- Está tudo bem contigo?
- Sim.- Valerie olhou para Laís e levou a chávena aos lábios - É apenas uma dor de cabeça.
- Já foste ao médico?
- Não é preciso. Isto passa.
- Tens a certeza que é apenas isso?
- Que mais poderia ser? - Valerie fingiu um sorriso
- Diz-me tu.
- Está tudo bem. - Valerie levantou a cabeça e viu o marido sair do carro. Parecia que sentia a presença dele antes de o conseguir ver - Ali vem Steven.
- Sabes que podes contar comigo. Certo?
- Eu sei mas, como te disse antes, está tudo bem.
- Qual é a ideia sem sentido desta vez? - Steven olhou para Valerie. Ela baixou o olhar rapidamente.
- Estava a dizer à tua esposa que não tem bom aspeto - Laís não esperou que Valerie respondesse.
- Pois eu acho que está linda como sempre. Aliás nunca esteve mais bonita.
- Estás esquecido que te conheço desde sempre?!
- Que queres dizer com isso?
- Apenas isso. Que te conheço e sei muito bem o que...
- Conheces?! - Steven mantinha a voz calma - Nunca conhecemos realmente uma pessoa.
- Não é preciso. Isto passa.
- Tens a certeza que é apenas isso?
- Que mais poderia ser? - Valerie fingiu um sorriso
- Diz-me tu.
- Está tudo bem. - Valerie levantou a cabeça e viu o marido sair do carro. Parecia que sentia a presença dele antes de o conseguir ver - Ali vem Steven.
- Sabes que podes contar comigo. Certo?
- Eu sei mas, como te disse antes, está tudo bem.
- Qual é a ideia sem sentido desta vez? - Steven olhou para Valerie. Ela baixou o olhar rapidamente.
- Estava a dizer à tua esposa que não tem bom aspeto - Laís não esperou que Valerie respondesse.
- Pois eu acho que está linda como sempre. Aliás nunca esteve mais bonita.
- Estás esquecido que te conheço desde sempre?!
- Que queres dizer com isso?
- Apenas isso. Que te conheço e sei muito bem o que...
- Conheces?! - Steven mantinha a voz calma - Nunca conhecemos realmente uma pessoa.
Valerie mantinha a cabeça baixa evitando o olhar do marido. Sabia que apesar da calma aparente este não estava a gostar do rumo da conversa.
- Está a ficar tarde. - Valerie quase que sussurrava.
- Porque não fazemos uma noite só de raparigas? - Laís sorriu para Valerie e depois olhou desafiante para Steven.
- Hoje não. - Steven colocou a mão nas costas de Valerie e afastou-se da mesa sem se importar com Laís.
Caminhou ao lado dele evitando olhar para trás. Contrariamente a ela Laís gostava de o irritar, de o provocar. Ela não compreendia porque o marido não "explodia" durante essas conversas. Steven agia como se Laís fosse uma criança mimada a quem era permitido tudo com medo de uma birra.
- Está a ficar tarde. - Valerie quase que sussurrava.
- Porque não fazemos uma noite só de raparigas? - Laís sorriu para Valerie e depois olhou desafiante para Steven.
- Hoje não. - Steven colocou a mão nas costas de Valerie e afastou-se da mesa sem se importar com Laís.
Caminhou ao lado dele evitando olhar para trás. Contrariamente a ela Laís gostava de o irritar, de o provocar. Ela não compreendia porque o marido não "explodia" durante essas conversas. Steven agia como se Laís fosse uma criança mimada a quem era permitido tudo com medo de uma birra.
Na realidade sempre fora assim, ela não tinha memória de ser de outra forma.
Quando elas se conheceram Steven agia como se Laís fosse a sua irmã mais nova, concordando com tudo o que ela dizia e deixando-se levar pelas brincadeiras dela. Sempre que os via juntos Laís estava colada a ele procurando ser o alvo da atenção dele, o que a levou a pensar que esta tinha uma paixão secreta por ele. Esse pensamento era sustentado pelo facto de nunca ter recebido uma palavra mais amigável da parte de Laís, podia até dizer que sempre a tratara de maneira fria, e até um pouco hostil. Principalmente depois de anunciarem o casamento. Nessa altura pensara que talvez ela alimentasse o sonho de um dia casar com Steven, afinal não era incomum uma miúda pensar que estava apaixonada por um dos seus amigos de infância. E, filho de rico ou pobre, uma criança é uma criança. Com os seus sonhos e ideais. A única coisa que alterava era o facto de estes terem mais facilidade em conseguirem tudo o que desejam. A sua mãe dizia que quanto mais dinheiro se possuí mais tolerante se fica a traições e outras coisas que de outra forma não se iria permitir. Talvez Laís pensasse que poderia ser a "amiga" dele mesmo depois do casamento. Aquele pensamento foi como um balde de água fria. Ela não iria tolerar uma traição. Era capaz de perdoar tudo menos isso!
Como não queria casar com mais essa dúvida pairando na sua cabeça, um dia, comentou o facto com Steven mas este soltara uma gargalhada e dissera que tinha a certeza que Laís não olhava para ele dessa forma. Mas mesmo que assim fosse ela podia ficar tranquila pois para ele era apenas uma amiga muito querida. Recordava ter ficado vermelha de vergonha nesse momento e ficou ainda mais envergonhada quando, depois de a beijar, ele disse que era bom saber os limites dele e que gostava de ver que ela sentia ciúmes.
Quando elas se conheceram Steven agia como se Laís fosse a sua irmã mais nova, concordando com tudo o que ela dizia e deixando-se levar pelas brincadeiras dela. Sempre que os via juntos Laís estava colada a ele procurando ser o alvo da atenção dele, o que a levou a pensar que esta tinha uma paixão secreta por ele. Esse pensamento era sustentado pelo facto de nunca ter recebido uma palavra mais amigável da parte de Laís, podia até dizer que sempre a tratara de maneira fria, e até um pouco hostil. Principalmente depois de anunciarem o casamento. Nessa altura pensara que talvez ela alimentasse o sonho de um dia casar com Steven, afinal não era incomum uma miúda pensar que estava apaixonada por um dos seus amigos de infância. E, filho de rico ou pobre, uma criança é uma criança. Com os seus sonhos e ideais. A única coisa que alterava era o facto de estes terem mais facilidade em conseguirem tudo o que desejam. A sua mãe dizia que quanto mais dinheiro se possuí mais tolerante se fica a traições e outras coisas que de outra forma não se iria permitir. Talvez Laís pensasse que poderia ser a "amiga" dele mesmo depois do casamento. Aquele pensamento foi como um balde de água fria. Ela não iria tolerar uma traição. Era capaz de perdoar tudo menos isso!
Como não queria casar com mais essa dúvida pairando na sua cabeça, um dia, comentou o facto com Steven mas este soltara uma gargalhada e dissera que tinha a certeza que Laís não olhava para ele dessa forma. Mas mesmo que assim fosse ela podia ficar tranquila pois para ele era apenas uma amiga muito querida. Recordava ter ficado vermelha de vergonha nesse momento e ficou ainda mais envergonhada quando, depois de a beijar, ele disse que era bom saber os limites dele e que gostava de ver que ela sentia ciúmes.
Depois desse dia tentou não pensar na proximidade que existia entre eles. Mas a presença constante desta não lhe facilitava a tarefa. Principalmente depois de Laís lhe perguntar se tinha a certeza de amar Steven e se pensara no muito que a sua vida mudaria ao casar com ele pois iria deixar os amigos e tudo o que conhecia para trás.
Nesse momento teve a certeza que Steven estava cego no que dizia respeito aos sentimentos da amiga pois aquelas perguntas só podiam significar que estava realmente apaixonada por ele.
Nesse momento teve a certeza que Steven estava cego no que dizia respeito aos sentimentos da amiga pois aquelas perguntas só podiam significar que estava realmente apaixonada por ele.
Com a proximidade do casamento as dúvidas que tinha ganharam novas proporções e a presença de Laís, que insistira em ajudar nos preparativos, não ajudava a acalmar o seu inquieto coração. Com medo de fugir e dar um desgosto aos pais começou a evitar a companhia dela pois sentia que todos os seus movimentos eram observados e analisados minuciosamente.
Dizem que uma mulher nunca esquece o dia do seu casamento mas ela já nem se recordava de que sabor era o recheio do bolo. Daquele dia a única coisa que recordava como se o estivesse a viver novamente foi o abraço de Laís ao dar-lhe os parabéns enquanto sussurrava: Desejo realmente que nunca te arrependas deste dia.
Dizem que uma mulher nunca esquece o dia do seu casamento mas ela já nem se recordava de que sabor era o recheio do bolo. Daquele dia a única coisa que recordava como se o estivesse a viver novamente foi o abraço de Laís ao dar-lhe os parabéns enquanto sussurrava: Desejo realmente que nunca te arrependas deste dia.
- Espero que não estejas a pensar no que disse Laís. - A voz do marido trouxe-a de volta ao presente.
- Estava a pensar no dia do nosso casamento. - Não era mentira mas sentiu um arrepio como se lhe estivesse a mentir.
- Isso foi à muito tempo. - Steven esperou que ela entrasse no carro e arrancou com visível mau humor.
Valerie olhou para as pessoas que passeavam naquela tarde de domingo. Aqueles casais passeando no parque levou-a de volta ao passado quando ela também passeava descontraída ao lado dele.
Os primeiros dias de casamento foram uma extensão do namoro. Steven fazia questão de passear ao fim da tarde enquanto falavam de trivialidades e convencera-se que a sua mãe tinha razão, tudo levava o seu tempo e o amor não era exceção. Ao caminhar ao seu lado tinha a certeza que Steven seria um bom marido.
Mas em poucos meses esses passeios terminaram e as conversas passaram a ser apenas palavras ao acaso e ela deixara de ser uma jovem sorridente e sonhadora para ser apenas um apêndice dele.
Depressa percebeu que não lhe era permitido fazer perguntas sobre o seu trabalho e muito menos ter ideias próprias.
A atenção e cuidado que lhe foram dados nas primeiras noites foram trocados por ordens e, recordando as palavras da sua mãe fizera o que esta lhe dissera, obedecera, mas isso não tornou a situação mais fácil. Nem nessa noite nem nas seguintes onde depressa ficou ponto assente que ela estaria à disposição do seu desejo. Na esperança de manter alguma dignidade, pois sentia-se usada, uma noite inventara uma má disposição na esperança de evitar um contacto mais intimo, mas ele ignorara as suas palavras. Sem qualquer tipo de pudor puxou os braços dela para cima enquanto lhe apertava o corpo com o dele e olhou-a fixamente enquanto lhe dizia que ela deveria sentir-se agradecida por estar com ele, que nenhum homem olharia para ela duas vezes, que ninguém gosta de meninas de aldeia a quem se tenha que ensinar o que fazer. Sentindo as lágrimas rolarem pelas suas faces deixou de resistir e entregou-se a ele. No dia seguinte, além das olheiras, tinha as marcas dessa noite nos seus punhos e principalmente na sua memória. Nessa manhã agradeceu não ter que sair de casa para trabalhar.
Depois dessa noite, temendo uma ação mais violenta, nunca mais o contrariou e começou a agir como um robô, tendo o cuidado de estar sempre disposta. E independentemente do que sentia, sempre que ele a procurava, apesar das lágrimas, cumpria o seu papel.
Felizmente durante o dia podia fingir alguma normalidade. Depois de cumprir os seus afazeres domésticos ia ao supermercado onde demorava mais tempo que o necessário pois regressar a casa era regressar à prisão. Em poucos dias os convites de Laís para ir ao centro comercial começaram a parecer um bálsamo para a sua alma. Por várias vezes esteve tentada a desabafar com Laís o muito que sofria mas, apesar de esta ser mais amável, ainda não confiava nela. E ainda bem que nunca o fizera pois um dia teve a prova que Laís era uma espécie de aliada de Steven.
- Estava a pensar no dia do nosso casamento. - Não era mentira mas sentiu um arrepio como se lhe estivesse a mentir.
- Isso foi à muito tempo. - Steven esperou que ela entrasse no carro e arrancou com visível mau humor.
Valerie olhou para as pessoas que passeavam naquela tarde de domingo. Aqueles casais passeando no parque levou-a de volta ao passado quando ela também passeava descontraída ao lado dele.
Os primeiros dias de casamento foram uma extensão do namoro. Steven fazia questão de passear ao fim da tarde enquanto falavam de trivialidades e convencera-se que a sua mãe tinha razão, tudo levava o seu tempo e o amor não era exceção. Ao caminhar ao seu lado tinha a certeza que Steven seria um bom marido.
Mas em poucos meses esses passeios terminaram e as conversas passaram a ser apenas palavras ao acaso e ela deixara de ser uma jovem sorridente e sonhadora para ser apenas um apêndice dele.
Depressa percebeu que não lhe era permitido fazer perguntas sobre o seu trabalho e muito menos ter ideias próprias.
A atenção e cuidado que lhe foram dados nas primeiras noites foram trocados por ordens e, recordando as palavras da sua mãe fizera o que esta lhe dissera, obedecera, mas isso não tornou a situação mais fácil. Nem nessa noite nem nas seguintes onde depressa ficou ponto assente que ela estaria à disposição do seu desejo. Na esperança de manter alguma dignidade, pois sentia-se usada, uma noite inventara uma má disposição na esperança de evitar um contacto mais intimo, mas ele ignorara as suas palavras. Sem qualquer tipo de pudor puxou os braços dela para cima enquanto lhe apertava o corpo com o dele e olhou-a fixamente enquanto lhe dizia que ela deveria sentir-se agradecida por estar com ele, que nenhum homem olharia para ela duas vezes, que ninguém gosta de meninas de aldeia a quem se tenha que ensinar o que fazer. Sentindo as lágrimas rolarem pelas suas faces deixou de resistir e entregou-se a ele. No dia seguinte, além das olheiras, tinha as marcas dessa noite nos seus punhos e principalmente na sua memória. Nessa manhã agradeceu não ter que sair de casa para trabalhar.
Depois dessa noite, temendo uma ação mais violenta, nunca mais o contrariou e começou a agir como um robô, tendo o cuidado de estar sempre disposta. E independentemente do que sentia, sempre que ele a procurava, apesar das lágrimas, cumpria o seu papel.
Felizmente durante o dia podia fingir alguma normalidade. Depois de cumprir os seus afazeres domésticos ia ao supermercado onde demorava mais tempo que o necessário pois regressar a casa era regressar à prisão. Em poucos dias os convites de Laís para ir ao centro comercial começaram a parecer um bálsamo para a sua alma. Por várias vezes esteve tentada a desabafar com Laís o muito que sofria mas, apesar de esta ser mais amável, ainda não confiava nela. E ainda bem que nunca o fizera pois um dia teve a prova que Laís era uma espécie de aliada de Steven.
Aproximava-se as festas natalícias e com ela os festejos de ano novo e o jantar da empresa. Geralmente não se importava com o que usava mas naquele dia deixara-se influenciar por Laís que lhe assegurava que precisava de um vestido à altura para a nova posição social. Após algum tempo percorrendo as boutiques a escolha recaiu sobre um vestido preto comprido de meia manga, com um decote pronunciado nas costas e uma abertura lateral até um pouco acima dos joelhos. Um vestido sensual mas sem mostrar demasiado. Nunca tivera um vestido como aquele, sentia que o merecia, que era uma espécie de recompensa por tudo o que passava com o marido. Laís elogiou fortemente a sua escolha e ela saiu sentindo-se uma nova mulher mas a sua alegria depressa se desvaneceu. O marido entrou em casa e foi direto ao quarto sem dizer uma palavra. Quando saiu trazia o vestido nas mãos e pediu-lhe que o vestisse ali mesmo.
Olhou-o desconfiada mas o seu rosto não mostrava qualquer emoção. Relutante vestiu-se rapidamente e por uns breves segundos achou que o marido gostava do que via mas no segundo seguinte sentiu como as mãos do marido agarravam o tecido junto à abertura puxando-o violentamente e rasgando o frágil tecido.
- Estás louco?! - Valerie afastou-se dele.
- Louca estás tu se pensavas usar isso.
Valerie abriu a boca para responder mas perante o olhar furioso dele voltou a fechá-la.
- Com quem pensavas usá-lo?! E não me mintas!
Steven agarrou o braço dela e nesse instante sentiu-se minúscula e indefesa perante ele. Nunca o tinha visto assim. Olhou-o com os olhos cheios de lágrimas quando ele lhe apertou ainda mais o braço. Por instantes apenas se ouvia a respiração agitada dele e os soluços dela. Fechou os olhos quando ele levantou a outra mão e esperou o pior mas apenas sentiu a pressão no seu braço a diminuir e depois um suspiro pesado. O som da porta a fechar-se foi como um interruptor nas sua mente. Laís... só ela sabia que tinha comprado o vestido. Só ela poderia ter falado a Steven sobre ele. Durante o tempo que Steven esteve fora de casa ela reviveu aquela tarde, a insistência de Laís em comprar o vestido, o ar feliz desta ao vê-la com ele. Decididamente não podia confiar em Laís. Naquele momento sentiu-se ainda mais sozinha.
As lágrimas caiam copiosamente sobre a almofada até que adormeceu. Quando voltou a abrir os olhos a madrugada estava a chegar ao fim e o marido estava a seu lado. Olhou-o por uns segundos e perguntou-se o que tinha feito para merecer que ele a tratasse assim. Fechou os olhos rapidamente quando o marido se mexeu e só os abriu quando sentiu que este saíra da cama. O cheiro a bebida enchia o quarto o que lhe trouxe à memória o seu pai. Estremeceu perante aquele pensamento. O pai nunca permitiria que Steven a tratasse assim... Nesse instante Steven desligou a água e ela fechou novamente os olhos e voltou-se para outro lado rezando para que ele não percebesse que estava acordada. Respirou de alivio quando o ouviu sair de casa.
Olhou-o desconfiada mas o seu rosto não mostrava qualquer emoção. Relutante vestiu-se rapidamente e por uns breves segundos achou que o marido gostava do que via mas no segundo seguinte sentiu como as mãos do marido agarravam o tecido junto à abertura puxando-o violentamente e rasgando o frágil tecido.
- Estás louco?! - Valerie afastou-se dele.
- Louca estás tu se pensavas usar isso.
Valerie abriu a boca para responder mas perante o olhar furioso dele voltou a fechá-la.
- Com quem pensavas usá-lo?! E não me mintas!
Steven agarrou o braço dela e nesse instante sentiu-se minúscula e indefesa perante ele. Nunca o tinha visto assim. Olhou-o com os olhos cheios de lágrimas quando ele lhe apertou ainda mais o braço. Por instantes apenas se ouvia a respiração agitada dele e os soluços dela. Fechou os olhos quando ele levantou a outra mão e esperou o pior mas apenas sentiu a pressão no seu braço a diminuir e depois um suspiro pesado. O som da porta a fechar-se foi como um interruptor nas sua mente. Laís... só ela sabia que tinha comprado o vestido. Só ela poderia ter falado a Steven sobre ele. Durante o tempo que Steven esteve fora de casa ela reviveu aquela tarde, a insistência de Laís em comprar o vestido, o ar feliz desta ao vê-la com ele. Decididamente não podia confiar em Laís. Naquele momento sentiu-se ainda mais sozinha.
As lágrimas caiam copiosamente sobre a almofada até que adormeceu. Quando voltou a abrir os olhos a madrugada estava a chegar ao fim e o marido estava a seu lado. Olhou-o por uns segundos e perguntou-se o que tinha feito para merecer que ele a tratasse assim. Fechou os olhos rapidamente quando o marido se mexeu e só os abriu quando sentiu que este saíra da cama. O cheiro a bebida enchia o quarto o que lhe trouxe à memória o seu pai. Estremeceu perante aquele pensamento. O pai nunca permitiria que Steven a tratasse assim... Nesse instante Steven desligou a água e ela fechou novamente os olhos e voltou-se para outro lado rezando para que ele não percebesse que estava acordada. Respirou de alivio quando o ouviu sair de casa.
A meio da manhã surgiu o pedido desculpas acompanhado de um enorme ramo de flores. No cartão o "convite" para irem jantar essa noite e a promessa que o acontecido não se voltaria a repetir. Reviveu os poucos meses de casamento, era plenamente consciente que aquele seria apenas o primeiro de muitos pedidos de desculpas. O correto a fazer era deixá-lo mas a quem recorreria? A Laís que fora a verdadeira culpada daquela situação?! À sua mãe que acreditava que o lugar dela era ali junto do marido?! A um estranho?! Não... a vergonha que sentia perante a situação que vivia era maior que o medo dele. Bastava encontrar um novo ponto de equilíbrio. Estava certa que conseguiria encontrar uma forma suportável de convivência mas pouco a pouco os ciúmes dele foram ganhando força tal como o medo que ela sentia.
O primeiro a sofrer com os ciúmes foi o seu guarda roupa.
Com a desculpa que as suas roupas não eram próprias para a sua posição social comprara-lhe toda uma parafernália de roupas e as dela ficaram destinadas a ser usadas apenas em casa ou quando ia visitar a sua mãe, sempre e quando ele também fosse, caso contrário vestiria alguma das peças comprada por ele.
O primeiro a sofrer com os ciúmes foi o seu guarda roupa.
Com a desculpa que as suas roupas não eram próprias para a sua posição social comprara-lhe toda uma parafernália de roupas e as dela ficaram destinadas a ser usadas apenas em casa ou quando ia visitar a sua mãe, sempre e quando ele também fosse, caso contrário vestiria alguma das peças comprada por ele.
Um dia, cansada das escolhas horrorosas dele, agarrou um vestido e ficou a olhar para ele tentando perceber o que o levava a escolher aquelas roupas. Não disse nada a respeito mas, talvez pelo olhar reprovador ou pela quantidade de tempo que demorou a apreciar o vestido, ele percebera que ela não gostava da escolha. Antes de sair do quarto apenas disse "Mulher séria não mostra o corpo".
E ele levava esse lema muito a sério. Nunca mais vestira uns calções, um vestido sem mangas ou mesmo uma saia mais curta. A ideia que Steven tinha de um casamento era bastante retrograda. Além das roupas, ele achava que as mulheres devem obedecer ao marido, que o seu dever é cuidar da casa e das crianças. Estas não eram um ser independente com ideias nem vontades próprias.
Mas essas opiniões eram apenas partilhadas com ela. Sempre que estava com os amigos ele apoiava a igualdade entre sexos. Apenas houve uma vez em que ela pensou que ele ia deixar cair a máscara...
O jantar decorria em casa de Laís, era o aniversário desta e os amigos mais próximos insistiram em marcar presença. O debate sobre a independência da mulher surgiu entre um copo e outro o que gerava alguma gargalhada pelos comentários atabalhoados. Ela mantinha-se afastada pois aprendera a ficar no seu canto principalmente quando a bebida começava a falar mais alto. Laís levantou-se do sofá e olhou para ela.
- Não achas que ainda há muito a fazer para seremos consideradas iguais?
- Tem calma. - Marc puxou-a novamente para junto dele. - Com o tempo lá chegarão.
- Tempo... é isso. - Steven rodou o copo que tinha na mão - Felizmente a minha mulher não precisa de lutar por esses direitos.
- Se eu tivesse o teu dinheiro... - Marc bebeu mais um gole - Também não estaria preocupado com isso. Nós comuns mortais temos que lutar por cada migalha que comemos.
- Neste momento o lugar da minha mulher é em casa. Lugar para onde a vou levar.
E ele levava esse lema muito a sério. Nunca mais vestira uns calções, um vestido sem mangas ou mesmo uma saia mais curta. A ideia que Steven tinha de um casamento era bastante retrograda. Além das roupas, ele achava que as mulheres devem obedecer ao marido, que o seu dever é cuidar da casa e das crianças. Estas não eram um ser independente com ideias nem vontades próprias.
Mas essas opiniões eram apenas partilhadas com ela. Sempre que estava com os amigos ele apoiava a igualdade entre sexos. Apenas houve uma vez em que ela pensou que ele ia deixar cair a máscara...
O jantar decorria em casa de Laís, era o aniversário desta e os amigos mais próximos insistiram em marcar presença. O debate sobre a independência da mulher surgiu entre um copo e outro o que gerava alguma gargalhada pelos comentários atabalhoados. Ela mantinha-se afastada pois aprendera a ficar no seu canto principalmente quando a bebida começava a falar mais alto. Laís levantou-se do sofá e olhou para ela.
- Não achas que ainda há muito a fazer para seremos consideradas iguais?
- Tem calma. - Marc puxou-a novamente para junto dele. - Com o tempo lá chegarão.
- Tempo... é isso. - Steven rodou o copo que tinha na mão - Felizmente a minha mulher não precisa de lutar por esses direitos.
- Se eu tivesse o teu dinheiro... - Marc bebeu mais um gole - Também não estaria preocupado com isso. Nós comuns mortais temos que lutar por cada migalha que comemos.
- Neste momento o lugar da minha mulher é em casa. Lugar para onde a vou levar.
Todos acharam piada ao comentário e gerou alguns assobios mas ela percebeu que ele não estava a brincar. O lugar dela era na cozinha e na cama dele sempre que ele assim o queria. Despediu-se dos restantes convidados e seguiu Steven com a sensação que seguia o seu carrasco.
Ele nunca chegara a agredi-la fisicamente mas era um mestre em usar as palavras como arma e elas magoavam bem mais. Dor e desilusão faziam parte da sua vida mas não se arriscava a demonstrar nenhuma delas. Aparentemente era uma mulher feliz.
O facto de esconder o que sentia e obedecer sem pestanejar ao que ele queria tornou a convivência minimamente agradável. Tudo se resumia a fazer de tudo para não o irritar. O que significava sair apenas de casa com ele ou quando ele o permitisse. E caso saísse sem ele, coisa que acontecia esporadicamente, Laís era a sua guarda prisional.Ele nunca chegara a agredi-la fisicamente mas era um mestre em usar as palavras como arma e elas magoavam bem mais. Dor e desilusão faziam parte da sua vida mas não se arriscava a demonstrar nenhuma delas. Aparentemente era uma mulher feliz.
- Estou a falar contigo. - Steven olhou para ela.
- Desculpa. Estava a pensar em Laís.
- Essa rapariga está cada vez mais atrevida. Começo a achar que não é boa companhia.
- Tu é que sugeriste que saísse com ela.
- Desculpa. Estava a pensar em Laís.
- Essa rapariga está cada vez mais atrevida. Começo a achar que não é boa companhia.
- Tu é que sugeriste que saísse com ela.
- E já estou arrependido.
- Isso quer dizer que não posso sair com ela?! - A voz dela mal se ouvia. Não queria imaginar se ele a proibisse de sair com Laís - Raramente saio de casa.
- Não tens porque sair. Tens tudo o que precisas em casa!
- Isso quer dizer que não posso sair com ela?! - A voz dela mal se ouvia. Não queria imaginar se ele a proibisse de sair com Laís - Raramente saio de casa.
- Não tens porque sair. Tens tudo o que precisas em casa!
Steven acelerou o carro que o assunto estava encerrado. Olhou as casas tentando controlar as lágrimas. A ideia de não sair de casa sem ele aterrorizava-a. Podia não confiar em Laís mas ao menos estava fora de casa e era só fingir que estava tudo bem. Se ao menos tivesse um emprego que lhe permitisse fugir para bem longe. Se pudesse contar com a sua mãe. Se não tivesse casado com ele. Se...
- Vamos.
- Onde?! - Valerie olhou para o marido fixamente.
- Já vais ver.
- Onde?! - Valerie olhou para o marido fixamente.
- Já vais ver.
Steven abriu a porta do carro e educadamente ajudou-a a sair do carro. O silêncio reinou entre eles durante a caminhada pois ela temia perguntar novamente onde iam. Pouco depois Steven parou frente a um edifício de pedra. A torre do relógio com um campanário dava a entender que estavam perante uma pequena igreja. A enorme porta de madeira castanha estava aberta e deixava a descoberto a entrada de pedra mármore com duas portas laterais mais pequenas e que permitiam a entrada ao espaço. Olhou-o com lágrimas nos olhos.
- Pensei que ias gostar. Lembrei-me que gostavas de ir à missa.
- Posso?!
- Que pergunta! Claro que sim! - Steven sentou-se num banco ali perto - Espero aqui por ti.
- Tens a certeza? Está frio...
Calou-se ao ver o olhar divertido dele. Como era possível que se preocupasse com ele quando ele a tratava de maneira cruel?
Fazendo o sinal da cruz entrou na igreja. Não havia muita gente e, a julgar pelo ênfase do sacerdote a homília estava quase no ponto alto.
- Posso?!
- Que pergunta! Claro que sim! - Steven sentou-se num banco ali perto - Espero aqui por ti.
- Tens a certeza? Está frio...
Calou-se ao ver o olhar divertido dele. Como era possível que se preocupasse com ele quando ele a tratava de maneira cruel?
Fazendo o sinal da cruz entrou na igreja. Não havia muita gente e, a julgar pelo ênfase do sacerdote a homília estava quase no ponto alto.
- Queremos tudo para ontem. Não temos tolerância para com o nosso par. Tu marido, deves ser cordial e amável para com a tua esposa, para com a mãe dos teus filhos. E tu mulher, deves obediência ao teu esposo. Deves proporcionar um lar acolhedor e não deves descurar as suas necessidades...
Valerie baixou o olhar. Até ali, onde sempre encontrou um pouco de paz, lhe era recordado os seus deveres conjugais. E ela tinha a certeza que, apesar da monotonia, não os descurava. Talvez por medo ou porque o seu dia a dia era sempre igual. Não sabia. Sabia apenas que Steven não tinha, pelo menos não devia, do que reclamar. Ela acordava cedo para preparar o pequeno almoço, pouco depois Steven saía para o escritório e ela dedicava o tempo às tarefas da casa. Ia ao supermercado, à lavandaria, organizava as refeições e ao final da tarde ligava para a sua mãe. Fazia o jantar e quando o marido chegava a casa ela colocava a mesa enquanto ele tomava banho. Depois do jantar ela arrumava a cozinha e ele lia o jornal ou via um pouco de televisão. Ela ia ler para o quarto e como uma esposa obediente esperava por ele. Decididamente ele não deveria queixar-se de nada. A única coisa que ele poderia apontar era mesmo esse aspecto. A parte intima... na primeira noite ela pedir-lhe para não acender a luz e ele até àquele momento mantinha o quarto na escuridão. E quando a procurava com beijos e carícias ela rendia-se com uma languidez que se tornara demasiado familiar. Para ela era apenas mais uma tarefa a realizar. Nunca desejou ir mais além ou participar ativamente. E, momentos mais tarde, enquanto o marido dormia, dava por si a pensar na indiferença que sempre sentira. Nunca sentia necessidade de lhe tocar, de o procurar para trocar um beijo ou uma carícia mais intima. Tudo no casamento dela era morno, quase frio. Sim... disso ele podia reclamar.
Perceber que nunca sentiria, ainda que uma simples faísca de desejo, as borboletas no estômago, o nervoso miudinho da espera deixou-a ainda mais angustiada.
Perceber que nunca sentiria, ainda que uma simples faísca de desejo, as borboletas no estômago, o nervoso miudinho da espera deixou-a ainda mais angustiada.
Se nunca sentiu a paixão desenfreada também não sentiria a tranquilidade, o conforto do porto seguro, a familiaridade. A troca de olhares que revelava a cumplicidade e compreensão dos anos vividos em conjunto. Eles simplesmente vivam na mesma casa e partilhavam a mesma cama. E se prezava a sua saúde mental tinha que se focar no aspecto positivo por minúsculo que fosse. E esse aspecto era o financeiro. Constantemente repetia para si mesma que não se podia queixar pois o marido suprimia todas as suas necessidades.
- Está tudo bem?
Valerie levantou o olhar húmido pelas lágrimas e um velho padre sorria amavelmente para ela.
- Sim.
- Não parece.
- Está tudo bem?
Valerie levantou o olhar húmido pelas lágrimas e um velho padre sorria amavelmente para ela.
- Sim.
- Não parece.
O padre sentou-se a seu lado e instintivamente ela olhou para a entrada da igreja.
- Estou apenas nervosa.
- Nunca a vi por aqui. É a primeira vez?
- Sim. O meu marido está lá fora.
- Hum... estou a ver. É ateu. Se a trouxe e não acredita em Deus só pode ser um bom homem.
- Oh não... ele acredita. Casámos por igreja na minha aldeia.
- Ainda bem. - O padre levantou-se quando um rapaz apareceu junto ao altar - Peço desculpa mas tenho que atender os meus deveres. Gostei de a conhecer senhora...
- Valerie. - Ela aceitou a mão que o padre lhe estendia.
- Eu sou o padre Brow e será sempre um gosto vê-la aqui.
- Obrigada.
- Para a próxima traga o marido. Gostaria de conhecer o homem que ainda tem este tipo de atenção para com a esposa.
- Irei dizer-lhe.
Ao ver o velho padre caminhar em direção ao rapaz sorriu tristemente. Até ali na casa de Deus, onde supostamente não deveria mentir, teve de o fazer. Pensava que ao estar na igreja poderia ser ela mesma mas até ali teve que seguir o papel que se impusera. Os seus dias eram como uma peça de teatro em que ela representava a esposa submissa mas feliz e até ao momento pensava ser bem sucedida no desempenho desse papel.
Apenas Laís parecia suspeitar de algo mas da mesma forma que esta desconfiava que algo se passava, ela não confiava em Laís. E tirando esta, ela não tinha amigos que pudessem notar a mudança pois Steven encarregara-se de a fazer perceber que esses amigos não eram bem vindos e pouco a pouco foram-se afastando conforme os anos iam passando e a passividade dela aumentava. Mas que podia fazer? A mãe deixara bem claro que o lugar dela era ali com o marido. Um divorcio que colocaria a família na boca do povo não era opção. Restava-lhe aceitar o seu destino até que Deus assim o entendesse.
- Estou apenas nervosa.
- Nunca a vi por aqui. É a primeira vez?
- Sim. O meu marido está lá fora.
- Hum... estou a ver. É ateu. Se a trouxe e não acredita em Deus só pode ser um bom homem.
- Oh não... ele acredita. Casámos por igreja na minha aldeia.
- Ainda bem. - O padre levantou-se quando um rapaz apareceu junto ao altar - Peço desculpa mas tenho que atender os meus deveres. Gostei de a conhecer senhora...
- Valerie. - Ela aceitou a mão que o padre lhe estendia.
- Eu sou o padre Brow e será sempre um gosto vê-la aqui.
- Obrigada.
- Para a próxima traga o marido. Gostaria de conhecer o homem que ainda tem este tipo de atenção para com a esposa.
- Irei dizer-lhe.
Ao ver o velho padre caminhar em direção ao rapaz sorriu tristemente. Até ali na casa de Deus, onde supostamente não deveria mentir, teve de o fazer. Pensava que ao estar na igreja poderia ser ela mesma mas até ali teve que seguir o papel que se impusera. Os seus dias eram como uma peça de teatro em que ela representava a esposa submissa mas feliz e até ao momento pensava ser bem sucedida no desempenho desse papel.
Apenas Laís parecia suspeitar de algo mas da mesma forma que esta desconfiava que algo se passava, ela não confiava em Laís. E tirando esta, ela não tinha amigos que pudessem notar a mudança pois Steven encarregara-se de a fazer perceber que esses amigos não eram bem vindos e pouco a pouco foram-se afastando conforme os anos iam passando e a passividade dela aumentava. Mas que podia fazer? A mãe deixara bem claro que o lugar dela era ali com o marido. Um divorcio que colocaria a família na boca do povo não era opção. Restava-lhe aceitar o seu destino até que Deus assim o entendesse.
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