arlene soltou uma gargalhada . - Vocês irritavam-se tanto, mas tanto, um ao outro que nós pensámos que tanta implicância só podia dar em casamento. Claro que era apenas uma brincadeira nossa. - Arlene olhou para a paisagem que passava a grande velocidade - Tempos que não voltam, não é mesmo? A tua mãe? Desde que regressámos à aldeia nunca mais a vi.
- Continua na quinta. - Valerie recordou que a sua mãe queria vender a quinta por isso a chamara -Mas não por muito tempo. Quer regressar ao solar.
- Sim... tenho a ideia de ela ter falado no solar da família.
Durante o percurso Valerie foi alvo da curiosidade de Arlene, que fazia toda espécie de perguntas sobre a amiga de infância, como se assim apagasse os anos de distância entre elas. A conversa entre elas fluía agradavelmente quando Valerie percebeu que tinha chegado ao destino. Despediu-se de Arlene sentindo que mais uma vez perdia a sua liberdade.
A estação estava quase vazia naquela noite gelada. Olhou em redor tentando ver o marido. Aquela viagem ao passado deixara-a ainda mais deprimida. Se tivesse casado com Bill talvez a sua vida tivesse sido diferente. Ou então se tivesse coragem de dizer não à primeira ordem.
Já estou á espera do próximo capítulo, como sempre muito bom.
ResponderEliminarJá estava com saudades
Obrigada. Também já tinha saudades de escrever :)
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